Vi hoje uma notícia sobre o recrutamento de crianças combatentes na República do Congo, aliás nem deve já haver nenhum ser vivo no Congo que não seja combatente ou vítima dos combatentes ou seja, refugiado, estropiado, ou subnutrido, para não falar da cólera e de todos os cavaleiros do Apocalipse que acompanham a guerra.
O EL País de há umas semanas trouxe a primeira de uma série de reportagens “aos infernos na Terra”, e levam como testemunha dos horrores um escritor com a arte e a coragem suficiente para ver e relatar. Para estrear, levaram Mário Vargas Llosa ao Congo, esse país tão rico e há longos anos mergulhado numa guerra sem regras impossível de imaginar, em que milícias rebeldes competem em violência e brutalidade com o exército dito governamental, em que se cruzam lutas tribais com luta pelo controle dos minérios, e hordas de criaturas que nasceram humanas fogem aterrorizadas de um campo de refugiados para outro, deixando para trás os casebres, o gado, os campos de onde tiravam a magra sobrevivência. “Os refugiados estão condenados a uma vida atroz, parasita, que os desmoraliza e anula, este é talvez o espectáculo mais terrível que oferece o Congo Oriental: dezenas de milhares de pessoas a quem a violência e a miséria reduziu a zombies”, consta do relato tão brutal que só com esforço se lê até ao fim.
Por coincidência, li nesse mesmo dia uma breve notícia noutro jornal que dava conta de que se cumpriam 50 anos sobre a emancipação do Congo e “o reconhecimento oficial da vocação do Congo para a independência”, prevendo-se a "eliminação da segregação política e racial dos negros, a participação dos congoleses na construção de uma democracia e um conselho de legislação", sendo que o jornal da época criticava fortemente a medrosa “abertura” dos belgas à real emancipação da sua colónia. Que abismo entre estas duas datas, há 50 anos a ambição da emancipação de um povo, a impaciência pela hora da liberdade para desenharem os seus destinos na terra que voltava a ser só deles, hoje a guerra civil total, a miséria e a destruição até ao mais pequenos dos seus habitantes.
No entanto, na amálgama de terrores que é hoje o Congo com os seus meninos combatentes e as suas crianças destroçadas, há um grupo de “Poetas da Renovação”, lembrando que “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”, que se reúnem numa igreja onde sobrevive uma pequena biblioteca. Vargas Llosa provocou entre eles um diálogo sobre os efeitos do colonialismo, mas o juízo negativo que alguns sustentaram foi cortado por um jovem “teólogo poeta”: “E que temos nós, os congoleses, feito com o nosso país desde 1960?”
A reportagem bem actual dos meninos soldados, andrajosos, esfomeados, com fardas de palhaço triste e dramático, mas com armas reluzentes e de modelos bem actuais, dá a terrível resposta.
Por coincidência, li nesse mesmo dia uma breve notícia noutro jornal que dava conta de que se cumpriam 50 anos sobre a emancipação do Congo e “o reconhecimento oficial da vocação do Congo para a independência”, prevendo-se a "eliminação da segregação política e racial dos negros, a participação dos congoleses na construção de uma democracia e um conselho de legislação", sendo que o jornal da época criticava fortemente a medrosa “abertura” dos belgas à real emancipação da sua colónia. Que abismo entre estas duas datas, há 50 anos a ambição da emancipação de um povo, a impaciência pela hora da liberdade para desenharem os seus destinos na terra que voltava a ser só deles, hoje a guerra civil total, a miséria e a destruição até ao mais pequenos dos seus habitantes.
No entanto, na amálgama de terrores que é hoje o Congo com os seus meninos combatentes e as suas crianças destroçadas, há um grupo de “Poetas da Renovação”, lembrando que “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”, que se reúnem numa igreja onde sobrevive uma pequena biblioteca. Vargas Llosa provocou entre eles um diálogo sobre os efeitos do colonialismo, mas o juízo negativo que alguns sustentaram foi cortado por um jovem “teólogo poeta”: “E que temos nós, os congoleses, feito com o nosso país desde 1960?”
