O Último a sair apague a luz! Não sei se se lembram desta frase escrita pelos anarquistas que esteve muito tempo escrita numa parede junto ao aeroporto. Lembrei-me dela a propósito de notícias sobre notáveis da nossa praça que ameaçam emigrar para solos mais acolhedores do seu génio e arte e até, de caminho, trocar de nacionalidade, não vá o anátema do portuguesismo persegui-los para além do que podem suportar.
Por uma razão ou por outra, sentem-se mal amados, incompreendidos ou desconsiderados, tudo na medida em que se consideram dignos de muito amor, muita tolerância e elevada consideração. É curioso ver este sentido de revolta, eu pensaria que os espíritos superiores, à medida que se vão elevando e aperfeiçoando no seu génio e nos seus dons, tenderiam a tornar-se mais tolerantes, mais humildes e que seria precisamente essa disposição que os tornaria cada vez mais dignos do amor e da admiração dos seus povos. Definitivamente, não gosto de ver um ser que consideramos superior, já afirmado e confirmado nos seus dotes, declarar sobranceiro que não há pachorra!, e virar costas à sua terra, pronto a dizer cobras e lagartos dos pobres de espírito que o viram nascer e crescer. Podem até ir embora discretamente, à procura de novos públicos, de maior riqueza, de mais aplausos, mas que vão discretamente, com a promessa de voltar, que garantam que só querem elevar o nome de Portugal por esse mundo civilizado que espreita lá fora mas que aqui não entra nem à lei da bala. Talvez até os víssemos partir com pena, com orgulho nos ecos que se fariam ouvir no estrangeiro e lamentaríamos não ter sabido expressar com ênfase o quanto os queríamos por cá, como fazemos com tantos que tiveram que sair para se realizar ou apenas sobreviver, e foram e são tantos! Mas que avisem com estrondo, que exibam azedume, que reajam como se quisessem vingança, francamente, assim só me lembra a frase dos anarquistas ou então talvez outra, uma que o povo diz quando alguém falta à festa, é que só fazem falta os que cá estão.
Por uma razão ou por outra, sentem-se mal amados, incompreendidos ou desconsiderados, tudo na medida em que se consideram dignos de muito amor, muita tolerância e elevada consideração. É curioso ver este sentido de revolta, eu pensaria que os espíritos superiores, à medida que se vão elevando e aperfeiçoando no seu génio e nos seus dons, tenderiam a tornar-se mais tolerantes, mais humildes e que seria precisamente essa disposição que os tornaria cada vez mais dignos do amor e da admiração dos seus povos. Definitivamente, não gosto de ver um ser que consideramos superior, já afirmado e confirmado nos seus dotes, declarar sobranceiro que não há pachorra!, e virar costas à sua terra, pronto a dizer cobras e lagartos dos pobres de espírito que o viram nascer e crescer. Podem até ir embora discretamente, à procura de novos públicos, de maior riqueza, de mais aplausos, mas que vão discretamente, com a promessa de voltar, que garantam que só querem elevar o nome de Portugal por esse mundo civilizado que espreita lá fora mas que aqui não entra nem à lei da bala. Talvez até os víssemos partir com pena, com orgulho nos ecos que se fariam ouvir no estrangeiro e lamentaríamos não ter sabido expressar com ênfase o quanto os queríamos por cá, como fazemos com tantos que tiveram que sair para se realizar ou apenas sobreviver, e foram e são tantos! Mas que avisem com estrondo, que exibam azedume, que reajam como se quisessem vingança, francamente, assim só me lembra a frase dos anarquistas ou então talvez outra, uma que o povo diz quando alguém falta à festa, é que só fazem falta os que cá estão.
É engraçado, Suzana, que esta atenção, esta inquietação geral que provocam os anúncios de emigração de notáveis, para mim comprova o enorme apego a esta terra que tem a generalidade dos portugueses. Se a maioria de nós não gostasse deste cantinho, com todos os defeitos que não nos cansamos de permanentemente lastimar (um quase culto nacional), nenhuma emoção causaria a saída ou ameaça de saída de uns quantos, por muito superiores que sejam os seus espíritos ou mundialmente reconhecidos os seus dotes.
