A situação do país é muito grave. Ando com os cabelos em pé e sinto uma ansiedade crescente. Ao congeminar nestes problemas, esbarro num escaparate e, ao olhar para um livro, “A Morte de Portugal”, de Miguel Real, senti uma valente e dolorosa farpada.
Já comecei a ler. Vale a pena. Para já fiquei a saber que existem quatro complexos que atingem os portugueses!
Por uma questão de comodidade, e com base numa transcrição de uma recensão (sempre evito ter que repetir o que já foi feito), cito uma passagem.
“OS QUATRO COMPLEXOS DE PORTUGAL
Desenhando os quatros pontos cardiais por que Portugal se tem movimentado na sua História, Miguel Real apresenta quatro complexos culturais. O primeiro, da ORIGEM EXEMPLAR, é o complexo viriatino, que «emerge na segunda metade do século XVI», radicado na imagem de Viriato, «herói impoluto, puro, virtuoso, soldado modelo, chefe guerreiro íntegro, homem simples, pastor humilde que se revolta contra a prepotência do ocupante estrangeiro» que só pela traição é derrotado.
O segundo, o da NAÇÃO SUPERIOR, o complexo vieirinho, que irrompe depois de D. João III, Alcácer Quibir e a decadência do Império, com o Padre António Vieira a semear a esperança, anunciando-nos o Quinto Império «dourando-nos o futuro com o regresso anunciado às glórias do passado», e que «nos determina a desejarmos mais do que nos pedem as forças e nos exigem as circunstâncias, pulsão social que orientou as caravelas portuguesas;»
O terceiro, da NAÇÃO INFERIOR, o complexo pombalino, radicado no ímpeto de Pombal, o da nação humilhada pelo seu atraso e sequiosa das luzes europeias, «hoje acefalamente política dominante do Estado português, que a segue como “bom aluno”.
Por fim, o do CANIBALISMO CULTURAL, o complexo canibalista, «que alimenta o desejo de cada pai de família portuguesa de se tornar súbdito do chefe ou do patrão, “familiar” do Tribunal da Inquisição, sicofanta da Intendência-Geral de Pina Manique, “informador” de qualquer uma das várias polícias políticas, carreirista do Estado, devoto acrítico da Igreja, histrião da claque de um clube de futebol, bisbilhoteiro do interior da casa dos vizinhos, denunciador ao supremo hierárquico», aludindo-se, na actualidade, à «perseguição a funcionários públicos rebeldes pelos poderes partidários instituídos pelo governo de José Sócrates/Cavaco Silva.».
«Se a vitória europeia de Portugal se consumar, terá sido a geração nascida entre 1940 e 1960 a matar D. Sebastião pela segunda vez», diz, sem que, no entanto, antes desafie:
«Resta aos homens de bem virarem as costas a esta nova elite tecnocrática que assaltou e se apoderou do Estado português (..) e, se puderem, emigrarem, clamando que aos homens-técnicos leva-os o Tejo e o Douro nas enxurradas de Inverno, os homens-cultos, esses, permanecem, recriando a nova imagem literária, estética e cultural por que Portugal posteriormente se reverá no espelho da História.».
Já comecei a ler. Vale a pena. Para já fiquei a saber que existem quatro complexos que atingem os portugueses!
Por uma questão de comodidade, e com base numa transcrição de uma recensão (sempre evito ter que repetir o que já foi feito), cito uma passagem.
“OS QUATRO COMPLEXOS DE PORTUGAL
Desenhando os quatros pontos cardiais por que Portugal se tem movimentado na sua História, Miguel Real apresenta quatro complexos culturais. O primeiro, da ORIGEM EXEMPLAR, é o complexo viriatino, que «emerge na segunda metade do século XVI», radicado na imagem de Viriato, «herói impoluto, puro, virtuoso, soldado modelo, chefe guerreiro íntegro, homem simples, pastor humilde que se revolta contra a prepotência do ocupante estrangeiro» que só pela traição é derrotado.
O segundo, o da NAÇÃO SUPERIOR, o complexo vieirinho, que irrompe depois de D. João III, Alcácer Quibir e a decadência do Império, com o Padre António Vieira a semear a esperança, anunciando-nos o Quinto Império «dourando-nos o futuro com o regresso anunciado às glórias do passado», e que «nos determina a desejarmos mais do que nos pedem as forças e nos exigem as circunstâncias, pulsão social que orientou as caravelas portuguesas;»
O terceiro, da NAÇÃO INFERIOR, o complexo pombalino, radicado no ímpeto de Pombal, o da nação humilhada pelo seu atraso e sequiosa das luzes europeias, «hoje acefalamente política dominante do Estado português, que a segue como “bom aluno”.
