domingo, 18 de janeiro de 2009

É sempre a mesma coisa...

Comentei há pouco o último post do Professor Massano Cardoso que nos fala sobre civismo. Os comportamentos na estrada reflectem a meu ver o nível educacional dos cidadãos. De volante nas mãos reproduzem na condução o respeito que nutrem (ou não) pelo próximo e por si próprios, seja porque são chamados a cumprir as regras do Código da Estrada seja porque utilizando um espaço público são chamados a conviver de forma ordeira com os outros cidadãos que também circulam na via pública.
Vem isto a propósito de um episódio a que hoje assisti ao final da tarde, já noite, de regresso a casa, na saída de Lisboa para apanhar a auto-estrada que faz a ligação a Cascais.
A fila de automóveis começou a formar-se no início da auto-estrada. A passo de caracol julgava eu ter ocorrido um acidente um pouco mais à frente, atenta a lentidão do movimento da fila e o facto de ter passado uma viatura da polícia, que se deslocava a boa velocidade e com a sirene activa.
O tempo ia passando e a certa altura as três faixas começaram a dar lugar apenas a uma faixa, pois as outras duas estavam vedadas. Pensei, então, no acidente que certamente teria ocorrido lá mais à frente, apanhando as duas faixas, o que não me admirou que pudesse ter acontecido porque estava a cair uma chuva miudinha, o pavimento estava escorregadio e se tinha instalado um ligeiro nevoeiro.
Nestas coisas, quando penso num acidente e nas consequências para as pessoas envolvidas, a minha alma enche-se de tolerância com aquele sentimento de que pode acontecer a qualquer um e que ainda bem que não é nada comigo, estou no automóvel confortável e salva.
Mas, eis que, qual não foi o meu espanto que, depois de ter entrado na única faixa disponível e ter percorrido cem a duzentos metros (ou mais, não sei bem), num ritmo irritante do pára arranca e num zum zum de buzinões à mistura, olho para a minha direita, em pleno viaduto Duarte Pacheco e vejo um cenário de filmagens. Sim, não se tratava de um acidente!
Deu tempo para ver tudo, como é costume quando há um acidente. Tudo pára para ver o que se passa! Mas valeu a pena passar a 10 km à hora para ver o “atrevimento” de àquela hora estar ocupada uma boa parte do viaduto com uma tenda, câmaras de filmar daquelas de pé alto com rodas, guindastes, ou talvez gruas, com holofotes para iluminar as cenas, imagino eu, várias camionetas daquelas com antenas e artilharia de televisão, um carro antigo do tempo do “Travolta”, com umas riscas vermelhas, diversas pessoas que se deslocavam e a viatura da polícia.
Pergunto-me porque é que as autoridades obrigam as pessoas a estarem horas numa via de utilização pública sem avisarem os automobilistas com a devida antecedência, sinalizando o problema e oferecendo caminhos alternativos. É elementar!
Não é a primeira, nem a segunda vez, que assisto a situações deste tipo, devidamente programadas e conhecidas das autoridades, em que não há o mínimo de respeito e consideração pelos cidadãos, que acabam por ser prejudicados por razões que lhe são absolutamente estranhas, sem que haja a preocupação de lhes minorar os problemas causados por iniciativas que põem em causa os seus mais elementares direitos. Não sei o que estabelece a lei a este propósito, mas sempre direi que não seria necessária a lei se as autoridades e as pessoas em geral actuassem civicamente, lembrando-se que os outros merecem ser respeitados e considerados.
Mais uma vez, é uma questão de educação. Será que os automobilistas de hoje à noite que estiveram privados do normal acesso à auto-estrada encolheram os ombros e não se importaram com o que se passou? Às vezes penso que temos o que merecemos!

5 comentários:

  1. Anónimo22:00

    Margarida, a lei sujeita a autorização administrativa a ocupação, ainda que temporária, de bens do domínio público. E a Constituição consagra a liberdade de circular como uma das liberdades fundamentais, que só pode ser restringida para dar lugar ao exercício de outros direitos, de igual natureza, sendo a restrição limitada ao necessário e estritamente adequado.
    Agora o que recomenda a lei não escrita do bom-senso, é que quem autoriza trate de por em prática as medidas que menorizem os incómodos com a restrição.
    Mas, Margarida, vivemos em Portugal onde a sensatez nestes domínios, como noutros, não abunda.