ResponderEliminarMuitíssimo interessante o seu "olhar" sobre esta questão, cara DRª Suzana.
ResponderEliminarContudo, a frase que cita e de que tambem me recordo, teve efectivamente um impacto forte naquela época, e correspondeu a um estado de espírito que reflectia o pensamento dos intelectuais de esquerda. Salva-nos, tal como o caro Dr. José Mário refere, «o enorme apego a esta terra que tem a generalidade dos portugueses».
A esta terra de Santa Maria, onde muitos creem se encontra depositado o Santo Graal.
Mas, deixando-me de esoterismos, e voltando a reflectir sobre o assunto do seu post e a observação do nosso muito caro Dr. José Mário, recaio sempre numa equação terrívelmente ambígua. Uma equação com uma incógnita para a qual, por mais voltas que se consiga dar aos dados nunca encontramos um valor.
Somos um povo trabalhador, desenrrascado, inventivo, inteligente, alegre, hospitaleiro, visionista, empreendedor e ambicioso... Que raio nos falta para alcançarmos sucesso? Ou, que nos faltará compreender/aprender para conseguirmos conciliar tantas valiosas qualidades e direcciona-las para o bem e a prosperança comum?
Porque tambem somos gananciosos, ciumentos e cínicos? Porque não conseguimos ainda desenvencilhar-nos de antigos preconceitos, tal como:"o segredo é a alma do negócio" ou "a galinha da vizinha é muito melhor que a minha"?
Na verdade conflituamos ainda muito com o sucesso alheio. Causa-nos excessiva curiosidade a forma como o vizinho conseguiu adquirir um carrão, ou como é que consegue ir todos os anos de férias ao estranjeiro, como é que conseguem vestir tão bem, ter uma casa tão boa, etc. E pouco nos preocupamos em progredir profissionalmente, intelectualmente, humanamente.
Falta-nos a auto-estima, creio bem. Uma auto-estima coerente, sólida, assente em valores humanos e culturais. Não uma falsa auto-estima que se valorize nos bens materiais e que aspire somente ao possuir, sem dar valor ao ter interior, ao conhecimento introspectivo e do ser real que cada um de nós somos.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarGostei muito de ler o seu texto/comentário. Se me permite a ousadia, deixo-lhe, a si e aos restantes leitores, umas quadras inspiradas nas suas palavras:
Sem auto-estima coerente
de reais valores culturais,
o país ficará indiferente
aos problemas estruturais.
O conhecimento introspectivo
apegado à essência do ser,
é um desígnio objectivo
para o ser enriquecer.
Nem tudo é material,
nem só daí vem riqueza,
o desprezo pelo imaterial
é um sinal de fraqueza.
Bem haja!
Cara Suzana, pensei bastante antes de comentar este texto dado ser algo que faz parte da minha realidade também e não queria personalizar demasiado a questão mas tão somente apresentar outro prisma para analise.
ResponderEliminarPonderar renunciar à nacionalidade não é algo que se faça de forma leve. Faz-se após anos de amadurecimento da decisão. Mais ainda, é algo que deriva do sentir, do que vem de mais fundo em nós e não somente da razão, do pensamento. E, por ser algo sentido mais do que apenas pensado, tende para a incontrolabilidade. Mormente em casos em que essa decisão é tomada por motivos que nem sequer têm a ver com questões profissionais mas tão somente por já não se ser capaz de aturar a cultura, as pessoas, a forma de ser, aquilo a que Teixeira de Pascoaes, em 1915, chamou "A Arte de Ser Português".
