A leitura de uma entrevista do escritor mexicano, Antonio Sarabia, que muito admiro e respeito, despertou-me algumas emoções e lembranças. Não sabia que se tinha mudado para Lisboa.
O autor de “O Regresso do Paladino” descreve alguns conceitos preocupantes sobre a humanidade, nomeadamente o desaparecimento da nobreza. Não a da nobreza nobiliárquica, porque a nobreza não é uma condição hereditária, mas sim a nobreza conquistada por homens de bem.
A nobreza está a ser substituída pela astúcia. Realmente, vendo bem, a astúcia é a arte dos matreiros, a esperança dos medíocres, a arma dos fracos e o garante do sucesso doirado. Olhando à nossa volta, com tantas crises, internacionais, nacionais, à pequena escala, à grande escala, topamos com gente astuciosa e ardilosa que vai usando as suas “capacidades” para vingar neste mundo. A nobreza corre mesmo o risco de entrar em vias de extinção em consequência da “astúcia” de muitos seres humanos, verdadeiros predadores dos nobres e dos cultivadores da honra.
Valor, nobreza, força e astúcia. Fiquei estupefacto quando Sarabia utilizou os quatro mosqueteiros para ilustrar estas quatro facetas.
Adoro “Os Três Mosqueteiros”. Faz parte do meu imaginário. Em miúdo lia as bandas desenhadas das aventuras dos quatro heróis. Histórias aos quadradinhos que me faziam sonhar. Gostava do grupo, mas havia um que não me inspirava grande simpatia, o Aramis. Em contrapartida, admirava a força de Porthos, a elegância de Athos e o valor do plebeu D’Artagnan. Agora, Sarabia explicou, e eu agradeço-lhe, o significado de cada uma das quatro figuras. D’Artagnan o valor, Athos a nobreza, Porthos a força e Aramis a astúcia. Claro que quando jogavam em equipa as virtudes somavam-se e os defeitos diluíam-se.
Sem união nada feito. O risco de sermos dominados por gente astuciosa, capazes de provocar mal-estar, dores e sofrimento, é uma realidade. Até que ponto muitas das desilusões cantadas pelos poetas não serão frutos dos sofrimentos provocados por esses seres humanos?
Acabei de ler duas pequenas e interessantes obras: o “Diário” de Florbela Espanca e o “Rubayatt” do persa Omar Khayyam, o poeta do vinho.
A nossa poetisa, uns dias antes de se suicidar, escreveu no seu diário: “A morte definitiva ou a morte transfiguradora? Mas que importa o que está para além? Seja o que for, será melhor que o mundo! Tudo será melhor do que esta vida!”.
Por outro lado, o poeta autor de odes ao vinho escreveu há muitos séculos:
“Por que te afliges, Khayyam, por teres cometido tantos pecados?
É inútil a tua tristeza.
Depois da morte, há o nada ou a Misericórdia.”
Compreendo as visões destes dois poetas. E fiquei, também, a compreender, ao fim de tantos anos, porque é que no final da história morreram três mosqueteiros, ficando apenas Aramis vivo, o que me entristeceu tanto, porque não achei justo! Afinal, a “astúcia” vence sempre, até a própria morte...
O autor de “O Regresso do Paladino” descreve alguns conceitos preocupantes sobre a humanidade, nomeadamente o desaparecimento da nobreza. Não a da nobreza nobiliárquica, porque a nobreza não é uma condição hereditária, mas sim a nobreza conquistada por homens de bem.
A nobreza está a ser substituída pela astúcia. Realmente, vendo bem, a astúcia é a arte dos matreiros, a esperança dos medíocres, a arma dos fracos e o garante do sucesso doirado. Olhando à nossa volta, com tantas crises, internacionais, nacionais, à pequena escala, à grande escala, topamos com gente astuciosa e ardilosa que vai usando as suas “capacidades” para vingar neste mundo. A nobreza corre mesmo o risco de entrar em vias de extinção em consequência da “astúcia” de muitos seres humanos, verdadeiros predadores dos nobres e dos cultivadores da honra.
Valor, nobreza, força e astúcia. Fiquei estupefacto quando Sarabia utilizou os quatro mosqueteiros para ilustrar estas quatro facetas.
Adoro “Os Três Mosqueteiros”. Faz parte do meu imaginário. Em miúdo lia as bandas desenhadas das aventuras dos quatro heróis. Histórias aos quadradinhos que me faziam sonhar. Gostava do grupo, mas havia um que não me inspirava grande simpatia, o Aramis. Em contrapartida, admirava a força de Porthos, a elegância de Athos e o valor do plebeu D’Artagnan. Agora, Sarabia explicou, e eu agradeço-lhe, o significado de cada uma das quatro figuras. D’Artagnan o valor, Athos a nobreza, Porthos a força e Aramis a astúcia. Claro que quando jogavam em equipa as virtudes somavam-se e os defeitos diluíam-se.
Sem união nada feito. O risco de sermos dominados por gente astuciosa, capazes de provocar mal-estar, dores e sofrimento, é uma realidade. Até que ponto muitas das desilusões cantadas pelos poetas não serão frutos dos sofrimentos provocados por esses seres humanos?
Acabei de ler duas pequenas e interessantes obras: o “Diário” de Florbela Espanca e o “Rubayatt” do persa Omar Khayyam, o poeta do vinho.
