1. A reunião de ontem do ECOFIN parece ter concluído, relativamente à situação crítica em que a Grécia se encontra, o seguinte: não causamos esta situação, “os gregos que paguem a crise”...
2. Esta posição parece deixar tudo em aberto, por enquanto os gregos vão ficando no “grelhador do endividamento” dependentes da avaliação que os mercados forem fazendo – uma combinação instável dos estados de espírito e das análises das agências de rating, dos “opinion-makers” especializados e dos investidores...
3. Não é fácil antever próximos desenvolvimentos desta novela, pois não existem livros que expliquem, para esta União Monetária, o que fazer se um estado-membro entra em quase-insolvência:
– Vai mesmo para a insolvência?
- Previne-se a insolvência, com que meios e sob a orientação de quem – FMI? Comissão Europeia?
- No caso de cair na insolvência, será que existem meios para recuperar dessa situação - ou será mesmo forçosa a saída do Euro, solução juridicamente muito complexa que pode implicar eventualmente a saída da União?
4. Esta novela, dizendo respeito à Grécia, interessa-nos muito particularmente, pois a dificuldade maior ou “menor” (sempre gigantesca) de sairmos da armadilha do endividamento em que alegremente nos deixamos cair – e parece querermos persistir, contra todos os avisos - terá sempre muito a ver com o que se passar no caso da Grécia.
5. A este respeito citei já, em Post anterior, a opinião de Desmond Lachman - uma opinião “pessimista”, publicada no F. Times de 12 do corrente, que prevê a implosão financeira da Grécia e a consequente saída do Euro...
6. Julgo ser oportuno citar hoje outra distinta opinião, publicada tb no F. Times, edição de 15 do corrente, de Simon Tilford (Chief Economist, Centre for European Reform), sob título “Europe cannot afford to let Greece default”.
7. Tilford sustenta a tese de que, caso não existam apoios para a Grécia por parte da União Europeia, o país não vai conseguir, por si só, evitar a queda na insolvência, deixando de cumprir os compromissos de dívida em relação ao exterior especialmente.
8. Em tal cenário de insolvência, o autor entende que os custos de ultrapassar os desequilíbrios, refazendo a competitividade da sua economia, seriam para a Grécia inimagináveis.
9. O mais razoável em tal situação, por muito arriscada que essa opção se afigure, admite Tilford, seria deixar mesmo a zona Euro.
10. Não diverge muito de Lachman, neste ponto. Mas avança que, caso esse cenário se verifique, outros países – citando os casos da Espanha, da Itália e de Portugal – serão o alvo seguinte, podendo cair em situação de grave crise financeira, maxime a insolvência.
11. Para além de outras considerações, Tilford conclui que uma ruptura parcial da zona Euro teria custos enormes para a Europa e para o projecto europeu...
12. Tilford sugere que os países excedentários da zona – com a Alemanha à cabeça - deveriam rever as suas políticas e adoptar medidas mais expansionistas para ajudar os seus parceiros em dificuldades...mas quem os convence disso? E será que isso chegaria?
13. A única coisa que se sabe é que por enquanto os gregos ficam no grelhador do endividamento...resta saber por quanto tempo e se ainda será possível retira-los de lá antes que atinjam o ponto de assar...
Ah, pois é... O que diz a constituição europeia recentemente aprovada sobre o assunto? Deve haver lá um princípio fundamental qualquer sobre a solidariedade entre os vários estados, de certeza, a que os gregos possam recorrer e na qual os portugueses estão a fazer fé. Aquela pressa dos portugueses em fazer aprovar o tratado de qualquer maneira sempre me cheirou a esturro...
ResponderEliminarSó uma ideia criativa e evolucionista, poderá salvar a economia...
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=-g0HuwST7_U&feature=fvst
Será esta?!
Caro Tavares Moreira:
ResponderEliminarO meu amigo está a fazer pedagogia e serviço público de excelência a propósito da situação grega.
Mas contra todas as evidências, ainda hoje os Sindicatos, como ontem anunciaram, vão, ou já foram, não sei, pedir ao Governo que aumente a despesa pública... para criar emprego...imagine-se...
Imagine-se também a quantidade de emprego que está a ser criada na Grécia com a sua situação de endividamento!...
A situação não é já da irracionalidade de não querer ver, é de loucura pura e simples.
Bem...
ResponderEliminarCom tanta carne no grelhador
já estando bem aquecida,
sente-se a pairar o odor
da certeza enegrecida.
Na actual conjuntura
de défices elevados
acabou-se a fartura
para projectos eivados!
Com a economia reduzida
a minudências esfarrapadas,
a confiança é induzida
por alucinações decepadas.
A carne bem passada pede-se, em restaurantes de língua inglesa, "well done". Deve ser por isso que os socialistas acham que que o que nos levou a esta situação foi "well done".
ResponderEliminarExpliquem-me ó excelsos doutores de Economia, como é possível? Então o crescimento económico, por si só, já não garante a criação de emprego? Como é possível? Enormes devem ser os ganhos de produtividade, quando com menos trabalhadores se consegue produzir tanto ou mais do que no passado.
ResponderEliminarNão cai agora por terra esse argumento de que neste país não se podem aumentar mais os salários por ser reduzida a produtividade? Grande prodígio esse, de se conseguir crescer economicamente com um desemprego sempre crescente.
Revejam as vossas teorias, ó doutores. A realidade está a mudar.
caro Tonibler,
ResponderEliminarTanto quanto sei, aquilo a que denomina de Constituição Europeia sobre esta matéria nada mas mesmo nada diz...ou nada acrescenta ao pouco que já existia em Maastricht.
Caro Bartolomeu,
Admito,na esteira da sua dica, que só mesmo Darwin nos pudesse ajudar a explicar como vai ser a evolução desta tragédia grega...
Caro Pinho Cardão,
O que se passa com estes opinion-makers de que fala, confesso que desde há muito me parece ter ultrapassado a esfera do surrealismo, para invadir a zona do mais completo desvario e desnorte...
Mas nada ou quase nada podemos fazer, eles é que detêm a "verdade", são os ungidos do "sistema"...
Até batermos com estrondo no fundo, a verdade pertence-lhes...
Caro Manuel Brás,
Mais um saboroso episódio de poesia intervencionista...e sempre a propósito!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarPelo andar da carruagem, a Grécia está mais na fritadeira que no assador! Eu julgo que as soluções apresentadas pelos economistas/cronistas do FT, tem um pequeno (grande) senão. O facto de não atentar à importância da parte política. Não acredito que deixariam os países à mercÊ, pois esse seria um tiro no pé para quem realça a necessidade de uma Europa mais forte, sendo que alguns desejam uma Europa federalista.
Por outro lado, também é possível que tentem dissuadir Portugal, Espanha e Itália com o exemplo grego, ou utilizando uma expressão de direito penal, recorrendo a uma prevenção geral negativa.
caro André,
ResponderEliminarO que meu amigo diz não é de todo insensato...mas o problema é saber como, com que meios essa "boa vontade" política pode vir a traduzida em apoios concretos.
Por outro lado convém não menosprezar a questão do mau exemplo: quaisquer apoios que possam ser vistos como prémio à indisciplina financeira poderão ser fatais para o futuro da zona Euro...
Assim, um eventual apoio por parte da UE teria sempre de ser acompanhado de uma dura e bem explicada condicionalidade, que não deixasse dúvidas quanto ao resultado das medidas correctoras "exigidas" aos gregos...
No caso do FMI, será sempre mais credível uma negociação deste tipo, por força da longa tradição do FMI neste tipo de negócios mas também por ser vista - pelos mercados em especial - como entidade mais distante e independente do que a UE em relação ao problema grego...
Por isso me tenho inclinado a admitir que esta novela ainda irá passar por uma intervenção do FMI "à la carte".
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarUma achega..longa:
Who will foot the bill?
Quem tem liquidez (Alemanha e Holanda)não está interessado em pagar pelos erros dos outros e quem prevaricou (os PIIGS com especial relevo para GR) não demonstra real e genuína vontade em mudar de vida.
Claro que os visados (como já assistimos no caso grego e vamos assistir no português)consideram que estão a fazer os possíveis; os credores consideram que não.
Para tornar mais simples uma questão complexa, podemos dizer que existem, basicamente, duas estratégias de solução; mas nenhuma é, necessariamente, melhor do que a outra, é como com a droga: ou ministramos metadona ou seguimos uma cura que passa pela privação. Em qulquer das opções nunca temos a certeza (ou a garantia)que vai resultar.
