Certas notícias obrigam-nos a “profundas” reflexões, como é o caso das cuecas da rainha Vitória que vão a leilão. Os calções, de algodão branco, cozidos à mão e ostentando um pequeno bordado com uma coroa e as iniciais VR, vai ser vendido, prevendo-se que possa ultrapassar os 600 euros! Para já ficámos a saber que a senhora usava cuecas e, além disso, apresentava um perímetro abdominal muito respeitável, nada mais nada menos do que 127 cm, o que, para quem tinha apenas um metro e meio de estatura, deve dar uma boa estimativa da estética dos reais calções. Espero que não caiem em mãos republicanas ou antibritânicas!
Em casa da minha avó, grande e muita velha, sem o mínimo de conforto que caracteriza as actuais habitações, havia apenas uma torneira de água ligada à rede pública, junto do portão que dava para um quintal estreito e comprido, por onde habitualmente se entrava. Quantas vezes tive de calcorrear o pátio, a resmungar, ao buscar água para a cozinha e até para os quartos e outros fins, menos o de beber, porque, para esse efeito as mulheres iam, diariamente, ao fontenário da Ponte da Praça encher os cântaros de barro. Água fresca e saborosa que ainda hoje recordo com nostalgia. Para a retirar tinha que usar um pequeno púcaro que colocava logo a seguir em cima do anteparo de barro que cobria o cântaro. Se não o fizesse ouvia das boas.
Brincava um dia no pátio-quintal quando, subitamente, ouvi água a cair. Fiquei em sobressalto, porque pensei que tinha deixado a torneira aberta. Olhei para trás e vejo um fio de um líquido a serpentear o pó. É mesmo água! Só pode ser da torneira. Mas não era. No cimo da rampa uma mulher, que tinha um estabelecimento na zona, alta, magra, com uma saia comprida, quase a chegar aos tornozelos, de pernas abertas, braços cruzados, com um olhar distante, em direcção ao viaduto, e com a sua característica verruga peluda, tipo “Maximiana da Merdaleja”, mijava em pé. Fiquei estupefacto, subi as escadas e corri para a cozinha dizendo à minha avó o que se estava a passar. Perguntei-lhe se as mulheres mijavam em pé como os homens. Disse-me que algumas velhas conseguiam essa prática. Acto contínuo, perguntei-lhe: - Mas a mulher não deve ter cuecas! – Pois não! É uma badalhoca! A partir daí, sempre que a via, pensava: - Lá vai a mulher que não usa cuecas.
É certo que a história deste tipo de vestuário é muito interessante. Os primeiros a usar foram Adão e Eva, mas de uma forma muito pouco elaborada, se bem que ecológicas, folhas de parras. Mas tudo aponta para que na pré-história já se utilizaria pedaços de pele, que, mais tarde, deverão ter dado origem às tangas, utilizadas no Antigo Egipto e Grécia Antiga. Na Idade Média, a maioria das mulheres não usavam nada, enquanto os homens tinham que proteger as “partes”, como diz o povo, para não roçarem nas armaduras. Com o tempo houve mudanças radicais com aparecimentos de calções, de ceroulas, que eram ainda muito utilizadas na segunda metade do século XX, mas que tinham sido “contestadas”, sobretudo por militares, durante a Segunda Grande Guerra. Ir para a guerra de ceroulas, parece que não dava jeito nenhum, que o digam um grupo de soldados japoneses e também de coreanos, a quem se juntaram, para declararem ao mundo o desconforto em lutar com a dita vestimenta, provocando uma verdadeira revolução da roupa interior, sob o lema “A bem dos pénis mundiais”! A partir deste momento, a evolução da roupa interior, tanto feminina como masculina, é uma constante quer a nível de design, quer do tipo de tecidos e, sobretudo, na procura de conforto, ao ponto de haver passagens de modelos específicas, para não falar da capacidade inspirativa que possa causar nalgumas pessoas, como é o caso do escritor neo-zelandês, Joe Bennett, que, na sequência da compra de uma embalagem de cinco cuecas, se lembrou de calcorrear todo o trajecto das mesmas, a fim analisar os processos de fabrico, de transporte, da comercialização, enfim, da verdadeira “economia das cuecas”. Uma verdadeira odisseia, embora, nunca conseguisse encontrar o lugar de fabrico. Claro que também há correntes contestatárias ao seu uso, caso de médicos que, nos séculos XVII e XVIII, as desaconselhavam às mulheres, porque podiam secar o útero e provocar esterilidade ou, então, mais recentemente, o aparecimento de uma nova moda. Britney Spears, Paris Hilton, Christina Aguilera estão a aderir à moda de andar sem cuecas. Pelo menos há imagens que comprovam esta afirmação. Afinal, a “mulher que mijava em pé” já se tinha adiantado muitas décadas a estas celebridades. No dia do seu funeral – Deus me perdoe -, mas tenho que confessar, pensei: - Será que lhe vestiram ao menos umas cuecas? Não lhe serve para nada, mas, ao menos, vai mais “compostinha”...