A nossa poetisa, uns dias antes de se suicidar, escreveu no seu diário: “A morte definitiva ou a morte transfiguradora? Mas que importa o que está para além? Seja o que for, será melhor que o mundo! Tudo será melhor do que esta vida!”.
Por outro lado, o poeta autor de odes ao vinho escreveu há muitos séculos:
“Por que te afliges, Khayyam, por teres cometido tantos pecados?
É inútil a tua tristeza.
Depois da morte, há o nada ou a Misericórdia.”
Compreendo as visões destes dois poetas. E fiquei, também, a compreender, ao fim de tantos anos, porque é que no final da história morreram três mosqueteiros, ficando apenas Aramis vivo, o que me entristeceu tanto, porque não achei justo! Afinal, a “astúcia” vence sempre, até a própria morte...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Professor Massano Cardoso:
ResponderEliminarÉ muito agradável reflectirmos sobre os temas que habitualmente nos propõe.
Na vida profissional a astúcia vence, quase sempre, sobre todas as outras virtudes, acho eu…
Nobilíssimo Senhor Professor Massano Cardoso, declaro-me solenemente, apreciador da figura "Aramicista" (não compliques Bartolomeu). Pronto, eu esclareço, estava um pouco relutante, mas admito, aquilo que francamente me agrada é o armoa. Durante vários anos adquiria numa perfumaria da Rua da Prata ou Augusta, não me recordo com precisão, a famosa essência a peso. Levava um frasquinho, o perfumísta pesava numa balança de precisão e depois enchia com o aromático "Aramis".
ResponderEliminarBom, mas não foi para comentar essências aromáticas que me sentei aqui ao seu lado. Foi sim para comentar o conceito de nobreza, que em perte e no meu observar, se perdeu na poeira recente dos tempos.
Tal como o mobiliário doméstico!
Não concorda?
Deixe que me explique melhor...
Quando eu era criança, quem adquiria mobiliário para a sua casa fazia a escolha baseado num estilo, mas tambem na qualidade das madeiras empregues. Quem tinha possibilidades económicas, escolhia mógnos, raizes de nogueira, paus-santos, carvalhos franceses, etc. Esse conceito foi-se diluindo e as gerações mais recentes estão perfeitamente nas tintas se o conjunto avulso que adquire no "IKEA" ou na "Moviflor", vai aguentar-se sem gingar durante mais de 5 anos. A cadeira começou a abanar? amanhã vamos lá comprar uma nova. Os vizinhos de baixo queixaram-se que não podem dormir devido ao chiar da nossa cama? Não ha espiga, compra-se outra.
Pronto, chega de divagação.
Ao ponto que desejo chegar, comparativamente, tem a ver com valores. Não com valores monetários, mas sim com morais e éticos. Lembro-me que (ainda em criança) todos os pais se preocupavam com a educação dos filhos, no seio familiar. Ninguem empurrava para a escola, ou para os apoios sociais, o facto de o filho degenerar. Quanto muito, praticava-se o "tal pai, tal filho" ou então "Quem não se sente, não é filho de boa gente". Em suma, do mesmo modo que um casal adquiria uma mobília quando formavam família, tentavam fazer uma escolha, aliando estética, qualidade, robustez e funcionalidade. Do mesmo modo, quando nascia o primeiro filho ou filha, os babados pais, projectavam um acompanhamento educacional, apoiado nos mesmos conceitos e princípios, só que aplicados à pessoa que mais amavam.
Bom, já vai longo este comentário, convem que o termine, se me permite citando o poeta Pessoa, no seu Desassossego: Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém. Os outros sentidos são plebeus e carnais.
... ou não... digo eu... em grêgo...
;)
Há muito que aqui cheguei pela mão daquele por quem tanto respeito e admiração nutro, o Dr. David Justino.
ResponderEliminarAté hoje não tinha ousado sequer pensar em comentar pois é tão importanto tudo aquilo que aqui se escreve e diz, tão bom de ler e melhor ainda de entender e aprender.
No entando perdi o medo e aqui estou.
Os ciclos da vida fazem-me crer que o que é bom acaba por voltar. Não aquilo que a curto prazo pode fazer sucesso, mas o que é bom. Genuinamente bom. De valor. Nobre. Há esperança.
A nobreza do ser esteve para mim sempre ligada à excelencia, quase que a um dom de fazer as coisas. Fazer tudo com uma certa distinção.
E apesar dos tempos que correm continuo acreditar que aqueles que realmente vingam não são os astutos.. esses através de manhas faldadas chegam aos seus objetivos mas, não serão eles mediocres? Refiro-me aos objetivos.
Aqueles que apesar de não chegarem a alcançar o triunfo fizeram todo um trajecto digno, quase que com beleza, tem um valor que ninguem lhes pode retirar.
Bem sei que quem ficou a ganhar foi o astuto, o perspicaz mas..quem vamos nós recordar? Não teriamos muito para dizer.
Quem lembramos hoje? Muitos alcançaram os seus objetivos mas tantos, tantos nobres portugueses e não só, tiveram de ficar pelo caminho, escrevendo memorias para que nunca nos esqueçamos o caminho certo, puro a seguir.
É um prazer estar convosco.
Francisco
ResponderEliminarO prazer é nosso. Alegra-nos contar também com a sua companhia e os seus comentários.