A escolha de Sarah Palin para vice presidente pelos republicanos caiu como uma bomba na América. Apanhados de surpresa por uma novidade no panorama mediático, os meios de comunicação saltaram com um avidez espantosa para a nova atracção, esquecendo os que ainda ontem os deslumbravam. Ninguém tinha reparado nela, o que torna bombástica qualquer informação. É mulher, o que significa que vem tirar a exclusividade do palco a Hilary. Foi uma beldade que entrou num concurso de beleza local, o que permite encontrar uma ou outra fotografia de ombros à mostra e poses menos formais, mesmo que sejam de quando tinha 17 anos. É pouco convencional nalgumas coisas e muito conservadora noutras. Usa uma linguagem desafrontada, a roçar o politicamente ingénuo. Tem cinco filhos e a mais nova é um bebé de poucos meses com Síndrome de Down. Além disso, governar o Alaska também tem o seu quê de exótico.
Apresenta-se na sua candidatura com ideias radicias que deveriam desencadear acesas reacções. Mas, em vez de lhe escrutinarem as ideias, viraram-lhe a vida do avesso e as suas histórias pessoais ocupam todas as notícias. Pertenceu a um movimento que, há mais de 20 anos, foi suspeito de olhar com simpatia a secessão do Alaska. Há um polícia que diz que ela o despediu por ele não ter querido despedir um guarda que era ex-marido de uma irmã dela. O marido foi detido uma vez na juventude por conduzir com alcoól a mais no sangue. E ela tem uma pele de urso no Gabinete e não se importa de “confessar” que foi o pai que o caçou. Tudo duvidoso, culpas dela no cartório, claro, mas ainda assim nada de demolidor.
Já estavam a desesperar de encontrar alguma coisa verdadeiramente picante quando se soube que uma das filhas está grávida, tem 17 anos e é solteira. Como se isso fosse hoje um escândalo na América ou no Ocidente. Mas era difícil para os adversários políticos aproveitarem esse facto sem terem a ousadia de o condenar. Começou então uma campanha hipócrita que não tece juízos de valor mas que insiste no facto, que ilustra as afirmações conservadoras da candidata sobre família, aborto e anticoncepção, com a fotografia da jovem e do namorado, como que a provar o falhanço da mãe, a contradição entre o que ela diz e o que a filha faz. A resposta para acabar com o escândalo político que ameaçava as hostes, foi anunciar o casamento e juntar o noivo às fotografias de grupo, tudo em boa ordem para acabar com o falatório.
Pergunto-me se a gravidez da filha também seria uma ameaça à credibilidade do pai, se fosse este o candidato, ou se seria só uma notícia que não ofuscaria os discursos. Não se sabe a vida dos 7 filhos de McCain nem me lembro de relatos sobre os filhos de Bush.
Também já vi um comentário que “elogiava a coragem” desta mãe, sublinhando que, tendo tantos filhos e em especial um bebé anormal, ainda se mete a concorrer a tão alto cargo. Para bom entendedor…
Era mais importante que discutissem as ideias retrógradas de Sarah Talin e a confrontassem nesse terreno. Mas ainda hão-de passar muitos anos até uma mulher ser admitida na política antes de passar no escrutínio como esposa, mãe e dona de casa. Neste campo, parece que não há grandes diferenças entre os progressistas e os conservadores.
Apresenta-se na sua candidatura com ideias radicias que deveriam desencadear acesas reacções. Mas, em vez de lhe escrutinarem as ideias, viraram-lhe a vida do avesso e as suas histórias pessoais ocupam todas as notícias. Pertenceu a um movimento que, há mais de 20 anos, foi suspeito de olhar com simpatia a secessão do Alaska. Há um polícia que diz que ela o despediu por ele não ter querido despedir um guarda que era ex-marido de uma irmã dela. O marido foi detido uma vez na juventude por conduzir com alcoól a mais no sangue. E ela tem uma pele de urso no Gabinete e não se importa de “confessar” que foi o pai que o caçou. Tudo duvidoso, culpas dela no cartório, claro, mas ainda assim nada de demolidor.
Já estavam a desesperar de encontrar alguma coisa verdadeiramente picante quando se soube que uma das filhas está grávida, tem 17 anos e é solteira. Como se isso fosse hoje um escândalo na América ou no Ocidente. Mas era difícil para os adversários políticos aproveitarem esse facto sem terem a ousadia de o condenar. Começou então uma campanha hipócrita que não tece juízos de valor mas que insiste no facto, que ilustra as afirmações conservadoras da candidata sobre família, aborto e anticoncepção, com a fotografia da jovem e do namorado, como que a provar o falhanço da mãe, a contradição entre o que ela diz e o que a filha faz. A resposta para acabar com o escândalo político que ameaçava as hostes, foi anunciar o casamento e juntar o noivo às fotografias de grupo, tudo em boa ordem para acabar com o falatório.
Pergunto-me se a gravidez da filha também seria uma ameaça à credibilidade do pai, se fosse este o candidato, ou se seria só uma notícia que não ofuscaria os discursos. Não se sabe a vida dos 7 filhos de McCain nem me lembro de relatos sobre os filhos de Bush.