A renúncia à nacionalidade é um ataque, sim. Por ventura, o ataque mais forte que pode ser feito a um país e a um povo colectivamente. Isto por ser, também, o maior protesto que pode fazer-se. É o expoente máximo para expressar "Não gosto de vós, sois uns coitados, eu não tenho nada a ver convosco e não quero ter". Tudo isto tem uma forte carga emocional que, naturalmente, degenera nesse azedume que referiu. É a forma de dizer "vós sois medíocres, não conseguis alcançar nada, não tendes capacidade para sair do patamar em que estais. Não servis para meus compatriotas!".
Ponha-se na pele de alguém que tentou durante anos fazer algo pelo país, demonstrar noutros países - quantas e quantas vezes tendo sido olhada de lado por ostentar um passaporte Português - aplicar aquela expressão de Kennedy "Ask not what your country can do for you but what you can do for your country.". E, de repente, no seu país, sente-se Dom Quixote a lutar contra moinhos de vento. Sente que o seu trabalho é inglório, que tudo continua como sempre foi. Sente a inveja negativa a cada esquina. Vê que a cultura é a mesma e não muda. Vê que, embora noutros países seja apresentada como um exemplo, no seu próprio é atacada pelo sucesso que atingiu. Que as pessoas mantêm o seu pensamento pequenino e nem sequer querem evolui-lo. Para mais, é uma pessoa viajada e, muito provavelmente, já sentiu nalguns outros sítios aquilo que nunca sentiu na sua terra. Note, eu disse "sentiu", não disse "pensou"! Sentiu que pertence, que "aqui estou em casa, eu pertenço aqui". Mas, uma vez e outra, uma vez e outra, vai regressando. E o incómodo, a raiva, o desagrado, vão aumentando dentro de si.
Um dia rebenta. Um dia já não aguenta mais, diz "É hoje!". Faz a mudança. Uma mudança para melhor, sim! Mas que leva consigo, mais do que a bagagem física, as malas e os caixotes, a bagagem emocional de ter tido que mudar de país. Zangada, triste, sentida por o país onde nasceu e onde viveu ser o que é. Daqui a verbalizar esses sentimentos e a querer renunciar à nacionalidade é um pequeno passo.
No Portugal de hoje em dia, cara Suzana, o problema não pode ser equacionado com o encolher de ombros de que "só interessa quem está". Essa é a forma Portuguesa de resolver as coisas, a forma de não fazer nada e esperar que o mundo continue a girar e a rolar por si, simplesmente. O problema hoje em dia e sobre o qual deveria haver a humildade em Portugal para reflectir, para a sociedade como um todo reflectir!, é "Porque é que os melhores saem, muitas vezes nem sequer por questões profissionais ou financeiras mas tão somente porque já não suportam Portugal e a cultura Portuguesa?".
Normalmente sou adepto de que as pessoas devem poder estar onde se sentem bem. E entendo perfeitamente quando alguém vai para outro país porque, em consciencia, sente que nada mais quer ter a ver com o seu país de origem. Nessas condições o justo e honesto a fazer (tanto do ponto de vista do cidadão como do ponto de vista do país) é renunciar à nacionalidade.
Toda esta questão é complicada, dificil e, embora radique em questões pragmáticas e objectivas, muito facilmente evolui para o campo emocional. As primeiras explicam a decisão. As segundas o azedume e a sua verbalização.
São visões diferentes, Zuricher. Uma é a coisa vista por quem fica, outra por quem sai. Obviamente que quem sai terá as suas razões, mas para quem fica isso não pode significar que o único que estava certo era o que vai. "Só faz falta quem fica" é uma forma de dizer isso.
ResponderEliminarPara quem vai, tenho pena que não leve alguns da minha escolha com eles, mas compreendo...
Compreendo perfeitamente que quem fica sinta também o desconforto de ser sujeito a tal ataque, Tonibler. Nem sequer ponho isso em causa. Onde pretendi chegar com o que escrevi é que não é justo julgar tão ligeiramente alguém apenas porque decidiu renunciar à sua nacionalidade e também a que se calhar seria prudente reflectir sobre os motivos que levam alguém a chegar a esse ponto. Primeiro porque é algo do foro pessoal, segundo porque deriva dum processo interno de decisão nada isento de dúvidas, questões, ponderações e escolhas dificeis para quem o percorre.
