Vi agora no telejornal uma breve notícia sobre um professor universitário americano que deu a última aula antes de se retirar à espera que um cancro no fígado lhe ponha fim aos seus dias. O vídeo desta aula corre no you tube e tem sido um êxito. Calculo que esta nova modalidade de voyeurismo desperte os mais profundos sentimentos solidários e comoções perante o sofrimento de quem assim apresenta, como um filme, a história da sua condenação.
Segundo a notícia, naquela universidade é regra os professores darem uma aula em que o tema é “o último dia de vida” ou seja, fingem que sabem que vão morrer e fazem um balanço do contributo positivo que, na sua opinião, deram a este mundo. Uma espécie de última confissão como método de auto avaliação de desempenho é, no mínimo, de mau gosto. Mais eficaz que o soro da verdade. Sublinhe-se que é uma ideia posta em prática numa universidade, certamente para lhe dar o selo de testado cientificamente. Esperemos que não se exporte a ideia…
A novidade é que, desta vez, era mesmo a sério e aquele homem ainda jovem que falava com ar prazenteiro aos seus alunos, fazendo trocadilhos que punham a sala às gargalhadas, terá poucos meses de vida, a acreditar no power point que apresentou com as radiografias onde se viam os nódulos assassinos. No fim, chamou ao palco a “viúva” (foi assim mesmo!), ela veio muito emocionada, e despediram-se.
Se fiquei chocada com a “técnica” imaginativa usada para garantir que a auto avaliação é sincera, - como pode mentir quem sabe que não terá outra oportunidade para se arrepender? - ainda mais me abalou que uma pessoa como aquele professor se tivesse prestado a esta representação sobre o seu próprio caso. Ainda se tivesse sido um impulso de emoção que o levou a partilhar com os alunos o seu drama, ainda podia entender, mas estva a seri tudo filmado para ser divulgado.Senti-me constrangida e apeteceu-me ir lá pedir-lhe que parasse com aquilo, que as pessoas não têm que se expor só porque há uma moda de banalização do que deve ser respeitado, o direito à intimidade da vida privada em primeiro lugar.
Não sei se o objectivo é afirmar um novo dever cívico de “partilhar” as angústias de quem se sente perdido, se é espantar o medo de morrer, se é outra coisa qualquer. Por mim, não gostei de ver e não auguro nada de bom quando se proclama o direito a expor e se aceita ser exposto, confundindo o teatro com a dureza da vida real.
Segundo a notícia, naquela universidade é regra os professores darem uma aula em que o tema é “o último dia de vida” ou seja, fingem que sabem que vão morrer e fazem um balanço do contributo positivo que, na sua opinião, deram a este mundo. Uma espécie de última confissão como método de auto avaliação de desempenho é, no mínimo, de mau gosto. Mais eficaz que o soro da verdade. Sublinhe-se que é uma ideia posta em prática numa universidade, certamente para lhe dar o selo de testado cientificamente. Esperemos que não se exporte a ideia…
A novidade é que, desta vez, era mesmo a sério e aquele homem ainda jovem que falava com ar prazenteiro aos seus alunos, fazendo trocadilhos que punham a sala às gargalhadas, terá poucos meses de vida, a acreditar no power point que apresentou com as radiografias onde se viam os nódulos assassinos. No fim, chamou ao palco a “viúva” (foi assim mesmo!), ela veio muito emocionada, e despediram-se.
Se fiquei chocada com a “técnica” imaginativa usada para garantir que a auto avaliação é sincera, - como pode mentir quem sabe que não terá outra oportunidade para se arrepender? - ainda mais me abalou que uma pessoa como aquele professor se tivesse prestado a esta representação sobre o seu próprio caso. Ainda se tivesse sido um impulso de emoção que o levou a partilhar com os alunos o seu drama, ainda podia entender, mas estva a seri tudo filmado para ser divulgado.Senti-me constrangida e apeteceu-me ir lá pedir-lhe que parasse com aquilo, que as pessoas não têm que se expor só porque há uma moda de banalização do que deve ser respeitado, o direito à intimidade da vida privada em primeiro lugar.
Não sei se o objectivo é afirmar um novo dever cívico de “partilhar” as angústias de quem se sente perdido, se é espantar o medo de morrer, se é outra coisa qualquer. Por mim, não gostei de ver e não auguro nada de bom quando se proclama o direito a expor e se aceita ser exposto, confundindo o teatro com a dureza da vida real.
