4R - Quarta República

Já me tinham dito que é um país irreal.
Decidi conhecê-lo.
Aqui tudo parece possível.
Num sítio destes, o aeroporto nunca seria feito na OTA.
O local escolhido seria o Mar da Palha.
Fazer a terceira ponte sobre o Tejo seria um projecto pouco ambicioso.
Haveria pelo menos 10 pontes.
Gastar 800 ou 900 milhões em computadores Magalhães para os miúdos seria um acto modesto.
Davam-lhes o computador, um telemóvel e um carro.
Oferecer aos pais 200 euros numa conta poupança por cada filho que nascesse poderia ser considerado um insulto.
Aqui, a malta teria direito a um rendimento mínimo mensal de uns 5000 euros.
Mas a aparência e a espectacularidade deste país, com edifícios únicos no mundo, locais fabulosos e ambientes inimagináveis, não consegue esconder algumas duras realidades.
Quando aqui circulamos, parece que estamos dentro de um gigantesco estaleiro de obras.
Sucedem-se os edifícios acabados... e vazios.
São às centenas as obras paradas, os esqueletos de edifícios inacabados, os buracos abertos e os tapumes.
Parece que o investimento decidiu partir para outro local.
Por detrás da opulência dos Emires, das suas obras, carros e palácios, vivem milhares de emigrantes de todo o mundo, em especial paquistaneses, indianos, árabes, chineses, na mais completa miséria.
O Dubai parece um gigantesco balão cheio de ar à espera que lhe encostem um alfinete...