segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Realidade e percepção

Uma discussão há horas atrás entre amigos, punha em saudável confronto duas visões que me vão sendo familiares. De um lado aquele que dizia que, contrariamente á percepção geral, Portugal continua a ter uma carga fiscal inferior à média europeia. Contrapunha-se, do outro lado, a ideia de que a receita deriva essencialmente da tributação dos rendimentos do trabalho. Para o primeiro haverá margem para a subida de impostos sem que isso afecte negativamente a economia. Para o defensor da segunda perspectiva, subir os impostos é ultrapassar o limite do suportável para a classe média, retirando recursos à iniciativa privada, diminuindo as capacidades de consumo e poupança virtuosas e potenciando as hipóteses de uma grave crise social.
Em matéria de receita do Estado a percepção nunca coincide, de facto, com a realidade sejam quais forem as convicções de quem expressa opinião.
Já quanto à despesa pública, aí a percepção é a realidade. A maioria dos portugueses sente que os poderes públicos pouco fazem para gastar menos e sobretudo para gastar melhor (intituivamente duvida-se da qualidade da despesa). E é essa a verdade. Basta olhar para alguns indícios - alguns pequenos, mas nem por isso insignificantes - que todos os dias nos chegam ao conhecimento e que revelam que não há decisor que seriamente se comova com o gasto supérfulo, com a despesa inútil ou mesmo com o custo de algumas vaidades.

6 comentários:

  1. Caro Ferreira de Almeida:
    Tem sempre que se comparar o nível de impostos com as prestações do Estado que eles possibilitam. A Suécia pode ter uma carga fiscal superior à portuguesa, mas não se compara o benefício que os cidadãos suecos dela retiram com o que em Portugal acontece.
    Por outro lado, têm que se analisar as condições existentes em cada país e verificar até que ponto as transferências de dinheiro das empresas e particulares para o estado não são um entrave ao desenvolvimento. Em Portugal, são. Não cabe num simples comentário dizer porquê; aliás, essa explicação tem sido abundantemente dada EM POSTS aqui no 4R. Portugal é o país que sofreu nos últimos anos a mais brutal subida de impostos e carga fiscal. O facto criou como que um vírus que tornou as pessoas disponíveis para pagar sempre mais e mais, aceitando todas as razões para o facto.
    O Grupo de amigos de que fala foi contagiado com esse vírus e dificilmente terão cura. Por mim, já que assim pensam, então deverão pagar os seus impostos e os de quem racionalmente pensa que o nível de impostos em Portugal constitui uma extorsão à mão armada.

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  2. "Com o clima de corrupção generalizada existente, com os métodos usados na revisão dos preços, com os objectivos anunciados e com as prioridades conhecidas do Governo a serem a EDP, a PT, a Mota Engil, a Ongoing, Joaquim de Oliveira, a Martifer, a Sá Couto e quejandos, é fácil de ver para onde irão os milhares de milhões de euros de investimentos públicos previstos. Para mais, tratando-se de financiamentos da Caixa Geral de Depósitos, do BCP,do Banco Espírito Santo e outros, recursos que são retirados ao investimento privado, nomeadamente exportador, esse sim necessário para criar empregos e para evitar o fecho de muitas empresas. Ou seja, a grande prioridade de José Sócrates não são os postos de trabalho, mas a ajuda às empresas do regime e o controlo dos meios de comunicação, para que os portugueses não se apercebam disso."
    Henrique Neto, Empresário, Militante do PS de longa data ao Jornal de Leiria

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  3. O que só prova o pluralismo que existe dentro do PS! E que, afinal, não está tudo "normalizado", contrariamente ao que, muitas vezes, se pretende fazer crer...

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  4. Quer o que diz o Pinho Cardão quer o refere Tonibler foram temas tratados por jacinto nunes, Augusto mateus, joão Salgueiro, Patrício Gouveia e Carrapatoso hoje no Prós e Contras. Todos no mesmo sentido. Caro Zé Mário, enquanto andarmos distraídos com episódios que querem apontar "os maus" para deixar na sombra "os bons" vamos continuar a ser surpreendidos com crises, aumentos de impostos, confusão entre poderes públicos e privados, investimentos incompreensíveis nos seus resultados, etc, etc.

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  5. Comparar o nosso nível de carga fiscal com o dos outros países europeus pode não ter grande significado se não se fizer a discriminação da carga fiscal por níveis salariais e consequente nível de rendimento disponível, em confronto com o nível de preços dos bens e serviços essenciais.

    É assim como dizer que existe um grande pluralismo dentro dos partidos. Não nos serve de nada, se os que vão para o governo e para a Assembleia da República são sempre os piores.

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  6. Caro JMFAlmeida

    A carga fiscal é elevada, mas nem sequer é das mais elevadas da Europa.
    É sabido onde se gasta +/- 80% dos impostos:
    a) Pensões e outras prestações sociais
    b) Juros e amortizações
    c) Salários da Função Pública ( aqui incluo as transferências para as entidades para estatais).

    Um governo apenas pode controlar o terceiro item, desde que esteja disposto a pagar o preço político, ou em alternativa, obter o consenso alargado para agir sobre este item, por outras palavras, partilhar o ónus.

    Devo já afirmar que nada do que afirmei até ao momento é novidade. Já muitos o disseram de uma forma directa ou indirecta.

    Ao tema quero apenas dar a seguinte perspectiva: manda a lógica (política) que os custos das grandes medidas sejam partilhados; esse costuma ser a via normal nos países europeus.
    Quando nm sistema político existem forças relevantes (com assento parlamentar)que, por causa do costume, estão vedados de aceder ao poder, não existem condições para se partilhar o ónus.

    Não existem condições objectivas para realizar as reformas, estamos condenados, como na tragédia, a realizar o destino que nos foi traçado.
    Neste caso, seremos obrigados, por terceiros a fazer o que não queremos.
    Apenas espero que seja o mais cedo possível...
    Cumprimentos
    joão

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