quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Fim da recessão: com queda do PIB de 3,7%?...

1. Alguns dos prestimosos exultam hoje com a notícia divulgada pelo INE segundo a qual terá sido positiva (+0,3%) a evolução da actividade económica no 2º Trimestre, quando comparada ao Trimestre anterior...o que significará o fim da recessão que se arrastava desde o 4º Trimestre de 2008.
2. Um dos mais prestimosos até faz acompanhar essa notícia de fotos (de arquivo) de protagonistas/mores do executivo muito sorridentes, como que proclamando vitória...
3. Sem negar essa evidência estatística (a confirmar em 2ª leitura...), cabe salientar que os títulos da notícia omitem a outra face da realidade, bem menos interessante, também revelada pelo INE, que é (i) o facto de a evolução da economia em termos homólogos continuar a registar uma queda anual muito forte, de -3,7%, sobre o Trimestre homólogo de 2008 e (ii) mais importante, essa queda ser devida sobretudo à evolução mais negativa das exportações de bens e serviços e também do investimento.
4. Conclui-se pois que o aumento ligeiro da actividade do 1º para o 2º Trimestre terá ficado a dever-se mais ao consumo privado (e público?), o que revela a enorme fragilidade de tal “recuperação” - não sendo crível que em Portugal uma recuperação económica sólida possa ser impulsionada pelo consumo privado ou público...
5. Mas o que importa, neste momento, não é a fragilidade maior ou menor desta “saída” da recessão...o que importa, como já se percebeu, é festejar a notícia, com arraiais, fogo-de-artifício, congratulações em onda, declarações de sucesso em cadeia...os verdadeiros problemas como sempre ficarão esquecidos...Medina Carreira mais do que nunca será o fantasma da opereta...
6. O ex-Ministro M. Pinho foi aliás o primeiro a sair a terreiro, dizendo ser esta evolução “...resultado da determinação política”...revelando assim não ter perdido as qualidades que o tornaram notável enquanto membro do executivo.
7. Mais comedido (inteligente), o PM também já afirmou que isto significa “o princípio do fim da crise”.
8. Acresce que desta vez até estamos a par das grandes economias da Europa – a Alemanha, a França e a Grécia, esta última nosso inseparável parceiro de infortúnio e de sucesso...superando o desempenho da zona Euro, que do 1º para o 2º Trimestre registou uma evolução ainda negativa embora ligeira (-0,1%).
9. Sobram pois os motivos para celebrar fragorosamente este “sucesso” da política económica...até porque as eleições são daqui a 45 dias e convém aproveitar todas as prendinhas estatísticas que até lá aparecerem...

15 comentários:

  1. Ainda é cedo para festejar
    o fim da violenta borrasca,
    com a economia a latejar
    e parte do povo à rasca!

    A euforia estrepitosa
    com tanta instabilidade,
    tornará espaventosa
    a supérflua imbecilidade.

    Com contas empobrecidas
    e um regime degradante,
    políticas desvanecidas
    têm um fim trucidante.

    ResponderEliminar
  2. Tecnicamente, para que a economia de um país entre em recessão, são necessários dois trimestres consecutivos de queda no PIB. O que manifestamente já nao é o caso em Portugal.

    ResponderEliminar
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  4. Caro Tavares Moreira

    Se há pessoas, como o sr. PM, que exultam quando há uma, e uma só, variação positiva nos indicadores económicos, mesmo que todas as outras anunciem borrasca séria, é porque algo não condiz.
    Na verdade se a dimuição homóloga do PIB foi, como diz o INE, essencialmente devida à quebra das exportações e do investimento, factor aliás comum ao último trimestre analizado, então terá sido uma eventual diminuição das importações a causa maior do tal "crescimento decimalmemte positivo" no PIB trimestral.
    Ora considerando a nossa fortíssima dependência do exterior, tanto em termos de dívida externa como de dependência de bens e serviços, isso significará que estaremos a entrar em "coma económico", uma vez que já nem sequer conseguimos importar. tal a debilidade de poder de compra (famílias e empresas) para simplesmente se subsistir.
    É como festejar que fique comida no prato de um doente que entrou em estado de coma.

