1. Foi ontem anunciado que das 3 propostas concorrentes ao primeiro lanço da linha TGV Lisboa-Madrid, a mais bem colocada para vencer o concurso é a que foi apresentada pela Fomento de Construcciones y Contratas (FCC), um grande grupo espanhol do sector da construção e obras públicas, em cujo elenco accionista ocupa posição destacada uma empresária, também famosa protagonista do “jet-set” espanhol, Alicia Koplowitz de sua graça.
2. A proposta apresentada pela FCC, de € 1.870 milhões, fica mesmo abaixo do preço de referência divulgado pela RAVE (dona da obra) que é de € 1.928 milhões e é muito inferior às outras duas propostas de concorrentes nacionais.
3. Atenta a importância que o preço assume neste tipo de empreitadas e a necessidade de observar regras de jogo limpas – a Comissão Europeia estará certamente atenta – dificilmente esta empreitada não será entregue à FCC.
4. Esta notícia, sem constituir uma "tragédia" – a não ser para os anti-iberistas ferrenhos entre os quais me não incluo – é apesar disso um “balde de água fria” para um Governo que tem andado a apregoar que estas grandes obras são uma forma de combater a crise e de promover os negócios das empresas nacionais.
5. Podemos olhar para esta realidade de diversos ângulos, mais optimistas ou mais pessimistas, decorrendo do gosto de cada um.
6. Os pessimistas dirão: ora aí está, tanto entusiasmo com o TGV e os seus efeitos na economia e, como se está a ver por este primeiro exemplo, são os espanhóis quem vai acabar por ganhar com este negócio.
7. Acresce que estes concursos estão sendo lançados num período de profunda crise no sector da construção civil e das obras públicas em Espanha pelo que as empresas espanholas, para além de uma muito maior dimensão e talvez mesmo capacidade financeira (ou apoio financeiro), estarão dispostas a praticar preços de arrasar como este caso também serve de exemplo.
8. Os optimistas – provavelmente Governo ou alguns apaniguados – dirão que esta é uma boa oportunidade para lançar estas obras, pois assim se conseguem bons preços para o dono da obra e uma redução das exigências de financiamento necessário além dos fundos europeus.
9. E até poderão acrescentar, com alguma imaginação, que se desta forma contribuirmos para a recuperação da economia espanhola, estaremos a prazo a ajudar a nossa pois a recuperação económica em Espanha acabará sempre por se reflectir em Portugal...
10. Como vemos, este episódio pode fornecer campo para os mais variados e divergentes comentários - mas convenhamos que este começo do TGV não é, do ponto de vista de imagem que o Governo & Cª tanto prezam e cultivam, o mais auspicioso para sustentar a tese de que o TGV e outros grandes projectos são tão necessários para relançar a economia.
Um dia o Belmiro, quando questionado sobre o que achava do TGV, respondeu algo como "isso é bom para os espanhóis, eles que o paguem". E aposto que não estava a contar com esta.
ResponderEliminarEu, por mim, vou fazer tudo para não o pagar. Espero que os meus concidadãos também.
A grande velocidade
ResponderEliminaro abismo engrandece,
é sebácea a atrocidade
e o monstro agradece.
Com flores por cheirar
e sentados na opulência,
ficam dívidas por pagar
a desprezível indolência.
A miséria caricatural
da nossa podridão,
é de um traço visceral
toldado de escuridão!
A grande velocidade
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é sebácea a atrocidade
e o monstro agradece.
Com flores por cheirar
e sentados na opulência,
ficam dívidas por pagar
a desprezível indolência.
A miséria caricatural
da nossa podridão,
é de um traço visceral
toldado de escuridão!
A grande velocidade
ResponderEliminaro abismo engrandece,
é sebácea a atrocidade
e o monstro agradece.
Com flores por cheirar
e sentados na opulência,
ficam dívidas por pagar
a desprezível indolência.
A miséria caricatural
da nossa podridão,
é de um traço visceral
toldado de escuridão!
3-Caro dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarPermita-me apenas manifestar discordância em relação ao ponto 3. A desfaçatez desta gente não conhece limites, pesando os custos 50% da avaliação, a RAVE acabará por concluir a existência de enormes benefícios técnicos na proposta da Mota-Engil, a quem adjudicará a obra. Existirão recursos, mas no final acabaremos a pagar os custos da obra, acrescidos da inevitável derrapagem financeira, e também das sanções entretanto decretadas por Tribunais europeus.
Boa síntes, caro Tonibler, uma síntese mesmo à Tonibler.
ResponderEliminarCaro Manuel Brás,
A sua poesia de intervenção é já um precioso complemento da análise sócio-política que se cultiva no 4R.
Caro António de Almeida,
Não partilho a sua opinião, com a devida vénia, embora reconhecendo que o defice de escrúpulos (o défice não é apenas orçamental) que se vem registando entre nós é capaz de grandes cometimentos...
Este assunto é demasiadamente sério e escrutinável externamente para que o resultado final do concurso em questão possa ser diferente do que vaticinei - penso eu de que...
Abertura de propostas - TGV - FCC - Alicia Koplowitz - Morinvest - Prisa - TVI - Suspensão do Jornal de Sexta, da MMG.
ResponderEliminarOu de como não há almoços grátis !
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarUma "achega" ao tema:
a) Onde é que o aumento do fluxo de passageiros entre Lisboa e Madrid contribui para o aumento das trocas económicas?
b) Qual o fundamento para transformar Madrid num "hub" de mercadorias?
c) No contexto em que nos encontramos, qual a percentagem do total do investimento que fica na economia nacional?
d) Quanto tempo vamos necessitar não apenas para pagar, o investimento, como para que gere a riqueza e as externalidades que o justifiquem?
Infelizmente, as respostas são todas um bem "esgalhado": não sabemos!!!!
Cumprimentos
João
Caro João,
ResponderEliminarConcluo facilmente que o meu Amigo não foi um dos felizes contemplados com o famoso "encarte" pago pela RAVE (por nós, para ser mais rigoroso) distribuído com diversos jornais no último fim de semana.
Porque se tivesse tido essa fortuna, as suas dúvidas estariam dissipadas e substituídas por uma profunda convicção de que o TGV só trará prosperidade e bem-estar aos Portugueses bem como progresso vibrante para a economia portuguesa.
Só falta dizer que também a FITCH -a quem o encarte foi por certo enviado especialmente - está muito impressionada com as garantias de progresso económico induzidas pelo TGV, por isso lançou o alerta de redução do rating da dívida da Republica (e agora também da CGD).
Admito que um novo encarte venha agora a ser distribuído, em complemento do anterior, explicando que todas essas benesses serão obtidas de forma indirecta, via contributo do TGV para fortalecer a economia espanhola...