quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

PIB cai -3% a -2% em 2009...contra a crise marchar, marchar!

1. Já é tempo de o barómetro 4R avançar a 1ª previsão do PIB para 2009, tal como em 2008, com resultados tão estimulantes como estarão recordados...
2. A primeira previsão do 4R para 2008, de +0,7%, editada em Julho - numa altura em que o Governo e os seus “advisors” da baixa pombalina ainda apontavam taxas de crescimento “close to” 2% - e corrigida em Setembro para 0,5%, viria a revelar-se a mais certeira de todas as editadas em Portugal.
3. As previsões do 4R para 2009 aqui estão, pois, embora a nossa modéstia mande dizer, como sempre dissemos, que elas são passíveis de erro, nomeadamente numa conjuntura tão incerta como aquela que vivemos.
4. Que razões nos levam a avançar uma previsão tão divergente das “quase infalíveis” emitidas pelo Governo e BdeP (gémeas, como se impunha...)?
5. A nossa percepção é de que a contribuição das exportações líquidas para o PIB, prevista pelo BdeP em -0,8%, deverá ser bem mais negativa – por força de uma maior quebra das exportações do que a admitida pelo BdeP (-3,6%).
6. Informação que vai chegando de sectores exportadores sugere que a quebra é muito forte, muito mais do que a que foi avançada pelo BdeP...
7. O problema não seria tão grave se as importações caíssem mais do que o previsto pelo BdeP (-1%), compensando assim a maior quebra das exportações...
8. Mas aqui entra em acção o famoso programa de “combate” à crise cujo principal efeito será contribuir para sustentar as importações de bens e de serviços...
9. O tipo de despesa que se pretende dinamizar - despesa pública em obras sem qualquer impacto favorável nos sectores mais expostos à concorrência internacional - deverá dar uma boa ajuda às importações...agravando os desequilíbrios insustentáveis da economia.
10. Caricaturando, ocorre perguntar em que medida a construção de novas rodovias vai resolver os problemas de que padecem empresas como a Quimonda, a Aerosoles, a Citroen e quejandas?
11. Será facilitando o escoamento por estrada de produtos que deixaram de ter procura nos seus principais mercados?...Alguém acredita?
12. Será que os rendimentos gerados por essas empreitadas vai ser gasto em produtos nacionais e não em importados?...Alguém acredita?
13. Será que a secagem do crédito bancário imposta por essas obras altamente consumidoras de capital vai ajudar as empresas dos sectores mais expostos à concorrência?...Alguém acredita?
14. É claro que a despesa beneficiará com esta enxurrada de dinheiro cego, que vai açambarcar (na curiosa expressão de Campos e Cunha) o pouco crédito de que ainda dispomos...mas em detrimento do estado da economia que em todos os planos relevantes se agravará!
15. Quando daqui por 6 a 8 meses se verificar que a previsão do 4R é a mais próxima da realidade, podemos estar certos de que o discurso oficial será “... e se não fosse o nosso plano de combate à crise, a nossa coragem de a enfrentar, como é que estaríamos?”
16. O coro dos dóceis “media” entoará os refrãos: (i) Governo de visão e coragem para decidir; (ii) Sem maioria absoluta País ingovernável...
17. Assim, contra a crise marchar, marchar!

17 comentários:

  1. O meu caro não deve estar a contar com a exportação de licenciamentos para Inglaterra que, pelos vistos, pode ser um negócio muito interessante e muito adequado às características do nosso país e dos nossos trabalhadores.

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  2. Anónimo21:16

    Contra a crise marchar, marchar... em direcção ao precipicio?

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  3. Caro Tonibler,

    Meu caro entra numa análise económica de um tal nível de refinamento que me deixa aturdido!
    Estará a referir-se ao licenciamento de soccer players - fala-se agora de Miguel Veloso, por exemplo - ou de um nível bem mais obscuro de licenciamentos?

    Caro Zuricher,

    Pode ser em direcção ao precipício, mas sempre em nome dos superiores interesses nacionais - se a "dinamização da economia", grande desígnio do Programão ao que parece, nos aponta ao precipício, porque não aceitar essa fatalidade, patrioticamente?

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  4. Sim, mais ou menos. Está relacionado com artistas, sim...

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  5. A coisa é muito simples, pelo que tenho visto/lido: se a economia está em maus lençóis devia ao consumo ser maior do que a produção (porque não temos rendimentos de nível europeu mas temos direito a viver como eles!), resultando num crescente desequilíbrio da BTC e da dívida externa, o melhor que temos a fazer é avançar com mega-projectos ruinosos, que vão aumentar ainda mais a dívida e em muito pouco ou nada contribuir para inverter o déficit da BTC.

