Correu muito bem a resposta ao apelo recentemente lançado pelo IPS (Instituto Português de Sangue) para recolha de sangue. O objectivo era repor as reservas de sangue do país face às necessidades dos hospitais. Em apenas cinco dias apresentaram-se 6.500 doadores e foram recolhidas 5.882 unidades de sangue, o que permitiu aumentar os níveis de reserva nacional de dois dias para quatro a sete dias.
A generosidade dos dadores é ainda mais relevante se atendermos à época festiva do Carnaval e ao mau tempo que se fez sentir, factores que, à partida, poderiam constituir um entrave à mobilização. Mas os resultados superaram, de acordo com números divulgados pelo IPS, as expectativas.
A solidariedade manifestada nesta campanha de recolha de sangue é uma prova que os portugueses conhecem e praticam os valores da cidadania. É muito interessante observarmos que as pessoas têm para dar e que o fazem. Foi o que fez um grupo de cerca de trinta jovens da minha freguesia. Motivaram-se uns aos outros e lá foram ao IPO dar sangue.
Nestas ocasiões, em que estão em causa valores tão importantes como a vida, os valores humanos sobrepõem-se aos valores pessoais e a dimensão do bem colectivo ganha maior expressão quando comparado com o espaço pessoal que é uma marca de atitude dos tempos actuais.
São as motivações de natureza transcendental que explicam estes comportamentos altruístas, em que a contrapartida do dar é o bem-estar íntimo do poder ajudar ou do dever cumprido.
A generosidade é uma daquelas capacidades que não tem preço. O seu desempenho em relação a um bem tão precioso como é a vida dificilmente seria melhor se em seu lugar fosse oferecido um preço pelo “serviço” prestado.
As pessoas são, de um modo geral, muito sensíveis aos incentivos económicos, mas há motivações em que um tal sistema dificilmente faria melhor e, como tal, seria desnecessário e até contra producente a sua utilização.
Com as necessárias adaptações, lembrei-me de um caso que em tempos li num livro de economia que ilustrava justamente como os incentivos económicos podem transformar um apoio gratuito e eficiente num desempenho de sinal oposto, dispendioso e ineficiente. Muito resumidamente a história era, mais ou menos, esta. Havia um engenheiro que tinha não raras vezes dificuldades em utilizar uma ferramenta informática sofisticada indispensável ao seu trabalho. Era uma pessoa simpática e afável, estimada e considerada pelos seus colegas. Sempre que tinha um problema e pedia ajuda apareciam vários colegas prontos para o ajudar. Era o valor da camaradagem a funcionar. Um dia o engenheiro lembrou-se de fixar um preço, julgava ele simbólico mas necessário, para pagar as ajudas que recebia. Foi então que rapidamente os colegas concluíram que o preço não era atractivo para remunerar o trabalho que faziam. Alguns colegas ainda chegaram a ser pagos. Mas a partir de um certo momento, deixaram de estar disponíveis porque entenderam que o preço não era suficiente. No final, ninguém ficou satisfeito. A generosidade tinha sido substituída por uma relação mercantil.
Generosidade e solidariedade são virtudes que só dependem de nós. Pertencem a uma área comportamental que tem um grande potencial de desenvolvimento. É bom para todos, os que dão e os que recebem, um dia são uns e noutro dia serão outros...
A generosidade dos dadores é ainda mais relevante se atendermos à época festiva do Carnaval e ao mau tempo que se fez sentir, factores que, à partida, poderiam constituir um entrave à mobilização. Mas os resultados superaram, de acordo com números divulgados pelo IPS, as expectativas.
A solidariedade manifestada nesta campanha de recolha de sangue é uma prova que os portugueses conhecem e praticam os valores da cidadania. É muito interessante observarmos que as pessoas têm para dar e que o fazem. Foi o que fez um grupo de cerca de trinta jovens da minha freguesia. Motivaram-se uns aos outros e lá foram ao IPO dar sangue.
Nestas ocasiões, em que estão em causa valores tão importantes como a vida, os valores humanos sobrepõem-se aos valores pessoais e a dimensão do bem colectivo ganha maior expressão quando comparado com o espaço pessoal que é uma marca de atitude dos tempos actuais.
São as motivações de natureza transcendental que explicam estes comportamentos altruístas, em que a contrapartida do dar é o bem-estar íntimo do poder ajudar ou do dever cumprido.
A generosidade é uma daquelas capacidades que não tem preço. O seu desempenho em relação a um bem tão precioso como é a vida dificilmente seria melhor se em seu lugar fosse oferecido um preço pelo “serviço” prestado.
As pessoas são, de um modo geral, muito sensíveis aos incentivos económicos, mas há motivações em que um tal sistema dificilmente faria melhor e, como tal, seria desnecessário e até contra producente a sua utilização.
Com as necessárias adaptações, lembrei-me de um caso que em tempos li num livro de economia que ilustrava justamente como os incentivos económicos podem transformar um apoio gratuito e eficiente num desempenho de sinal oposto, dispendioso e ineficiente. Muito resumidamente a história era, mais ou menos, esta. Havia um engenheiro que tinha não raras vezes dificuldades em utilizar uma ferramenta informática sofisticada indispensável ao seu trabalho. Era uma pessoa simpática e afável, estimada e considerada pelos seus colegas. Sempre que tinha um problema e pedia ajuda apareciam vários colegas prontos para o ajudar. Era o valor da camaradagem a funcionar. Um dia o engenheiro lembrou-se de fixar um preço, julgava ele simbólico mas necessário, para pagar as ajudas que recebia. Foi então que rapidamente os colegas concluíram que o preço não era atractivo para remunerar o trabalho que faziam. Alguns colegas ainda chegaram a ser pagos. Mas a partir de um certo momento, deixaram de estar disponíveis porque entenderam que o preço não era suficiente. No final, ninguém ficou satisfeito. A generosidade tinha sido substituída por uma relação mercantil.
Generosidade e solidariedade são virtudes que só dependem de nós. Pertencem a uma área comportamental que tem um grande potencial de desenvolvimento. É bom para todos, os que dão e os que recebem, um dia são uns e noutro dia serão outros...
Cara Dra. Margarida Aguiar:
ResponderEliminarÉ, Indubitavelmente, um gesto demonstrativo da generosidade dos portugueses que nos momentos de apelo dizem, sempre, presente. Mas é também um gesto que sacode o nosso bem-estar e obriga a pensar: - Como é possível um povo tão generoso estar a passar por momentos tão difíceis!?...
Caro jotaC
ResponderEliminarUm povo que merecia melhor, mas que na verdade não se tem sabido governar.
Margarida, é muito importante esta perspectiva que aqui assinala e que é tantas vezes esquecida. a motivação transcendental existe e é muitas vezes determinante para a acção ou seja, desaparece o estímulo quando passa a ser contabilizado como um bem transacionável. Há coisas que não têm preço, como a ajuda entre colegas, dar a quem precisa, partilhar se chega para mais, etc, há mil e uma situações em que o que move as pessoas é simplesmente o prazer de ser útil, ou amigo, ou solidário. Se esta motiviação é eliminada por um preço - retribuição justa, supõe-se - é mais que certo que só aparecem os que vendem, os que dão ficam em casa.
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarÉ isso mesmo!