1. Esta semana foi notícia de relevo a “criação” de mais uma linha de “crédito”, de mil milhões de Euros – interrogo-me porque não anunciaram um elevado múltiplo deste valor – supostamente para apoio a PME’S.
2. Li na imprensa “especializada” que com esta nova linha de”crédito” se elevava a 3 mil milhões o montante de linhas de “crédito” que o Governo teria criado para apoio às nossas muito estimadas, apoiadas, acarinhadas, incentivadas – e apesar de tudo isso cada vez mais aflitas – PME’s.
3. Creio que não será fácil encontrar medida de política económica mais enganadora e fictícia do que esta, nos dias que correm em que o fenómeno da aversão ao risco por parte das instituições bancárias se generalizou e atinge cada vez mais duramente as PME’s.
4. Esta suposta criação de linhas de “crédito” não tem praticamente qualquer consistência: não há linhas; quase não há crédit. Cria-se apenas a ilusão de um benefício para as empresas.
5. Não percebo aliás por que motivo se insiste em proclamar à saciedade a utilização de um instrumento de intervenção económica típico do tempo em que existia moeda própria em Portugal:
(i) As taxas de juro nominais e reais atingiam por vezes valores muito elevados em comparação com as de outros países nossos parceiros comerciais, porque a política monetária era chamada a desempenhar o papel próprio mais o papel que competiria à política orçamental,
(ii) As empresas eram sobrecarregadas com juros e perdiam competitividade nos sectores mais expostos à concorrência externa,
(iii) O Estado bonificava as taxas de juro dos empréstimos bancários concedidos a empresas dos sectores considerados prioritários para a estratégia de crescimento e de equilíbrio das contas com o exterior.
6. A partir do momento (ou mesmo alguns anos antes) da adesão ao Euro, com taxas de juro europeias ou quase, este instrumento deixou de fazer sentido, uma vez que as empresas portuguesas se passavam a financiar a custos muito semelhantes aos suportados pelas suas congéneres europeias.
7. Este regresso à utilização maciça de um instrumento de política económica do passado, sem justificação plausível no quadro do Euro, por um Governo que se reclama constantemente de objectivos de modernidade é muito curiosa...faz-me pensar que já não se sabe bem o que fazer...e: quando havia dinheiro, atirava-se dinheiro para cima dos problemas (recordam-se?); agora que não há dinheiro atiram-se linhas de crédito – será isso?
8. Há um elemento algo perturbador neste quadro de fantasia política e de com/fabulação numérica: as vozes de apoio que ainda se vão ouvindo de alguns dirigentes de associações empresariais – será que estão assim tão desligados da realidade ou outro será o motivo?
9. Mas, por favor, mais linhas de “crédito” é que não – chegam e sobejam as que andam por aí!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarNo mundo virtual da política portuguesa tudo isto faz sentido. Aposto que houve duas ou três bocas da oposição sobre o apoio aos bancos em vez de se apoiar as PME's.
Ora como nem a oposição, nem o governo, fazem a mais pequena ideia de como funciona uma empresa, para mais pequena ou média, uns fingem que apoiam e outros fingem que se preocupam. O fundamental é que o dinheiro para os que se preocupa e para os que apoiam, não falte e,deve ser por isso, que nunca houve uma linha de débito em que as empresas deixam de pagar impostos para sustentar estas parvoíces de gente inútil.
Mas isso sou a falar que não tenho sentido de estado....
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ResponderEliminarCaros Tonibler e Paulo,
ResponderEliminarEntendo o vosso cepticismo deante do empilhamento de erros graves, futilidades e maus exemplos que têm vindo a minar, de forma dramática, a credibilidade dos políticos mais ou menos situacionistas.
Mas eu acho que devemos, mesmo assim, procurar, nesta tribuna livre e responsável, desenvolver um trabalho de apelo ao que reste (muito pouco, provavelmente, "mais quand même"...) de bom senso na classe política para que exista um mínimo de utilidade nas medidas dirigidas às áreas mais sensíveis da vida colectiva - é o caso da política económica...
E que não se esgotem na preocupação de propaganda ou de marketing porque isso no final terá consequências dramáticas...
Se meus amigos entendem que já chegou o tempo para catarses mais violentas ou radicais, que poderei eu fazer - a não ser, uma vez mais, apelar ao último sopro de bom senso de todos nós?
