sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A história de Jaime

Si jeunesse savait, si vieillesse pouvait...

O Expresso publica a história de um músico da Guiné Bissau que resolveu alargar os seus horizontes e vir para Portugal, confiante que também aqui obteria o sucesso que já tinha conseguido na sua terra de origem.
Mas os contos de fadas só existem mesmo nos livros para crianças e geralmente são muito sucintos. Não, não é bem assim. Os contos de fadas, até esses, incluem as vicissitudes pelas quais é preciso passar, os obstáculos quase intransponíveis que se atravessam no caminho até que a princesa acorde ou castelo enfeitiçado se liberte finalmente das garras da bruxa. Aprende-se, logo na infância, que custa muito até chegar ao glorioso “…e foram felizes para sempre”.
O que acontece é que as histórias que não terminam assim não nos ficam na memória, ou simplesmente não chegam a ser contadas e ainda bem, porque essa é a forma de estimular o risco, de dar coragem para que se continue a tentar. Se vivêssemos atormentados com os casos que acabam mal, não teríamos esperança nem ousadia, ficaríamos conformados e medrosos.
Mas uma coisa é vivermos alheados das hipóteses de falhar, outra muito diferente é ignorarmos os perigos e estarmos preparados para o caso de não conseguirmos alcançar o que nos fez avançar. Ora, esta última parte, a prudência, a sensatez e a moderação da ambição, são características que geralmente só chegam com a idade, ou com a experiência, como queiram, porque só se aprende mesmo fazendo e raramente se confia nas vozes avisadas dos que recomendam tenacidade e paciência.
É verdade que há casos como o de Jaime, músico dos N’Kassa Cobra, porque haverá sempre quem não se conforme com o que parecem ser os seus limites e se disponham a galgar oceanos de prudência e desertos de caminhos apagados para tentar riscar o seu próprio traço no horizonte. Haverá sempre quem tente, e ganhe, haverá sempre quem tente, e perca.
Esta história é apenas uma versão do mesmo impulso, o oposto seriam os casos dos que se deixaram ficar no mesmo sítio, a olhar com inveja os que quiseram.
Pelo menos ele tentou. Sem isso, nunca saberíamos o fim da história.

3 comentários:

  1. Assim de repente, que me lembre, vindos de África, foram poucos os que aprenderam logo na infância, que custa muito até chegar ao glorioso. Eusébio e Mantorras são 2 exemplos de sucesso.
    Bom, brincadeira tem limites e é bom que se conheçam.
    Até à relativamente pouco tempo atrás, a sorte e o sucesso assistiam com frequência àqueles que se revelavam ousados, esforçados e temerários. Hoje, a sorte tornou-se mais caprichosa e exigente. Talento e ousadia deixaram de ser suficientes para garantir a receita "infalível" que permite franquear as portas do sucesso. Tal como diz, DrªSuzana, tenacidade e paciência, serão certamente as duas boias de salvação capazes de manter à tona d'agua, aqueles que mantêm viva a chama da esperança, renunciando tenazmente a cederem à condição de naufragos.

    ResponderEliminar
  2. É verdade, é preciso tentar mesmo quando a adversidade nos invade com maior intensidade... E as fadas, boas e más, não existem só na literatura infantil! Aparecem-nos também quando a noite escura começa...
    :)

    ResponderEliminar
  3. Caro Bartolomeu, creio que a sorte sempre foi caprichosa e exigente, como muito bem a caracteriza, só que isso às vezes é esquecido!
    Caro jotac, podíamos mandar o seu comentário aos Jaimes deste mundo que precisam de alento para não desanimar!

    ResponderEliminar