    Cordialmente

    ResponderEliminar
  5. A A32!!! Foi a A32! A grande visão do primeiro-ministro que viu no horizonte uma autoestrada para o futuro a ligar...ah...algures... salvou-nos da crise!O que só demonstra a urgência da A49!

    ResponderEliminar
  6. Sem dúvida Caro Paulo ....

    o sofrimento de muitos portugueses desempregados e pobres não tem leitura "técnica".

    Em muitos casos são vidas que se desmoronam para todo sempre.
    Há sequelas irreversíveis....


    quando ainda vai a tempo, apenas há uma solução, para este dramático destino:


    - Partir !



    Caro Dr. Tavares Moreira como sempre, a assertividade no que escreve e a clareza/simplicidade com que o faz ajudam-me a aprender... mais !

    Obrigada.

    ResponderEliminar
  7. Caro Manuel Brás, sua poesia de intervenção já não é dispensável neste Blog...e vem sempre a propósito!

    Caro sitiocomvistasparaacidade,

    Se nos permite, a sua observação - bem-vinda certamente - parece muito inspirada na velha ideia de "ensinar o padre-nosso ao vigário"...

    Boa observação, Paulo, aliás corroborada pelas sensatas declarações do Ministro das Finanças e da Economia (que contraste em relação ao ex-titular da 2ª pasta)...

    Caro olhar, tem muita razão, esta variação do PIB trimestral (em cadeia) tem a aparência de um breve fogacho, quem sabe se quimicamente preparado para a ocasião, pois sem investimento e exportações líquidas a crescer, qualquer ideia de recuperação não é consistente...

    Caro Tonibler,
    Ora aí está, será talvez essa a mais ousada estratégis de saída da crise...por auto-estrada, de preferência sem portagens, para que a saída seja mais rápida.
    Se não se souber aonde vai dar isso pouco importa, temos de confiar nos estrategas que com tanto sucesso nos têm conduzido...

    Cara Pèzinhos, seja bem-vinda com sua simpatia e a graciosidade dos seus comentários...lê-la é uma frescura!

    ResponderEliminar
  8. Anónimo10:43

    Subscrevo o que Pézinhos afirma no seu último parágrafo. E permito-me acrescentar: as leituras feitas pelo Dr. Tavares Moreira ajudam a perceber a realidade e os seus argumentos convencem sem necessidade do tremendismo com que são manifestadas outras opiniões, ainda que respeitáveis.
    Pode parecer que não, mas o estilo de alguns que permanentemente concluem que este País caminha inexoravelmente para um abismo, dando a entender que nada há a fazer, que os políticos são todos iguais, que vivemos num mundo de cegos (em que quem acha que tem um olho não quer assumir, apesar disso, a responsabilidade de ser o rei), em nada ajuda a emendar as más práticas e as más políticas. Ao invés, desacredita o discurso, sobretudo naqueles aspectos que poderiam ser mais pedagógicos.

    ResponderEliminar
  9. Caro JMFA,

    Este País caminha inexoravelmente para um abismo, sim. O que há a fazer é bloqueado pelos políticos, sim, não é pelos canalizadores.
    Aliás, é ver as listas do seu partido (acho que ainda é militante)...

    ResponderEliminar
  10. Caro Ferreira de Almeida,

    Registo o cumprimento, fruto por certo da sua amizade, outro motivo será de escrutínio bem mais difícil...
    O estilo catastrofista de análise dos problemas sócio-económicos(gravíssimos) que enfrentamos tem o inconveniente de não ser credível por muito tempo...
    E não é credível porque se desgasta, porque as consequências dos erros de política que continuamos a sofrer não se desenrolam de forma súbita - a não ser numa fase já bastante terminal, quando já toda a gente for capaz de perceber o enorme sarilho em que nos metemos...
    Até lá, as consequências vão-se traduzindo num empobrecimento gradual, com cada vez mais cidadãos a viver pior (classe política sempre salvaguardada)...mas ainda sem características de "tsunami".

