Ir ao cinema continua a ser um dos meus programas preferidos. Gosto de escolher o filme pelo jornal, ler o resumo da história, saber o realizador e os intérpretes, se tenho dúvidas leio a crítica (escolho em geral o que tem menos estrelas...) e, finalmente, decido-me pela sala que tenha intervalo. Já se percebe porque é que é raro ir ao cinema, não é nada fácil fazer coincidir o tempo e a oportunidade!, mas de vez em quando calha como eu quero.
Nunca me converti ao conforto de ver um filme em casa, é certo e sabido que o DVD fica por abrir meses e meses, sobretudo porque mal me instalo toca o telefone, ou alguém se põe a conversar, ou me desviam a atenção por dá cá aquela palha, ou me lembro que é melhor ir pôr a máquina da roupa a trabalhar, enfim, não há forma de me concentrar durante duas horas, embrenhada no filme, sem me irritar com as interrupões, e acabo por desistir da ideia.
Hoje fomos ao Londres - não é uma sala moderna como outras que há mas gosto de cinemas de bairro, onde se entra sem ter que atravessar um centro comercial gigantesco, e além disso tem intervalo e pode-se vir à rua apanhar ar - ver Los Abrazos Rotos, de Almodôvar. Recomendo vivamente, é um filme lindissimo, onde a vida real se confunde com a imaginada, actores e espectadores ao mesmo tempo, não será sempre um pouco assim? Além disso deixa-nos ir construindo a história à medida que os detalhes vão surgindo, disfarçados, as pontas soltas desafiam a imaginação e no fim tudo se reune como se sempre lá tivesse estado, bem à vista. Uma beleza, e vale a pena ficar a ouvir a música final, já com a sala vazia dos impacientes que vão para casa logo que a história acaba.
Enquanto uns andam em campanha eleitoral a recolher novas e belas histórias da vida real, como o Massano Cardoso, para depois nos contar, vale a pena ir ao cinema, enquanto o nosso "realizador" não nos traz aqui novos enredos que bem podiam inspirar Almodôvar...
Cara Suzana Toscano,
ResponderEliminarSurpreendo-me pela sua sugestão, que denota apreciação da obra cimematográfica de Almodovar.
Pode ser que este filme seja diferente, mas Almodovar, nas suas obras anteriores tem demonstrado possuir uma mente bastante desequilibrada e parece nutrir certo gozo algo sádico em chocar os espectadores, usando imagens extremamente fortes e linguagem desbragrada, particularmente violenta.
Bem sei que gostos são gostos e que, por vezes, nem deles conseguimos dar explicação racional.
Mas, fazendo sempre um esforço nesse sentido, como compete a quem se preza de se guiar pelo princípio da racionalidade, teremos de convir que Almodovar é mais um cineasta de malucadas que de obras cinematográficas consistentes.
Nem nos temas nem na forma de os tratar ele se revela equilibrado e nem tudo se deve atribuir à liberdade artística ou ao génio criativo do realizador.
Bom, exprimi apenas uma opinião sobre o Almodovar realizador de cinema, baseado em dois ou três filmes que dele vi e de que não gostei; de um, em especial, em que o tema da homossexualidade é abordado com crua violência.
A crítica costuma elogiá-lo imenso, mas aprendi, à minha custa, a duvidar da sua objectividade, porque, na sua maioria, esta apenas se move por novidades e, em geral, incensa pretensos vanguardismos.
No fundo, porém, cada qual tem a sua sensibilidade e por ela se rege, com frequência, mais até do que pela sua desejada racionalidade.
Bons filmes, então; do Almodovar, se for o caso, visto que ninguém está impedido de fazer boas obras, nem o Almodovar...
Admiro o seu gosto cara Drª Suzana Toscano. Desvenda alguem que ainda não se rendeu por inteiro às modernices dos tempos e prefere saborear aquilo que ficou de um tempo anterior e que ainda se mantem. Já rao, mas mantem-se.
ResponderEliminarChamem-lhe saudosismo quem quiser...
