Num artigo muito interessante publicado no DE, Antonio Ramalho explica o fenómeno da “democratização” da crise financeira com origem no subprime ou seja, como um assunto complexo parece de repente muito simples depois de mediatizado até ao infinito de modo a torná-lo quase banal e arrumá-lo rapidamente entre os temas já entendidos.
No entanto, lembra o autor, os agora vilipendiados banqueiros americanos eram, há um ano, o modelo de eficiência; o sistema financeiro era referência para regulações, auditorias externas e supervisões independentes; e tudo o que havia de mais fiável e sofisticado é agora considerado a raiz de todos os males.
Parece simples, encontrou-se o “culpado” e tudo parece recompor-se para se retomar o caminho como se os grandes males tivessem sido eliminados. Ao que parece, o mesmo caminho, ou seja, o da ilusão de que é possível proteger os clientes de todos os riscos, repassando-os sucessivamente como se, algures nesse processo, ele se evaporasse. Perdendo-se-lhe o rasto é o mesmo que apagá-lo do mapa? Não é. Também na área financeira a lei da natureza é inexorável: nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Muitas vezes, como se vê, o resultado são crises graves, que não melhoram se estivermos mais preocupados em acalmar os ânimos do que em esclarecer devidamente sobre o que é preciso realmente corrigir. As falsas promessas, por exemplo.
No entanto, lembra o autor, os agora vilipendiados banqueiros americanos eram, há um ano, o modelo de eficiência; o sistema financeiro era referência para regulações, auditorias externas e supervisões independentes; e tudo o que havia de mais fiável e sofisticado é agora considerado a raiz de todos os males.
Parece simples, encontrou-se o “culpado” e tudo parece recompor-se para se retomar o caminho como se os grandes males tivessem sido eliminados. Ao que parece, o mesmo caminho, ou seja, o da ilusão de que é possível proteger os clientes de todos os riscos, repassando-os sucessivamente como se, algures nesse processo, ele se evaporasse. Perdendo-se-lhe o rasto é o mesmo que apagá-lo do mapa? Não é. Também na área financeira a lei da natureza é inexorável: nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Muitas vezes, como se vê, o resultado são crises graves, que não melhoram se estivermos mais preocupados em acalmar os ânimos do que em esclarecer devidamente sobre o que é preciso realmente corrigir. As falsas promessas, por exemplo.
Veja quem vai pagar a conta...E veja quem no fim vai garantir os chorudos bónus. Estamos a assistir a um flagrante exemplo de privatização de lucros e socialização de prejuízos. Muito em voga nas nossas democracias ditas liberais.
ResponderEliminarOra ai está o busílis da questão...
ResponderEliminarA carneirada contribuinte (onde me incluo) está a pagar a factura sem saber qual o seu valor. Ninguém fala disso, já repararam?
Sou um liberal -- a responsabilidade individual é central. Por isso, os bancos que se desenrasquem (sozinhos) da alhada em que se meteram.
Cumprimentos,
Paulo
Cara Dra. Suzana Toscano:
ResponderEliminarFui lá dar uma espreitadela e de facto é facilmente entendível,mesmo para mim que sendo embora sensível a estas questões, não sou de modo nenhum entendido. Aliás, como não sou rico, a minha relação com os Bancos foi sempre muito boa para o lado deles...mais ou menos spread, acabo sempre esfolado como o cabritinho! Deve ser sina que eu tenho!
No entanto, bem haja por este post que contribui, estou certo, para muito boa gente sedimentar conhecimentos.
Cara Suzana,
ResponderEliminarImitando o primeiro comentário ao artigo, "giro mas, infelizmente, errado". E o mecanismo pelo qual se deu a crise do subprime não tem nada de errado, pelo contrário, e existe há décadas com sucesso. Infelizmente aquilo que se democratizou não foi a compreensão do mecanismo, como se afirma no artigo, mas a falta dela derivada da iliteracia matemática dos opinadores.
Por exemplo, imagine que eu tenho acções de uma hidroeléctrica. Estou exposto a um risco de seca, pelo que se trocar metade das acções da hiroeléctrica por acções de hotéis, que ganham com o sol, eu mitiguei o meu risco meteorológico. Onde é que ele foi parar? A lado nenhum. Chama-se a isso o efeito da diversificação. Logo um pacote com as duas acções tem muito menos risco que um pacote só com uma. Os fundos funcionam assim há décadas sem que um "especialista" destes venha dizer asneiras.
A crise do subprime deu-se apenas por uma questão da má avaliação dessa diversificação do risco por parte de três entidades que as avaliaram com um risco mínimo. Os bancos, por acaso, não tiveram culpa nenhuma.
