A propósito das opiniões de Saramago sobre a Bíblia, um comentador evocou Guerra Junqueiro e o seu livro A Velhice do Padre Eterno para ilustrar o que diz ser o maior libelo contra a Igreja Católica feito por um dos nossos mais insignes poetas. Na sequência, o Ferreira de Almeida publicou um poema de Antero de Quental, pensando que o nosso comentador se tinha referido a este poeta.
Mas fica bem no 4R também um poema de Guerra Junqueiro e que até ilustra uma faceta muito diferente da de Saramago. É que Guerra Junqueiro dispara contra a Igreja, mas não contra Deus. Guerra Junqueiro é anticlerical, mas não ateu. E manifesta em muitas poesias uma grande sensibilidade religiosa. Aqui vai um extraordinário poema retirado de Os Simples
Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Mas fica bem no 4R também um poema de Guerra Junqueiro e que até ilustra uma faceta muito diferente da de Saramago. É que Guerra Junqueiro dispara contra a Igreja, mas não contra Deus. Guerra Junqueiro é anticlerical, mas não ateu. E manifesta em muitas poesias uma grande sensibilidade religiosa. Aqui vai um extraordinário poema retirado de Os Simples
Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca, além , por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!...
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca, além , por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas…
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem Lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas…
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem Lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!...
………………………………………………
A minha mãe faltou-me era eu pequenino,
Mas da sua piedade o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira
Como junto dum leão um sorriso divino,
Como sobre uma forca um ramo de oliveira!
Dr. Pinho Cardão
ResponderEliminarPara que não se instale a confusão nos leitores:
O poema transcrito é realmente de Guerra Junqueiro.
No entanto, nas suas palavras de introdução ao poema, escreveu:
" É que Antero de Quental dispara contra a Igreja, mas não contra Deus. Antero é anticlerical mas não ateu. E manifesta em muitas poesias uma grande sensibilidade religiosa. Aqui vai o extraordinário poema retirado de Os Simples."
Dr. Pinho Cardão: queria dizer Antero de Quental ou Guerra Junqueiro?
Um comentador
Caro António....!!!!!
ResponderEliminarConcorda comigo que este poema é lindo?!
Sabe o que fiz?
Depois de lê-lo, levantei-me e fui dar um abraço bem apertadinho à minha mãe! Ela olha para mim admirada mas com um sorriso e pergunta: “Que aconteceu? O que é que te deu?”
Vou imprimir este poema. E vou pô-lo aqui... mesmo em frente do pc...
Boa noite... caro António!
E para si, caro Pinho Cardão, um abraço de agradecimento!
Caro António Transtagano:
ResponderEliminarObrigado por me ter chamado a atenção para o lapso. De facto, as palavras referem-se a Guerra Junqueiro e o poema é de Guerra Junqueiro e não de Antero.
Vou fazer a correcção no texto.
Catarina (20:59)
ResponderEliminarClaro que o poema é lindo. Tenho pena que só agora a Catarina o tivesse lido!!!
Mas caro António como chegou a essa conclusão?!!!!
ResponderEliminarOnde é que dei a entender que não o tinha lido?? Será que assumiu?
Cara Catarina:
ResponderEliminarTem é que agradecer ao Guerra Junqueiro!...
Os tempos mudam, mas quando leio poesia de Antero, Guerra Junqueiro, António Nobre, Augusto Gil, Cesário Verde, Teixeira de Pascoaes sinto verdadeira emoção, algo que não acontece com muita poesia de agora. Não a registo na memória, leio e passa. Com a excepção de Torga e, noutro escalão, de Ary dos Santos, e de poucos outros.
Dr. Pinho Cardão
ResponderEliminarNas palavras que escreveu, a anteceder o poema de Guerra Junqueiro, disse que o poeta "dispara contra a Igreja mas não contra Deus. É anticlerical mas não ateu."
Queria lembrar-lhe que a Fé também se perde. E que no poema que nos disponibilizou, Gueera Junqueiro recorda a idade da inocência, a idade em que "se ajoelhava, orando ao pé da mãe", a qual o poeta perdeu aos três anos de idade.
