1. As notícias sobre a crise financeira da Grécia continuam a encher as páginas dos jornais, hoje com destaque para a redução do rating de longo prazo atribuído à dívida pública grega pela Standard & Poor’s, de A- para BBB+, depois de idêntico “downgrade” ter sido anunciado na semana passada pela Fitch.
2. Em resposta a estes anúncios os mercados vão agravando as condições de financiamento da Grécia, sendo já anormalmente elevado o custo de cobertura do risco de “default” da dívida grega, que segundo notícias ontem divulgadas estaria ao nível da do Cazaquistão...
3. O novo Governo socialista grego, chefiado por um membro da família Papandreou como não podia deixar de ser, não consegue convencer os mercados da firmeza das suas intenções de reformar as finanças públicas gregas, apesar da sua retórica contra a corrupção e promessas de combate à evasão fiscal...
4. A Grécia terá que emitir qualquer coisa como € 55 mil milhões de dívida nova em 2010, para financiar o défice e para refinanciar dívida que se vai vencer ao longo do ano, mas pelas indicações que o mercado está dando esse programa não vai ser fácil de executar e, em qualquer, caso, irá resultar num aumento muito considerável dos encargos da dívida.
5. Segundo as notícias de hoje, a Grécia teve agora que recorrer a um empréstimo negociado com 5 bancos, de € 2 mil milhões, face à aparente dificuldade em colocar obrigações no mercado nesta altura.
6. Ao mesmo tempo, as principais empresas europeias fornecedoras de medicamentos apresentaram uma queixa em Bruxelas contra os enormes atrasos de pagamento dos fornecimentos por parte do Estado grego – segundo notícia em destaque na edição do F. Times de hoje, essas dívidas em atraso totalizariam quase € 7 mil milhões, verba que provavelmente vai agravar as necessidades de financiamento acima mencionadas.
7. Esta situação, se não for atacada com medidas concretas e não apenas com retórica, pode ir agravando as condições de financiamento da Grécia até à implosão...mas em contraponto, os Sindicatos gregos, sentindo o “cheiro” a austeridade, estão mobilizando as suas “tropas” para iniciarem uma série de greves gerais...
8. Por cá parece que vem aí finalmente a Regionalização, uma “bela” ideia não fosse o plano inclinado em que nos encontramos a caminho de uma crise financeira que, não tendo certamente e por ora as proporções da grega, desta se aproximará inexoravelmente se nada for feito para travar a evolução dos últimos anos...
9. Não se perceberá que um projecto como a Regionalização pode vir a ter um efeito relevante de rigidificação da despesa pública, criando expectativas de maiores apoios do Estado às Regiões e tornando cada vez mais difícil o saneamento da débil situação das finanças públicas?
10. Ou me engano muito ou estas opções de política, desde as grandes obras públicas à dita Regionalização, ainda nos vão trazer enormes dores de cabeça...
Reflexo da decadência inexorável...
ResponderEliminarNeste mundo admirável
da actual conjuntura,
a decadência inexorável
ganha nova estrutura.
É tal o plano inclinado
da política regimental,
ficando mais inquinado
o descalabro orçamental.
E sobre a pujança dos PIGS...
O quarteto assombroso
de países requentados
deixam o ar tenebroso
de males enquistados.
Com o barco a afundar
no meio deste temporal,
há quem faça por nos toldar
com um discurso visceral!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarA decadência grega já é cenário corrente e nós para lá caminhamos. Do lado grego, muito sinceramente, já não me acredito numa resolução interna pacífica. Ou o FMI ou BCE injectam dinheiro e ficam com a soberania financeira até o país se recompor, ou caso contrário, quando começarem a aparecer os shortages, vai haver revolução, visto que é uma zona tendencialmente conflituosa.
Quanto ao panorama português, essa declaração vem em jeito de apaziguamento por causa do Red Bull Air Race se ter mudado para Lisboa, e ter deixado os portuenses de nervos em franja. Mas é a factura de ter Rui Rio como Presidente. Para quem quer ter contas limpas, não pode entrar em loucuras como Lisboa. Como disse e bem Menezes, o Instituto do Turismo fará o favor de pagar a factura à CML!
De qualquer modo, com ou sem regionalização, este país tão cedo não se remedeia. Enquanto não enfrentar seriamente os problemas estruturais do país, não há regionalização que nos salve!