Aos gregos podemos ministrar a metadona: pagar-lhes as dívidas; ou obrigá-los a pagar:privamos da droga.
Como estamos todos no mesmo barco, qualquer que seja a solução será sempre dolorosa para todos os envolvidos; nesse sentido, os cenários que apresenta têm consequências para todos os membros da União.
O que se está a passar com a Islândia veio recordar ao mundo financeiro que a prisão por dívidas há muito que foi abolida (como, aliás, a responsabilidade ilimitada para os banqueiros....).
Não podemos impôr a uma sociedade um fardo demasiado pesado que ponha em risco a viabilidade da mesma, ou fira gravemente os direitos humanos. Mas, também, não podemos financiar as folestrias irrealistas e irresponsáveis.
Os alemães directamente os países europeus mais lúcidos e responsáveis, sabem que Hitler subiu ao poder a cavalo de uma reparação predatória, como sabem as consequências de subsidiar uma sociedade que perdeu os valores fundamentais que suportam o sucesso (ex RDA).
Por isso, como se depreende do último artigo do Martin Wolf no FT, vamos assistir a uma solução como a que aventei num post anterior:
os prevaricadores vão pagar em metálico e em espécie os erros cometidos:vão pagar os juros e vão abrir os armários que têm fechados à concorrência externa (que no caso grego e português é cerca de 70% da economia);
os credores vão financiar em metálico e em espécie: subescrevem a emissão de dívida e vão "afinar" as suas políticas económicas para ajudar os credores ( a Alemanha vai ter de importar mais ou exportar menos e o mesmo se aplica à Holanda).
Parece fácil mas não é, o que tentei foi simplificar um processo que não tenho dúvidas nenhumas que será muito doloroso e, por causa das circunstâncias, mais rápido do que se previa ou se desejaria.
Por razões que se prendem, basicamente, com a interligação económica da união divirjo quanto à solução FMI, mas poderemos deixar para uma próxima ocasião
Cumprimentos
joão
Caro João,
ResponderEliminarAprecio bastante a forma sintética mas precisa como expressa as suas ideias e não andamos longe nas nossas avaliações - apesar de alguns naturais pontos de não convergência.
O processo que está agora em curso, de correcção dos formidáveis desequilíbrios da econoia grega e dos pouco-menos formidáveis desequilíbrios da economia portuguesa vai ser certamente doloroso...
Mas não me parece de todo que vá ser rápido...a menos que com esta expressão queira referir-se apenas ao termo inicial desse processo e não ao termo final...
Se for esse o entendimento, concordo que será rápido, mas depois será extremamente lento e sempre doloroso...é uma ilusão pensar que tudo se resolve em 3 ou 4 anos, vamos ter trabalho para 10 anos ou mais...e com resukltado final incerto!
É caso para citar uma frase que fez época há uns anos "Mas havia necessidade?"...quem nos mandou meter neste imbróglio?
E ainda hoje, apesar de toda a evidência e do sangue que os mercados estão para aí a fazer, insistimos nos erros que nos conduziram a este estado?
Haja paciência!
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarEstamos quase de acordo.
No que respeita ao tempo, não fui claro, mas é como diz: rápido vai ser o termo inicial do processo, aliás, em boa verdade, já começou....
(Apenas lateralmente, fiquei com a percepção clara da ideia que os mercados têm da nossa economia, quando li o relatório do FMI sobre Portugal publicado no final do ano passado. Habituado a ler comentários sem sal, a linguagem deste era tão diferente das anteriores que, só a loucura geral que campeia em Portugal, pode explicar a falta de reacção).
Não havia necessidade, é verdade, mas... agora temos de "aguentar" o leite derramado e o copo partido...
Concordo consigo que temos para muito mais de dez anos, mesmo com estímulos exteriores, porque, os maus hábitos estão muito, mesmo muito, entranhados......
Cumprimentos
joão
P.S: Nem de propósito, hoje 20/01/10, o FMI, enviou a segunda misssiva a, avisar que temos de mudar, há que poupar para chegar aos 3% em 2013... Quem te avisa...
joão