Também já vi um comentário que “elogiava a coragem” desta mãe, sublinhando que, tendo tantos filhos e em especial um bebé anormal, ainda se mete a concorrer a tão alto cargo. Para bom entendedor…
Era mais importante que discutissem as ideias retrógradas de Sarah Talin e a confrontassem nesse terreno. Mas ainda hão-de passar muitos anos até uma mulher ser admitida na política antes de passar no escrutínio como esposa, mãe e dona de casa. Neste campo, parece que não há grandes diferenças entre os progressistas e os conservadores.
... e Afegãos e Islâmicos, a diferença está no uso da burka.
ResponderEliminarAh e os da américa permitem-lhes que frequentem as igrejas... em simultâneo.
;)
Há muitas histórias sobre os excessos das filhas de Bush. Das bebedeiras por exemplo.
ResponderEliminarFaz-me confusão que ainda persista na América do Séc. XXI esta forma nojenta de fazer política.
ResponderEliminarMas, sinceramente, não acredito que na hora de optar a maioria dos americanos valorize este disse que disse...afinal estamos a falar de um País evoluído!
Suzana
ResponderEliminarGostei muito desta sua análise. É o vale tudo! Mediatizar um "normal" facto da vida de uma figura pública, com o picante de se tratar de um candidato de peso às eleições presidenciais, para denegrir a sua imagem é vergonhoso e até certo ponto ridículo. A gravidez de uma adolescente solteira é um lugar comum nas nossas sociedades. Digamos que é um acontecimento já banalizado no seio das famílias ocidentais e que portanto não constitui por si só notícia. Fez bem a candidata em afirmar que a sua família é uma família normal, igual a muitas outras famílias americanas. A exploração desse facto é tão absurda nos tempos que correm, que a sua mediatização não creio que tenha audiência para ser explorada.
Muito mais importante é, como diz a Suzana, a compreensão e a discussão até à exaustão das ideias e dos projectos.
Lá como cá a desonestidade mediática é a mesma!
Cara Susana Toscano
ResponderEliminarTocou no ponto e foi esse este, entre outros,pontos, que a Sra Paulin glosou no seu discurso na Convenção Republicana.
O efeito do duplo critério da imprensa, foi semelhante a um boomerang, catapultando a candidata para as primeiras páginas e colocando a candidatura republicana muito próximo, nas intenções de voto, da dos democratas. Existe, hoje, um empate técnico.
Nos EUA ninguêm estava preparado para um candidato que é um Charlton Heston de saias, mais novo e com o mesmo "star quality".
Não fazendo parte do "sistema" é uma lufada de ar fresco e conseguiu o que se pensava quase impossível: o partido incumbente na Casa Branca, com um dos piores níveis de aceitação de todos os tempos, consegue distanciar-se de si próprio e com a ajuda de uma circunstância fortuita até conseguiu evitar a ida do actual inquilino da mesma casa.
Quanto às ideias da candidata, bem ou mal representam uma fatia muito importante do eleitorado, feliz ou infelizmente, não se podem ignorar e foi isso que JMccain (não)o fez.
Agora posso quase garantir que JMccain optou pela senhora por três singelas razões:
É mulher e não se pode continuar a ignorar esse segmento do eleitorado;
Está fora do sistema e isso é a imagem de marca do candidato Mccain
Vive pelas suas convicções, certas ou erradas, como o vive Mccain.
Sobre as eleições americanas tenho uma opinião que já a formulei antes, aguardemos pela prinmeira treça feira de Novembro
Cumprimentos
João
Eu compreendo o desencanto de muitos americanos. Posso também não concordar com algumas abordagens, mas percebo algumas reacções.
ResponderEliminarSarah Palin, como indivíduo para além da sua condição de mulher, contem os ingredientes que mobilizam a América mais retrógrada e fundamentalista: Acredita no creacionismo, rejeitando todo o edifício científico construído a partir dos alicerces darwianos; é adepta do loby das armas; rejeita o aborto mesmo quando está em causa a gestação de deficientes; caçadora, não hesita em fazer-se fotografar junto à cabeça de um urso morto por seu pai; o ambiente não lhe merece mais respeito do que a George W. Bush. Com Palin, o fundamentalismo religioso nos EUA tenderá a emular o fundamentalismo islâmico, perseguindo ambos aquilo que de mais catastrófico poderá ocorrer: o choque de civilizações, que Samuel Huntington prevê como choque de fundamentalismos religiosos.
.
Palin, se um dia for presidente dos EUA, ultrapassará Bush em popularidade pelo lado mais sinistro.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAntes de escrever barbaridades sobre a Sarah Palin, repetindo boatos que alguns básicos perpetraram, era muito conveniente ir ao sítio do governo do Alasca e aprender o que a senhora fez.
ResponderEliminarCaros comentadores felizmente a política ainda tem capacidade de surpreender, nem tudo está programado ao milimetro nem es perdeu a capacidade de fugir ao politicamente correcto, a escolha de Palin foi corajosa e ela é uma mulher de coragem, goste-se ou não do que defende em concreto.