    Vejamos se o governo consegue arranjar comprador para a dívida que vai colocar no mercado...As cenas dos próximos capítulos prometem ser muito interessantes (quando não trágicas).

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  6. Caro Tavares Moreira

    Revejo-me em grau género e número nas suas/previsões e comentários. No entanto será:
    que este Governo ou semelhante, isto é da mesma família, estará em funções dentro de dois meses?
    que teremos capacidade para colocar, com eficácia (isto é na totalidade), a (necessária) emissão de dívida soberana, para financiar as folestrias kainesianas do actual governo?
    que ainda teremos soberania nacional em qauntidade para seguir, de uma forma autónoma, um política nacional?
    Cumprimentos
    joão

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  7. Caro Tavares Moreira

    Apenas uma adenda aos seus comentários:

    A retracção das exportações será ,maior do que a prevista pelo BdP, no que toca à de mercadorias.
    Resta a incógnita da balança de serviços, porque não sabemos qual será a baixa real das entradas do turismo.
    Basta que o câmbio da £ seja inferior a um € para o nosso turismo sofrer ainda mais do que já está previsto.
    Percebe as campanhas do vá para fora cá dentro? Ou os € 800.000 que se deseja (não sei bem para quê) em promoção turística no reino Unido?
    Cumprimentos
    joão

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  8. Caro TMoreira:
    Os bastardos de Keynes, que dizem ter-lhe herdado a teoria mas foram deserdados dos genes, continuam a aplicar a receita do costume.
    São incompetentes em Keynes, apesar de muitos serem professores (coitados dos alunos...) e são incompetentes nas políticas (coitados dos portugueses...)
    Peter estava a pensar neles quando enunciou o seu princípio.
    Por isso, andam satisfeitíssimos a fazer o que o nível da sua competência lhes permite.
    Asneiras sobre asneiras, mas politicamente muito correctas, face à miserável cultura instalada, que continua a ver o rei bem trajado, quando vai roto e nu.

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  9. Enigmático, como sempre, com essa dos artistas, caro Tonibler...
    Estou coçando a cabeça para saber o que será essa dos artistas...não quer dar mais uma achega?

    Caro rxc,

    Comprador para a dívidas/dívidas que emitimos vai sempre havendo...é uma questão de preço, que tem vindo a subir bastante, como é natural - e deve continuar a subir.

    Caro João,

    A colocação de dívida pública vai sendo possível, a preços cada vez mais elevados como atrás comentei.
    Quanto às campanhas turísticas ainda não vi nenhuma que supera-se, em génio conceptual e em resultados, a famosa do All-garve...um estrondo!!!

    Pinho Cardão,

    Brilhante síntese, meu Caro, tem toda a razão quando diz que o rei vai "roto e nu"!
    E podia acrescentar que vai também de mão estendida, gesto a que nos vamos ter de habituar!

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  10. Caro João,

    Onde está "supera-se" peço que leia "superasse". As minhas desculpas pelo lapso.

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  11. Caro Tavares Moreira

    Duas adendas:

    a) A campanha no Reino Unido ainda não se inciou. A do ALLGARVE, nem sequer necessitade comentários. O que pretendia comentar é que vamos gastar diheiro escasso num mercado, onde, circunstâncias fora do nosso controlo, vão limitar as deslocaçoes dos seus nacionais. Basta que o euro esteja mais caro para, até os ingleses que se encontram no ALLGARVE, pelo menos uma parte, voltarem para o sei país.
    b) Já começa a "flutuar" a ideia de "mutualizar" a dívida dos 4 países do sul: Espanha, Itália, Grécia e Portugal. Quem propõe, são os nossos "amigos" do norte da Europa.A contrapartida, porque não vamos desvalorizare, nem diminuir os salários, pode ser "entregar" a condução da política fiscal e económica a um conselho de administração. Uma receita FMI, sem o FMI.
    c) Acho que o povo aqui do burgo, não se importaria muito com essa solução, mas tem custos e muitos.
    Cumprimentos
    joão

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  12. caro João,

    Quanto à sua 1ª adenda, nada de especial a acrescentar a não ser que continuamos a despejar dinheiro sem critério nem lógica, os contribuintes que se queixem depois...
    Relativamente à 2ª trata-se de uma ideia curiosa, provavelmente inelutável, mas que levará ainda
    tempo a modelar...creio que o tempo suficiente para que a situação dos países do sul possa ser considerada insustentável- mais um ou dois downgrades do rating poderão produzor esse efeito - e nessa altura eles próprios se mostrem docilmente disponíveis para aceitar essa tutela externa.
    Renunciarão assim, provavelmente de forma definitiva, a qualquer forma de autonomia na condução da política económica e financeira.
    O Povo do burgo nada perceberá, basta que um qualquer charlatão lhe diga que está em causa o "interesse nacional" e a "salvação da economia": no meio dos seus tristes padecimentos e sem qq esperança no futuro, já nem entenderá o que se passa... verdadeiramente felizes, todos...

