1.A extensão do défice externo de 2008 – 10,6% do PIB segundo as estatísticas provisórias divulgadas no final da semana passada, muito acima das recentíssimas previsões do BdeP - confirma a extrema fragilidade financeira em que nos encontramos e que aqui temos comentado com frequência.
2. Tendo em conta o elevado nível de endividamento de todos os sectores institucionais, não é mais possível esconder ou pretender que não estamos a criar um grave problema de financiamento da economia e que, sendo assim, se justifica uma reviravolta, um verdadeiro U-turn na condução da política económica.
3. Não será mais possível continuar a engordar um sector protegido da economia, consumindo enormes recursos em projectos de rentabilidade negativa ou desconhecida ou gerando saldos negativos de exploração como se a capacidade de financiamento do País não tivesse limites.
. Não é mais possível continuar a gerir o sector público – Administração Central, Regional e Local, com seus respectivos e inumeráveis apêndices empresariais, quase todos deficitários – como se nada se passasse, como se não estivéssemos à beira de enfrentar uma grave escassez de recursos financeiros.
5. A insistência, a que presentemente ainda assistimos, nessa política de sacrifício de recursos irá lançar o País numa crise sem precedentes, de contornos bem mais graves e de solução bem mais dolorosa do que as experimentadas em anos passados (75/77 e 83/84) quando o FMI nos vinculou a programas de ajustamento de bastante dureza para quem ainda se recorda disso.
6. No entanto, parece que nada disto se passa ou que estamos aqui a levantar fantasmas...a política económica prossegue com aparente indiferença a esta realidade, mergulhada num imenso lago de autismo, desbaratando os escassos recursos que ainda podemos mobilizar.
7. Entre muitas outras coisas seria necessário: (i) suspender imediatamente todos os projectos chamados de investimento público ainda não iniciados ou apenas em fase de arranque, para se organizar um urgente balanço dos meios disponíveis e das prioridades indiscutíveis de despesa, (ii) apertar dur(issim)amente os orçamentos de exploração dos institutos públicos e das centenas de empresas públicas, regionais e locais, (iii) aliviar, drasticamente, a carga fiscal e para-fiscal sobre as empresas que se situam nos sectores expostos à concorrência e (iv) criar incentivos muito mais poderosos ao investimento e ao emprego nestes últimos sectores.
8. A política económica a que temos assistido tem agora pela frente mais um claríssimo sinal de “direcção proibido”...se esse sinal não for tomado a sério, vamos assistir, lamentável e desnecessariamente, a um dos mais dolorosos períodos da nossa vida colectiva.
Este post, merecia uma leitura e reflexão por algumas entidades: o PR e o PM; o Conselho de Estado.
ResponderEliminarTalvez assim resolvessem adoptar o qualificativo utilizado por um antigo PR numa conferência recente: "Austeridade"(Eanes).
Em conjunto com um escrito recente de António Barreto, sobre onde e como investir e dar trabalho/emprego nesta conjuntura..
Vantagens da visão exterior (e disponibilidade mental para ver a realidade).
Uma questão de liderança (como disse Belmiro de Azevedo) há dias.
BMonteiro
Caro bravomike,
ResponderEliminarRegista-se o cumprimento, amabilidade sua.
Quanto à expressão "Austeridade", que menciona, só temo que seja de uma brandura extrema comparada ao que vamos experimentar (já começamos, mas ainda vamos no aperitivo).
Caro Tavares Moreira, que os Portugueses vão experienciar tempos terriveis, não tenho dúvidas e há muito tempo que as não tenho.
ResponderEliminarMas tenho questões a montante e a jusante do sofrimento. Conseguirão os eleitores perceber a origem dos males? Saberão donde ele veio? E, a jusante, é a cultura Portuguesa propícia a resolver uma crise dessa magnitude? Não tenho certezas em relação a nenhuma destas perguntas. Palpita-me, porém que, não, não conseguirão discernir a origem dos males e continuarão a querer soluções iguais às já havidas, ou seja, Estado, Estado, Estado. Por fim Portugal será a Argentina europeia. Um país que nos anos 50 e 60 prometia vir a ser uma economia pujante e um país com um lugar no mundo e que, afinal, caiu irremediavelmente num buraco e por fim faliu. No que toca a, no caldo de cultura Português, ser possivel resolver o problema, sinceramente tenho dúvidas. O Português não gosta de sacrificios, trabalho árduo, empenho, mérito, excelência, trabalho de formiguinha de labutar arduamente no Verão para colher os frutos no Inverno. Mas isto é o que eu penso da minha experiencia e do que conheço de Portugal e dos Portugueses. Serei pessimista? Estarei errado? Alguém tem ideias diversas sobre o tema?
Caro Zuricher,
ResponderEliminarSua análise sociológica é bem capaz de estar muito próxima da realidade...exactamente por isso é que estamos como estamos e acompanhamos com notável indiferença (excepção feita aos muitos milhares que, num processo de acumulação diario, vão sentindo as agruras da situação) o exercício absurdo de dissipação dos escassos recursos que ainda dispomos...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEste seu post está correctíssimo, desde que se assuma como válido o pressuposto de que as direcções estão a ser tomadas de acordo com o interesse público e que a política actual se trata apenas de um erro de paralaxe. E aí não concordamos, porque tudo indica que esse pressuposto não é válido.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarDiscordância original esta, em que no essencial concordamos...
Concordamos discordando ou discordamos concordando - até nós, veja lá, seremos vítimas desta comédia em que à força acabaremos envolvidos!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarMas para concordarmos totalmente, o meu caro teria de, tal como eu, suspeitar que a condução da política económica do país é feita de má-fé e em favorecimento de interesses distintos do interesse do país. Ora, isso só passa pela cabeça de gente desqualificada e sem consciência política, como é o meu caso.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarSe for capaz de acrescentar à sua receita uma vultosíssima dose de ignorância, o nosso acordo será próximo do pleno...