Está lançada a discussão sobre o novo plano de reorganização dos serviços de tratamento do cancro. O documento apresentado pela Coordenação Nacional para as Doenças Oncológicas estabelece requisitos técnicos que podem conduzir ao encerramento de cerca de metade das unidades de oncologia que hoje funcionam nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), designadamente limites mínimos anuais de atendimento de doentes oncológicos para justificar a manutenção de centros de tratamento ou a prestação de determinados tratamentos.
O objectivo é, segundo li, encerrar serviços para rendibilizar recursos e prestar serviços com maior qualidade.
Esperemos que a decisão política que vai ditar a reorganização da rede de oncologia não seja apenas movida por razões economicistas e técnicas, mas que pondere e avalie a necessidade de proteger as pessoas que vivem em localidades menos povoadas, designadamente no interior do país, e tenha em conta que a proximidade dos locais de residência dos doentes e dos seus familiares aos centros de tratamento é um aspecto fundamental, em particular na doença oncológica.
Esperemos que a decisão política que vai ditar a reorganização da rede de oncologia não seja apenas movida por razões economicistas e técnicas, mas que pondere e avalie a necessidade de proteger as pessoas que vivem em localidades menos povoadas, designadamente no interior do país, e tenha em conta que a proximidade dos locais de residência dos doentes e dos seus familiares aos centros de tratamento é um aspecto fundamental, em particular na doença oncológica.
Os tratamentos, com implicações físicas e psicológicas difíceis nestes doentes, muitos deles debilitados, determinam em muitos casos deslocações semanais aos centros de tratamento durante longos períodos de tempo, em que o acompanhamento e o apoio familiares é muitas vezes necessário e desejável. Com efeito, as condições logísticas exigidas aos doentes não podem ser menosprezadas, assim como a despesa adicional que sobre eles recai.
A humanização da prestação destes serviços é um aspecto que deve ser, portanto, valorizado, como aliás deveria acontecer em geral na prestação de todos os serviços de saúde. Esta é uma vertente em que o SNS precisa, também, de fazer muitos progressos.
No meio desta discussão convém também não esquecer que existem longas filas de espera para cirurgias e tratamentos oncológicos que o SNS continua sem capacidade para resolver…
Cara Margarida:
ResponderEliminarComeça a não haver qualquer paciência para estes pré-anúncios de reestruturações mal fundamentadas e de geometria variável, ao sabor das pressões de quem grita mais alto.
Os tecnocratas do M.Saúde, geralmente protegidos pelos serviços a que têm imediato acesso,quando precisam, não sabem nem sonham a dificuldade que muitas pessoas sentem em deslocar-se a longas distâncias a centros hospitalares. Não é só o transporte, nem o desacompanhamento, nem o desconhecimento do meio, mas é também o impacto psicológico de tudo isso e muito mais.
Claro que deve haver racionalização de meios, mas explicada, fundamentada, feita com pés e cabeça, não atirada para o ar, à espera do sítio onde vai cair.
Mas, palpita-me, não é isso que está a acontecer. E qualquer dia ainda vai haver algum tecnocrata a lembrar-se de fazer apenas uma unidade de tratamento, que o país é pequeno e há que dinamizar a venda de ambulâncias.
“Requisitos para a Prestação de Cuidados em Oncologia”, é o documento elaborado pela Coordenação Nacional para as Doenças Oncológicas.
ResponderEliminarhttp://www.acs.min-saude.pt/wp-content/uploads/2009/12/requisitos_prestacao_cuidados_do.pdf
O debate e a apresentação de propostas/sugestões segue aqui, na consulta pública, até fim de Janeiro de 2010:
http://www.acs.min-saude.pt/2009/12/30/requisitos-pco
o que está em causa é MUITO IMPORTANTE.
Muitos cidadãos poderão ser prejudicados e penalizados se algumas medidas deste documento forem levadas a efeito.
Conforme diz o Caro Dr. Jorge Espírito Santo, Presidente do Colégio de Oncologia, da Ordem dos Médicos, a hipótese de um qualquer médico realizar um tratamento prescrito para nesta área pode ser «muitíssimo perigoso», já que o tratamento só deve ser feito em unidades especializadas.
Disse em entrevista,
«Se acontecesse uma reacção grave, uma toxicidade grave ou uma complicação da terapêutica quem lá estava não tinha experiência nem conhecimento suficiente para tratar do doente», explicou este oncologista.
Disse: ....«estes tratamentos são especializados e só devem ser executados na presença ou sob a supervisão estreita do oncologista num meio especializado».
Este oncologista defendeu ainda que se crie um centro especializado para o tratamento destas doenças em cada região do país e que tratem estes doentes com qualidade.
Sublinho esta frase do Caro Dr. Jorge Espírito Santo:
- «A quantidade é apenas um pequeno critério de avaliação de qualidade. A grande medida de qualidade dos tratamentos e dos cuidados que são prestados aos doentes são os resultados da taxa de mortalidade e taxa de sobrevivência aos cinco anos»
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1463277
http://www.pop.eu.com/news/862/26/Colegio-de-Oncologia-contra-fecho-de-servicos.html
Só não entendo como é que a um médico (J. Espírito Santo) lhe passa pela cabeça que um colega seu seja capaz de aceitar realizar um acto médico para o qual se sinta incapacitado.
ResponderEliminarSerá que o Dr. Espirito Santo já fez isso?
Mais uma mudança em perspectiva, mais uma chorrilha de sofismas...
Já estamos habituados.
"j estamos habituados." .... significa concretamente o quê ?
ResponderEliminarSó assim não dá para perceber, SC.
Se me dissesse que os discursos e as políticas de saúde levadas a cabo por este Ministério de Saúde, e pelo Ministério da Saúde do mandato anterior estão repletos de sofismas e "engenharias financeiras", que têm sido pagos com a própria Vida, por vários utentes do SNS, ... aí sim, estaria totalmente de acordo consigo, SC.
Há políticas de saúde que são assassinas ...Sabe ?
É o caso da política socialista no que respeita à Saúde, dos últimos anos.
Cara Pezinhos N'Areia,
ResponderEliminarJá estamos habituados aos sofismas.
Eu quero acreditar que um médico só praticará um acto médico se para isso se sentir habilitado. Senão, o que devo pensar quando me dirijo a um hospital e não faço a mínima ideia de quem é que me vai tratar?
O que o Dr. Espírito Santo disse, objectivamente, é que que os seus colegas provincianos não sabem fazer "aquelas coisas" mas fa-las-ão. Isto é, são uns irrsponsáveis.
Mas eu sou provinciano, e vivo na província, por isso não fico preocupado, sempre fui tatado por esses médicos provincianos e sei que eles são responsáveis. Por isso, quando não sabem mandam-me para Coimbra ou o Porto. Não se metem a mexer no que não sabem.
Concretamente quanto às medidas em causa, pelo princípio parecem-me sensatas (mas atenção que não percebo nada de saúde, nem da minha - só sei onde me doi), agora quanto à forma como vão ser implementadas, espero que o façam, também, com sensatez.
Por isso, na dúvida, tendo a apoiar os argumentos que me parecem sensatos e com sentido (com lógica?), não aqueles em que encontro sofismas discarados.
E, aparentemente,as tais políticas de saúde dos socialistas, que antes eram dos social-democratas, que antes eram dos socialistas, que antes eram dos social-democratas ... e "sempre" estavam erradas, afinal trouxeram-nos um sistema de saúde que foi melhorando, sustentada e continuadamente.
E isto, eu, digo-o por experiência própria.
E também a maioria dos estudos internacionais sobre sistemas de saúde que colocam o nosso invariavelmente entre o 11º, 15º, 17º ... lugar a nível internacional.
Nalguns casos, mesmo no 1º lugar, como aqui há tempos li relativamente ao nosso sistema de vacinação.
Há mais algum "coisa" que em Portugal atinja de forma sustentada este tipo de rankings internacionais?
E depois, quanto às mudanças, há aquela nossa inclinação para a professia dadesgraça... Eu também sou assim com muita frequência...
Caro SC, está a fazer uma enorme confusão, em relação ao que está em causa, e quanto ao que afirmou o Caro Dr. Jorge Espírito Santo, que muito prezo, como pessoa, como médico e como Presidente do Colégio de Oncologia, da Ordem dos Médicos.
ResponderEliminarVai-me perdoar Caro SC, mas o Senhor está um pouco desfocado da problemática das questões da Oncologia em Portugal, e das necessidades daqueles que hoje em dia, são doentes oncológicos.
Uma coisa é a realidade teórica, a realidade fria dos números, outra bem diferente, é a verdadeira realidade, da vida de um doente oncológico, em qualquer parte do País, seja esta, próxima ou distante, dos grandes centros urbanos.
A neoplasia é uma palavra mágica que faz cessar um seguro de saúde, num ápice.
Quase todos nós, estaremos dependentes do Serviço Nacional de Saúde, se contrairmos a doença do cancro.
Os tratamentos de quimioterapia são muito caros.
Na minha escala de prioridades, primeiro está a Saúde, e só depois, o TGV e outras obras dessa envergadura.
Eu não aceito que morram doentes de cancro, por falta de cuidado atempado, mas que possamos dizer que chegamos um quarto de hora mais cedo, de lisboa ao porto, através do TGV.
Na cidade onde resido cerca de 1/4 da população não tem médico de família ... isto é, 25 000 pessoas.
Os cuidados primários têm muitas lacunas.
Não temos o enfermeiro de família.
Temos médicos mal pagos, temos enfermeiros precários. Temos internamentos desnessecários.
Parte do que refiro também se relaciona com a Oncologia, porque a Saúde Primária permite um rastreio que detecta rapidamente a neoplasia (cancro).
Este assunto dá pano para mangas....
Não me interessa as eólicas e o tgv para nada, se há pessoas no meu país que têm que fazer diariamente muitos quilómetros de ambulância, para fazer tratamentos de quimioterapia.
E nalguns casos pode vir a ser esse o futuro, se este Documento for aprovado tal como foi apresentado.
Todos, seremos poucos, doentes oncológicos ou não, para nos opormos ao encerramento de alguns serviços, e à desvalorização de outros.
Concentrar serviços de oncologia com o pretexto do aumento da qualidade ... isso sim, é o maior de todos os sofismas.
Já estamos habituados, parafraseando o Caro SC.
Da parte do Partido Socialista, obviamente....
Caro Dr. Pinho Cardão
ResponderEliminarHá já quem defenda não uma mas três unidades de tratamento: uma no Norte, outra no Centro e outra no Sul.
Evidentemente que tem que haver preocupações de prestação dos serviços de saúde com elevados padrões de qualidade, mas não apenas no que se refre ao acto médico. Há outros aspectos igualmente importantes, como o atendimento ou internamento. Mas a racionalização dos meios não é um fim, mas sim um meio que permita obter aqueles objectivos. Quando se fala de qualidade não podemos esquecer os aspectos que referi no meu texto e que o Dr. Pinho Cardão bem assinalou.
Não gosto sinceramente do modo como este assunto está a ser tratado e preocupa-me bastante a falta de capacidade do SNS para prevenir e tratar o cancro.
Sobre as ambulâncias li que andam a prestar serviços de táxi.
Cara Pézinhos N' Areia
Partilho das suas preocupações. Quando a doença do cancro nos está próxima sabemos bem do que é que estamos a falar. Sei bem do que falo.
E são os médicos os primeiros a reconhecer as deficiências do SNS e as consequências graves para os doentes.
Deixo-lhe aqui esta parte de uma notícia do Correio da Manhã. Não creio que haja aqui demagogia, especulação ou qualquer outra coisa oculta que nos conduza a não levar a sério este testemunho:
Há doentes de cancro que morrem porque não receberam o tratamento adequado e atempado. Um dos factores que contribuem para essas mortes evitáveis é a falta de médicos oncologistas. Responsáveis afirmam que faltam, pelo menos, oitenta médicos para que o sector funcione em Portugal de acordo com as orientações. Há apenas 120 especialistas no activo.
O médico oncologista Vítor Veloso, ex-presidente da Liga Contra o Cancro e membro do Conselho Nacional de Oncologia, diz que fica perturbado quando lhe surgem doentes sem hipótese de serem salvos porque não foram devidamente tratados. "É dramático quando recebemos no IPO [Instituto Português de Oncologia] um doente que teve um mau tratamento inicial, que o leva à morte ou reduz o tempo de sobrevida."
O especialista afirma ao CM que o cancro é um problema de saúde pública e que o "Estado tem obrigação de apetrechar os hospitais com os recursos técnicos e humanos para o tratamento dos doentes". Sobre o critério polémico da exigência de um mínimo de 250 doentes para que uma unidade de tratamento funcione, Vítor Veloso afirma que "terá de ser visto caso a caso e tida em conta a questão geográfica".
Caro SC
Todos reconhecemos que o País progrediu muito em termos de cuidados de saúde. É inegável.
E em alguns domínios somos uma referência internacional, como no caso da mortalidade infantil. Exemplos de sucesso que deveríamos procurar replicar em outras áreas. Estes casos de sucesso não acontecem por acaso. O que é que fizemos de diferente? Como fizemos? Como é que nos organizámos?
Mas a verdade é que continuamos a ter muitos problemas no SNS. E a questão é a de saber se não os deveríamos ter já resolvido, pelo menos em parte. O desenvolvimento de um país também se mede pelo índice de desenvolvimento humano. E aqui Portugal está mal classificado.
Porque é que faltam 700.000 médicos de família? Porque é que se morre na fila de espera para uma cirurgia oncológica? Porque é que temos baixos índices de rastreio do cancro?
Temos muito para avançar. Quero acreditar que a reestruturação da rede oncológica, que está parada desde 2002, seja para melhorar as condições de vida das pessoas. Mas não estou, pelo que me é dado ver até agora, descansada. Basta ler o documento que se encontra em consulta pública sobre o assunto para perceber que toda a análise se resume a questões técnicas. É pouco. E o bom senso, que o Caro SC tão bem assinala, é coisa que às vezes também faz muita falta.
As mudanças na saúde têm que ter sempre como resultado uma melhor e mais eficiente prestação da assitência e isso tem que ser sentido pelas pessoas. Não sei se deve haver mais ou menos centros no caso das doenças oncológicas, o que é preciso é que resulte melhor, e isso significa que o acesso tem que ser garantido, se houver concentração - o que não me custa nada a compreender, pela especialização e meios que exige - e haver condições para os acompanhantes ficarem sem sobrecustos excessivos. Talvez seja menos caro, mais justo e mais produtivo em termos de resultados do que manter muitos centros abertos com cuidados insuficientes, ainda que perto. Mas não se pode olhar só para o número a reduzir, falta garantir o acesso e não é só ambulâncias para cá e para lá. E temos que acreditar que, ao menos nesta matéria, não se vão criar angústias escusadas antes de ter a certeza de que a mudança é para melhor.
ResponderEliminarParece-me que, a Norte e do PSD, há quem não comunge do seu optimismo Cara Dra. Suzana....
ResponderEliminar- "Bragança: deputado PSD quer saber que reforma vai afectar serviços e doentes"
http://www.pop.eu.com/news/883/26/Braganca-deputado-PSD-quer-saber-que-reforma-vai-afectar-servicos-e-doentes.html
Por outro lado, Cara Dra. Suzana, penso que, quem melhor sabe o que convém aos doentes oncológicos, são os médicos Oncologistas.
Por essa razão, me merece toda a credibilidade, neste tocante, a postura da Ordem dos Médicos, através do Colégio de Oncologia, na pessoa do seu Presidente, o Caro Dr. Jorge Espírito Santo, que quando assume uma posição pública, nesse estatuto, resulta de um acordo de posição e opinião, entre os médicos Oncologistas, que constituem o Colégio desta especialidade, na Ordem.
Nesta situação em concreto, como em muitas outras situações passadas, a Ética não é uma palavra vã, para o Presidente do Colégio de Oncologia, da OM.
Diz quem o conhece de perto....:-)
Cara Margarida
ResponderEliminarA politização total da vida portuguesa vai de vento em pôpa, exprimindo-se pela mais variadas formas e feitios, sempre norteada pela partidarite e pelo compadrio, que é como quem diz, pelos negócios e corrupção activa.
Já que na justiça o escândalo já vai longe e é neste momento irreparável - a não ser com um movimento tipo "mãos limpas" - peçamos aos nossos amados governantes que ao menos na saúde,sigam as regras da seriedade técnica e negocial e resolvam as coisas a bem dos que sofrem e dos que pagam contribuições, sem varas nem varetas. Eu por mim estou exausto de tanta promessa e maravilha.