domingo, 26 de outubro de 2008

Garantia do Estado a bancos: mas que formosura!...

1. Na última 6ªFeira, 24 do corrente, os 5 maiores bancos do sistema financeiro português, um deles detido a 100% pelo próprio Estado (!), resolveram comunicar ao mercado a sua intenção-desejo-anseio de vir a utilizar a garantia prodigalizada pelo Estado, numa tão inesperada quanto comovedora manifestação de encanto pela criatura recém-nascida…
2. Acontece que alguns dos bancos em questão emitiram o comunicado em termos que suscitam as maiores dúvidas quanto às suas reais intenções.
3. Um deles, por exemplo, disse que admitia recorrer à esbelta garantia mas não por agora uma vez que as suas necessidades de liquidez estavam resolvidas pelo menos até final de 2009…
4. Outro, disse que tinha essa intenção mas ressalvou que nada estava decidido uma vez que a sua situação de liquidez estava por ora confortável…
5. Outro ainda, que nem tem sede em Portugal – pelo que eventuais problemas deste tipo serão, como é obvio, equacionados no plano do País em que se situa a respectiva sede e num nível consolidado - foi absolutamente lacónico…
6. Tanto basta para se perceber que a operação mediática em questão…foi exactamente e só isso, uma operação mediática, dirigida a exaltar a formosura da recém-nascida garantia…e convencer o pobre mercado dessa beleza…
7. Pensando um pouco mais, percebe-se que esta operação mediática de pouco valerá se os que nela participaram não vierem a recorrer ao novo instrumento…ou poderá ser contraproducente se, por hipótese, alguns deles vierem a recorrer só para tranquilidade do mercado/satisfação do Estado-garante.
8. Com efeito, se a garantia vier a ser prestada a um banco que dela não necessite realmente, que entre no jogo “só para fazer número” (ou "tranquilizar o mercado", para este se não assustar com os bancos que dela possam mesmo precisar), o que sucederá é que, como é absolutamente natural, esse banco não estará disposto a aceitar as exigências que o Estado formula no diploma regulador da prestação da garantia…
9. E então viríamos a ter bancos beneficiários da garantia sem qq condições - ou condições “a fingir” - e bancos suportando condições aparentemente gravosas…fará isto sentido?
10. No meio deste enredo, soube-se também, neste fim-de-semana, que o Finibanco já apontou o dedo aos bancos (e logo seis!) que considera estarem em dificuldades de liquidez…para saber os nomes é só ter o trabalho de ler a página 6 do “Confidencial- economia & negócios” do semanário Sol de ontem…
11. Com toda a probabilidade, a reacção dura e surpreendente do Finibanco estará relacionada com rumores que alguns dos visados terão colocado a circular sobre a própria situação do Finibanco - que, todavia, vem com toda a segurança afirmar que tem uma situação financeira equilibrada…e não vejo, sinceramente, razões para duvidar desta última declaração.
12. Este folhetim promete novos episódios bem interessantes – será que a formosura da garantia vai perdurar?

6 comentários:

  1. Para já quem, de facto, abriu cordões à bolsa sem dar muito espalhafato foi o FMI. Emprestou à Islândia e à Ucrânia e irá, muito provavelmente apoiar o Paquistão, a Hungria e a Bielorússia. Ao que tudo indica, os mesmos Americanos que tiveram interesse no conflito da Geórgia por causa do escudo antí-missil, devem estar atarantados com a crise que ajudaram a agravar na Ucrânia.

    Não sei se a atitude do Finibanco terá sido a mais correcta. Não sou muito apologista de que a melhor defesa é o ataque. O Finibanco deveria assumir que estava bem, expondo as suas contas e explicitando o seu projecto. Com esta atitude, veio agravar a situação de desconfiança entre os bancos. Do meu ponto de vista a palavra ideal para não agravar esta crise chama-se, SENSATEZ. Algo que poucas pessoas/entidades, revelaram até agora.

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  2. Caro André,

    Temos o FMI de volta, depois de alguns anos de sonolência, para resolver crises de pagamentos e (tentar) restabelecer a confiança nas moedas e nas economias dos países mais afectados - cumprindo a principal missão que lhe foi confiada na sequência dos famosos acordos de Bretton-Woods...
    Para os que ainda há poucos dias preconizavam o desmantelamento do FMI e a redefinição do sistema financeiro internacional, estes acontecimentos devem ser matéria de profunda reflexão...para que não se atirem para o ar mensagens sem qualquer sentido útil ou prático, meros chavões de retórica fácil...
    Quanto ao Finibanco, embora compreenda a incomodidade que terão sentido com a deslealdade de vizinhos, também considero que foram demasiadamente ofensivos...

