1. Na edição de hoje do Financial Times é referido um “aviso” da Moody´s quanto a uma eventual próxima degradação da nota de “rating” atribuída à dívida pública Portuguesa, caso não sejam tomadas medidas firmes para redução do défice público já no Orçamento para 2010.
2. Curiosamente, ainda há 3 ou 4 dias o PM, em termos resolutos, tinha reiterado a ideia de que “...a prioridade é o combate à crise, não o défice”...e aí anda combatendo, por esse País fora...
3. Será que estamos perante um “braço-de-ferro” entre o Governo português e as agências de “rating”? À primeira vista assim parece, mas creio que será só à primeira vista...
4. Na verdade, uma revisão em baixa do “rating” da dívida pública portuguesa – em qualquer caso um risco não desprezível - redundará em custos ainda mais elevados de financiamento e ainda maior dificuldade de acesso ao crédito externo, agravando seriamente o cenário de crescimento da nossa frágil economia.
5. Assim, a prioridade parece não dever ser outra que não o défice: de outro modo, o combate à crise transformar-se-á num exercício paradoxal - em que a crise, quanto mais combatida mais se fortalece...
6. Mas não basta inverter o discurso, alterar as prioridades se for o caso, isso até é fácil...mais difícil, mas indispensável, será assumir objectivos de redução do défice e explicar como é que se chega lá, pela via das despesas e das receitas...
7. E aqui chegados tocamos num ponto crítico que consiste na seriedade e exequibilidade das medidas dirigidas à redução do défice, pois não basta apontar objectivos, é preciso que sejam realizáveis...e não fantasiosos, como tem acontecido não raras vezes.
8. Metas orçamentais não irrealistas (vale sobretudo para a receita) são necessárias para não se correr o risco de uma revisão do Orçamento a meio do ano, aliás já próximo...essa situação parece de evitar, de todo, pois propiciaria às agências, Moody’s e quejandas, o pretexto obvio para desencadear a revisão em baixa do “rating” da dívida portuguesa...
9. Também não se afigura nada recomendável o uso de contabilidade criativa para ocultar défices, por duas razões, ambas pesadas:
- (i) mais ou menos oculta, toda a despesa tem de ser financiada pelo que se não for incluída explicitamente no défice acabará por sê-lo na dívida;
-(ii) arriscamo-nos em futura mudança do Governo a ter uma situação do tipo “grego” que, após a mudança de Governo em Outubro último viu o seu défice orçamental para 2009 triplicar ou quase, com a revelação das operações de des-orçamentação...e aí o "rating" entraria em mergulho de profundidade...
10. Bem sei que tudo isto não nada fácil...é até bem difícil, mas as consequências de seguir a alternativa do mais fácil, confiando em cenários improváveis, serão de tal modo penosas que o melhor será atacar já essa dificuldade...
11. Pode não se gostar das agências de “rating”, apontar-lhes múltiplas situações enganosas em que têm caído...vide o recente colapso das dívidas derivadas do “sub-prime” que mereceram “rating” AAA...ah, ah, ah...até à véspera do colapso...
12. Não obstante, parece-me neste caso de lembrar o velho adágio “Quem te avisa...”
Toca num aspecto muito delicado, meu caro Tavares Moreira. A questão da mudança de Governo poder destapar deficites que todos suspeitam andarem por aí escondidos, produtos das mais variadas engenharias de desorçamentação.
ResponderEliminarAssim sendo, o que será mais patriótico: a) não mudar de governo? b) mudar de governo mas continuar na mesma senda? c) arriscar contas de verdade e chamar o FMI? ou d) continuar alegremente a assobiar para os passarinhos?
... parece que não é amigo
ResponderEliminarTantas ideias reiteradas
em avisos informados,
mas as políticas maradas
deixam-nos assaz inflamados.
O racionalismo calculista
dominante na sociedade
espelha a faceta simplista
delirante de alarvidade.
Urgem metas orçamentais,
claras e executáveis,
por motivos fundamentais
e há muito imutáveis.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarA semana passada uma delegaçao da União Europeia esteve, em Atenas, em conferência profunda com as autoridades gregas .
Esta semana é o FMI.
Entretanto, ficou-se a saber/suspeitar que o défice de 2009 na Grécia está mais próximo dos 14% do que dos "honestos" 12.5%"descobertos" pela novel maioria.
Há dois meses atrás, esta solução seria apenas teórica,dado que era abordada pelos académicos e pelos "habituais profetas da desgraça", ou em linguagem socrática "botaabaixistas".
Há um mês, antes do episódio Dubai/Abu Dabi, o "senso comum" o "bom senso" indicava que, em regime de união, seria do interesse de todos os países parceiros, ajudar e suportar em conjunto as crises dos demais; mesmo que fosem resultado de "alguma megalomania". Ora, parece que o "bom senso" estava profundamnete errado.
Dentro de dois meses vamos assistir a um coro de protestos, quando a Comissão, os credores e os mercados, recusarem o orçamento de "confiança" que será aprovado,( por acção e omissão) com amplo consenso e "bom senso" pela maioria possível.
A mão caridosa que nos vinha alimentando, também pode bater. Ficaremos muito admirados quando a Comissão recordar que o enquadramento macro económico orçamental é de um optimismo que roça utopia, que não foi sequer considerado que os vizinhos vão contrair este ano ( e eles valem 40% do nosso comércio externo) e que os restantes "grandes clientes" vão crescer metade do previsto, que a taxa de juro que foi prevista é cerca de metade da que se pratica para a nossa dívida, ou que as empresas (não financeiras) nacionais, tão badaladas internamente, estão no fim da listas, em termos de performances, quando comparadas com as congéneres, mesmo em regime de quase monopólio interno; ou ainda, que nos esquecemos que estamos a envelhecer e os compromissos sociais não vão diminuir, mas aumentar; ou que o controle dos dinheiros públicos é tão bom que não consegue controlar quase 1% do PIB ( os dinheiros da Justiça que saiu hoje).
Nessa altura o actual PM vai encenar a "birra" que tão bons resultados deu em Souselas e com os professores..o problema é que este jogo é a sério e não existe escapatória... Nem o "porreiro" José Manuel não fez o "jeitinho", como o não fez o vice presidente cessante do BCE.
Em Maio, com as taxas de juro mais elevadas e com a dificuldades das empresas não financeiras de bandeira, em cumprir os compromissos assumidos, ou as contrutoras em conseguir financiamentos mais suaves com o aval do estado, vamos ver aprovada, pela comissão, a terceira versão do orçamento, aquele, precisamente aquele que, foi o fruto do "bom senso", do consenso e do aplauso do burgo...
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarÉ um facto que antes de o Lehman surpreender e delcarar falência, o seu rating era de AAA. Mas o que interessa é o facto de as instituições financeiras ainda atribuirem credibilidade às agências de rating, o que continua a agravar ainda mais o nosso panorama a nível internacional. Hoje, João Salgueiro alertou quanto à nossa dívida e sublinhou de forma agressiva( agressividade saudável) e peremptória que tem de ser feito um corte sério e realista na despesa, algo que o governo se tem alheado!
Caro André
ResponderEliminarPeço desculpa por me intrometer no diálogo, mas não resisto a comentar a questão das agências de "rating".
Sendo estruturalemente ateu, não me "incomoda" que as criações humanas sejam, inerentemente falíveis; um crente diria, imperfeitas.
As agências de "rating" são falíveis, ergo, as suas classificações devem ser analisadas e ponderadas. Como estas apresentam sempre as fundamentações das classificações, o imponderável pode ser limitado.
Por outro lado é melhor ter as agências do que, confiar nas análises dos actores; estas são necessariamente parciais e sem o grau de experiência que as agênicas têm.
Sabe, nisto da escrita, para mim, a única verdade é que o papel é branco e a tinta preta.
Noutra abordagem, poderemos sempre criticar a elevada importância que se atribui às mesmas mas, pelo que sei os actores não promoveram alterações, nem limitaram a actividade das mesmas. Senão como compreender o périplo que o actual ministro das finanças realizou no passado mês de Dezembro, junto das três "irmãs" do "rating"?.
Já agora sobre "erros": suponho que lê o Economist; trata-se de um semanário que, na década de 90 do séc XIX, previu que o automóvel não seria um bom negócio, porque não teria futuro...
Somos humanos e, por isso, limitados....., acrescentaria que, deveríamos dar um pouco mais de atenção à história, nossa e alheia...
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarADENDA AO MEU POST
Apenas uma adenda que vem a propósito:
hoje, 12/01/10 os CDS da nossa dívida já se negociam a 100 pontos base
notícia Diário Económico 12/01/10.
Como sabe, as frentes frias e as tempestades são precedidas do aparecimento de nuvens denominadas "cirrus". Acho que estão a chegar....
Cumprimentos
joão
Caro F. Almeida,
ResponderEliminarConfesso-me em dificuldade para responder ao seu teste "à americana", para acertar na solução mais patriótica...tentando simplificar, direi que depende do sentido que emprestar ao étimo "patriótico"...
Se por patriótico se dever entender aquilo que melhor serve os interesses do País, sou tentado a responder que o + patriótico será "apresentar um Orçamento de verdade e de rigor"...
Mas tenho de admitir, face aos hábitos de trabalho conhecidos, que isso seja pedir demais...ou mesmo o impossível...
Caro Manuel Brás,
Verso a verso, sempre bem articulado, meu Amigo vai criando uma verdadeira enciclopédia das duras verdades que têm de ser ditas...
Caro João,
Sugiro-lhe, se concordar, que caminhemos por etapas...vamos ver no que dá o processo de aprovação do OE/2010 e depois cá estaremos para avaliar o realismo/irrealismo das metas acolhidas bem como para tentar escrutinar as implicações dessa avaliação.
Os sinais contraditórios que vão chegando - eventual corte nas despesas de "investimento" e as maiores facilidades para todas as Universidades - não nos permitem por ora qualquer tipo de conclusão...
Caro André,
O grande problema é mesmo esse, da falta de rigor de que as agências de rating têm sido acusadas, em muitos casos com toda a razão...
Sob pena de gastarem a credibilidade que ainda lhes resta, elas têm agora de ser bem mais exigentes e rigorosas no seu trabalho...
E acontece que por um azar do destino (para além da nossa reconhecida imperícia)nos encontramos na fila da frente, mal escondidos pela Grécia, para servir de cobaia nesse teste de credibilidade...
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarDentro de duas semanas se verá se me precipitei ou antecipei-me à realidade.
Apenas um comentário sobre as Universidades:
Ontem ouvi o Presidente do Conselho de Reitores numa das televisões.
Pasme-se, estava satisfeito por ter recebido os € 100 milhões que eram devidos desde 2005???!!!! Este governo "secou" as Universidades durante cinco anos, para cumprir o défice, como "secou" os agricultores....o senhor ministro da agricultura estava confiante (????!!!) em conseguir alcançar a taxa de 20% de execução até ao final do ano???
Cumprimentos
joão
Caro João,
ResponderEliminarMeu comentário foi para sugerir que será melhor deixar assentar a poeira...ou se quiser, para ser mais adequado às condições climáticas em vigor, para deixar escorrer as águas e assistirmos aos próximos episódios da novela orçamental...
Aquilo com que nos defrontamos nesta altura é um típico "cenário de breu", em que nada se vislumbra, nem à distância mais curta...
A confusão parece-me estar no máximo - nuns dias proclama-se o combate à crise com obras em força, noutros deixa-se fugir informação sugerindo cortes no "investimento" público - pelo que será mais prudente aguardar para ver...