Remetendo-o para o poema Água de Lourdes", acha que considerar a dita como o Espírito Santo engarrafado em bilhas releva apenas de anticlericalismo?
Caro António Transtagano:
ResponderEliminarNão fui testemunha presencial para saber se G.Junqueiro acreditava ou não em Deus. Mas a generalidade dos biógrafos e especialistas na obra de Guerra Junqueiro asseveram que G.Junqueiro era crente e os seus ataques eram contra a Igreja, o clero e a hierarquia católica, distinguindo bem as duas realidades.
Isto confere com a impressão pessoal que tenho do poeta. Na minha juventude li a maior parte dos livros de Guerra Junqueiro e a impressão que retenho é mesmo essa. Uma ou outra passagem mais crítica não invalida a conclusão final.
Por outro lado, a ideia de Espírito Santo, como uma das 3 pessoas da Santíssima Trindade que é Deus em 3 pessoas distintas, como aprendi, tinha poucos anos, na catequese, é uma construção teológica da Igreja Católica. Pode-se perfeitamente acreditar que existe um Deus e não acreditar nessa configuração de um Deus em três pessoas distintas. Aliás, a representação de Deus em várias pessoas é matéria comum a várias religiões.
Por exemplo, o hinduísmo, religião muito afastada do cristianismo, tem vários deuses que ao longo dos anos desceram à terra(Brahama,Shiva, Vishnu, Ganesa, etc).
Assim, é perfeitamente natural que Junqueiro, sem pôr em causa a ideia de Deus, tenha criticado a configuração que de Deus faz a Igreja Católica.
Dizem ainda os biógrafos que, ao morrer, a ideia de deus estava bem presente no seu espírito.
De qualquer forma, o próprio poema que transcrevi é testemunha de que a sua crença não foi apenas uma crença de juventude, mas que se mantinha quando o escreveu.
Ora veja:
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!...
Por último gostava de lhe dizer que terei todo o gosto em discutir consigo, ou com qualquer um, todos os temas e ideias desde que sejam os temas e as ideias ( e não as pessoas ou as intenções ou os preconceitos que se têm sobre as pessoas, mesmo não as conhecendo) o objecto da discussão.
Nesta troca de impressões sobre Junqueiro assim está a acontecer. Oxalá assim se continue.
Catarina(21:14)
ResponderEliminarAssumi o quê, Catarina?
Não vamos mais falar sobre quem assumiu o quê, António.
ResponderEliminarApesar das nossas possíveis divergências de opinião, é sempre um prazer falar consigo.
Dr.Pinho Cardão
ResponderEliminarEstou estupefacto! Parece-me estar a assistir ao "branqueamento" de Guerra Junqueiro. Pouco faltará para que nele se veja a Santidade!
E se nos lembrarmos que a discussão começou a propósito de Saramago, estará este longe de supor que um dia, talvez, no Juízo Final, (quem sabe?), venha a ser reabilitado, gozando então, eternamente, das delícias do Paraíso perdido...
Guerra Junqueiro, se foi crente, perdeu a fé. E não há evidências nenhumas de que, "ao morrer, a ideia de deus estivesse bem presente no seu espírito". Qual "tábua de salvação", a Igreja Católica tem-se esforçado por alimentar esse mito nas últimas décadas, mas sem sucesso. Mais do que isso, chega a dizer-se que Junqueiro se convertera na hora da morte...
Como diz o Dr.Pinho Cardão, também eu não fui testemunha presencial da fé ou da descrença do poeta. À falta de outras evidências, resta-nos a obra que deixou. E da sua obra pode bem concluir-se que Guerra Junqueiro não era crente.
Mas a ideia de um Deus qualquer (seja o dos católicos, o do Islão ou outro qualquer)não é o cerne da questão. A polémica sobre Saramago, "um pobre coitado",que diz "imbecilidades", tem como pano de fundo o ataque à Igreja Católica e ao Judaísmo, se quiser! E a crítica da Bíblia foi, desta vez, o pretexto.