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarComo prometido voltou ao tema.
Neste, como no outro, apenas algumas adendas:
Afirmar que o caso grego é diferente do português é o mesmo que afirmar que o Obikwelu é diferente do Bolt, porque este é jamaicano e o outro português.
Dito isto, as receitas sugeridas aos gregos são, mais ou menos as seguintes:
reforma da segurança social, para a tornar sustentável, reforma da administração pública(AP), diminuição dos gastos da AP, congelamento dos slários da AP, abertura da economia a estrangeiros ( actualmente, o grau de abertura encontra-se nos 30/35%), aumento da base contributiva, aumento de impostos, alteração do código contributivo, transparência e credibilidade das contas públicas...
De há cinco/dez anos a esta parte, podemos contrapor que, muito do que se propõe como remédio para "endireitar" as contas gregas, já foi realizado em Portugal...o problema é que, os gregos, mal ou bem, nesses anos cresceram, em média, entre 3 a 4%, ao passo que nós, andámos por menos de metade e, no entanto, a taxa anual de endividamento ao exterior não foi muito menor....
Depois, (nestas histórias há sempre um depois), depois, "há" a Irlanda e as medidas que tomou para superar a crise...não me venham dizer que não podem fazer como eles???!!!
Claro que se pode dizer que prometemos que não íamos aumentar os impostos, mas, o actual governo grego, prometeu o mesmo, acrescido de uma actualização generosa das pensões e dos saláris na função pública...Hoje, Papanderou anda a pregar sacríficios e a perorar sobre como evitar um desconforto ainda maior...
Por último temos o argumento do "jeitinho" como já fizémos uma parte do caminho, sempre podemos continuar a um ritmo menos elevado..Estamos com azar, porque nos vão (se é que já não o fizeram), dizer que, por causa dos jeitinhos a Grécia ( e nós) estamos nesta situação...
Por isto e por mais algumas coisas que ficam para depois, é que estas ideias do TGV, da regionalização e do casamento entre pessoas do mesmo sexo (vamos ser polidos) são como um limpa neves em Luanda: é um adorno caro e sem qualquer utilidade prática...
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarA regionalização pode ser a única forma de alterarmos o estado das coisas. Desta vez não concordamos.
Caro Tonibler:
ResponderEliminarAté concordo consigo. Claro que a regionalização vai alterar o estado das coisas. Para pior!...
Jogada táctica habitual naqueles governantes que, sentindo-se encurralados, agarram-se não obstante com unhas e dentes ao poder em nome de uma "modernidade transformadora". O importante, neste tipo de governantes, é nunca contar a verdade porque não lhes interessa reconhecer o desastre.
ResponderEliminarCaro Pinho Cardão:
ResponderEliminarA regionalização bem feita (não uma estupidez como aquela avançada pelo primeiro-ministro) que descentralize a receita e faça cada região viver segundo as suas possibilidades e aproximando o cidadão da obrigação de pagar as parvoeiras que faz, é a única forma de manter Portugal independente. Porque o que é preciso não é aproximar os poderes dos cidadãos, é aproximar as responsabilidades. Se os 50 mil euros de dívida que cabe a cada família, e que se chamam "dívida pública", for vista pela família como algo a somar ao empréstimo da casa, garanto-lhe que cada vez que o Sócrates falasse em investimento estrutural era banhado a alcatrão e penas.
Pois é, caro Tonibler, mas colocar cada região a viver com a receita que tem, que me pareceu ser a sua tese, levaria ainda a mais disparidades regionais, ao contrário do que se pretende. Independentemente disso, a classe política regional é a que já está no Parlamento e é a que levou a este estado de coisas. Teríamos a burocracia e o aparelhismo partidário multiplicados por cinco. E não vou continuar...
ResponderEliminarQuando tivermos uma outra classe política,arejada e com sentido de estado, afastada de oportunismos, então poderíamos conversar. Tal como estamos, seria revigorar ainda mais muitos dos mais caducos abencerragens da já de si decadente classe política.
...Revigoramento esse que levaria Portugal de mal a pior.
ResponderEliminarMas nem só a classe política tem culpas. A sociedade, todos nós, que votamos, temos culpas no cartório. Uns mais...outros menos.
Caro M. Brás,
ResponderEliminarInspiracional, sempre inspiracional a sua poesia...