Por fim, o do CANIBALISMO CULTURAL, o complexo canibalista, «que alimenta o desejo de cada pai de família portuguesa de se tornar súbdito do chefe ou do patrão, “familiar” do Tribunal da Inquisição, sicofanta da Intendência-Geral de Pina Manique, “informador” de qualquer uma das várias polícias políticas, carreirista do Estado, devoto acrítico da Igreja, histrião da claque de um clube de futebol, bisbilhoteiro do interior da casa dos vizinhos, denunciador ao supremo hierárquico», aludindo-se, na actualidade, à «perseguição a funcionários públicos rebeldes pelos poderes partidários instituídos pelo governo de José Sócrates/Cavaco Silva.».
«Se a vitória europeia de Portugal se consumar, terá sido a geração nascida entre 1940 e 1960 a matar D. Sebastião pela segunda vez», diz, sem que, no entanto, antes desafie:
«Resta aos homens de bem virarem as costas a esta nova elite tecnocrática que assaltou e se apoderou do Estado português (..) e, se puderem, emigrarem, clamando que aos homens-técnicos leva-os o Tejo e o Douro nas enxurradas de Inverno, os homens-cultos, esses, permanecem, recriando a nova imagem literária, estética e cultural por que Portugal posteriormente se reverá no espelho da História.».
Emprestar hoje dinheiro a Portugal tornou-se na verdade num grande risco. Com um crescimento económico a decrescer todos os anos, com défices públicos elevadíssimos e com dívidas pública e externa brutais e em descontrolo, torna-se natural que o preço dos credit default swaps se torne cada vez mais alto e os juros dos títulos de dívida pública igualmente cada vez mais altos. É o mercado a funcionar e a pesar os riscos de compra destes produtos financeiros.
ResponderEliminarEsta, uma situação que se irá agravar seguramente devido à deterioração da situação económica do País como consequência inevitável das medida de austeridade agora impostas pelo PS e o pelo PSD. Com as medidas de política económica propostas pelo PS e pelo PSD, em tudo semelhantes, Portugal seguirá inevitavelmente o seu trajecto rumo ao abismo e à banca rota. E não haverá Sarcozy ou Merkel que o salve. Voltará o franco e o marco deixando o euro para os pigs, ou então, muito simplesmente, correm com eles do euro.
Esperemos que o título do livro de Miguel Real se confirme, naquilo que ao Portugal que conhecemos se refere.
ResponderEliminarEsperemos que um Portugal renovado, requalificado, reabilitado, reequilibrado, lhe suceda.
Pode ser esse o efeito positivo desta crise que não é reduzível ao canto da economia e da finança, mas sim e em maior escala, ao dos valores.
Entretanto, Senhor Professor Massano Cardoso, peço-lhe, não ceda à ansiedade, mantenha os seus sentidos vivos e alerta.
O nosso Portugal, vai precisar como nunca de gente lúcida, verdadeira e perseverante, quando a recuperação se iniciar.
Sobre um país enfarpado...
ResponderEliminarCom o tino assaz perdido
e por caminhos enganados,
assim seguirá confundido
com resultados enfunados.
São dolorosas as farpadas
de profunduras seculares,
quais complexidões ensopadas
de devaneios exemplares.
De facto, "A situação do país é muito grave"…
ResponderEliminarA propósito desses quatro complexos culturais e, desembravecendo o clima: Será que Miguel Real estará esquecido do eco do Frei Álvaro Pais (nasceu na Galiza mas foi bispo em Portugal)? Terá esquecido a obra Speculum Regum? (Digo eu, mera "intrusa" - Já por aí se falava na necessidade do poder...e complexos).
Um abraço.
Conheço esse livro, caro Professor e acho-o notavel. Vem na sequencia de alguns outros mas muito em particular vejo esse livro como a sequência dum outro escrito em 1915 por Teixeira de Pascoaes, "A Arte de Ser Português". É como se este fosse o prólogo, a apresentação, os primeiros capitulos, a introdução descritiva dos personagens e do seu contexto e aquele que comprou a conclusão, o resultado que se pode esperar para os personagens descritos em 1915.
ResponderEliminarZuricher
ResponderEliminarVale a pena ler a obra de Teixeira de Pascoaes, onde descreve a nossa maneira de ser. Concordo consigo.
Os nossos políticos deveriam fazer algumas incursões por estas obras, e não só, claro. Deveriam também olhar para os "espelhos". Se o fizessem, muitos concluiriam que estão longe de ser "reais", no conceito de príncipes nobres...