sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Euro precisa ou não de ajuda? Quid juris?

1. Em entrevista reveladora de uma serena mas aguda análise da realidade nacional, editada há 3 dias, o PM afirmou que as medidas de austeridade agora anunciadas tinham como justificação, não única mas primordial, “ajudar o Euro”.
2. Ontem o Comissário Europeu das Finanças Almunia declarou que o Euro não precisa de ser ajudado...
3. Estamos pois perante posições antagónicas, duas visões distintas sobre a necessidade de ajuda ao Euro, que justificam breve reflexão.
4. De um lado o PM de um País generoso e confiante no futuro – levando a sua generosidade ao ponto de estar disponível para suportar sacrifícios para ajudar o Euro – do outro lado um Comissário Europeu convencido da auto-suficiência do Euro que, segundo ele, viverá bem sem essa e porventura outras ajudas.
5. Não sei o que deve merecer mais o nosso encómio: se a visão internacionalista e solidária do PM luso, se a exibição de confiança do Comissário Almunia.
6. No meio dessas duas posições temos um Euro cujo estatuto de moeda forte, ao que parece, muito fica a dever à ajuda das políticas de restrição financeira de Portugal, da Grécia e da Espanha, sobretudo.
7. Julgo que Almunia não tem razão: não fora o contributo da Grécia, de Portugal e também da Espanha, o Euro não seria o que é hoje.
8. E também custa ver que muitos comentadores domésticos (para não falar de Roubini, Rogoff, Krugman e outros) - já esquecidos de que tem sido exactamente a preocupação de defender o Euro que tem comandado a nossa política económica e se não fosse isso até poderíamos estar muito melhor do que estamos - não reconheçam esse sofrido contributo para reforçar a credibilidade da moeda única europeia.

3 comentários:

  1. Caro Tavares Moreira

    A pergunta, parece-me, pode ser respondida com mais três: "Devemos ajudar o Euro?", "Quer o Euro ser ajudado?" e "Pode o Euro ser ajudado?"
    Não sendo, na realidade, uma união monetária total, mas sim um sistema de câmbio fixo musculado, não pode ser ajudado na totalidade, mas a cada participante em particular. Nesse sentido, fica respondida a última pergunta que formulei:não pode ser ajudado.
    Não existindo vontade comum, de todos os participantes na associação em avançar decisivamente para um estádio mais avançado da união, ou, pelo menos de avançar sem reservas mentais e agendas ocultas, fica respondida a segunda questão: não quer ser ajudado.
    A solução gizada para restabelecer a calma na zona euro vai revelar-se de uma enorme dureza, em especial para os países mais frágeis. Não é líquido que a solução possa ser implementada sem elevados custos sociais e económicos, para os países participantes; corre-se o risco de uma elevada agitação social, mesmo de sublevação; será que os eleitores vão compreender e aceitar o calvário? Por isso a resposta à primeira pergunta poderá ser: não sei.
    Espero, com as perguntas ter respondido ao seu repto
    Cumprimentos
    joão

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  2. Há uma coisa que temos que reconhecer relativamente ao euro como moeda única. Com gente dessa a defendê-la é, com certeza, uma moeda muito forte.

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  3. Bela síntese, caro João, não me repugna nada subscrecver as suas conclusões quanto às questões que enuncia...
    Em particular a primeira pergunta tem bastante a ver com a matéria do Post, que, como terá reparado, está escrito em linguagem cifrada...
    É evidente que não foi para ajudar o Euro que Portugal teve de adoptar - e voltará a ter de adoptar, não tardará muito - medidas de austeridade, que com o tempo irão assumindo crescente dureza.
    Acontece que no decurso do cerco que os mercados fizeram aos países em dificuldades a dada altura se percebeu que havia também neste tema um risco sistémico...e foi aí que, finalmente, a Alemanha e os seus "compagnons de route" se comoveram com a situação da Grécia e tb com a nossa!
    Mas tem razão: a dureza e sobretudo longuíssimo prazo exigido para que asmedidas de austeridade produzam efeitos na correcção dos desequilíbrios económico-financeiros torna esta tarefa quase impossível - tal é o grau de degradação (perda de competitividade) que esta economias atingiram.
    E a principal razão dessa degradação é a imensidão de recursos que ano após ano, de forma crescente, foram sendo absorvidos pelo(s) mastodontico(s) sector(es) publico(s).
    Vai ser necessário desmantelar tanta mas tanta coisa no sector público, que duvido da capacidade para terminar a tarefa...

    Caro Tonibler,

    Lapidar esse seu comentário - com estes apoiantes, o Euro nem precisa de inimigos - nem mercados, nem agências de rating, nem americanos, japoneses ou chineses, bastam muito bem estes ilustres apoiantes para o afundar!

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