1. Em mais um interessante artigo publicado hoje do F. Times, o conhecido economista Daniel Gros, Director do Centro de Estudos de Política Europeia, avança uma tese que vem de encontro ao ponto que levantamos, em Post de 11 do corrente, intitulado “Grécia: apoio dos Pares será presente envenenado?”
2. Gros não lhe chama “presente envenenado”, mas pouco menos...quando considera que o “apoio”, nos termos em que foi oferecido, constitui uma autêntica “ratoeira”, o que explicará a hesitação/reserva que a Grécia tem manifestado quanto à sua utilização.
3. Com efeito, Gros chama a atenção para o facto de o “apoio” pressupor o reconhecimento pela Grécia de que as fontes de financiamento do mercado se encontram esgotadas...o que vale por dizer que a Grécia, no dia em que solicitar o apoio, estará automaticamente a reconhecer a sua insolvência!
4. Por outro lado, o dito “apoio”, nas condições que foram divulgadas:
(i) montante de € 30 mil milhões (talvez com um adicional de + ou - € 10 mil milhões do FMI),
(ii) taxa de juro de 5% ou de 5,3% (segundo um porta-voz do Governo alemão),
(iii) prazo de 3 anos,
(iv) desconhecendo-se ainda a condicionalidade a que fica sujeita a sua utilização (parte mais importante, cumpre relevar),
Poderá resolver apenas temporariamente os problemas financeiros da Grécia.
5. Dentro de 8 a 9 meses (supondo que teria utilizado integralmente os € 30.000,00 milhões mais a parte do FMI) a Grécia precisaria novamente de financiamento...e depois, que garantias tem de que encontrará financiamento no mercado, nessa altura, salvo a taxas de juro “proibitivas”? E se a Grécia se mostrar incapaz de cumprir a condicionalidade, entrando em conflito com os seus “apoiantes”, onde vai buscar dinheiro?
6. Gros chama ainda a atenção para o facto de as condições de juros do “apoio”, comparadas às que a Grécia tem actualmente no mercado – uma diferença de 2 a 2,5% - significariam uma poupança anual de encargos de € 900 milhões, qualquer coisa como 0,4% do PIB, um montante quase “irrisório” para a dimensão do problema orçamental que a Grécia enfrenta.
7. Gros conclui que um cenário com este “apoio” pouca diferença faz de um cenário sem “apoio”: a grande questão continua a residir na capacidade dos gregos em resolverem o seu problema orçamental e económico, tarefa de um gigantismo assustador.
8. Basta dizer que a correcção do défice orçamental necessária para que o rácio Dívida Pública/PIB estabilizasse será da ordem de 12% do PIB, ou a geração de um saldo primário positivo da ordem de 6% do PIB...
9. Só um cenário em que o “apoio” dos Pares cobrisse a totalidade das necessidades de financiamento da Grécia, durante o período mais difícil de ajustamento, e a um custo inferior ao que foi anunciado constituiria um real apoio...mas isso é proibido pela cláusula de “no bail-out” inscrita no Tratado Europeu – e nem pensar na aceitação de uma solução desse tipo por parte dos alemães, pelo menos.
10. Em resumo, conclui Gros, o destino da Grécia tem de ser decidido em Atenas, não em Bruxelas ou em Washington...subscrevo.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarApenas algumas adendas para complementar o que publicou:
a) Não sei se as nossas "elites" compreenderam que a "proposta" de apoio à Grécia que a UE engendrou, não é passível de ser replicada para outros países. Quando e se existir necessidade de apoiar outros países, será analisado na altura.
Note-se que, a Grécia, pelo seu tamanho e peso relativo na UE pode ser ajudada. Caso seja necessário ajudar os restantes membros dos PIIGS, o montante é incomportável; como dizia um comentador europeu, a Grécia pode ser salva e só esta poderá ser salva, não há dinheiro para os restantes.
Nesse sentido, não esperaria pelo precedente criado para conseguir financiamento no futuro.
b) Não sei, igualmente, se as nossas "elites" compreenderam que este "plano" pode demorar mais do que quatro meses a ser implementado. Pelo menos quatro países do euro, têm por razões legais de submeter o empréstimo a votação nas respectivas assembeleias.
c) Não sei se estão cientes que, durante Maio a Grécia necessita de realizar um rol over de dívida de cerca +/- € 20 MMilhões. Por isso vai realizar um road show aos EUA para promover a emissão.
d) Não sei se existe a noção que o "empréstimo" a ser concedido pela Alemanha pode ser objecto de contestação em sede de Tribunal Constitucional, de resto, ainda hoje sairam notícias nesse sentido; aparentemente, um professor de economia alemão tinha anunciado a intenção de contestar junto do Tribunal Constitucional.
e)É quase um dado adquirido que, antes de 06/05/10, ou seja antes das regionais alemãs, não se poderá contar com um comprometimento firme da Alemanha, dada a forte contestação que o apoio à Grécia merece naquele país.
f) Como alude no seu post, os cálculos actuais apontam que a Grécia necessita de +/- € 80 MMilhões para passar esta fase. De momento nem sequer tem a garantia que terá rapidamente disponíveis a totalidade dos € 30 MMilhões "comprometidos" pelos seus parceiros.
Resta saber onde vai buscar os € 40 MMilhões que faltam, (porque considero que os € 10 MMilhões estão automaticamente assegurados pelo FMI).
Cumprimentos
joão
A próxima "cash cow" dos bancos: sovereign junk bonds! E, mais uma vez vamos estar no grupo da frente.
ResponderEliminarCaro João,
ResponderEliminarregisto suas interessantes observações, que ajudam sem dúvida a completar um cenário que a imprensa "pateta" cá do burgo se apressou, erradamente como sempre, a pintar cor de rosa...
Apesar do rosa ser a cor predominante da leviandade opinativa, não há desculpa (a pachorra está de há muito esgotada) para tanto disparate e ignorância...
Caro Tonibler,
Belo tiro o seu...e esses sovereign junk bonds têm colocação assegurada...
Nós no 4R já estamos na "bicha" para subscrever e contamos com a sua companhia!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminar"Subscrever"? Eu cá só subscrevo coisas seguras, como Benfica SAD. Obrigações do Tesouro de Portugal é demasiado arriscado para mim...
Coisas seguras, meu Caro?
ResponderEliminarReparou no folheto distribuído pelo glorioso a propósito desta emissão obrigacionista - pelos vistos "oversubscribed", muitos parabéns - e se lá é dita alguma coisa em relação ao artigo 35º do CSC?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarExcelente contributo para o aprofundamento deste tema, caro Paulo.
ResponderEliminarSe me permite, derivo deste seu comentário que o que lhe contaram só vem reforçar a conclusão deste Post - inspirada em Daniel Gros, convém lembrar - se não for em Atenas, tb não será em Bruxelas ou em Washington que esta "tragédia" tem solução...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarE as obrigações do estado português? Dizem alguma coisa sobre o valor dos passivos relativamente ao valor do activos? Lá porque o art 35 ser das CSC, o princípio é o mesmo. E não vamos comparar um goleador como o Cardozo com alguém que só metes golos na própria como o Sócrates, pois não?
Tenho de reconhecer que nesta matéria, caro Tonibler, os seus argumentos são irrebatíveis!
ResponderEliminarPronto, esqueçamos o artigo 35º do CSC, vamos sim comparar as obrigações SLB e as JSPS e concordo, sem hesitação, que as primeiras oferecem bem melhores perspectivas de retorno, para além de infinitamente maior segurança!