domingo, 16 de maio de 2010

Banco de Portugal: despedida sem glória

Vítor Constâncio vai deixar em breve o Banco de Portugal.
Infelizmente, o Banco perdeu independência e prestígio durante o seu longo consulado. Como também não conseguiu cumprir muitos dos seus mais importantes objectivos estatutários.
Há cinco anos, Vítor Constâncio cedeu à "imposição" do Governo e levou o Banco de Portugal a fixar um défice implícito de 6% no orçamento do ano de 2005, logo nos primeiros meses do ano. Perante tal veredicto, o Governo dispensou-se de gerir com critério o Orçamento desse ano, pois tal défice, imputado ao governo anterior, justificava o aumento, sem causa, da despesa pública e todas as demagogias que esse aumento possibilitou. Depois, Vítor Constâncio, nos momentos decisivos, apareceu sempre a apoiar as principais decisões governamentais em matéria de política económica e financeira, não se lhe conhecendo reservas sérias à política de investimentos ditos para dinamizar o crescimento ou ao aumento da despesa pública.
Por outro lado, compete estatutariamente ao BP “a gestão das disponibilidades externas do País”, bem como “regular, fiscalizar e promover o bom funcionamento dos sistemas de pagamentos” e ainda a supervisão prudencial e comportamental das instituições financeiras e também das suas relações com os Clientes.
Todavia, nunca se ouviu qualquer prevenção do Banco de Portugal à facilidade com que os Bancos concediam crédito à promoção imobiliária, à habitação e ao consumo, numa altura de fraca poupança, levando assim ao endividamento das famílias e ao aumento do endividamento bancário externo. Pelo contrário, com o beneplácito, até, do Banco de Portugal e intervenções periódicas de V.Constâncio dizendo que a situação não causava problemas. Mas essa actuação do BP e de VC é causa importante do endividamento global do país e das dificuldades actuais na obtenção de crédito.
Quanto à actuação do BP nos casos BPN e BPP, os factos são já sobejamente conhecidos. Pessoalmente, a pessoa de Vítor Constâncio até me inspira simpatia. Mas a sua gestão do Banco de Portugal provoca uma despedida sem glória, face aos erros de avaliação cometidos. Por muito politicamente incorrecto que seja dizê-lo, nesta hora de despedida, é uma verdade. Uma verdade infeliz.

12 comentários:

  1. Com "chorudas e valiosas" virtudes pessoais, as chamadas à pesca - a do deficit é de antologia - e com muito recomendáveis actuações profissionais, bem explicitas e explicadas na já célebre comissão de inquérito, só uma sanfona o protegia de uma opinão pública ainda mais negativa!

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  2. Caro dr. Pinho Cardão,

    «Mas a sua gestão do Banco de Portugal provoca uma despedida sem glória, face aos erros de avaliação cometidos.»

    Será, talvez, um polido understatement.

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  3. Caro antóniodos anzóis:
    De facto, diz bem, essa do défice é de alta antologia e vai ficar nos anais.

    Caro Eduardo F.:

    Claro, no 4R é só simpatia e usamos eufemismos sempre muito suaves...Não estamos aqui para agredir ninguém...

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  4. Caro Pinho Cardão, convirá não esquecer o famoso discurso de posse, em Fevereiro de 2000, no qual Sexa se referiu de forma irónica (para dizer o mínimo) àqueles que nessa remota época - há mais de 10 anos, note-se...- chamavam a atenção para o problema do excessivo endividamento externo.
    Disse então Sexa que falar do défice externo dum país da zona Euro seria a mesma coisa que falar
    do défice externo do Mississipi...era, em suma, matéria irrelevante...
    Muito mais recentemente, quando o Presidente da República, no acto de posse do actual Governo, chamava a atenção para o mesmo problema do endividamento externo e os altos riscos que implicava, Sexa, presente nessa cerimónia, terá feito questão de abanar a cabeça em gesto de reprovação...
    E agora a economia portuguesa sofre as agruras da escassez de financiamento, que tenderão a condicionar cada vez mais o seu já fragilíssimo desempenho...
    Consta que os "spreads" do crédito estão a subir vertiginosamente, impondo às empresas mais uma séria desvantagem competitiva...
    Tudo isto é profundamente lamentável e incompreensível...
    A pergunta impõe-se: quem responde por estes erros?

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  5. Caro Tavares Moreira:

    Ninguém!...
    Pois se o Governador até foi premiado!...

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  6. Caro Pinho Cardão
    Quando uma pessoa é incompetente absoluta como é o caso do VC devemos chamar-lhe incompetente.

    Grave é vivermos numa época em que gente comprovadamente incompetente, como o VC, seja promovida, contrariando em absoluto o princípio de Peter.

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  7. ... e deprimente

    Entre posturas relaxadas
    e outras assaz selectivas
    ficam recordações manchadas
    de exactidões putativas.

    Como uma planta ornamental
    que há muito nos deixou plantados
    numa decadência monumental
    e com créditos desbaratados.

    Será forte o sofrimento
    de um povo procrastinado
    que viveu do esbanjamento
    e num regime inquinado.

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  8. Atrevo-me a fazer uma sugestão de alteração do titulo deste post para:
    Banco de Portugal: Crime Sem Castigo!

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  9. ...Ou Crime Premiado!...

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  10. de facto não é uma despedida sem gloria,é apenas uma fuga sem punição
    será sempre o tipo perfeito para segurar a pasta e abrir a porta ao alemão que vai para presidente do BCE
    infelizmente só premeiam moluscos

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  11. Palpita-me que Constâncio fará uma carreira assinalável no BCE: Os invertebrados com intuição para, farejando o ar, adivinharem em cada momento a opinião dominante, e com ginástica para darem as cambalhotas necessárias quando a opinião muda, têm muitas vezes brilhantes carreiras. De resto, Constâncio já estava biografado antes de nascer: é uma encarnação do Conde d'Abranhos.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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