A reportagem bem actual dos meninos soldados, andrajosos, esfomeados, com fardas de palhaço triste e dramático, mas com armas reluzentes e de modelos bem actuais, dá a terrível resposta.
A propósito de "Poetas da Renovação", de África e dos seus, aqui fica um poema de Ana Paula Lavado, com o título " Um beijo sem nome", do livro "Vozes ao Vento"
ResponderEliminar"Quando te disse
que era da terra selvagem
do vento azul
e das praias morenas...
do arco-iris das mil cores
do sol com fruta madura
e das madrugadas serenas....
das cubatas e musseques
das palmeiras com dendém
das picadas com poeira
da mandioca e fuba também...
das mangas e fruta pinha
do vermelho do café
dos maboques e tamarindos
dos cocos, do ai u'é...
das praças no chão estendidas
com missangas de mil cores
os panos do Congo e os kimonos
os aromas, os odores...
dos chinelos no chão quente
do andar descontraido
da cerveja ao fim de tarde
com o sol adormecido...
dos merenges e do batuque
dos muquixes e dos mupungos
dos embondeiros e das gajajas
da macanha e dos maiungos.
da cana doce e do mamão
da papaia e do cajú....
tu sorriste e sussurraste
"Sou da mesma terra que tu!"
Cara Suzana:
ResponderEliminarTriste é que a Europa, em nome do politicamente correcto, acabe por sustentar esses ditadores abjectos que assim torturam as populações, praticam genocídios e criam sofrimento atroz.
Que é que tem a ver o colonialismo com tais situações?
Os abusos do colonialismo estão reconhecidos há muito, e os que houve não justificam os procedimentos actuais.
É esse masoquismo europeu que acaba por servir de respaldo aos crimes como os do Congo e tantos outros.
“E que temos nós, os congoleses, feito com o nosso país desde 1960?”
ResponderEliminarSem dúvida que a interrogação é pertinente. Efectivamente os africanos são em grande parte culpados pelo seu próprio atraso sócio-económico que gera a pobreza que todos bem conhecemos e que, por sua vez, leva a guerras fratricidas onde as crianças são soldados à força.
Ainda hoje, de manhã, algumas notícias reportavam-se às ex-colónias portuguesas, realçando aspectos negativos sobre o seu desenvolvimento. Também aqui se impõe a pergunta: o que fizeram eles após a descolonização?
Lindo poema, caro Bartolomeu, de facto é preciso ler e ver coisas bonitas depois de olharmos esta miséria total.
ResponderEliminarConcordo, caro Pinho Cardão, só não sei se sustentam, se toleram, o certo é que não condenam com todas as letras e vamos ficando pelo apoio humanitário que nunca será suficiente e que não tem fim à vista, mas que é afinal o único meio de sobrevivência mínima da população, também com a extraordinária acção dos médicos e outros voluntários das organizações.O complexo do colonialismo parece que já não existe lá nem entre os poetas mas cá pela europa ainda é um trauma.
Tem imensa razão, caro jotac, também ouvi a notícia e fiz a mesma associação ao que ontem aqui escrevi.
ResponderEliminarCada vez há menos esperança para África. A ONU e a União Africana são absolutamente inúteis e incapazes. A idade de ouro africana foi o período colonial: houve mais educação, mais saúde, mais investimento e mais trabalho.
ResponderEliminarPorque Jesus Cristo não salvou os africanos dos genocídios dos traficantes de escravos. Porque Jesus Cristo não salvou ou libertou escravos brasileiros da cruel escravidão de séculos. Porque Jesus Cristo não salva hoje os negros de tanto sofrimento, pobreza, miséria, desemprego, exploração, violência social e policial, marginalidade, perseguição, injurias, ingratidão, exclusão, judiação, ignorância, alienação, droga, alcoolismo, prostituição adulta e infantil e pedofelia, Porque Jesus Cristo não salvou os africanos os negros e negras afro-decentes do terrorismo, genocídio, discriminação, preconceitos do racismo, de tanta injustiça, ignorância, desumanidade, insensibilidade, intolerância Porque Jesus Cristo não nos salva do cristianismo. Maria Negrissima ONNQUILOMBO 20/11/1970
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