Viu alguém, em Portugal, atacar Salman Rushdie quando este publcou os Versículos Satânicos? E "ofendeu" a crença de milhões de pessoas que têm o Corão como referência?
O Dr. Pinho Cardão insurgiu-se contra tal publicação? E contra as explicações que o escritor deu quando foi questionado pelos media?
Atrevo-me a dizer que Não!
A "guerra" não nos dizia respeito, pois não?
E devo confessar-lhe, Dr.Pinho Cardão, que a grande maioria dos católicos que eu conheço nunca leu a Bíblia! O Dr. Pinho Cardão é uma boa excepção.
Catarina (00:46)
ResponderEliminarMas não foi a Catarina que me questionou?
Caro António Transtagano:
ResponderEliminarClaro que para mim, em termos poéticos, Guerra Junqueiro é um santo, um verdadeiro santo que se elevou às alturas.
E não´pretendo "branquear" ou "pretear" qualquer das suas ideias religiosas. Limito-me a interpretar, bem ou mal, a sua poesia e a ler alguns dos especialistas na sua obra.
Verifiquei, com facilidade, que GJ combatia o clero e o clericalismo, a prática e os costumes da Igreja Católica. É óbvio.
E verifiquei também que no todo da sua extraordinária poesia a ideia de Deus estava sempre presente. A generalidade dos especialistas e das histórias de literatura o afirma.
Esta é a minha convicção fundamentada, que não deriva de querer ou não querer que assim fosse,mas do muito que li de Guerra Junqueiro, sem aliás pensar que isso fosse algum dia objecto de polémica. O meu amigo formulou outra convicção, na minha opinião violentando o que GJ escreveu. Pois bem, está no seu direito.
No fim, nem Deus existe porque Guerra Junqueiro sentiria que existe, nem deixa de existir porque GJ o tenha eventualmente negado.
Caro ATranstagano:
ResponderEliminarReparei melhor agora que, pelo facto de conhecer alguma coisa da Bíblia, concluiu que sou uma excepção no mundo dos católicos que nunca a leram. Conclusão mais uma vez precipitada.
Por um lado, porque a Bíblia não é apenas património dos católicos, mas de outras religiões ou credos. Por outro, porque a leitura da Bíblia pode fazer-se por uma multiplicidade de razões: por ser um best-seller e aguçar a curiosidade; por razões de conhecimento histórico, no seu sentido mais geral ou de conhecimento da história das religiões; por uma questão literária e há peças literárias de uma inegável beleza e por muitíssimas outras razões.
Como por esses mesmos motivos, também li algumas partes importantes do Ramayana, uma espécie de Bíblia hindú.
Ceteris paribus, o meu amigo concluiria então que eu era também hindú.
O que não deixaria de ser um caso raro e digno de aturado estudo: católico e hindu, simultaneamente, numa abrangência quase universal.
Seria um verdadeiro Cardão Ecuménico!
ResponderEliminarEcuménico ou antes um espírito aberto, que mantém uma sadia curiosidade em conhecer as coisas, basta ler os posts que escreve sobre as suas viagens para ficarmos também com esse gosto em explorar o que é diferente e dispormo-nos a aprender com os que são tão diferentes.
ResponderEliminarDr.Pinho Cardão (10:58)
ResponderEliminar"(...) em termos poéticos, é um santo, um verdadeiro santo que se elevou às alturas."
Interpreto esta sua frase no sentido profano do termo santidade.
Como, por exemplo, eu digo, quando vou a Beja: é "sagrado" comer as "divinais" empadas e trouxas de ovos do Luís da Rocha (passe a publicidade),uma verdadeira "bênção" para o meu estômago!
Ou, como quando se qualifica de Papa, por exemplo, o especialista em tal ou tal matéria. Ou ainda, em sentido mais comezinho e algo pejorativo, Pinto da Costa como Papa do futebol (quero esclarecer que não é piada e muito menos um reboque à sua preferência clubística, que é, veja lá, também a minha - ao menos isto que nos una-)!