ResponderEliminarBem sei que a América tem um lado profundamente conservador,também muito associado às diferentes religiões, quando se sai das grandes cidades isso é bastante visível,e o que ela tem a coragem de dizer alto e bom som seria cá considerado quase intolerável.
Mas a questão é que a barulheira comunicacional não é à volta das ideias em si mas da tentativa de demonstrar que ela não tem autoridade pessoal para as defender ou seja, contornam delicadamente o essencial e carregam as tintas pelo facto de ela ser mulher. Tudo insidioso e muito pouco corajoso.
Caro Fiúza, o problema é exactamente o de termos que ir ao site do Governo do Alasca para nos informarmos quando há kms de notícias sobre a senhora nos jornais...
Perdoe-me a insistência, mas coragem não é, só por si,uma virtude.
ResponderEliminarCorajosos foram também Hitler, Mussolini, Estaline e muitos outros pavores que enchem muitas páginas da história universal em todas as épocas.
Sarah Palin, pelas ideias que objectivamente defende, caminha a passos largos para um desempenho que pode ser tristemente célebre.
Imagine que lhe cabe em sorte suceder a McCain e vislumbre os EUA presididos por uma individualidade com as ideias de Palin. Receio que possa acontecer o pior.
Não é Palin e a sua vivência familiar que estão em causa. O que a torna nada recomendável são precisamente as suas ideias.
Permita-me que lhe sugira a leitura de
http://dererummundi.blogspot.com/2008/08/semente-do-diabo.html#links
no blog De Rerum Natura
"Os jornais" têm um programa. Constroem um paradigma do "simples, bruto e ignorante" e colam-no a todo e a qualquer republicano (na Europa colam à "direita"). Mas as pessoas não são estúpidas e percebem a vigarice.
ResponderEliminarPode mesmo dizer-se que esta campanha contra McCain e Palin está a dar resultado:
ResponderEliminarhttp://www.gallup.com/poll/110110/Gallup-Daily-McCains-Bounce-Gives-Him-5Point-Lead.aspx
Caro Rui Fonsenca, não tem nada de que se desculpar! A coragem é uma virtude porque, a meu ver, está associada à defesa sincera do que a pessoa tem como valores. A não ser assim, é só atrevimento ou ousadia, mas não é coragem, é desafio ou afronta. No caso de Talin, apesar de eu não me ter dado ao trabalho de estudar bem o que ela defende, parece-me que assume as suas teses com coragem, acredita que são boas e não apenas como modo do chegar ao poder. Por isso usei a palavra coragem. Cabe agora aos outros, aos que defendem valores diferentes e acham que as ideias dela não são as que melhor servem a América, cabe-lhes a eles ter a mesma coragem e discuti-las, apresentar os seus argumentos e defender por sua vez as ideias que lhe opõem. Esse é que é o jogo democrático. O que não devem, e por isso escrevi o post, é tentar minar-lhe o terreno no plano pessoal, com aquela melíflua exigência acrescida por ser mulher, porque esse é que é o perigo. Podemos até pensar que o que está em causa não são as ideia em si, mas a pessoa que as defende. O que me parece é que os democratas não se atrevem a contestar abertamente, tal como não se atrevem a dizer com nitidez o que pensam do aborto ou de outros temas mais polémicos. Ela choca porque não usa a linguagem cifrada que convém a muita gente. Concorde-se ou não com o que ela pensa. E não confundir com quem usou da força e da violência brutal para impor as suas ideias, por favor. O perigo não está nas ideias, mas na incapacidade de as enfrentar.
ResponderEliminarTal como diz o caro António Fiúza, querem impor um rótulo sem se dar à maçada do debate.
Cara Suzana Toscano,
ResponderEliminarPenso que estamos numa primeira fase da abordagem a Palin que é sempre de fofoca e superficial.
Mais tarde Palin será escrutinada mais finamente. Mas também não nos esqueçamos que estamos a falar de profissionais da comunicação e não sei qual é a dose de propaganda e manipulação que está em jogo...
Como alguém que torceu por Clinton, espero que não se repita o mesmo de há 10 anos atrás. Lembro-me como um colega meu ficou furioso quando lhe disse que ao votar em Ralph Nader pôs o Bush no poder...
Não vai acontecer o mesmo agora, onde escolhendo Obama os democratas vão por McCain no poder?
Cumprimentos,
Paulo
Caro Paulo, também espero que se venha a discutir um pouco mais que fofocas, mas é claro que o objectivo é desclassificar Palin como pessoa credível para defender o que diz, assim dispensa-se o esforço do debate de ideias.
ResponderEliminarNunca se saberá ao certo o que é que determina o quê, a política é muito imprevisível porque tem uma forte componente emocional. Ou, melhor dizendo, porque a racionalidade das decisões colectivas não se reconduz à lógica comum do melhor ou do pior. Talvez seja essa mesma a força e a vitude da democracia. Se as pessoas puderem decidir livremente,conseguem ver para além do estrilho comunicacional, seja Obama seja Talin.