O "teatro" da despedida da vida deste professor(a ser verdadeira a notícia), demonstra, a meu ver, que ele pretende deixar registado que ultrapassou a própria ficção do teatro da vida.
ResponderEliminarTambém não sei como é possível -avaliar e apreciar a encenação do fim da vida de alguém- ,que, passo a passo, com frieza, relata a autodestruição dos seus próprios órgãos.
Mas enfim, daqueles lados vem muito de bom e muito de mau...
Vivemos numa época de exposições gratuitas. Até o auto-respeito se perde...
ResponderEliminarTentemos compreender a atitude do mesmo professor ainda jovem, numa perspectiva diferente.
ResponderEliminarImagine-se que aquele homem viveu com intensidade e paixão toda a sua vida, tanto profissional, como familiar e social. Que criou com cada aluno, com cada amigo, com cada familiar, laços profundos, laços esses que por sua vez deram origem a uma inter-dependência.
Não será difícil, perante este quadro, perceber que, ao ter conhecimento do problema de saúde que o afectava, assim como do tempo de vida que lhe restava e da dor que a sua morte irá causar naqueles que lhe são queridos, aquele homem tenha decidido saltar a barreira do social, ético e moralmente correcto e, optar por suavisar o trágico "a Deus" despedindo-se daquele modo.
Se pensarmos antecipadamente na nossa morte, doi-nos mais a dor que sabemos ir causar naqueles que nos amam e cá ficam, do que própriamente na dor que iremos sentir ao separar-nos deles. E aquilo que mais desejamos é minimizar-lhes esse sofrimento.
A exemplo daquilo que estou a escrever, sem ter a convicção absoluta de que seja o mais certo, lembro as observações de familiares e amigos de defuntos quando observam a expressão que exibem no rosto. Morreu serenamente, ou então, sorriu ao morrer, ou então e mais constrangedor, sofreu muito para morrer, etc.
Acho que aquele homem, por amar muito aqueles que o amam, decidiu dizer-lhes de uma forma peculiar, talvez " pessoal, vou bazar, mas não ha crise, vocês curtam isto na melhor onda enquanto puderem, porque o mesmo destino está reservado para todos e, saibam que vos curto bué"
Afinal, a vida é um bla bla bla de emoções, acções e contradições que julgamos controlar, arrumando e catalogando tudo, na estrita observação de parábolas, as quais nos negamos, talvez por uma questão de insegurança a desafiar.
Saber que a morte tem dia marcado e a muito curto prazo provoca medo, muito medo, até naqueles que dizem não ter medo da dita! O professor terá querido exorcizar o seu próprio drama? A forma como descreve a sua situação e como se expõe não será uma manifestação de medo? Não será que procura ajuda para o fim que se avizinha?
ResponderEliminarTinha lido à algum tempo uma reportagem sobre este professoar, mas nunca fuia capaz de ir procurar os vídeos no youtube, não sei porque não o fiz, mas sinto-me melhor assim !
ResponderEliminarInfelizmente. Passo, quase sempre, a You Tube.
ResponderEliminarO que era mais estranho era o ar de "moda" que aquilo tinha, como se fosse o CEO de uma empresa a apresentar os resultados aos colaboradores... Caro Bartolomeu, até podia muito bem ser o que diz, sendo mesmo assim bastante estranho, mas o facto de ser uma prática "pedagógica" naquela escola fazer a autovaliação naquels termos mostra que ele se sentiu como que obrigado a não quebrar a regra, alinhou na farsa mas com a nota dramática de ser o seu caso real, como se fosse a coisa mais natural do mundo, realidade ou ficção, a mesma coisa! Além disso não é de ignorar o facto de ser tudo filmado e divulgado, como uma "lição", uma aula sobre aquele tema. Não confundir com afectos e sentimentos, acho que o risco é exactamente esse, misturar-se tudo e já não se saber onde acaba a comédia e começa o drama.
ResponderEliminarCaro Massano Cardoso, também acredito que ele estive com medo, mas depois escreveu um livro, deram um bocado de uma entrevista em que ele dizia que tinha a obrigação de preparar os filhos para a morte dele, enfim, um best seller ao vivo. Curiosa maneira de espantar o medo. E o youtube potencia isto tudo e deve ser realmente dificil, se é que não é já, manter alguns princípios de reserva da vida pessoal, tudo o quenão está lá não existe ou não merece atenção. Uma triste forma de individualismo em comunidade virtual...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarObrigada, caro Paulo, vou ler. E são sempre benvindos os seus comentários, sejam dissonantes ou não!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar