1. Estávamos no século XIV, reinado do D. Fernando o “Fermoso”...decorria um longo cerco de tropas castelhanas à cidadela de Monção, na praça sitiada já faltavam os mantimentos, temia-se o pior...
2. Até que a mulher do capitão-mor da praça se lembra de um estratagema genial: mandou recolher a pouca farinha que existia, com essa farinha cozer uma fornada de pão que lançou do alto das paredes da fortaleza para as tropas castelhanas gritando “Deu-lo-Deu, Deu-lo-ade-Dar” ou qualquer coisa parecida...
3. Perante tal gesto, as tropas castelhanas, que também estavam próximas da exaustão, ficando convencidas de que na cidadela havia fartura de alimentos, resolveram levantar o cerco e voltar para casa...
4. Ficou assim imortalizado o feito heróico (ou de rara inteligência) da mulher do capitão-mor de Monção, desde então conhecida por Deu-la-Deu Martins. Se foi feito real ou é uma lenda confesso que não sei - na escola primária em que aprendi a História de Portugal era dado como real, agora tenho dúvidas.
5. Curioso que ontem, quando ouvi a notícia da gloriosa participação de Portugal no apoio financeiro de emergência à Grécia – apoio que esta não pediu e não se sabe se pedirá – ocorreu-me muito rapidamente este episódio que imortalizou Deu-la-Deu...
6. É claro que os tempos são outros, o mundo exterior sabe que não estamos em posição de ajudar a Grécia – tomara que nos ajudem a nós se for possível – mas até pode acontecer que a Grécia não venha a precisar da ajuda e, pelo caminho, nós fazemos um "figurão"!
7. E ainda dizem que a história não se repete...
Tambem a nossa história (não a nossa estória) é pródiga em acontecimentos milagrosos. E... dos bancos da escola, ficou-nos impregnada no sangue esta permanente espera por que um novo milagre aconteça, ou que sempre apareça o rei-moço, montado num cavalo branco, saindo de um banco de nevoeiro.
ResponderEliminarCabe aqui, contar a istória (note que não se trata de história, nem de estória) do naufrago que pedia a Deus que o salvasse, ao passar o primeiro barco, o naufrago declinou a ajuda oferecida, declarando que Deus viria em seu auxílio, o mesmo sucedeu com o 2º barco que passou. Por fim o naufrago socumbiu. Quando se achou perante a face divina, resmungou com Deus por não ter atendido os seus rogos. Deus ripostou-lhe: Mandei dois barcos em teu socorro, tu é que não aceitaste a ajuda.
Nesta história, estória, istória toda, os nossos governantes e o pessoal em geral, está a assumir o papel do naufrago, está tudo à espera que do alto surja uma luz, acompanhada de uma melodia celestial, que essa luz se faça incidir sobre o edifício do Banco de Portugal e, uns segundos depois, se vejam as notas a abarrotar pelas janelas do edifício, assim uma coisa ao jeito da casa-forte do "tio patinhas".
Mas o empréstimo à Grécia vem reforçar a qualidade dos nossos activos. Temos é que arranjar mais destes e assim cumprimos com o nosso desígnio de sermos um país de serviços. Com sorte até conseguimos eliminar o trabalho da nossa economia. Senão vejamos.
ResponderEliminarQuase toda a dívida nacional se destina a financiar investimentos patetas, das mais variadas porcarias, desde ordenados chorudos de funcionários analfabetos até autoestradas para 4 carros. Este é um dos activos mais respeitados da nossa carteira, uma vez que a sua qualidade é certificada por quase toda a união. Mais, tem um retorno acima do custo do dinheiro para nós. Se conseguíssemos mais uns 20 países assim, tínhamos a vida feita.
O personagem que mencina, caro Bartolomeu, seria particularmente bem-vindo à Grécia nesta altura - refiro-me ao impagável tio Patinhas como símbolo de tudo o que "cheire a dinheiro"...
ResponderEliminarCaro Tonibler,
Tenho de confessar que não pude reprimir uma franca gargalhada quando li seu comentário...
É que essa mesma ideia já me tinha passado pela cabeça, embora sem a inspiração para a descrever com o brilhantismo do seu comentário!
Podíamos melhorar bastante a situação financeira do País, em suma, se nos armassemos em brokers de dívida para a Grécia cobrando uma margem de 0,5 ou 0,6%...
Emprestar à Grécia será muito melhor aplicação, como bem diz, do que grande parte dos famosos "investimentos" em obras ou projectos de retorno seguramente negativo que estão para aí aos montes!
Pois, parece que...
ResponderEliminarA história repetida
tantos séculos passados,
deixa gente divertida
por ritmos descompassados.
Com a melodia celestial
e muitas notas a esvoaçar
essa fantasia tão bestial
é uma forma de esperançar.
Caro Manuel Brás,
ResponderEliminarSempre a propósito a sua poesia...mas não quererá dedicar uma quadra de homenagem à figura de Deu-la-Deu Martins?
Seria "ouro sobre azul"!
Como "desafio" ao nosso estimado Amigo Manuel Brás, aqui vai um tosco poema dedicado À heroína de Monçõe.
ResponderEliminar;)))
A mulher do Capitão
Deu-la-Deu, a destemida
Armou lá por Monção
Aos espanhois,a partida
Oferecendo-lhes o pão
Que já quase não havia
Dando-lhes a ilusão
De uma imensa abastia
(esta "abastia" deve ser dialecto galaico-monçanes)
Mal sabia Deu-la-Deu
Que alguns séculos após
Viria um tal Bartolomeu
Versejar sobre os avós
"Basta-vos pedir" gritou ela
Do alto da sua muralha
Tirando o pão da gamela
E lançando-o à maralha
E o fresco Alvarinho?
Reclamaram os de Castela
Para nos metermos ao caminho
Queremos refrescar a goela
Aqui vai, seus matrafões
Um pipo novo, cheínho
E uma dúzia de garrafões
Pr'a levardes pr'ó caminho
E um saco com choiriças
Retiradas do fumeiro
Atadas por môças roliças
Todas filhas do padeiro
E assim, cantarolando
Lá regressaram a casa
Para os de Monção acenando
Já com o grãozinho na asa
Mas prometendo p'la honra
Aos minhotos amizade
E um dia... em boa-hora
Assistência médica à vontade
E cumpriu-se a profecia
Mais cedo do que pensaram
E os médicos da Galicia
Os de Monção lá sararam.
;)))
Ah, grande Bartolomeu, mas que poema mais bem imaginado e divertido!
ResponderEliminarDeu-la-Deu Martins bem o merece, ficamos agora com grande expectativa em relação à réplica de Manuel Brás!