“Perceber a Crise para Encontrar o Caminho” é o título do recente livro da autoria de Vítor Bento que li com muito agrado e no qual reconheço uma intervenção cívica que muito aprecio.
De entre os vários enquadramentos que Vítor Bento tão bem descreve para explicar o “entalanço” em que Portugal se encontra, gostei especialmente da síntese que é feita logo na Nota Introdutória.
Com efeito, a crise do País é classificada como uma “espécie de ressaca que nos ficou (e que ameaça deixar-nos muito mal tratados) da euforia resultante do enorme progresso trazido pela adesão ao que é hoje a União Europeia e à sua moeda única. Crise que já dura, em estado latente, há cerca de uma década e que uma outra crise – a crise financeira internacional – veio agravar, ao mesmo tempo que reduziu significativamente a já estreita margem de manobra para a resolver sem grandes perturbações sociais.”
O dito “entalanço” é o resultado de uma integração europeia que fez encarecer os custos de trabalho, até então baratos, sem que a produtividade tivesse compensado esse encarecimento. Não temos conseguido oferecer condições suficientemente atractivas para captar o investimento que exige uma superior base tecnológica, incluindo maior qualificação dos recursos.
Na descrição deste “entalanço” Vítor Bento afirma o que todos já sabemos mas que não fomos capazes de resolver. É que o País para deixar de estar entalado “ou consegue dar o salto qualitativo que o sustenta no patamar alcançado, ou terá inevitavelmente que regredir ao patamar inferior, resignando-se a disputar a competitividade no embaratecimento do seu trabalho e a definhar num relativo empobrecimento.”
Partilho da análise de que o problema do País não sendo apenas económico, é também político, por natureza, e de que a gestão política agravou ela própria o problema. Vítor Bento conclui que só a gestão política nos pode tirar do declínio em que nos encontramos e que “a solução exige de todos mais disponibilidade para esquecer diferenças não essenciais, para não remexer o passado à procura de culpados ocasionais, para que toda a concentração se foque no futuro e nas suas necessidades, e para procurar plataformas de consenso alargado que viabilizem um tratamento de choque.” Mas esta solução apresenta objectivamente uma grande dificuldade de implementação. No passado relativamente recente não fomos capazes de o fazer, bem pelo contrário aprofundaram-se as diferenças e exacerbaram-se os ânimos. Será que a crise é suficientemente grande para se conseguir o tal consenso alargado? Será que há outra saída?
Uma coisa é certa, será cada vez mais difícil continuarmos com “a moralidade da cigarra, prazenteira e descuidada do futuro”. Se não aceitarmos a verdade da “moralidade da formiga, esforçada e previdente” iremos inexoravelmente caminhar para o empobrecimento, tornando cada vez mais difícil assegurar o nosso bem-estar!
De entre os vários enquadramentos que Vítor Bento tão bem descreve para explicar o “entalanço” em que Portugal se encontra, gostei especialmente da síntese que é feita logo na Nota Introdutória.
Com efeito, a crise do País é classificada como uma “espécie de ressaca que nos ficou (e que ameaça deixar-nos muito mal tratados) da euforia resultante do enorme progresso trazido pela adesão ao que é hoje a União Europeia e à sua moeda única. Crise que já dura, em estado latente, há cerca de uma década e que uma outra crise – a crise financeira internacional – veio agravar, ao mesmo tempo que reduziu significativamente a já estreita margem de manobra para a resolver sem grandes perturbações sociais.”
O dito “entalanço” é o resultado de uma integração europeia que fez encarecer os custos de trabalho, até então baratos, sem que a produtividade tivesse compensado esse encarecimento. Não temos conseguido oferecer condições suficientemente atractivas para captar o investimento que exige uma superior base tecnológica, incluindo maior qualificação dos recursos.
Na descrição deste “entalanço” Vítor Bento afirma o que todos já sabemos mas que não fomos capazes de resolver. É que o País para deixar de estar entalado “ou consegue dar o salto qualitativo que o sustenta no patamar alcançado, ou terá inevitavelmente que regredir ao patamar inferior, resignando-se a disputar a competitividade no embaratecimento do seu trabalho e a definhar num relativo empobrecimento.”
Partilho da análise de que o problema do País não sendo apenas económico, é também político, por natureza, e de que a gestão política agravou ela própria o problema. Vítor Bento conclui que só a gestão política nos pode tirar do declínio em que nos encontramos e que “a solução exige de todos mais disponibilidade para esquecer diferenças não essenciais, para não remexer o passado à procura de culpados ocasionais, para que toda a concentração se foque no futuro e nas suas necessidades, e para procurar plataformas de consenso alargado que viabilizem um tratamento de choque.” Mas esta solução apresenta objectivamente uma grande dificuldade de implementação. No passado relativamente recente não fomos capazes de o fazer, bem pelo contrário aprofundaram-se as diferenças e exacerbaram-se os ânimos. Será que a crise é suficientemente grande para se conseguir o tal consenso alargado? Será que há outra saída?
Uma coisa é certa, será cada vez mais difícil continuarmos com “a moralidade da cigarra, prazenteira e descuidada do futuro”. Se não aceitarmos a verdade da “moralidade da formiga, esforçada e previdente” iremos inexoravelmente caminhar para o empobrecimento, tornando cada vez mais difícil assegurar o nosso bem-estar!
