1.Com a utilização deste termo, aparentemente duro, o Presidente da República (PR) marcou a agenda política de hoje, no discurso que proferiu durante as celebrações do 10 de Junho.
2.Insustentável, na avaliação do PR, será pois a situação económica e sobretudo a situação financeira em que o País se encontra – o que de resto bem sabemos, começa a ser lugar comum, embora dito pelo PR e em momento solene tenha provocado a habitual excitação dos “media”.
3.É claro que esta expressão não agradou ao Governo, em especial ao PM, que dela se procurou demarcar, dizendo que “difícil” sim, “insustentável” não…
4.Outra não poderia ser a reacção do PM, no seu papel de campeão do optimismo – inconsequente optimismo, é certo – que não pode admitir o carácter insustentável duma situação que, quer queira quer não, lhe é politicamente imputável (ainda que não tecnicamente).
5.O uso desta expressão terá caído particularmente mal nos meios governativos, certamente por ter acontecido logo no dia seguinte ao de uma operação mediática organizada com formidável precisão e intensidade - no grande estilo propagandístico a que nos habituaram os zelosos governantes - pretendendo transmitir boas notícias sobre a economia.
6.As boas notícias seriam:
– Crescimento homólogo do PIB de 1,8% no 1º trimestre deste ano;
- Crescimento de 18% das exportações nos primeiros 4 meses do ano;
- Valor das exportações de energia eléctrica superior ao das importações,
no mesmo período (a que chamarei “efeito S. Pedro”).
7.As mesmas notícias omitiram por completo os aspectos menos positivos da situação, ou seja:
- Que o crescimento do PIB se ficou a dever em boa parte a um comportamento do consumo privado que é irrepetível;
- E, sobretudo, que apesar de as exportações terem crescido a bom ritmo, as importações também cresceram bastante (+13%), do que resultou um agravamento do défice comercial.
8.E agravando-se o défice comercial, temos o”caldo entornado”, não há optimismo que nos valha…
9.É este o nosso grande problema, o “fantasma” do crescimento das importações não nos larga, mesmo que as exportações cresçam o défice não deixa de subir, agravando a nossa dependência financeira externa e obrigando o País a uma acumulação de dívida INSUSTENTÁVEL.
10.Mas as importações continuarão a subir, anulando totalmente os progressos que as exportações possam fazer, enquanto os múltiplos e imensos Sectores Públicos, Administrativos e Empresariais, continuarem a consumir o oceano de recursos que actualmente consomem…
11.Sobre isto já aqui tenho escrito, vezes sem conta. É realmente INSUSTENTÁVEL esta situação.
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarDesculpe este comentário tão modesto, mas às vezes é importante clarificar o significado das palavras:
Definição de "insustentável":
Que não se pode sustentar.
E acrescentaria a definição de "insustentabilidade":
Qualidade de insustentável; qualidade do que não tem fundamento ou defesa possível.
(Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)
Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarNos últimos tempos temos assistido ao brincar com os números de uma forma que, só continua a ser manipulativa porque a comunicação social tradicional dela faz eco acriticamente.
Vejamos a afirmação, repetida "ad nauseam": "Portugal foi o País cujo crescimento menos diminuiu quando a crise começou, e que mais aumentou no final da crise".
Utilizam-se, para tal, valores relativos, que podem não corresponder a realidades comparáveis -- ou mesmo iludi-las, como às vezes parece ser o caso.
Vejamos um exemplo simples:
- antes da "crise":
* o País A, que tinha um crescimento de 0,5%, passa para 0,4%: diminuiu 20%;
* o País B, que crescia 5%, passou para 3,5%: diminuiu 30%.
-após a crise:
* o País A, que tinha um crescimento de 0,4%, passa para 0,6%: aumentou 50%;
* o País B, que crescia 3,5%, passou para 5%: aumentou 42,9%.
Dizem-nos -- sem se rirem -- que o País A está melhor que o País B, pois diminuiu menos e aumentou mais!
Esta aritmética extremamente simplista pretende ilustrar as continhas que têm prespassado nos últimos tempos na comunicação social, frequentemente sem reparos...
O apelo dirigido pelo Sr. Presidente da República a todos os Portugueses, para que este ano optassem por férias dentro do país, faz todo o sentido.
ResponderEliminarÉ importantíssimo que todos tenhamos presente a necessidade e a "obrigação" de gastar o produto do nosso trabalho, sustentando a nossa econimia, permitindo tal como o Sr. Dr. Tavares Moreira refere, desagravar o défice comercial.
É importante ainda, apesar de o Sr. Presidente da República não o ter referido, proteger a nossa economia e pequena e a média, sobretudo. Se os nossos governantes compreenderem esta evidência, então sim, tornar-nos-emos uma sociedade sustentada, direi até, que bem sustentada.
Como, por exemplo, gastar 21 milhões de euros numa presidência da república. Quantos empregados precisa de ter uma empresa para facturar 21 milhões de euros? E para libertar resultados de 21 milhões de euros? Centenas, há centenas de portugueses no desemprego para que o presidente da república ande a discursar sobre a insustentabilidade de andar a discursar por aquele preço.
ResponderEliminarÉ Portugal no seu melhor, não há dúvida...
Cara Margarida,
ResponderEliminarRegisto e agradeço sua achega literária que, para o caso em apreço, se revela bastante útil: esta situação não se pode mesmo sustentar, chegará o dia em que não existirão recursos para tal...e já nos vamos apercebendo de que esse dia não está assim tão distante.