    Caro Tonibler,

    Quanto a listas dos partidos políticos, porquê fixar o olhar apenas nas do PSD?
    Será que as demais são modelo de boas práticas, oferecendo sólidos e fartos exemplos de superior cidadania?
    Não sugiro que se excluam as do PSD, bem entendido, agora incluir só estas é que será um ângulo de análise muito enviezado...

    ResponderEliminar
  11. Caro Tavares Moreira,

    O PSD porque o caro JMFA me parece ser militante. Se fosse do PH falava no PH, não é o ângulo de análise que está enviesado.

    ResponderEliminar
  12. Ora, ora, Tonibler...não me diga que pelo facto do nosso Amigo Ferreira de Almeida ser militante (ilustre, aliás) o PSD fica sujeito a este ónus a que poderemos apelidar de "exclusivo escrutínio", para usar uma expressão muito leve...
    Se não é o ângulo de análise que está enviesado, então é a análise feita do seu ângulo que está, ela própria (passe o galicismo), enviesada...
    Entretanto reparou no silêncio de Manuel Pinho acerca dos números do desemprego? Será que neste caso o resultado já não se deve a "determinação política"?
    Se não é isso,não deveria o inefável ex-Ministro dizer qualquer coisa - até para não ficarmos todos na dúvida?...

    ResponderEliminar
  13. Escrutínio exclusivo? Exclusivo não é, pode parecer exagerado quando comparado com o dos outros partidos, mas não é nada exagerado face à dimensão da coisa. Depois de 2 anos a falar, e bem, da corja que se apoderou do estado e depois fazer umas listas à imagem e semelhança daquilo que sempre criticou, vale bem a dimensão da atenção que tem merecido e mais até, porque se o PS nunca enganou ninguém, estas listas do PSD são bem aquilo que sempre criticaram (aliás, as críticas "exclusivas" não vêm de fora, vêm de dentro e de gente sem interesse nelas). Listas para satisfazer "patrocinadores" e clientelas várias, obrigadinho, mas estes eu já conheço e já sei quanto custam...

    E, caro Tavares Moreira, sempre que falámos em crises eu sempre fui da opinião que não há crise, nem recuperação, que se meça fora da taxa de desemprego. O resto não existe, são variáveis dependentes. De qualquer forma, o ex-ministro Pino, depois de ter terminado a sua comissão de serviço na divisão de administração pública da empresa onde trabalha, já poderia ter parado de dizer asneiras. Eu não acredito que alguém possa ser tão ignorante, sem estar a fingir.

    ResponderEliminar
  14. Anónimo21:59

    Lamento desiludir os meus Amigos, em especial o Tonibler, mas a vida partidária há muito que faz parte da minha história. Informo que não sou militante nem filiado no PSD ou em qualquer partido, se entende que isso é importante e desmarca o anátema que, pelos vistos, as minhas opiniões tinham se militasse no PSD.
    Mas sempre lhe digo, meu caro Tonibler, que nesta posição de não militar em outro grupo que não seja aqui, no 4R - honrosamente acompanhado de bons social-democratas -, não vejo porque se justifica esta especial censura em relação ao PSD, muito menos a de satisfazer clientelas várias. Aliás, as críticas mais violentas feitas contra a direcção do PSD foram precisamente porque não disponibilizou lugares para alguma clientela.
    Seja como for, meu caro Tonibler, julga mesmo ser esta a questão fundamental, agora que se aproxima o momento de escolher mais do mesmo ou novas vias para resolver os problemas que aqui, no seu peculiar estilo, tem comentado?

    ResponderEliminar
  15. Bem, caro JMFA, está em clara vantagem face a mim. É que ainda não vislumbrei nenhuma nova via para o próximo momento de escolher. De resto não há nenhuma especial censura em relação ao PSD. São todas iguais às do PS.

    ResponderEliminar