A maioria dos 400 mil operários da fábrica chinesa Foxconn, tem entre 17 e 24 anos, trabalha doze horas por dia, com 30 minutos para almoço, e ganha cerca de 200 euros por mês. A fábrica produz o iPhone da Apple e é o maior produtor mundial de componentes electrónicos, como consolas de jogos e computadores de marcas. Uma onda de suicídios desde o início do ano alarmou a imprensa internacional e levou o director da fábrica a tomar medidas drásticas: os operários passaram a ter que assinar uma declaração em que se comprometem a não cometer suicídio nem a ser agressivos para com os colegas. Mais, comprometem-se a “aceitar a sua institucionalização se revelarem um "estado mental ou físico anormal”.
Quanto à extrema pressão psicológica para aumentar o ritmo de produção e ao estilo de gestão e métodos de trabalho, o responsável garantiu que paga as horas extraordinárias e que a empresa pagou indemnização às famílias dos suicidas. Quanto ao mais, é só assinarem a declaração e tudo fica garantido.
Compreende-se a dificuldade de competir com os produtos chineses, como se vê. O que já não se compreende é que produtos da moda, símbolos do ocidente moderno e tecnológico, ícones de uma empresa como a Apple que é idolatrada por sucessivas gerações de jovens, de artistas e de intelectuais, tenham a sua origem no trabalho pouco menos que escravo, pior que escravo porque disfarçado de produção moderna e só aparece nos jornais quando os suicídios passam das marcas. E, provavelmente, deixarão de preocupar a civilização quando a robustez psicológica for compromisso assinado pelo contratado e os suicidas passem a ter medo de ser despedidos.
A modernidade devia ser mais exigente para com os seus ídolos.
Quanto à extrema pressão psicológica para aumentar o ritmo de produção e ao estilo de gestão e métodos de trabalho, o responsável garantiu que paga as horas extraordinárias e que a empresa pagou indemnização às famílias dos suicidas. Quanto ao mais, é só assinarem a declaração e tudo fica garantido.
Compreende-se a dificuldade de competir com os produtos chineses, como se vê. O que já não se compreende é que produtos da moda, símbolos do ocidente moderno e tecnológico, ícones de uma empresa como a Apple que é idolatrada por sucessivas gerações de jovens, de artistas e de intelectuais, tenham a sua origem no trabalho pouco menos que escravo, pior que escravo porque disfarçado de produção moderna e só aparece nos jornais quando os suicídios passam das marcas. E, provavelmente, deixarão de preocupar a civilização quando a robustez psicológica for compromisso assinado pelo contratado e os suicidas passem a ter medo de ser despedidos.
A modernidade devia ser mais exigente para com os seus ídolos.
Cara Sra, as coisas não são assim tão simples, como alguns seus colegas de blogue lhe podem explicar. Suponha que passa as horas de trabalho de 12 para 8 horas por dia, de seis para 5 dias e que duplica os salários destes trabalhadores. Imagine o que acontece. De boas intenções está o inferno cheio.
ResponderEliminarNota: o índice de suicídios entre os trabalhadores da Foxconn é cerca de metade da taxa normal na China.
Os melhores cumprimentos
Suzana
ResponderEliminarA Apple, a Dell e a HP não deveriam transigir nas condições de trabalho que são proporcionadas aos trabalhadores da Foxconn e de todos os fornecedores que produzem componentes da sua cadeia de valor. É uma responsabilidade ética que deveriam assumir e ser exigida pelos consumidores do progresso. Esta é uma via importante para mostrar que o progresso não se pode fazer a qualquer custo, desrespeitando as mais elementares condições de vida.
Tentemos imaginar agora o que se passará em fábricas chinesas às quais a comunicação não tem acesso. De certo que não vamos exagerar.
ResponderEliminarCaro Helder Ferreira:
ResponderEliminarDe facto, as coisas não são assim tão simples. Mas ter máquinas humanas a trabalhar continuamente 6dias na semana e 12horas por dia, provoca uma amortização crescente e extraordinária das capacidades da máquina. A sua vida útil termina muito mais rapidamente. Claro que na China a substituição destas máquinas é extremamente simples; há muitas outras à espera para renovarem o parque. Todavia, tratar seres humanos como simples máquinas não é civilização, é barbárie. Não é economia de mercado, nem capitalismo inteligente, mas a melhor forma de provocar a rejeição do modelo.
Pergunta quais as consequências de um outro modelo diferente. Para os consumidores, um aumento de preço dos produtos. E um novo equilíbrio. Necessário.
Eu, liberal, me confesso.
Continuando, porque tive que interromper:
ResponderEliminarClaro que o aumento de preço traria diminuição da procura e, consquentemente, da produção e do emprego. Todavia, em tudo tem que se procurar o "justo" equilíbrio entre dois extremos: aumento do preço e menor emprego, ou preço baixo e "exploração" desenfreada da "máquina" humana, chinesa, indiana ou outra.
Claro que as empresas devem ter, e até dizem que têm, responsabilidade social. Mas nas relações de trabalho compete ao Estado a missão essencial. Mas o comunismo chinês, como aliás os comunismos das outras partes do mundo apenas virtualmente se preocupam com os trabalhadores, instrumentos para manter ideologia.
De resto, são nesses regimes mais explorados do que nos sistemas capitalistas e de economia de mercado. Lamentável é que estas economias não exijam a outras pelo menos uma parte do que, e bem, exigem a si próprias.
Cara Susana Toscano,
ResponderEliminarConcordo inteiramente.
Caro Pinho Cardão,
Excelente resposta! Ao contrário de muitos liberais de trazer por casa, o seu texto explica de forma clara que o liberalismo tem como finalidade melhorar a vida da grande maioria das pessoas e não o inverso.
Exmos Srs
ResponderEliminarA malta, quer lá saber. Queremos, é ter um aparelho, melhor que o do vizinho, barato se possível. Pimenta no traseiro, do meu amigo, é refresco para mim. Como não queremos saber das barbaridades, que se fazem aos animais. Caía o carmo e a trindade, se nos obrigassem a trabalhar seis dias a doze horas cada. Vivemos um mundo hipócrita.
Apregoamos uma moralidade, que não praticamos......mas é bonito.
Cara Suzana
ResponderEliminarPara mim é tão deprimente tomar conhecimento desses suicídios e condições de trabalho (que na China é normal essa carga horária), como o é ver a alienação total dos "consumidores" dessas tecnologias! É vê-los, nos transportes públicos, no seu carro, a atravessar passadeiras, completamente alheios ao que os rodeia, com auscultadores ou sem, teclando ou não, feitos loucos!
De um lado temos o escravo e do outro o alienado! Qual dos dois o mais desgraçado ?!
Pobre humanidade! Quão difícil está ser manter o equilíbrio...
Caro Fartinho da Silva:
ResponderEliminarDe facto, concordamos muitas vezes nestas "pequenas" questões.
Mas quando se trata de questões substanciais, das quais depende o futuro do país, como a grande querela FCPorto/Benfica, aí o entendimento tem-se revelado assaz difícil, mesmo impossível.
É que há questões essenciais e de princípio que temos que preservar. e aí não abdico: o FCP é o melhor!...
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarDe facto, nas grandes questões não tem havido o melhor entendimento. Nas questões decisivas para o país, para a Europa e até, talvez para o Universo, não abdico de considerar que melhor que o Benfica só mesmo o Benfica!...
:)
Subscrevo! : )
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