domingo, 11 de maio de 2008

“Pensar em voz alta?”...

Muitas pessoas que são convidadas para ocupar cargos governamentais e públicos são sérias, honestas e com manifesto desejo de servir a causa pública. Alguém tem dúvidas? Eu não tenho. No entanto, muitas, quando são confrontadas com as “rígidas” normas políticas estabelecidas pelos chefes, sentem-se desconfortáveis, porque o que pensam, o que anseiam e o que desejam não são compagináveis com as “regras” superiores. Estas são criadas de acordo com a ideologia, os interesses do momento, as disponibilidades financeiras, as pressões dos lóbis e as expectativas dos ganhos e perdas no futuro, enfim, de um conjunto de forças em que o superior interesse do povo acaba por ser relegado para um nível inferior. Alguém tem dúvidas? Eu não tenho!
Imaginem o que é estar no Parlamento e ser-se confrontado com boas ideias e interessantes propostas da oposição. Habitualmente o que é que acontece? Não são aceites! Por que não prestam? Não! Mas como vêm da oposição ou porque o governo gostaria de as apresentar (a inveja é terrível!) ou porque envolvem despesas não previstas ou atropelam os interesses de determinados grupos ou mesmo por mesquinhez acabam por ser rejeitadas. Mas o governo ou a maioria que o suporta não têm boas ideias? Claro que têm! E o que é que lhes acontece? Nada, a não ser os ataques dos opositores. Com base em argumentos correctos? Duvido! Porque quando chegam ao poder não têm qualquer pudor em assumir como suas as “más” propostas que anteriormente rejeitaram! Chama-se a isto política? Parece que sim! Mas boa é que não é!
Os ditos “bons” políticos têm uma faceta muito interessante, na minha opinião, se optassem pela representação artística seriam os máximos!
O problema prende-se com os que não têm jeito para a representação. Querem participar, querem colaborar, querem dar o seu melhor ao país, mas quando são confrontados com determinadas situações que não se encaixam dentro da sua natureza, valores e humildade política, acabam por sofrer. Também há os que representam muito mal, mas com não têm humildade política tanto lhes faz que digam que são aldrabões ou incoerentes. Ficam-se nas tintas, porque a sua auto-estima e arrogância estão muitos furos acima.
Não conheço pessoalmente a senhor ministra da saúde, Ana Jorge. Mas, pelo que tenho lido e visto, consigo reconhecer uma senhora com postura, simpática, interessada, honesta, humanista e com humildade política. Boas qualidades humanas e técnicas. O episódio relativo ao acordo da entrega da assistência médica dos funcionários do Estado a um hospital privado, efectuado pelo senhor ministro das Finanças, traduzido na palavra “lamentável” revela a tal consciência superior. Quais foram as consequências desta atitude? Vejamos: a senhora ao ser confrontada pela comunicação social foi “ultrapassada” pelos seus secretários de estado, verdadeiros guardiões políticos, ao responderem: “Não, a senhora ministra não vai responder a isso” e “Não, não respondemos a isso” e toca a abalar com a senhora no meio!!!
No dia seguinte, o “patrão”, no Parlamento, no seu estilo habitual, tratou de “interpretar” o que é que a senhora queria dizer e que foi mal interpretado... Julgam que eu acredito que a senhora queria dizer o que o PM disse? Só se fosse parvo!
A senhora deve estar muito incomodada. Não auguro nada de bom. Estou convicto de que não deixará de, em qualquer momento, dizer o que pensa sobre algum assunto mais delicado, pondo em “risco” a política governamental, a não ser que a “policiem” a torto e a direito.
Pensar em voz alta dá direito a ir para a rua...

4 comentários:

  1. Caro Professor Massano Cardoso
    Gostei muito do seu texto. É um excelente retrato de como "fazemos política". Não confundir obviamente com "política".
    E fazemos mal e por isso mesmo a "política" – actividade tão antiga e tão nobre – está tão desacreditada.

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  2. Anónimo23:14

    Mais arrependido deve estar o Primeiro-Ministro.
    Onde já se viu uma ministra deste governo a discordar de uma medida?
    Só se for dentro de casa, como dizia a saudosa secretária de estado da saúde do antecessor.

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  3. Gostei Prof. MC!

    Tirando isso, devo dizer que esse hospital privado a que se refere salvou a vida do meu sogro na 4ª-feira passada, depois de no dia anterior ele ter telefonado para aquela linha de apoio do Ministério da Saúde a descrever os sintomas que tinha e eles mandaram-no ficar em casa e beber um cházinho porque aquilo era uma ligeira indisposição.

    No dia a seguir enquanto acompanhava a mulher a uma consulta, nesse hospital privado, caiu redondinho no chão com um enfarte. Está nos cuidados intensivos desde 4ª-feira passada com cabos e tubos a sairem por todo o lado e máquinas a fazerem bip bip bip.

    Como devem calcular aquilo não é sítio para qualquer bolsa e como devem calcular também, ele não está ali por opção, nem está em condições de ser transferido para o hospital da sua área de residência (e isso é partindo do princípio que o hospital da sua área de residência tem condições para o receber, o que eu dúvido). Além disso, ele nunca sentiu necessidade de fazer um seguro porque tinha ADSE.

    Sinceramente, não estou a ver qual é problema de terem um acordo com um hospital privado. Aliás, deviam ter um acordo com todos os hospitais privados já que os públicos não chegam para as encomendas.

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  4. Caro Antrhax

    Os meus votos de uma excelente recuperação do seu sogro.

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