1. Esta semana mais uma curiosa tirada do PM: “pessimismo não cria empregos”.
2. Qualquer pessoa de mediano entendimento subscreverá uma declaração idêntica se proferida num contexto desapaixonado, fora do debate político.
3. A questão que aqui se coloca não é pois a do acerto ou desacerto desta declaração, em bruto, mas sim do significado que ela assume quando proferida num contexto de debate político, de 4. mensagem subliminar que visa valorizar a ideia oposta – a do optimismo, nomeadamente na modalidade conhecida por bacoco ou pacóvio.
4. Nesse contexto esta afirmação assume um sentido valorativo: o optimismo é defensável porque até pode ser susceptível de criar empregos…ao optimismo é atribuída uma valoração ética social positiva, relegando o pessimismo para um plano de reprovação, de ideia condenável.
5. Esta dialéctica encontra um bom exemplo de aplicação no caso Quimonda, que todos os dias tem ocupado os meios de comunicação social.
6. Desde o início deste caso que o Governo assumiu uma postura de optimismo – pela voz do PM, do Ministro da Economia foi sempre dado a entender que uma solução estaria garantida, não faltariam investidores, tudo estava a ser feito para resolver a crise da empresa de forma satisfatória sobretudo para garantir os postos de trabalho…
7. Nem o PM nem o Ministro da Economia teriam com certeza qualquer segurança quanto ao futuro da empresa nem quanto ao teor das soluções que poderiam ser estruturadas para assegurar a continuidade da respectiva exploração…mas como é bom ser optimista, porque não oferecer perspectivas risonhas?
8. Um bom exemplo do tipo de optimismo denominado bacoco ou pacóvio…para tranquilizar os interessados/incautos, promete-se uma solução sem ter qualquer certeza da sua viabilidade…esperando que pelo caminho possa surgir um milagre, salvando-se a empresa!
9. Quem quer que se atrevesse a por em causa esse optimismo seria apelidado de inimigo da Quimonda e dos postos de trabalho que a mesma mantinha, uma postura pessimista socialmente reprovável…
10. A Quimonda acaba de requerer a insolvência…todas as quiméricas hipóteses de solução do optimismo bacoco se esfumaram, não se descortinam investidores com propostas sérias e construtivas para salvar a empresa e os postos de trabalho.
11. Se desde o seu início o dossier Quimonda tivesse sido tratado de forma mais discreta e cautelosa, com realismo, sem o optimismo pacóvio e palavroso das autoridades lusas – e as sucessivas parangonas jornalísticas que difundiram um quadro de dificuldades susceptível de assustar muita gente – quem sabe se não teria sido encontrada uma solução que pelo menos desse resposta parcial à difícil situação da empresa?
12. Cabe assim perguntar – sendo certo que o pessimismo não cria empregos, será que o optimismo, em especial o de tipo pacóvio, é capaz de os criar?
Utilizando as palavras de José Pinto de Sousa e seus acólitos, diria que o optimismo é "absolutamente fundamental" ou "absolutamente essencial" ou ainda que "nunca na vida democrática" houve um PM com tanto optimismo!
ResponderEliminarA única questão que levanto é como é que foi possível que José Pinto de Sousa se tenha transformado Primeiro Ministro de um país membro da União Europeia e inclusivamente da Zona Euro!
Caro Fartinho da Silva,
ResponderEliminarPodem levantar-se outras questões, por exemplo a de saber quantos empregos criou ou destruiu esse optimismo...
Alguma estatística fiável?
Acabam de noticiar + uma aplicação: o optimismo na nacionalização do BPN parece que vai começar a gerar desempregos, sendo 250 a muito curto prazo...
Para quem estudava mas não percebia o atraso crónico e contínuo de Portugal, o primeiro decénio do séc. XXI é uma amostra em tempo real do que tem sido as causas sistémicas da arte de mal governar e empobrecer um País.
ResponderEliminarFalta de recursos naturais, posicionamento e periferização mundial, falta de escolaridade, falta de empenhamento para o trabalho, falta de empreendedorismo ... tudo isto parece secundário face ao problema número um de Portugal: a captura constante do Estado por uma não marginal mão cheia de gente com falta de ética e carácter.
O problema número um de Portugal é pois, assim, um problema de carácter de gente que, sistematicamente por falta de comparência daqueles que ainda a demonstram, açambarca e fazem de Portugal um sítio cronicamente pobre e mal frequentado.
Sem uma verdadeira educação para a cidadania, sem uma verdadeira educação para o respeito do outro, Portugal continuará a afundar-se na miséria e na locupletação de poucos.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarO optimismo de nada serve! Temos o PM mais optimista que há memória, mas o país está pior. É caso para dizer que optimismo bacoco de nada ou pouco serve! Talvez Lucílio Batista nos consiga elucidar!
O problema não está em termos um primeiro-ministro optimista, mas o pessimismo que gera temos este primeiro-ministro, optimista ou não.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarO problema de fundo que o seu post revela reside na filosofia de vida que preside ao PM e aos seus acólitos.
Criados em época fasta, sem grandes preparação teórica, agarram-se a uma narrativa política desajustada das novas realidades. Quando se necessita de rever todos os conceitos, não é com "funcionários" como diz J. Aguiar que se poderá sair da crise.
Neste contexto, a atitude que revela o comentário é perigosa e levará, como no passado a cometerem erros que, no contexto são irreparáveis.
Cumprimentos
João
Caro André,
ResponderEliminarLucílio constitui um excelente exemplo de optimismo pacóvio: se não fosse o seu optimismo, o famoso penalty não teria sido marcado!
E sem esse penalty, o jogo SLB-SCP não teria qualquer história interessante para contar!
Caro Tonibler,
Porque não o Governo organizar programas de formação profissional, para desempregados sobretudo, tendo o optimismo como elemento curricular obrigatório?
Não será que o Ministro da Previdência Social e do Descanso, agora investido em novas e pesadas responsabilidades,quererá aproveitar a oportunidadeleitoral para oficializar o OPTIMISMO como obrigação curricular?
Caro João,
A atitude que refere pode ser perigosa, como bem diz, mas tem a vantagem de ser sempre virtuosa "a priori"...
Os perigos, problemas e atribulações vêm sempre depois...
Mas nessa altura há sempre uma desculpa, devidamente trabalhada pelas agências de comunicação, essas altruistas beneméritas da Pátria...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEssas citações vêm muito a propósito, caro Paulo.
ResponderEliminarE a conclusão - este "tout est bien" sai-nos do bolso - não podia ser mais inspirada.
Só falta acrescentar: tout est bien quand fini...mal!"
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarPorque é uma notícia de hoje e porque ajuda a sermos mais optimistas, venho comunicar que o IPC espanhol registou no mês de Março um crescimento negativo de 0.1%.
Agora vamos fazer apostas sobre o qual será o comentário do Governo sobre este assunto, estou hesitante entre o:
esperávamos pior
ou
as nossas exportações para países terceiros aumentaram 25%
Quer arriscar?
Cumprimentos
joão
Infelizmente nem um nem outro, caro João...a minha aposta vai para "Na próxima legislatura vamos propor o fim das off-shores".
ResponderEliminarSó lhes faltará acrescentar: "na próxima legislatura, para nos dar tempo a arrumar/destruir alguns papeis..."