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  13. Claro que hoje se torna fácil fazer previsões. Estranho é que em Outubro nenhuma voz se levantasse com uma previsão de recessão para 2009, quando já era de todo prevísivel. Concordo em absoluto que a recessão deverá ser nunca inferior a 3% do PIB.

    Desde 2001, que o crescimento económico do País (reflectido no PIB) tem acentuado a divergência com os países da União Europeia.O Euroststat prevê para 2009 um crescimento médio do PIB para os países da UE de apenas 0,2%.O Orçamento de Sócrates para 2009 prevê um crescimento de 0,6%. Isto é, um crescimento triplo do que é estimado para os restantes países da UE.Esta pretensão é mais do que uma fantasia. Uma idiotice, não fosse o seu propósito mistificador. Estimamos que Portugal não escapará a uma recessão de pelo menos 1%. Neste sentido, serão igualmente fantasiosas as previsões de Ferreira Leite quando admite um crescimento máximo de 0,3%.
    (blog classepolitica em 26,10.08)

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  14. Caro Ruy,

    Quem lhe disse que era fácil fazer previsões HOJE?
    Olhe que esse exercício, para quem tem algum respeito pelo rigor - não é de todo o caso das previsões oficiais que são editadas com o exclusivo propósito de iludir os incautos cidadãos - não tem nada de fácil, nem hoje nem para o mês que vem...
    Por isso mesmo avanço com um intervalo (-3%;-2%) e só lá para Junho-Julho poderei encurtar esse intervalo para metade...
    O que não vale de todo a pena, em minha opinião, é discutir a maior ou menor bondade das previsões oficiais, uma vez que estas, reitero, são lançadas sem qualquer propósito sério - são mero exercício de propaganda, ao estilo de planfeto eleitoral...

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  15. Caro Tavares Moreira

    Acho que está a ser conservador e muito prudente na suas previsões.
    Sem querer ensinar nada, acho que basta estar atento ao seguinte:
    As 10 primeiras empresas exportadoras valem +/- 24% do total das exportações.
    Destas destaco as seguintes: Autoeuropa, PSA, Visteon, Continental, Qimonda.
    As primeiras quatro estão no sector automóvel e, basta seguir as notícias, prevêm quebras de vendas entre os 35% e os 55 % ( e a subir), das vendas.
    A última, de todos conhecida, já declarou que a sua produçao vai descer 75%.
    Sinceramente, temo que a PSA feche as portas, lá para o 2º semestre e que o mesmo se passe com a Qimonda.
    Note que apenas mencionei cinco empresas e dois sectores....
    Infelizmente, como muito bem diz, as previsões oficiais, são um exercício de pura negação da realidade e estamos condenados a construir um "puzzle" com as peças soltas que, ainda e felizmente, não nos podem sonegar.
    Cumprimentos
    joão

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  16. Caro Tavares Moreira, eu não falo em fazer previsões às milésimas ou mesmo às décimas.
    Recordo-lhe que, quando em Outubro, um coro de ilustres economistas nacionais em sintonia com o governo previam que Portugal – “quando muito uma economia parada ou oscilando muito próximo do zero”, (ex César das Neves em 15.11.08 em declarações à Lusa comentando os dados do INE do terceiro trimestre "Para já, contraria aquele barulho que se fez há tempos quando se dizia que ia haver uma recessão em Portugal no final do ano, com o terceiro e os quarto trimestres negativos", acrescentou. Segundo César das Neves, os números mostram que a economia portuguesa "parou"."A economia já andava a crescer muito pouco e agora parou", sintetizou. O professor universitário prevê, face a estas estimativas, que no próximo ano a economia portuguesa continue parada, com crescimentos ou quedas muito próximas do zero. ).
    Considero que em Outubro, para um economista que andasse no terreno, seria fácil prever uma forte recessão em 2009. Longe portanto do crescimento de 0,3% como então afirmou Ferreira Leite. Como também hoje, para quem “viva a economia no terreno” pode prever uma recessão para 2009 nunca inferior a 3%.

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  17. Caro João,

    Exactamente por aquilo que diz considerei anormalmente optimista - um lídimo exercício de "wishful thinking" - a previsão do BdeP de uma quebra de (3,6%) nas exportações em 2009...

    Caro ruy,

    Tem toda a razão quanto a esse ponto, meu Caro, a generalidade dos comentadores de serviço - ilustres economistas nacionais como eufemisticamente os denomina - vive fora da realidade.
    Por isso vai alimentando suposições que a dita realidade, à medida que se move, vai paulatinamente desmentindo!

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