Na aldeia dizem que quem não for para comer, não é para trabalhar. Pegando neste dizer popular, invento já aqui outro de uma penada só: "Quem não for para saborear, não será para viver"
Que é mais ou menos como quem diz: "Quem não se sente, não é filho de boa gente"
;)))
E é melhor ficar por aqui, senão vou ter de alterar o nick name para "Velho-Rifão" blogspot.com.
hehehehe!!!
Dra. Suzana Toscano
ResponderEliminarGosta de ir ao cinema,o que já de si é bom. E como lê jornais e por vezes tem dúvidas, são razões mais que suficientes para que a felicite vivamente!
Cara Dra. Suzana Toscano:
ResponderEliminarChegam-me as suas palavras como garantia de que o filme é bom e merece ser visto.
Para já fico-me pela apreciação da imagem que encima o seu post...é que não resisto à beleza!
;)
Caro António Viriato,realmente gostei imenso dos filmes que vi (alguns 4 ou 5)do Almodôvar, embora conheça muitas pessoas que partilham a sua opinião.É que eu vejo-os como irreverentes e não como desequilibrados, são sempre profundamente humanos embora às vezes possam parecer "sádicos", exactamente o que é a vida real se olharmos apenas os factos, sem atender às circunstâncias de cada um, coisa que fazemos com muito mais frequência do que parece. Ele é impiedoso nos seus retratos mas confronta-nos até com as reacções que vamos tendo ao longo do filme e que muitas vezes corrigimos no final. Esse filme de que fala, suponho que se refere ao "Tudo sobre a minha mãe", em que os protagonistas são travestis, foi talvez o que mais me impressionou e cativou. Vencida a relutância (e o preconceito, já agora) iniciais, a verdade é que a meio do filme já conseguimos ver para além do aspecto chocante de cada um e, no final, aderimos completamente às emoções e aos sentimentos que cada personagem exprime e já nem nos lembramos quem era quem no início do filme. Uma lição de tolerância pela via do choque, sem dúvida, mas também sem moralismos que detesto,é cada um de nós que é posto à prova nos filmes deste realizador com histórias da vida comum, em particular do papel das mulheres, retratadas com toda a crueza e perspicácia. Também me agrada, porque não conheço nenhum outro assim, que A. consiga entender e captar tão bem os mil detalhes do mundo feminino, as cumplicidades, as contradições, as maldades e a generosidade que torna esse universo uma reserva quase absoluta do género. É mais que um observador, é um curioso que se intromete e desvenda,satiriza mas respeita, critica mas acaba por deixar que seja sempre esse o lado vencedor.Mas este último filme é bastante mais moderado, é uma bela história de amor, dentro do estilo Almodôvar, claro.
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,o ideal é manter algumas tradições sem rejeitar a modernidade,assim vamos escolhendo uma ou outra conforme o ditado que se aplique...
Caro António Transtagano,aqui no 4r gostamos imenso de surpreender pela positiva,felicito-o também pelo progresso na avaliação.
Caro jotac, pode ir à confiança, tem todas as razões e ainda mais essa para gostar do filme!
Não comento o filme que ainda não tive oportunidade de ver mas, no essencial, estou de acordo consigo sobre o Almodôvar.
ResponderEliminarMas o que me trouxe ao comentário foi a lembrança da sala do “velho” cinema Londres. Recordo bem a primeira vez que lá entrei, já as luzes estavam a apagar. Para grande espanto meu, comecei a “enterrar-me” quando me sentei na cadeira. O Londres era o primeiro cinema em Portugal com uma plateia onde as cadeiras tinham um sistema mecânico que “engolia” os espectadores. Mas foi sempre um cinema confortável, bem frequentado e onde passaram filmes de enormíssima qualidade.
Como diria o Malato “fui muito feliz na sala do Londres”
Também me lembro, caro demascarenhas, o Londres era exactamente assim como diz...
ResponderEliminarDra. Suzana Toscano
ResponderEliminarNoblesse oblige...
Caros demascarenhas e jotac, realmente o Londres traz muitas recordações a uma geração, era um ciema de gente nova, todo moderno, com filmes bons e depois podíamos ir comer um gelado ali na esquina, eram fantásticos!
ResponderEliminarCaro António Trnastagano, ainda bem!