Caro depatasproar,
Tem toda a razão, as comparações que se fazem, as mais das vezes desajeitadas e meramente propagandísticas, só têm eco por força da "acriticidade militante" de parte considerável da comunicação social, que ainda as apresenta como matéria noticiosa séria, digna de crédito...
É uma endemia que já dura há 5 anos pelo menos, não será fácil erradicar...
Caro Bartolomeu,
Perdoar-me-á que exprima alguma reserva à ideia de proteger a nossa economia pequena e média...
Não é com proteccionismos que conseguimos resolver o problema económico português, meu Caro...
Aliás tem sido com proteccionismos - às empresas públicas, às empresas monopolistas ou quase monopolistas - que o problema económico se tem agravado e vai continuar a agravar-se, tudo indica.
Quanto às declarações do PR para que os portugueses optem por férias cá dentro, para desagravar o défice das contas externas, embora o compreenda num contexto de extrema dificuldade em que nos encontramos, direi que não é na minha análise matéria inteiramente pacífica.
Com efeito, a partir do momento em que nos encontramos inseridos numa União Económica e Monetária - celebrada com grande júbilo pelos nossos dirigentes, não esqueçamos - deixaram de fazer sentido estes apelos patrióticos ao consumo de produtos nacionais...
Ainda me recordo do slogan radiofónico de Fernado Pessa, aos microfones da antiga Emissora Nacional, dos tempos da minha meninice, na conclusão de um resumo diário de notícias sobre a economia nacional: "E prefira sempre os produtos nacionais"!
A propósito de insustentabilidade:
ResponderEliminarO GRANITO QUE NÃO SE ACRESCENTA
Quase tudo se faz - até já se pensa em encurtar os feriados - para alterar o desagradável panorama da economia e da decadência nacional... excepto o essencial!
Perguntado hoje aos industriais do granito de Vila Pouca de Aguiar, cujas exportações pesam 50% da produção, porque é que somente 30% dessa produção era de produto transformado de maior valor acrescentado, a resposta foi: porque é mais barato fazê-lo em Espanha! E porquê? Porque a electricidade é mais barata, a taxa de IVA inferior, etc...
Enquanto os "Barões" assinalados tentam por todas as formas, e a todo o custo, manter os privilégios de mercados e cargos protegidos milionários, aqueles que são a nação debatem-se com estas minudências, que são apenas a essência da alteração e inversão da decadência nacional.
Entretanto há uns anos posto perante o binómio Balança Comercial - AutoEuropa, binómio que se compreende se se pensar na importância bruta para as nossas exportações (possivelmente bastante menos líquida com as importações)pensava: mas porque raio é que não se gastam 2000 milhões de euros em mais uma AutoEuropa que nos diminua pela certa em 4 ou 5 % o défice da BC?
Relendo manuais antigos-actuais, que é sempre bom actualizarmos a memória, folheei seis das mais importantes soluções do cardápio do desenvolvimento regional. E o que vi? Políticas de promoção da espessura institucional, mesmo antes da das promoção da competitividade, das externalidades, da mobilidade e da valorização do potencial endógeno. E compreendi que afinal alguém se tinha ficado pela primeira, espessando cada vez mais e só o tecido institucional. E esta, hein?
Caro Tonibler,
ResponderEliminarA Presidência da República, com os seus € 21 milhões de despesa segundo os seus números, será um caso entre centenas ou mesmo milhares de órgãos-instituições de um sector público mastodôntico e insaciável...
Mas é uma gota de água quando comparado às centenas de milhões que por exemplo algumas empresas públicas acumulam de prejuízos num só ano, com um significado económico equivalente por Euro consumido...
Eu não aponto o dedo a este ou aquele, aponto-o a todos, pois são todos responsáveis pelo péssimo desempenho da economia, pelo imparável endividamento do País e pelo beco-sem-saída em que estamos metidos.
E tb já manifestei a minha divergência relativamente ao discurso do próprio PR quando insiste na ideia de que é aos exportadores que compete resolver este problema...
Como agora se conclui, por muito grande que seja o esforço dos exportadores é sempre maior o apetite dos importadores...
Caro maioria quase silenciosa,
Tem toda a razão, em matéria de regionalização também o progresso institucional tem sido deslumbrante...comissões e mais comissões e mais comissões...
Com custos sempre crescentes para o Estado, claro está e a produtividade dos recursos assim consumidos vizinha de zero.
Só que os "todos", caro Tavares Moreira, não metem num discurso que os sacrifícios têm que ser "distribuídos equitativamente", como se eu estoirasse 21 milhões de euros em coisa nenhuma. E o PR é um sítio tão bom para começar a limpar como outro qualquer.
ResponderEliminarPois é, caro Tonibler, os outros todos estão calados "que nem ratos"...seguindo à velha máxima "enquanto o pau vai e vem, folgam as costas"...
ResponderEliminarO PR sempre vai falando, expondo-se a remoques como o seu e às minhas divergências quanto ao diagnóstico-solução do problema da insustentabilidade!
Pois, façam-se férias cá dentro para evitar as importações.
ResponderEliminarMas não se esqueçam de equipar as Forças Armadas para promover as importações.
Caro Altitude,
ResponderEliminarInfelizmente nem é preciso recorrer a esse expediente para aumentar as importações...elas aumentarão com a artilharia de destruição de recursos já instalada!
Para esse efeito, estes últimos anos têm aliás sido preciosos!
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarNão sou "um", sou "uma".
Cumprimentos
Mil perdões, cara Altitude!
ResponderEliminarE creia que não sou, de todo, adepto da teoria da indiferenciação do género, agora tanto em voga!
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarCom certeza que acredito!
Cumprimentos