Veio hoje a público a iniciativa de um grupo de deputados para que seja aprovada uma lei que proíba a atribuição de nomes de pessoas vivas a ruas ou a bens públicos, um gesto que invoca a ética republicana como pretexto de oportunidade.
Já aqui temos comentado diversas vezes este frenesim legislativo, tem-se uma ideia faz-se uma lei, está-se contrariado propõe-se uma lei, embirra-se com o vizinho ou o menino porta-se mal na escola e lá se faz outra lei. Como se as leis dispensassem a educação, a consciência, a ética ou a seriedade e a boa fé nas atitudes.
O caso dos nomes das ruas, em breve minuciosamente regulado – e fiscalizado por entidades competentes que farão pareceres a justificar excepções – decreta a desconfiança no juízo de mérito dos vivos, supondo que tal embuste já não servirá de nada aos mortos. E é tanto mais absurdo quanto cabe às autoridades públicas decidir os nomes das coisas públicas e não deixa de ser chocante que deputados venham reconhecer que só proibindo se evita a escandaleira de prestar homenagem a quem não atingiu o estatuto que a justifica. Em linguagem modernista diria que a autoridade não se auto regula… Enfim, também se tornou banal haver leis que criam altos cargos e logo dispõem que só podem ser nomeadas para os ocupar pessoas com a competência adequada. Eficácia garantida!
A degradação dos símbolos resulta da sistemática apropriação abusiva da consideração pública que os mesmos significam ou seja, do facto de haver muito boa gente que não tem vergonha de querer parecer tão ilustre como os ilustres que deram sentido aos símbolos. É como se um plebeu usasse uma coroa de rei, ou um cobarde uma medalha de guerra, para que as vestes lhe emprestem a majestade ou as medalhas exibam a coragem que não existiu.
Esta usurpação é tanto mais frequente e tolerada quanto se perdem ou degradam os valores que sustentavam a sua consagração, sobrando apenas a vaidade, a cobiça ou a futilidade de pretender o louvor sem ter o mérito. Reclama-se o tributo ou exibe-se o título para obter o ganho ou a aparência, enganando toda a gente. Isto acontece com os títulos académicos, com os altos cargos, com os prémios que deviam ser de mérito, com a baralhada de designações para as instituições, que são promovidas no baptismo e rebaptismo sem que as funções deixem de ser o que eram quando perderam a consideração pública.
A degradação dos símbolos resulta da sistemática apropriação abusiva da consideração pública que os mesmos significam ou seja, do facto de haver muito boa gente que não tem vergonha de querer parecer tão ilustre como os ilustres que deram sentido aos símbolos. É como se um plebeu usasse uma coroa de rei, ou um cobarde uma medalha de guerra, para que as vestes lhe emprestem a majestade ou as medalhas exibam a coragem que não existiu.
Esta usurpação é tanto mais frequente e tolerada quanto se perdem ou degradam os valores que sustentavam a sua consagração, sobrando apenas a vaidade, a cobiça ou a futilidade de pretender o louvor sem ter o mérito. Reclama-se o tributo ou exibe-se o título para obter o ganho ou a aparência, enganando toda a gente. Isto acontece com os títulos académicos, com os altos cargos, com os prémios que deviam ser de mérito, com a baralhada de designações para as instituições, que são promovidas no baptismo e rebaptismo sem que as funções deixem de ser o que eram quando perderam a consideração pública.
Se os deputados querem fazer uma lei que impeça de dar às ruas nomes que não lhes dão nome nenhum, que não se fiquem pelas ruas, já agora aproveitem a ideia e poupem nas normas. Sugiro um artigo único, inspirado numa frase que fixei há muito tempo: “A luz alheia não te fará claro se luz própria não tiveres…”
As ruas são, aquilo que mais genuínamente pertence à sociedade.
ResponderEliminarSão um bem de utilidade pública e património comum.
O povo não se pode alienar dos seus direitos, a toponímia é um estudo que não pode ser separado das raízes populares.
O nome de uma rua tem de reflectir o sentimento de quem nela habita, para que quem por ela passe, possa conhecer, identificar e relacionar o local, em todas as épocas.
Se os moradores pretendem dar à rua um "sem nome", talvez estejam a querer prevenir os vindouros da incúria ou esquecimento que o município votou àquele local...
por exemplo... como exemplo... para exemplo...
;)
Num âmbito de visão política muito restrita: os deputados não terão assuntos muito mais importantes e prementes para tratar numa altura em que Portugal está a atravessar uma fase tão difícil?
ResponderEliminarUma critica limpa construtiva e objectiva, a originar este excelente post bem ao estilo intrínseco da Dra. Suzana Toscano, necessariamente acutilante q.b., como não podia deixar de ser…
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarConcordo com a sua reflexão. Quando li a notícia também tive vontade de escrever alguma coisa sobre o assunto.
Já agora porque não estabelecem também na lei quais são os méritos que as pessoas em vida têm que revelar para que os vivos possam dar o seu nome a uma rua ou a uma praça? Transferem-se as desconfianças dos juízos de mérito para a lei e mutilam-se as sensibilidades e os afectos dos vivos! É isto que querem?