Há 50 anos a humanidade entrou numa nova era, a da “pílula”. Poucas foram as situações que conseguiram mudar completamente a forma de estar e de ser dos homens, neste caso, das mulheres. Até aí as mulheres tinham um papel secundário nas sociedades, serviam basicamente para parir e pouco mais. Os seus direitos estavam muito longe dos atribuídos à outra metade da humanidade. A partir do momento em que começaram a controlar a fecundidade e a sexualidade, dissociando-as completamente, libertaram-se. Esta libertação estendeu-se em pouco tempo a todas as áreas da atividade humana, tornando-as mais igualitárias, mais democráticas, e por que não dizer mais humanas?
À época, a miséria, e a alta taxa de natalidade, provocavam perturbações sociais e familiares muito graves. As políticas de controlo de natalidade tinham muitas dificuldades em se imporem devido às limitações de ordem técnica e a muitos detratores que invocavam os mais diversos motivos. Alguns chegaram a considerar que a redução da natalidade iria favorecer o avanço do comunismo e o genocídio dos “negros”. Quanto aos movimentos religiosos, estes viam tudo e não viam nada! Apregoavam perigos para a estabilidade social, afirmavam que as mulheres ao tornarem-se sexualmente livres iriam fazer coisas muito feias e, além do mais, iriam contra a vontade divina, como se Deus se importasse com estas coisas! A pílula chegou a ser proibida em determinadas zonas, noutras só as mulheres casadas é que podiam ter acesso e se sofressem de irregularidades menstruais!, tornando-se igualmente num símbolo de imoralidade como se a humanidade fosse desde a noite dos tempos muito diferente com ou sem qualquer contracetivo.
A imoralidade apregoada pela igreja levou à ”interdição” do seu uso. Ainda me recordo de ouvir conversas, que hoje à distância são de arrepiar, em que as mulheres passariam a “encornar” os maridos, não podiam comungar, corriam o risco de excomunhão, não teriam funeral cristão e que Deus acabaria de as enviar para o inferno. Uma perfeita idiotia que muitas crentes ignoraram e continuam a ignorar. Ainda bem!
A repressão da sexualidade foi, e contínua a ser, uma obsessão por partes dos movimentos religiosos e sociais, como se fosse a coisa mais impura que há neste planeta. Há aqui qualquer coisa de freudiano, um “profundo anseio de pureza, pureza ritual que mantém viva a igreja” de acordo com Richard Rorty. O seu interlocutor, o filósofo italiano Gianni Vattimo, responde-lhe que “este problema nos dias de hoje tem-se tornado cada vez mais verdadeiro, porque a igreja aplica esta ideia de pureza e de moralidade sexual a questões de bioética, que se tornaram mais relevantes, uma vez que não importa tanto às pessoas a falta de pureza sexual, nem mesmo dos padres, mas sim o facto do ADN poder sofrer modificações”. Ainda de acordo com este filósofo, “será talvez a bioética a matar o posicionamento da igreja em relação à sexualidade”. Quem diria?
Outros credos têm comportamentos similares ou mesmo paradoxais. O Alcorão, por exemplo, trama qualquer um ou uma, sobretudo “uma”, em matéria de sexualidade cozinhada fora das suas estritas regras. Em contrapartida, oferece orgias que escapam à nossa imaginação assim que chegam ao paraíso, de preferência com bombas à cintura, onde o deboche é o máximo, mas só do lado de “lá”! Aqui não. Nem pensar. Veja-se o que acontece às mulheres muçulmanas quando “violam” as regras de pureza desta religião. Vá lá, o cristianismo não quer que se faça deste lado nem no “outro”. Ao menos é coerente. Não promete poucas vergonhas no céu e as únicas que podem ser, eventualmente, praticadas é no inferno, e neste caso está fora da sua jurisdição.
Pois é! São poucos os humanos que conseguem escapar à tentação do pecado, à exceção dos assexuados e assexuadas, mas estes são poucos. Este fenómeno, tentação para pecar, talvez explique a obsessão pela virgindade e o “pavor” das formas femininas.
Se olharmos para a história humana podemos verificar que a obsessão pela virgindade não é nenhuma novidade apontando para a existência de vaginas de sentido único, sai um ser humano sem ter entrado nada! Perseu, filho de Júpiter que emprenhou a virgem Danae com chuva de ouro é um exemplo; a virgem Nana recolheu uma romã de uma árvore regada com o sangue de um assassino, colocou-a no peito e deu à luz um deusito qualquer; o próprio Genghis Khan, que parece ter sido quem mais descendentes teve neste planeta até hoje, nasceu de uma filha virgem de um mongol, Mercúrio nasceu da virgem Maia, enfim, fiquemos por aqui porque senão torna-se muito aborrecido andar a falar de vaginas de sentido único.
Os seres humanos que andam por aí, e os que já andaram, são provas, mais do que evidentes, de que o canal do nascimento tem dois sentidos. Com a introdução da pílula, e a sua democratização, as mulheres passaram a controlar a sua fecundidade, a sua sexualidade e caminhar em direção à liberdade.