Caro André,
Tenho o pressentimento de que o episódio da Grécia vai acabar nos braços musculados de "Arnold" FMI - pela simples razão de que tanto BCE como qq outro organismo europeu estão estatutariamente impedidos de apoiar um "bail-out"...
Mas não vai ser "pera doce" este episódio grego...
Caro João,
Sabe que a velha caricatura do kynesianismo, que para animar a actividade económica recomenda abrir buracos no chão e em seguida tapa-los com todo o cuidado, até faria mais sentido entre nós do que alguns dos projectos mega~´omanos em carteira?
Caro Tonibler,
A sua visão da Regionalização tem todas as características de uma visão utópica - não lhe fica nada mal, não é impossível (embora de probabilidade zero), apenas é utópica...
Como habitualmente, Pinho Cardão aponta certeiramente o dedo ao problema...
Caro Eduardo F.
A isso se poderá chamar também de "fuga para a frente" - enquanto houver "frente", quando deixar de haver a fuga acabou...
Caros Tavares Moreira e Pinho Cardão,
ResponderEliminarDo ponto de vista relativo, as fracções de território nacional mais prósperas são...regiões autónomas. Podem dizer-me que não vivem de proveitos próprios, o que é irrelevante (na realidade, o país tb não). O facto é que conseguem ir buscar as receitas necessárias para aquilo que querem porque o resto do país não tem, do ponto de vista relativo, o mesmo poder reivindicativo. Agora imaginem que o AJJ, em vez de ir refilar com o "colonialista poder central", teria que ir pedir dinheiro a uma federação de regiões, todas com a mesma vontade de estoirar dinheiro. O mais provável era ser rechaçado e bem poderia andar a fazer birras...
Agora, até admitiria que isto seria utopia, se os meus caros o mostrassem. Mas, na realidade, parecem estar a descrever-me outro país qualquer. Mas não foi a centralização da receita que gerou as disparidades regionais? Então? Não é graças à centralização da receita que os grandes projectos nacionais passam à frente do arranjo do passeio à frente da minha porta? Não é graças à centralização da receita que as finanças nacionais entraram em colapso? É que, assim de repente, pela vossa descrição, até parece que vivemos na Suíça e que a regionalização parece uma ideia que vai estragar um paraíso sobre a terra.
A solução para não se estoirar dinheiro é que o dinheiro tenha dono. Se para isso tiver que se montar 308 regiões, porque não?
Caro Tonibler
ResponderEliminarPeço desculpa por me intrometer na troca de impressões, mas deixe-me dizer que essa "coisa" da regionalização é um sintoma do que é o nosso atraso.
As razões são as duas seguintes:
a) Escala estruturada, no quadro actual da Europa, sem uma massa crítica de +/- 2.5 a 3.5 milhões de habitantes, não existem condições para sustentabilidade competitiva; não intressa muito entrar em detalhes mas repare que as duas regiões da Península onde existe essa escala estruturada ,são as mais ricas: Madrid e Barcelona.
b)A condição não escrita de uma regionalização reside na homogenidade e na confluência de vontades, isto é na cooperação activa dos intervenientes.
Chaga-me o exemplo da região metropolitana de Lisboa:
primo: são uns 15 munícipios e não vejo nenhum querer partilhar a manutenção dos custos de infraestrutras do munícipio de Lisboa e, no entanto, entram mais de 800.000 diariamente na cidade;
secundo: a Câmara de Lisboa tem +/- 11.500 funcionários e "serve" directamente +/- 500.000, mais os 800.000 que entram e saem, ergo, 1.300.000; a câmara de Paris tem 32.000 funcionários e "serve" +/- 3.500.000 e +/- 1.500.000 que entra ou seja, +/-5.000.000; quer-me explicar a diferença de rácios? Olha que estamos perante duas realidades semelhantes e comparáveis...
O primeiro exemplo demonstra que não existe, realmente vontade em cooperação entre as autarquias (contam-se pelos dedos as inciativas estruturantes e milhares as que envolvem divertimento ou partilha de custos de animação); no segundo a capacidade de gestão eficiente, por parte das autarquis fica demonstrada (desde Arronches até Castor Marim, todos os concelhos da raia são os maiores empregadores).
As autarquias são clones das restantes entidades administrativas, só diferem no tamanho populacional e na área geográfica, os vícios são iguais.