Mas, Dr. Pinho Cardão, Guerra Junqueiro não combatia apenas "o clero e o clericalismo, a prática e os costumes da Igreja católica". Combatia a Igreja, ela mesma. E, quanto a deus, para utilizar uma linguagem tão cara a Augusto Santos Silva, serviu-se dele para "malhar".
Quer ver?
" Veio depois a Igreja e repetia aos crentes de toda a humanidade: «Maldito seja sempre o que enterrar os dentes nos frutos da verdade!»"
"Expulsate do Olimpo a humanidade outrora, ó déspota feroz; «Pois bem, o Olimpo é nosso, e Jeová agora, Expulsamos-te nós!»"
"Pois Deus nesse jardim com sua mão atusta ao lado da inocência a Árvore do mal que produzia a fruta venenosa da ciência."
E, apesar de conter venenos homicidas e o germen do pecado, Era Deus quem comia à noite a fruta, às escondidas, esse fruto vedado".
Por aqui já se vê a fé e a "crença" do poeta.
Dr. Pinho Cardão(11:18)
Quanto ao conhecimento da Bíblia por parte dos católicos...não me precipitei. Na verdade referi-me apenas à maioria dos católicos que eu conheço. Talvez abusivamente, incluí-o no número dos católicos que conheço. Conheço-o do 4R! Se abusei deste "conhecimento", peço desculpa. Com esta precisão, mantenho o que dissera: a maior parte dos católicos que conheço não leu a Bíblia!
Mas, Dr. Pinho Cardão, nem uma palavra quanto à questão do silêncio em torno dos Versículos Satânicos de Salam Rushdie? Situação em tudo idêntica à de Saramago, "pobre coitado", que diz "imbecilidades"? Porquê num caso a indignação e no outro o silêncio?
Caro António Transtagano:
ResponderEliminarViva então o FCPorto!...
Guerra Junqueiro é um santíssimo poeta, claro que no sentido profano de santidade.
Mas há santos, no sentido de que são exemplos de vida, em todas as religiões e fora das religiões, agnósticos ou ateus.
E também demónios dentro e fora das religiões.
Quanto a Rushdie, a minha opinião é sempre a mesma.
Não gosto nem tolero a censura. Mas também não gosto que se vilipendiem os sentimentos mais profundos das pessoas, como é o sentimento familiar ou religioso.
Os nossos direitos acabam nos direitos dos outros.
A obra de Rushdie em apreço não a conheço, a não ser pelo que periodicamente se diz nos jornais. Não sei se contém a violência anti-religião de Saramago ou não.
Se contém, condeno de igual maneira. O direito de um e outro serem contra determinada confissão religiosa não pode possibilitar que, directa ou indirectamente, agridam os seguidores dessas confissões,agredindo gratuitamente aquilo em que, bem ou mal, acreditam.
E por aqui me fico.
No fim, Viva o Glorioso e Sempre Invicto FCPorto!...
Dr. Pinho Cardão
ResponderEliminarAproveito o ensejo de responder ao seu post para, antes de mais, pedir desculpa aos leitores pelo «lapsus calami» em que incorri, ao transcrever o 3º verso do poema de Guerra Junqueiro: em vez de "Pois Deus nesse jardim com a sua mão atusta", deve ler-se "Pôs Deus nesse jardim a sua mão astuta",o que faz toda a diferença.
Prestado este esclarecimento: claro que esta discussão poderia prolongar-se ad aeternum. Não é este o meu propósito nem será certamente o seu! Os homens sempre se dividiram quanto às ideias e quanto aos seus credos. Ser crente, agnóstico ou ateu é uma opção do livre arbítrio.Uns iluminados pela fé, outros pela razão.
Preferencialmente, Dr.Pinho Cardão, em vez de dizer "os nossos direitos acabam nos direitos dos outros", eu escolheria antes "a nossa liberdade acaba quando atingimos a liberdade dos outros".
Um crente tem o direito de prégar a sua confissão, divulgá-la livremente sem qualquer limitação que não seja a de impor aos outros as suas próprias convicções.
Um não crente, um ateu tem o direito de prégar o seu ateísmo onde quer que seja desde que não o imponha igualmente aos outros.