A pílula merece sem dúvida votos de um feliz aniversário e de parabéns extensível às mulheres e homens conscientes do planeta Terra.
À época, a miséria, e a alta taxa de natalidade, provocavam perturbações sociais e familiares muito graves. As políticas de controlo de natalidade tinham muitas dificuldades em se imporem devido às limitações de ordem técnica e a muitos detratores que invocavam os mais diversos motivos. Alguns chegaram a considerar que a redução da natalidade iria favorecer o avanço do comunismo e o genocídio dos “negros”. Quanto aos movimentos religiosos, estes viam tudo e não viam nada! Apregoavam perigos para a estabilidade social, afirmavam que as mulheres ao tornarem-se sexualmente livres iriam fazer coisas muito feias e, além do mais, iriam contra a vontade divina, como se Deus se importasse com estas coisas! A pílula chegou a ser proibida em determinadas zonas, noutras só as mulheres casadas é que podiam ter acesso e se sofressem de irregularidades menstruais!, tornando-se igualmente num símbolo de imoralidade como se a humanidade fosse desde a noite dos tempos muito diferente com ou sem qualquer contracetivo.
A imoralidade apregoada pela igreja levou à ”interdição” do seu uso. Ainda me recordo de ouvir conversas, que hoje à distância são de arrepiar, em que as mulheres passariam a “encornar” os maridos, não podiam comungar, corriam o risco de excomunhão, não teriam funeral cristão e que Deus acabaria de as enviar para o inferno. Uma perfeita idiotia que muitas crentes ignoraram e continuam a ignorar. Ainda bem!
A repressão da sexualidade foi, e contínua a ser, uma obsessão por partes dos movimentos religiosos e sociais, como se fosse a coisa mais impura que há neste planeta. Há aqui qualquer coisa de freudiano, um “profundo anseio de pureza, pureza ritual que mantém viva a igreja” de acordo com Richard Rorty. O seu interlocutor, o filósofo italiano Gianni Vattimo, responde-lhe que “este problema nos dias de hoje tem-se tornado cada vez mais verdadeiro, porque a igreja aplica esta ideia de pureza e de moralidade sexual a questões de bioética, que se tornaram mais relevantes, uma vez que não importa tanto às pessoas a falta de pureza sexual, nem mesmo dos padres, mas sim o facto do ADN poder sofrer modificações”. Ainda de acordo com este filósofo, “será talvez a bioética a matar o posicionamento da igreja em relação à sexualidade”. Quem diria?
Outros credos têm comportamentos similares ou mesmo paradoxais. O Alcorão, por exemplo, trama qualquer um ou uma, sobretudo “uma”, em matéria de sexualidade cozinhada fora das suas estritas regras. Em contrapartida, oferece orgias que escapam à nossa imaginação assim que chegam ao paraíso, de preferência com bombas à cintura, onde o deboche é o máximo, mas só do lado de “lá”! Aqui não. Nem pensar. Veja-se o que acontece às mulheres muçulmanas quando “violam” as regras de pureza desta religião. Vá lá, o cristianismo não quer que se faça deste lado nem no “outro”. Ao menos é coerente. Não promete poucas vergonhas no céu e as únicas que podem ser, eventualmente, praticadas é no inferno, e neste caso está fora da sua jurisdição.
Pois é! São poucos os humanos que conseguem escapar à tentação do pecado, à exceção dos assexuados e assexuadas, mas estes são poucos. Este fenómeno, tentação para pecar, talvez explique a obsessão pela virgindade e o “pavor” das formas femininas.
Se olharmos para a história humana podemos verificar que a obsessão pela virgindade não é nenhuma novidade apontando para a existência de vaginas de sentido único, sai um ser humano sem ter entrado nada! Perseu, filho de Júpiter que emprenhou a virgem Danae com chuva de ouro é um exemplo; a virgem Nana recolheu uma romã de uma árvore regada com o sangue de um assassino, colocou-a no peito e deu à luz um deusito qualquer; o próprio Genghis Khan, que parece ter sido quem mais descendentes teve neste planeta até hoje, nasceu de uma filha virgem de um mongol, Mercúrio nasceu da virgem Maia, enfim, fiquemos por aqui porque senão torna-se muito aborrecido andar a falar de vaginas de sentido único.
Os seres humanos que andam por aí, e os que já andaram, são provas, mais do que evidentes, de que o canal do nascimento tem dois sentidos. Com a introdução da pílula, e a sua democratização, as mulheres passaram a controlar a sua fecundidade, a sua sexualidade e caminhar em direção à liberdade.
A pílula merece sem dúvida votos de um feliz aniversário e de parabéns extensível às mulheres e homens conscientes do planeta Terra.
Caro Professor Massano Cardoso:
ResponderEliminarOs meus parabéns a V. Exa., por ter lembrado aqui este "comprimido milagroso”, factor principal, a meu ver, da plena emancipação das mulheres da minha geração. Efectivamente, a assumpção da pílula como contraceptivo veio permitir, tanto à mulher como ao homem, a fruição de uma sexualidade completa e livre.
A Igreja continua a não aprovar a pílula! Talvez daqui a mais meio século...
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