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  2. Situações como esta que nos relata, são verdadeiramente exasperantes, para mais são cada vez mais frequentes, a par de uma outra tambem muito comum que é a de vedar a utilização de uma das vias alegadamente para obras e quando chegamos ao final da intredição verificamos que nem sinais da mesma, o que nos deixa na dúvida se a obra já terá terminado e alguem se esqueceu de retirar os pinos, ou se irá começar... um dia.
    Na sua alma, que acredito seja pia, a cara Margarida, consegue encontrar espaço para a benevolência que lhe permite aceitar a situação desde que préviamente comunicada e desde que sejam indicados aos utentes das vias que não foram construídas para outra finalidade que não seja a circulação de veículos e seus passageiros. Eu não. Exaspero com o abuso. Mais ainda que com aquela situação que o caro Professor Massano Cardoso relatou. Porque se no caso da menina do Mercedes, concluímos que possa ser fruto de um comportamento cívico desadequado, no caso que a cara Margarida nos relata, trata-se de um abuso inqualificável e de um desrespeito pelos direitos dos cidadãos, levado a cabo pelos serviços das câmaras e da direcção de trânsito. Ainda não ha muito tempo tambem me vi obrigado a esperar uns bons 30 minutos num cruzamento, porque dali a poucos minutos iria passar uma prova de ciclismo que um clube de bairro, em conjunto penso eu com a autarquia ou a junta de freguesia, se lembraram de organizar.
    6 meses de ditadura...é pouco.
    Ah, achei um piadão ao desenho, é da sua autoria?
    Adorava que sim.

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  3. Cara Dra. Margarida Aguiar:
    Não existe entre nós uma cultura de respeito pelo outro e, assim sendo, quem decide e autoriza nunca equaciona o transtorno e o prejuízo que causa aos outros. É assim em tudo, nas obras que se prolongam exageradamente nas rodovias, ou até nas filas de atendimento dos Organismos Públicos, leia-se aqui o -“Cidadão e o cartão” da autoria do Drº Pinho Cardão.
    Já alguém quantificou as horas de trabalho perdidas e o que isso significa para a economia do País!?

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  4. Então, Margarida, vai ver que as pessoas acharam fantástico terem passado por umas filmagens!, o facto é que estamos tão habituados a que os nossos direitos e o nosso conforto venham em último lugar da fila de ponderáveis que já aceitamos essa humilhação com toda a naturalidade. É triste mas é assim, acho que é uma mentalidade.

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  5. José Mário
    As restrições à liberdade de circular que a lei prevê devem ser utilizadas certamente com regra e de modo a minimizar os correspondentes incómodos, sob pena de atropelo aos direitos dos cidadãos.
    Assistimos com bastante frequência a uma utilização abusiva dessas restrições, pouco importando o desrespeito e desconsideração pelos cidadãos!

    Caro Bartolomeu
    Claro que é um abuso. Quando as autoridades não dão o exemplo, estamos muito mal. Depois ficamos admirados com a falta de civismo!
    Lamento decepcioná-lo, Caro Bartolomeu, mas mentiria se lhe dissesse que o desenho era da minha autoria. Mas continua a ter piada, não é? Foi bem escolhido, não foi?

    É verdade, Caro jotaC, nota muitíssimo bem os desperdícios e os consequentes prejuízos provocados pelo tempo que é dispendido em "filas" de espera para tudo e mais alguma coisa. Mas haverá algum serviço público que se preze que não obrigue os utentes a esperarem e desesperarem para cumprirem, em muitos casos, o que a lei lhes impõe?

    Suzana
    É a mentalidade da mediocridade, bem visível em muitas das frentes do nosso quotidiano. Deveria constituir uma vontade para mudar. Mas parece que é ao contrário!

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