Não há "livros sagrados". Todos os livros podem ser criticados e mesmo "apoucados", ironizados, objecto de sarcasmo, do que for.
Isto de "ferir susceptibilidades" tem muito ou muito pouco que se lhe diga. As "blasfémias", as "heresias" sempre fizeram parte da História. Contra as heresias e contra as blasfémias é legítimo que os crentes se manifestem em contrário, defendendo o respectivo credo.
Num estado laico,como é o nosso, repito, não há livros sagrados. De modo que a crítica, as "blasfémias" e as "heresias" são livres! Ninguém tem o direito de se sentir "ofendido" com o que os outros pensam sobre os chamados livros sagrados.
Mas, tomando um exemplo, se o Sr. Saramago entrar num Templo durante a celebração de um acto de culto, pertubando este ou impedindo os crentes que aí se encontrem de nele participarem, o sr. Saramago está a violar a lei e a ofender a liberdade religiosa daqueles crentes.
Não sei o que entende, neste contexto, o Dr. Pinho Cardão, por "sentimentos mais profundos das pessoas, familiares ou religiosos".
À falta de melhor explicitação, presumo que, quanto aos sentimentos religiosos, possa ser o credo que cada um professa, mas ia jurar que as suas atenções se concentrariam, primeiro, na Igreja Católica, depois no Judaísmo, alvos principais das "heresias" de Saramago.
Foi pena que não tenha lido os Versículos Satânicos. Rushdie diz do Corão o que Maomé não disse do toucinho...
E como disse em post anterior, não vi ninguém nesta ocidental praia lusitana vituperar Salman Rushdie!
Para terminar este post que já vai longo, não deixo de lhe manifestar a minha admiração pelo conhecimento aprofundado que tem dos textos sagrados, assim como o grande prazer por constatar ter lido muito Guerra Junqueiro na sua juventude. Só foi pena que não tivesse vindo "em defesa" do poeta (que eu ,aliás,não ataquei) ou, pelo menos, dizer dele o que disse agora, por ocasião do seu Editorial sobre as declarações recentes de José Saramago.
Perdoar-me-á a maldadezinha: haveria que ultrapassar aquele "quiproquo" do Antero Quental no Editorial do Dr. Fereira de Almeida, passando a página, rapidamente, para Guerra Junqueiro. Ficaram ainda resquícios do Antero, já ultrapassados, felizmente!. Seja esta ou não a razão, discutiu-se Guerra Junqueiro. Só por isso valeu a pena!
Viva o Glorioso e sempre Invicto FC Porto!
Sans rancune
Caro António Transtagano:
ResponderEliminarAssim, vale a pena debater.
Quanto ao mais, Guerra Junqueiro foi apenas uma das minhas leituras. Porque poetas como aqueles que indiquei num dos comentários a este post também os li, leio e continuo a apreciar. E não poetas, como Camilo ou Herculano (Eurico, o Presbítero é um poema em prosa), ou Eça, ou Fialho de Almeida e até Bulhão Pato. E Namora e Virgílio Correia. E gosto de Alves Redol e não gosto de Soeiro Pereira Gomes.E continuo a gostar de passar os olhos por António Vieira. E pelo Cancioneiro, pelas cantigas de amor e de escárnio e mal-dizer.
Também gosto de dois ou três livros de Aquilino, A ilustre Casa de Romarigães e Terra Fria. Outros não me dizem tanto. Ferreira de Castro é um "chato",como o é Garrett, mas também os li, não digo tudo, tudo, mas alguma coisa. De Saramago, um amigo ofereceu-me há dois ou três anos, a colecção completa para me converter. Fiquei pior. Não entro no estilo.
Quanto a religiões, um livro me pareceu interessante e que li há anos: História Geral de Deus de Gerald Messadié, da Europa-América. É um autor que não acredita nem no ateísmo nem nas religiões reveladas. Acredita, sim, num Deus desconhecido.
Como aquele a que os atenienses também tinham erigido uma estátua.
E o livro é grande, mas interessante
Viva o FCPorto!...