ResponderEliminarEm relação ao seu lamento sobre não levar alguns da sua escolha... pois, eheheh, não, muito obrigado. Acredite que a maioria dos que sai (senão mesmo todos) declina a oferta para tal companhia. Afinal, entre outros, um dos objectivos, também, é criar distância em relação a esses a que alude.
Caro Zé Mário, claro que gostamos deste cantinho, e muito, senão por que motivo lutaríamos por ele, pelo seu progresso, pelo bem estar, pela melhor organização, por mais qualificações, enfim, por tudo aquilo em que acreditamos que um País deve ter para nos sentirmos bem?
ResponderEliminarCaro Bartolomeu, óptimo comentário, como bem notou o caro poeta Manuel Braz,sempre certeiro nas suas composições em quadra.Quanto à falta de autoestima, não estou bem certa, às vezes parecemos orgulhosos, suportamos mal a crítica ou a comparação com os outros, não sei se é inveja se é despeito por não nos vermos tão reconhecidos como o vizinho...
Caro zuricher, eu não critico os que decidem ir embora, tenho até muita pena que o façam por desistência ou por revolta, ou por ambição que aqui não cabe. Pelo contrário,acho que devemos ter muito em conta esses motivos, dantes eram a pobreza e a falta de perspectivas, hoje é a incapacidade de dar espaço, de permitir que as pessoas saiam da cepa torta, que sejam criativas ou convictas do que pretendem. Não discordo de si, mas não aceito que as pessoas virem as costas com acrimónia, precisamente nos termos que referiu, que é considerando que são superiores a estes medíocres que não lhes reconheceu a valia. Émuito mais difícil ficar e tentar mudar, e muita coisa mudou com esse esforço e essa tenacidade. E também quem sai vai disposto a aturar lá fora muita coisa que aqui não aturava,aquilo que cá os agride lá parece ser aceitável, enfim, às vezes também é preciso viver fora uns tempos para dar valor ao que se tinha e nunca se tinha reparado. Mas o que eu queria sobretudo dizer, e mantenho, é que é especialmente grave que os que ganharam notoriedade e são, por assim dizer, símbolos de sucesso, usem isso mesmo para nos humilhar, proclamando a decisão de atirar com a porta e dispensar mesmo a nacionalidade, isso faz parte da arrogância dos que se julgam credores e não estão na disposição de suportar as regras comuns. O que eu vejo é que os grandes nomes de outros países respeitam o seu país, criticam fortemente os regimes políticos, por exemplo, se não forem democráticos, e é em sinal de protesto contra isso, e não contra o seu povo, que muitas vezes usam o seu nome e a sua autoridade. É uma forma d eluta pelo seu povo, não uma forma de lutar contra ele, de o insultar e desprezar. É a isso que me refiro, e faz toda a diferença...
Caro Tonibler, essa sugestão é boa, vamos passar a por condições para quem quiser trocar de país e de nacionalidade, uma especie de tributo final :)
Há seres humanos que têm a sensibilidade de um calhau (que bom para eles), outros são hipersensíveis. E depois há todos os cambiantes entre os dois extremos. É uma questão genética. É verdade que os hipersensíveis têm o defeito de viverem nas nuvens, de se relacionarem dificilmente com a realidade. Talvez sejam eternamente crianças, e reajam como elas, mas não merecem que lhes atiremos pedras. Aliás são absolutamente inofensivos e só sabem vingar-se assim.
ResponderEliminarQuanto ao título do “post”, concordo que só fazem falta a este país os que cá estão.
Caro Manuel Brás, meu amigo, Quem melhor que um poeta para dar sentido harmónico, natural e simples à velha questão da natureza humana (nem toda, felizmente)?
ResponderEliminarEu é que lhe agradeço a honrosa dedicatória.
Bem haja!