Caro rxc, a esta escala global, é claro que os prejuízos são socializados, de que é que estava à espera? O liberalismo, que também invoca o Paulo,não pode ser equacionado sem se falar dos valores, sem o que será apenas um individualismo selvagem, um salve-se quem puder e quem não puder morre e acabou-se.O liberalismo não é uma luta em que os fortes esmagam os fracos porque estes não conseguem opor-se e não podem tolher o caminho aos que andam mais depressa. Se assim fosse, ou se assim for, os resultados ñão tardam, com a pobreza a crescer e as grandes fortunas a afirmar-se, daí ao atropelo dos direitos, liberdades e garantias com que nos habituámos a contar é um pequeno passo. O liberalismo deve ser muito exigente nos seus valores e é precisamente isso que vimos que faltou, e continua a faltar, sob a capa enganosa das liberdades individuais.Não há liberdade sem valores, há proteccionismo contra abusos,contra a ganância, quando há, e isso é muito diferente.
ResponderEliminarXiça...agora é que o caro tonibler me pôs à rasca...
ResponderEliminar:)
caro tonibler, não tinha visto o seu comentário, coincidimos a escrever...
ResponderEliminarÉ claro que a diversificação do risco não tem nada de errado e é inerente à actividade económica, mas a explicação que dá também me parece um pouco simplista, ter sido "apenas um erro de tr~es entidades" que falharam na sua avaliação.Se esse erro se repercutiu desta maneira, é porque há muito estava ultrapassada a capacidade real de avaliação do risco, e não podia depender da eventualidade desse erro.Não sei de quem é a "culpa", mas sei que a confiança que estava instalada e que levou ao endividamento muito para além das capacidades de enfrentar esse risco e de o neutralizar era infundada.Dir-me-à que a economia não teria conhecido os desenvolvimentos que conheceu se as margens de prudência se tivessem mantido, até o admito,mas já não percebo que tantas instituições, governos e investidores tivessem sido apanhados de surpresa. Pelo menos, é o que parece.
cara Suzana,
ResponderEliminarA grandes crises resultam da falta de diversificação, da concentração de crenças e unânimidades (por isso as democracias são bem sucedidas). Na crise da LTCM, nos anos 90, biliões de dólares se perderam porque se confiou no raciocínio matemático de dois prémios Nobel e esta resulta na confiança "unânime" nos ratings da Standard & Poor's, da Moody's e da Fitch.
O erro destas foi um erro muito comum em probabilidades (embora grosseiro) que consiste em assumir que o valor esperado de algo é igual à média dos valores observados no passado quando a distribuição dos valores observados não coincide com a distribuição possível desses valores. Então deram classificações aos "pacotes" de AAA, a classificação máxima. Daqui para a frente os "pacotes" passam a ser investimentos como qualquer outro, a competir com outros investimentos, como obrigações do tesouro do estado português que, curiosamente, eram considerados com maior risco. Este passo de classificação é que foi o problema-
Claro que desde há um ano a "unânimidade" sobre as agências de rating foi quebrada e a atitude dos mercados perante elas passou a uma fase mais racional e diversificada, mas o mecanismo de empacotar créditos e vendê-los é um mecanismo perfeitamente aceitável e com risco muito inferior (e rendibilidade esperada menor, obviamente) que cada um dos créditos
caro Tonibler, obrigada pelo seu contributo para tornar este assunto mais inteligível, acho que foi muito útil.
ResponderEliminarCara Suzana Toscano,
ResponderEliminarEstamos de acordo que no liberalismo a *responsabilidade* individual inclui alguns valores muito gerais ligados ao respeito pelo indivíduo e pela sua dignidade. Mas este ponto não é o central -- por aqui fico.
Não estamos de acordo sobre a "socialização" das perdas.
Para um ignorante como eu os bancos (incluindo as suas consultoras etc) cometeram um erro de avaliação de riscos e perderam dinheiro. Até aqui nada de mais, é normal, acontece a todos nós.
A parte que me desagrada é a tal "socialização" das perdas à custa da carneirada contribuinte. Porque então eu também quero uma "socialização" dos lucros (e já agora das minhas perdas...). E se é certo que essa "socialização" já existe através dos impostos ela acaba por se injusta devido a várias assimetrias.
Em suma o meu ponto é o seguinte:
Qual o custo desta crise para o contribuinte?
Até pode ter sido um "bom negócio" para o contribuinte os bancos centrais terem acudido os bancos em dificuldades. Mas não há números nem explicações. Ora isso implica normalmente que algo não bate certo...
Cumprimentos,
Paulo
Eu não estava à espera que os accionistas de determinados bancos vissem o seu "risco" coberto com dinheiros públicos, como está a acontecer nos EUA. Nem esperava que os patrões do BS tivessem recebido bónus de centenas de milhões de dólares semanas antes da instituição colapsar e ser posteriormente comprada pela JPMorgan, com o suporte do Fed. Nem seria de esperar que os pacotes onde estavam as hipotecas subprime não tivessem sido comercializados com um rating de AAA (igual às obrigações do tesouro americano!). Nem esperava que a Fannie e o Freddie estivessem em risco de colapsar, levando atrás provavelmente todo o sistema financeiro como o conhecemos.
ResponderEliminarNão esperava isto porque há uns meses atrás nada disto me interessava. Mas agora já espero tudo (o que não quer dizer que concorde...).