Se outra não se lhe reconhecesse, valeria este post pelo seu ex-líbris.
ResponderEliminar;)
Mas não cara Drª. Margarida, a síntese que nos apresenta, é na realidade pertinente e merecedora de toda a atenção.
Após a lúcida conclusão do autor, Vítor Bento, escreve a cara Margarida:«Mas esta solução apresenta objectivamente uma grande dificuldade de implementação».
Eu substituiria "dificuldade" por "resistência".
Isto porque, pelo que me é dado observar, aquilo que emperra os vários sectores da nossa sociedade e da nossa política, é a resistência à mudança, de pensamento e de atitude.
De resto, todas as "soluções que neste texto se apresentam, construídas pelos dois autores, são a meu ver necessárias e inadiáveis.
I Parte
ResponderEliminarA falta de capacidade
de respirar livremente,
denota a opacidade
do actual regime demente!
Vivendo amarrado ao passado
em discursos e imagens,
o país tem sido trespassado
por falsas miragens!
II Parte
Com um “entalanço” brutal
devido a uma apressada integração,
temos uma produtividade residual
e um baixo nível de qualificação.
A cigarra prazenteira
e descuidando o porvir,
faz uma figura fiteira
por ser ocioso seu sentir!
A caminhar inexoravelmente
para um empobrecimento cavado,
o mexilhão fica miseravelmente
todo desconchavado!
O empobrecimento da população é algo inevitável, apenas aqueles que não conhecem as brincadeiras pedagógicas promovidas até o limite do absurdo é que podem ter esperanças de ver esta situação alterada. Neste momento e apenas para se ter uma breve ideia do que se passa no país real, a Matemática será transformada (através do novo programa) em Educação Matemática e o "professor" deixará de leccionar. A única intervenção do "professor" em sala de "aula" será a orientação das crianças na aprendizagem da mesma através de actividades lúdicas...! Quem não acreditar basta perguntar a quem de direito, ou seja aos PROFESSORES, mas apenas a estes!
ResponderEliminarEm relação ao ensino superior a situação é ainda mais grave. Como em Portugal temos 17,7 instituições de ensino superior por cada milhão de habitantes, enquanto que em Espanha existem 7, a luta pela sobrevivência atingiu o limite da loucura e as consequências estão bem à vista de quem não anda distraído.
Desta forma, mesmo que o próximo governo faças TODAS as VERDADEIRAS reformas que necessitamos, ainda assim teremos que esperar VINTE anos para que das regressadas (esperemos) escolas surjam pessoas competitivas para enfrentar a concorrência global.
Julgo que, quem afirmar algo muito diferente ainda não percebeu bem a dimensão do enorme problema.
Cara Dra. Margarida Aguiar:
ResponderEliminarConseguimos reconhecer com toda a clareza as causas da nossa fraqueza, mas somos incapazes de criar ânimo para seguir em frente, evitando os erros do passado. Dizemos todos, sem excepção, desde o mais erudito ao mais rude, que isto está mau, que é preciso dar a volta por cima, e até chegamos a invocar a nossa História como referência de um povo vencedor. Mas nada.
São já muitas as análises à situação crítica em que o País se encontra e a forma de sairmos dela, no entanto, não conseguimos congregar esforços no mesmo sentido, apenas temos propensão para a auto-comiseração.
É verdade, Caro Bartolomeu, há uma aversão resistente à mudança que tem uma grande quota de responsabilidade no estado a que o País chegou. O consenso alargado de que fala Vítor Bento tem que envolver não apenas as forças partidárias mas a sociedade civil. Este envolvimento exige necessariamente confiança. Este valor está muito fragilizado porque as pessoas também deixaram de acreditar. O artigo publicado na edição da revista Economist de 30 de Abril sobre Portugal a certa altura diz o seguinte:
ResponderEliminar"To improve its performance, Portugal needs more flexible labour laws, less bureaucracy, a better educated workforce, more competition and a smaller state."
E acrescento eu que, para tal, tem que haver vontade de mudança e confiança de que vale a pena!
Caro Manuel Brás
Penalizo-me pela minha falta de capacidade para responder com um poema, que teria o maior gosto em lhe oferecer. Cada palavra, cada frase, cada rima, cada verso estão recheadas de verdade...
Antigamente, a história da cigarra e da formiga ensinava-se na escola aos mais pequenos que nunca mais a esqueciam. Aprendíamos que nos devíamos comportar como as formigas e que as cigarras acabavam mal. Velhos tempos!
Caro Fartinho da Silva
A resolução do "entalanço" foi-se complicando com o tempo. O mundo mudou e Portugal não se adaptou. Temos vindo a perder terreno e a acumular desequilíbrios que não perdoam. A qualificação dos recursos humanos foi uma das áreas que Portugal não elegeu como estratégica, apesar das reformas sucessivamente anunciadas e de algumas "paixões" pelo caminho. O problema tem uma enorme dimensão, concordo Caro Fartinho da Silva!
Caro jotaC
É verdade. A nossa sorte só depende de nós. Somos pouco exigentes e pouco empreendedores. Estas fraquezas penso que estão relacionadas com o baixo nível educacional e com as excessivas dependências do Estado.
Uma cultura de falta de exigência e de ambição é meio caminho andado para o desânimo de que nos fala Caro jotaC!