Cumprimentos
joão
Penso que seria imperativo acrescentar ao já exposto pelo Tonibler que tanto as empresas publicas como as que actuam em monopolio ou quase monopolio deveriam descontar para uma 6ª região, uma região virtual e os seus impostos divididos pelas restantes regiões.
ResponderEliminarSão estas mesmas empresas que adulteram por completo as estatisticas de contributo para o PIB por região. Para melhor perceberem aconselharia a retirarem aos numeros da região de Lisboa os contributos de empresas como a CGD, Galp, EDP, etc... Facilmente se perceberia que temos estado a falar de um verdadeiro embuste que tem servido para argumentar a favor da mais que insustentável região de Portugal.
Para terminar com algum bom humor, cá vai para o meu familiar Tavares Moreira: se não vos interessa a Reginalização podemos passar a algo muito mais interessante como Singapuração.
:)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro joao,
ResponderEliminarIsso não tem nada a ver com regionalização a sério. Se a câmara de Lisboa tivesse que viver com os impostos dos Lisboetas e se os lisboetas tivessem que dividir por cada um os custos da câmara, nem o António Costa tinha direito a ser pago.
Toda a gente, incluindo sua Exa. o PM, pensam em regionalização como uma divisão qualquer do estado central. Isso não é regionalização, isso é para político roubar. Aquilo de que estou a falar a descentralização da receita, que não tem nada a ver com a estupidez sugerida pelo Guterres ou a imbecilidade agora avançada pelo Sócrates. E, por acaso, acho que partido nenhum quereria uma regionalização nos moldes que sugiro o que, à partida, indicia que tenho razão...
Nem com regionalização, nem com reformas à pressa e nem com a 4ª república do velhote de 1985-95, encontrarão o remédio necessário. O Rui Ramos já percebeu. Porque teimam os senhores numa receita falida?
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarTem razão, plena razão, em 2 pontos:
- Não me basta dizer-lhe que a Regionalização que defende é uma utopia, tenho de o demonstrar;
- O modelo central que temos, comas distintíssimas excepções da Madeira e dos Açores, não evitou que as finanças públicas tivessem chegado à situação de lástima em que se encontram.
Quanto ao primeiro, o próprio Tonibler dá depois uma achega ao criticar, veementemente, chamando-lhes "estupidez" e "imbecilidade" os modelos de Regionalização propostos por grandes emnências políticas, incluindo o incumbente PM.
Acha o Tonibler que um modelo de Regionalização que até pode ser muito interessante mas que não interessa aos políticos, não reune todos os requisitos de uma utopia?
Quanto ao segundo ponto, o meu entendimento é de que a Regionalização, no medelo prosseguido pelos políticos só vai agravar a delicadíssima situação das finanças públicas, rigidificando ainda mais a despesa.
Mas, nas actuais circunstâncias, sou capaz de conceder que isso pode vir a constituir uma vantagem, acabando com a veleidade (sonho) de um dia podermos vir a ter finanças públicas sãs...
Talvez me vejam ainda militar no campo dos defensores da Regionalização...mas não será um sinal auspicioso...
Caro Nuno Castelo-Branco,
Sem por em causa a sua tese, importa-se de elaborar um pouco mais?
Caro Avvocato Familiar,
As empresas públicas deveriam descontar para si próprias, poupando recursos em vez de os "esbanjar", sentadas que estão confortavelmente no sofá da responsabilidade do Estado...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarTanto Vladimir Ilich como Mikail Gorbachev eram políticos. Não é preciso que todos os políticos amem ou detestem um modelo, bastam os certos.
O facto é que temos uma equação com duas condições fronteira. A agregação familiar, onde a gestão das despesas e das receitas é feita e onde o trabalho e as expectativas se adequam e a agregação nacional, onde os gasto é pelo disparate e todos temos direito a luxos colectivos que ninguém os pagaria individualmente. O estado das duas fronteiras parece-me indiscutível.
Portanto, ou a lógica já é cozida com o bacalhau, ou ter uma união social proveitosa e que, simultaneamente, não colapse pelas suas próprias expectativas está entre estas duas fronteiras. Isto é o que é para mim regionalização, a solução intermédia que permite a sobrevivência do país. O que não seja isto, obviamente, é pasto para os autarcas do costume e aí concordamos.