Em casa da minha avó, grande e muita velha, sem o mínimo de conforto que caracteriza as actuais habitações, havia apenas uma torneira de água ligada à rede pública, junto do portão que dava para um quintal estreito e comprido, por onde habitualmente se entrava. Quantas vezes tive de calcorrear o pátio, a resmungar, ao buscar água para a cozinha e até para os quartos e outros fins, menos o de beber, porque, para esse efeito as mulheres iam, diariamente, ao fontenário da Ponte da Praça encher os cântaros de barro. Água fresca e saborosa que ainda hoje recordo com nostalgia. Para a retirar tinha que usar um pequeno púcaro que colocava logo a seguir em cima do anteparo de barro que cobria o cântaro. Se não o fizesse ouvia das boas.
Brincava um dia no pátio-quintal quando, subitamente, ouvi água a cair. Fiquei em sobressalto, porque pensei que tinha deixado a torneira aberta. Olhei para trás e vejo um fio de um líquido a serpentear o pó. É mesmo água! Só pode ser da torneira. Mas não era. No cimo da rampa uma mulher, que tinha um estabelecimento na zona, alta, magra, com uma saia comprida, quase a chegar aos tornozelos, de pernas abertas, braços cruzados, com um olhar distante, em direcção ao viaduto, e com a sua característica verruga peluda, tipo “Maximiana da Merdaleja”, mijava em pé. Fiquei estupefacto, subi as escadas e corri para a cozinha dizendo à minha avó o que se estava a passar. Perguntei-lhe se as mulheres mijavam em pé como os homens. Disse-me que algumas velhas conseguiam essa prática. Acto contínuo, perguntei-lhe: - Mas a mulher não deve ter cuecas! – Pois não! É uma badalhoca! A partir daí, sempre que a via, pensava: - Lá vai a mulher que não usa cuecas.
É certo que a história deste tipo de vestuário é muito interessante. Os primeiros a usar foram Adão e Eva, mas de uma forma muito pouco elaborada, se bem que ecológicas, folhas de parras. Mas tudo aponta para que na pré-história já se utilizaria pedaços de pele, que, mais tarde, deverão ter dado origem às tangas, utilizadas no Antigo Egipto e Grécia Antiga. Na Idade Média, a maioria das mulheres não usavam nada, enquanto os homens tinham que proteger as “partes”, como diz o povo, para não roçarem nas armaduras. Com o tempo houve mudanças radicais com aparecimentos de calções, de ceroulas, que eram ainda muito utilizadas na segunda metade do século XX, mas que tinham sido “contestadas”, sobretudo por militares, durante a Segunda Grande Guerra. Ir para a guerra de ceroulas, parece que não dava jeito nenhum, que o digam um grupo de soldados japoneses e também de coreanos, a quem se juntaram, para declararem ao mundo o desconforto em lutar com a dita vestimenta, provocando uma verdadeira revolução da roupa interior, sob o lema “A bem dos pénis mundiais”! A partir deste momento, a evolução da roupa interior, tanto feminina como masculina, é uma constante quer a nível de design, quer do tipo de tecidos e, sobretudo, na procura de conforto, ao ponto de haver passagens de modelos específicas, para não falar da capacidade inspirativa que possa causar nalgumas pessoas, como é o caso do escritor neo-zelandês, Joe Bennett, que, na sequência da compra de uma embalagem de cinco cuecas, se lembrou de calcorrear todo o trajecto das mesmas, a fim analisar os processos de fabrico, de transporte, da comercialização, enfim, da verdadeira “economia das cuecas”. Uma verdadeira odisseia, embora, nunca conseguisse encontrar o lugar de fabrico. Claro que também há correntes contestatárias ao seu uso, caso de médicos que, nos séculos XVII e XVIII, as desaconselhavam às mulheres, porque podiam secar o útero e provocar esterilidade ou, então, mais recentemente, o aparecimento de uma nova moda. Britney Spears, Paris Hilton, Christina Aguilera estão a aderir à moda de andar sem cuecas. Pelo menos há imagens que comprovam esta afirmação. Afinal, a “mulher que mijava em pé” já se tinha adiantado muitas décadas a estas celebridades. No dia do seu funeral – Deus me perdoe -, mas tenho que confessar, pensei: - Será que lhe vestiram ao menos umas cuecas? Não lhe serve para nada, mas, ao menos, vai mais “compostinha”...
H-I-L-A-R-I-A-N-T-E
ResponderEliminarConfesso que há algum tempo, não lia nada, que me fizesse rir tanto, como este seu texto.
É uma boa companhia, o Professor Salvador. Imagino quando se encontra com o Dr. Pinho Cardão, que tb tem um enorme espírito de humor.
Palmas !!!
:-)
Não sei de onde é o autor do texto -Dr Massano- mas deve ser próximo da minha terra! Na minha terra, há quarenta e tal anos, era habitual as mulheres mais velhas puxarem a saia ligeiramente para a frente e .. zás, despejavam a bexiga. Nunca me questionei da razão da diferença entre as velhas e as novas, e nunca o perguntei à minha avó porque era a ela que eu o via fazer mais vezes.
ResponderEliminarMuito obrigsado, cara Pèzinhos. De facto, rimo-nos um pouco...
ResponderEliminarGenial, as coisas que uma pessoa aprende com os seus textos, e a rir á gargalhada! Quanto ao perímetro da peça em leilão, se calhar era da altura de uma gravidez, os espartilhos da época não davam essas larguezas!
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