Não sei se isto já saiu em algum lado... mas, os dados do INE (referem-se mtas vezes a julho) indicam que o acesso ao crédito ou a tesouraria não é o maior desafio à actividade económica por parte das empresas.
ResponderEliminarApenas no sector de obras públicas é que este valor é superior (à roda dos 40%). Nos restantes ronda no máximo os 4%. O maior problema é a apatia da economia e em alguns sectore a concorrência...
Dá que pensar no seguinte:
1. Porquê o apoio financeiro aos bancos com a justificação que as empresas não têm acesso ao crédito? As empresas nao se queixam disso...
2. O governo quer dinamizar um sector da actividade económica com obras públicas, mas as empresas reais queixam-se de apatia e de concorrência...
3. As famílias indicam que não vao comprar bens duradoures... sem produção esta é uma atitude sensata pois o contrario colocaria o país com um problema de défice externo ainda mais acentuado.
Os indicadores sao os seguintes:
Indicador de clima económico prolonga movimento descendente e indicadorde confiança dos Consumidores recupera - Setembro de 2008
(O melhor é consultar o EXCEL)
http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=10865362&DESTAQUESmodo=2
Caro Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarDiria que o bom senso se situaria no meio caminho. De linhas de crédito já estão as PME´s satisfeitas, até porque muitas delas, com ou sem bonificação, não comportam mais do mesmo. Já combinar esta política com uma estratégia sensata de acerto da tributação às mesmas, tornando-o menos pesado e agressivo, faria, no meu entendimento, talvez mais sentido.
Porque o crédito não é tudo. A visão estratégica também importa. Que tal uma ajuda à internacionalização e/ou exportação? Agora que é mais difícil?
Respondendo ao seu apelo - proponho a descida das pestações sociais em simultâneo com restrições ao subsídio de desemprego.
ResponderEliminarTalvez seja altura de jogar outros trunfos, digo eu, claro.
Caros Comentadores,
ResponderEliminar1. FCA
Dois breves apontamentos em torno de seus comentários:
(i) Quando diz as empresas não se queixam...é não se queixam ou não se queixavam?
Não esqueça que a queda do Lehman ocorreu em 15 de Setembro e que a partir daí se precipitou a crise financeira e, em particular, a generalização do fenómeno da aversão ao risco por parte das instituições bancárias...
(ii)Diz "para não colocar o País com um problema de défice externo ainda mais acentuado"...meu caro, não se preocupe com a acentuação do défice...o nível actual desse desequilíbrio é tão grande que qq agravamento não difere muito da situação - acha mais grave estar afogado a 20 metros do que a 10 metros de profundidade?!
2. Mario de Jesus,
As ajudas mais eficazes, em m/ modesta opinião, seriam as fiscais, sob a forma de desagravamento da tributação dos rendimentos e de estímulos fiscais ao investimento.
Acrescentaria a facilitação dos mecanismos de acesso ao QREN- para as entidades públicas são só facilidades, para as empresas privadas é uma montanha de dificuldades e de atrasos na aprovação - este entediante vício de favorecer os sectores protegidos não tem mesmo cura!
3. Agitador
Proposta típica de um incansável agitador - com admiração constato!
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ResponderEliminarCaro Paulo,
ResponderEliminarAbstive-me de referir seu comentário, na parte em que divisava uma oportunidade, nesta crise, pois outrem com muito mais autoridade o faria: e assim foi, hoje o Presidente da República seguiu exactamente a esteira doseu comentário ao destacar as oportunidades que nesta crise se podem encontrar.
Eu penso, de forma menos filosófica e mais prosaica, que as duas grandes oportunidades que esta crise oferece são as seguintes:
a) Ganhar juízo e passar a agir com bom senso - mas já percebi, sobretudo pela reacção de nossos amados governantes que, se há coisa que não vai acontecer é qq espécie de reforço dessa muito escassa componente de seus comportamentos, bem pelo contrário, o charlatanismo, os erros grosseiros ou as misperceptions das medidas de política vão-se acumulando a ritmo quase alucinante, nomeadamente no capítulo da política económica e financeira;
b) Comprar acções e outros activos a preços muito baixos - neste capítulo, tenho a percepção de que o 1º trimestre de 2009 pode vir a ser uma época de saldos como há muitos anos não se via, haverá que aproveitar!...