sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O discurso à tropa fandanga!...

O inglês Conde de Lippe, nomeado pelo Marquês de Pombal como Comandante-Chefe do Exército Português, fez um regulamento que exigia que os sargentos tivessem que saber ler, já que os oficiais não eram obrigados a tal. Lembrei-me da história, ao ouvir todos os dias os nossos oficiais ministros, a começar pelo Primeiro, a dizerem-nos que a Despesa e os Impostos vêm baixando e a lembrarem-nos de que isso está escrito nos livros de uma Bíblia que adoptaram como sua, que severamente nos impõem e a que chamam Orçamento e Conta do Estado.
Fui ver o que essa Bíblia dizia e, não encontrando lá nada do que os oficiais ministros nos propalam, só pude concluir é que os sargentos assessores, ao contrário dos que integravam o exército do Conde, também não sabem ler e dão informações erradas aos seus oficiais.
Mas, se não sabem ler nem escrever, também não foram certamente esses sargentos assessores a fazer a Bíblia que rege as finanças do regimento. Assim, o mais provável é que o Orçamento deve ter sido trabalho de qualquer soldado raso habilidoso que tenha ocasionalmente passado pela Intendência e, para desenjoar por nada ter que fazer, tenha produzido obra a que os oficiais acharam graça, devido às fotografias ou ao formato externo.
E, como sabem que na tropa fandanga que comandam poucos sabem ler o que está escrito no livro, podem dizer, em todas as paradas telejornalísticas, o que lhes apetece e lhes dá mais jeito!...
Nota: Para elucidação, aqui deixo o que o soldado raso escreveu no Orçamento que os oficiais e sargentos não conseguem ler:
a) Em 2005, a despesa pública corrente aumentou 4,1 mil milhões de euros, acréscimo nominal de 6,7%, e acréscimo real, já que foi de quase o triplo da inflação, de 2,3%. Em termos de PIB, a despesa corrente passou de 42% para 43,3%.
b) Em 2006, a despesa corrente aumentou 2,1 mil milhões de euros, acréscimo nominal de 3,2%, e acréscimo real, já que a inflação foi de 3,1%. Em termos de PIB, a despesa corrente passou de 43,3% para 42,9%.
c) Em 2007, a despesa corrente aumentou 2,4 mil milhões de euros, acréscimo nominal de 3,5%, e acréscimo real, já que a inflação foi de 2,5%. Em termos de PIB, a despesa corrente passou de 42,9% para 42,3%.
d) Em 2008, o Governo estima que a despesa pública corrente aumente 3,8 mil milhões de euros, acréscimo nominal de 5,5%, e acréscimo real, já que é quase o dobro da inflação, de 2,9%. Em termos de PIB, a despesa corrente passa de 42,3% para 43,2%.
e) Em 2009, o Governo prevê que a despesa pública corrente aumente 4,1 mil milhões de euros, acréscimo nominal de 5,6%, e acréscimo real, já que será mais do que o dobro da inflação, de 2,5%. Em termos de PIB, a despesa corrente passa de 43,2% para 44,3%.
f) No quinquénio, a despesa corrente aumenta 16,4 mil milhões de euros. Aumento coberto por impostos, que cresceram 15,9 mil milhões de euros.

6 comentários:

  1. Anónimo11:21

    Se o Pinho Cardão não puser isto numa PEN não há ministro que entenda. E mesmo assim tem de ser legível pelo Magalhães!
    Pensando melhor, Pinho Cardão: nem mesmo assim...

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  2. Caro Pinho Cardão, apenas uma ligeira correcção. Friedrich Wilhelm Ernst zu Schaumburg-Lippe apesar de nascido na Inglaterra foi sempre considerado Alemão.

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  3. Caro Luís Bonifácio:
    É verdade; o nome não engana!...

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  4. Caro Pinho Cardão,

    Quer saber a leitura dos seus concidadãos desses números? "Boa, isso quer dizer que nos cinco anos o estado, que somos nós, deu lucro!"

    Isto de 30 anos de conversa estatista da treta, repetida até ao exaustão por todos os parasitas dos impostos já não tem grande volta. Os eleitores realmente acreditam que o estado somos todos nós e, contra isso, batatas.

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  5. Em resumo:
    Se quisermos fazer o exercício de comparar o Défice de 2004, último ano de gestão PSD/CDS com o de 2006, 2007 e 2008 resultaria, – depois de acrescentar aos valores dos respectivos Défices as receitas extraordinárias e as “outras receitas extraordinárias” isto é os aumentos de impostos dos respectivos anos - para 2006, um Défice de 7,5% do PIB (receitas extraordinárias 1,4%; mais 3,4 mil milhões de euros de aumentos de impostos que é cerca de 2,2% do PIB; dá como défice final real 7,5% do PIB comparada com iguais circunstâncias de impostos de 2004).
    Para 2007, um Défice de 7,84% (mais receitas extraor. REN, m ais despesas que transitam 0,84%; mais 6,8 mil milhões de aumentos de impostos – 4,4%; resulta 7,84% do PIB).
    Para 2008, seguindo raciocínio semelhante um Défice de 10,2%.
    Enfim, Sócrates, mantendo os impostos ao nível de 2004, não se servindo portanto das receitas dos aumentos de impostos, não teria um Défice de 5,2% como Bagão Félix mas um Défice de 10,2%!!!

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  6. Bom, caro Ruy, também creio que não seria bem assim. Sem a bengala dos impostos, teria que cortar mesmo a despesa!...
    E, embora com algum atraso, queria agradecer-lhe a citação que fez no seu belo e excelente Blog, Classe Política, do meu post de há dias sobre o orçamento: "os erros jamais vistos do Orçamento"

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