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  3. Caro Dr.Tavares Moreira,

    Ao ler a famosa Portaria nº1219 sobre a remota possibilidade de concessão de garantias do Estado Português às Instituições de Crédito, não pude deixar de lhe dar razão, porque afinal tudo não passa de uma encenação para acalmar os "depositantes" que já faziam contas à vida sobre o que iriam receber do Fundo de Garantia do Banco de Portugal. Com efeito e para quem anda nestas lides do mercado financeiro, entre o dia 6 e 12 de outubro assistiu-se a um pânico generalizado, com os depositantes traumatizados pelo congelamento dos seus capitais pós-25 Abril a levantarem consideráveis quantias para guardar no cofre de casa ou, por incrivel que pareça, no cofre das próprias instituições bancárias.
    E como já não havia cofres que chegassem para tanta procura, começaram a levantar depósitos a prazo dos chamados bancos de risco e a abrir conta no Banco do Estado.
    Foram abertas nesse banco mais de 30 contas por dia e os seus funcionários, que não estão habituados a trabalhar em stress, começaram a deitar contas à vida.
    E não satisfeitos os depositantes porque o Fundo de garantia só cobria uns "míseros" Eur 25.000,00 por titular e como ainda há quem muito poupe, começaram a acrescentar titulares às contas: a mulher consumista, o marido jogador de casino, os filhos problemáticos, o cão e o gato,vale tudo em tempo de pânico. Até fazia lembrar os velhos tempos da Privatização da EDP, quando se abriram contas com mais de 50 titulares(até os empregados dos donos das empresas,abriram conta com o patrão ganancioso), porque a procura era muita e o rateio miserável.
    Com o anúncio da Garantia do Estado no dia 12, tudo acalmou para descanso dos funcionários do Banco do Estado.
    Mas como a garantia não vai ser utilizada porque quando os Bancos chegarem a esse ponto, vai ser a debandada fatal dos depositantes, isto para aqueles que ainda o podem fazer, porque aqueles a quem chamamos mais sofisticamente "Investidores" e que estão a ver mais de 50% do seu capital depositado a desaparecer, vão ter sempre barreiras à saída.
    Neste momento, o Estado português podia pensar em conceder um subsidio aos Bancos para estes contratarem mais uns seguranças para os seus "gestores de Conta", a espécie mais odiada neste momento, já que os senhores presidentes e administradores de bancos, no alto do seu poleiro, esqueceram-se de quem diáriamente dá a cara pelos Bancos e sofre ameaças de pistola!
    Já agora só nos falta seguir o exemplo da Islândia e ir para a rua exigir o "despedimento" do Governador do Banco de Portugal, que devia ter zelado melhor pelos interesses dos depositantes/investidores em vez de continuar impunemente a subjugar-se aos interesses dos grandes bancos.
    Entretanto o Finibanco é o único Banco que se está a portar bem, tendo já previsto um aumento do seu capital, enquanto que os outros vão recorrendo a avultados empréstimos do Banco do Estado.
    É a impunidade total!

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  4. Caro Golden S.

    Registo seu desassombrado depoimento, numa matéria em que tanta gente se esquiva - a um comentário tampouco - com receio de ser "mal-entendido"...
    Apercebo-me em especial do que diz quanto à incomodidade por que estão a passar muitos gestores de conta, que tiveram que vender produtos financeiros a clientes, cujas características eles próprios muitas vezes não dominavam.
    Tudo em nome do "sacrossanto" ideal do cumprimento dos objectivos, para satisfação e BENEFÍCIO de seus dirigentes máximos ou sub-máximos...
    E agora, que as coisas estão a correr mal ou muito mal, os dirigentes máximos ou sub-máximos lá estão, num silencio corajoso, observando, por detrás da cortina, as agruras por que passam os seus subordinados gestores de conta...a quem os clientes insultam, ameaçam, fazem "trinta por uma linha", pretendendo responsabiliza-los pelo insucesso, nalguns casos dramático, das aplicações que lhes haviam sido recomendadas...
    Mas são exactamente esses dirigentes máximos e sub-máximos quem tem beneficiado - e irão continuar a beneficiar pode estar seguro - de toda a complacência e protecção de quem tinha obrigação de por ordem neste assunto...
    Os interesses do publico aforrador-investidor estarão sempre em segundo plano, não tenha dúvidas, só relevam para a composição dos títulos (encomendados) nos media...

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  5. Caro Tavares Moreira

    Muito me honra a sua empatia com os meus modestos comentários de iniciante nestas lides bloggistas. Tenho grande admiração pelo seu trabalho e ideais e este modesto contributo é uma forma de expressar a minha solidariedade pela injustiça de que foi vitima, quando o verdadeiro "estrume" anda ainda por aí a gerir Bancos e o nosso dinheiro ou está em casa com reformas milionárias.
    O pior ainda está para vir...
    Se puder, não perca a minha mensagem de hoje no meu blogge.
    Cps

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  6. Caro Golden S.

    Recebo sensibilizado suas palavras de solidariedade, num tema que, como compreenderá me tem causado profundo e prolongado sofrimento...
    Sobretudo pelo que refere: a incomensurável injustiça (quase inexplicável, só mesmo a perfídia humana levada a limites quase inimagináveis pode explicar) sofrida e suportada ao longo de anos, sem ainda ter sido possível adequada resposta...que virá, está mesmo para chegar, apesar de tudo!

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