Hoje almocei com um Amigo que está desempregado vai para um ano. É um dos 600 portugueses sem emprego. Licenciado em gestão, foi durante muitos anos director comercial de uma empresa do sector industrial que encerrou a actividade.Fiquei impressionada com a sua angústia e falta de esperança de encontrar trabalho. Ao fim de muitos meses a responder a anúncios, a enviar currículos, a contactar empresas e a deslocar-se aos serviços do IEFP, a força que inicialmente tinha de procurar trabalho e de não se deixar abater por uma infeliz circunstância da vida, pensava ele, está a desvanecer-se. Não sabe o que fazer à vida. Desenvolveu um sentimento de inutilidade e inferioridade que lhe está a fazer muito mal e à família. Está estigmatizado por não se esforçar e produzir, por não ter horários para cumprir e por o tempo não lhe faltar. Deixou de lidar com problemas e com a necessidade de os resolver. A interacção com os colegas e com os clientes fazem-lhe falta. As contrariedades do dia-a-dia eram saudáveis.
O medo apoderou-se dele. É o medo de não ter futuro, de comprometer as conquistas do passado pelas quais lutou e conseguiu. E é também o medo de chegar ao termo do direito ao subsídio de desemprego e ter que se sujeitar a receber o subsídio social de desemprego que não será suficiente para pagar a renda da casa e que passados seis meses deixará de lhe ser atribuído.
Quer trabalhar e não consegue. Quer ganhar o seu dinheiro e voltar a ser independente. Está a fazer voluntariado social. É uma ocupação que lhe dá algum ânimo porque vê que há quem ainda esteja em pior situação. Mas sabe que não se pode distrair, que todo o tempo é pouco para estar atento e activo à procura de emprego, só não sabe como. Disse-me que não é solução entrar pelo caminho dos cursos de formação profissional porque são expedientes administrativos que no caso dele nada resolvem, a não ser contribuir para baixar as estatísticas do desemprego. Confessou-me que o pior dia do mês é o dia em que a Segurança Social lhe paga o subsídio de desemprego. Um dia em que, invariavelmente, vai ao banco para ter a certeza de que o crédito foi feito, não vá a lei ter mudado.
Os números hoje anunciados pelo Eurostat não são portadores de boas notícias. O meu Amigo tem razões para estar deprimido. O desemprego continua a crescer. Está agora em 10,9%.
Prezada Drª Margarida, em minha opinião, o amigo com quem almoçou, não precisa ter medo de não ter futuro.
ResponderEliminarEle pode garantir a si mesmo que não tem futuro! Nem ele, nem os restante portugueses desempregados, nem aqueles que ainda mantêm os empregos e ainda aqueles que já estão aposentados, assim como, todos os que vão chegar à idade de trabalhar, quer tenham conseguido uma formação académica, profissional, ou nenhuma das duas.
Bom... tambem não quero ser o mensageiro da tragédia. A ideia que eu quis transmitir, é que, na presente situação em que o país se encontra, ninguem pode pensar em qualquer género de estabilidade.
Aquilo que à meia-dúzia de anos, seria um convicção, uma garantia inabalábel, hoje, é uma completa vaguidão. Uma ausência total de pontos de referência e uma completa desorientação quanto ao rumo futuro, tanto a nível da administração do estado, como dos sectores privados, leva qualquer um de nós a perceber com facilidade que o futuro... já nem a Deus pertence.
Assim, tirando Paredes, penso que só restam mais duas soluções ao seu amigo; ou muda de país e escolhe, por exemplo, a Austrália, ou então... ir resistindo, enquanto a sanidade mental lhe permitir...
Cara Margarida, a forma como descreveu a realidade actual desse seu amigo emocionou-me. Pensar que tantos milhares estão nessas e em piores circunstânc ias. Mesmo que a situação seja estável para algumas famílias estas não se podem esquecer que a crise pode, a qualquer momento, tocar-lhes de perto.
ResponderEliminarA Catarina tem razão, por muito que já se saiba da realidade, ao ler o seu post fica-se com um nó na garganta. É verdade que os problemas que temos que resolver todos os dias nos fazem sentir úteis, há tanta gente que vive a queixar-se do emprego que o seu post pode ajudar a dar valor ao que se tem.
ResponderEliminarCara Dra. Margarida Aguiar:
ResponderEliminarApesar da situação dramática que o seu amigo está a viver tem sorte em a ter como amiga preocupada, coisa que outros infelizmente não terão.
Infelizmente todos conhecemos situações semelhantes, gente bem preparada que o mercado não absorve.
Cara Margarida,
ResponderEliminarBelo texto e infeliz a realidade que descreve. Espero, sinceramente, que o seu amigo encontre rapidamente trabalho para evitar uma enorme depressão.
"600 portugueses" ... 600 000.
ResponderEliminarClaro caro RioD'oiro, todos sabemos que os números são dessa grandeza, para mal de todos nós...
ResponderEliminar"para mal de todos nós..."
ResponderEliminarHá uma coisa de que se tem falado pouco. O desemprego funcional (chamo-lhe eu), quero dizer, da quantidade de pessoas, em particular no estado, que 'trabalham' sem que nada de útil realente façam. Esses "postos de trabalho" são responsáveis por um grau de dificuldade acrescida pela qual (além das leis laborais) os reais desempregados têm dificuldade em conseguir trabalho.
Vou deixar um link no FI sobre este assunto (http://fiel-inimigo.blogspot.com/2010/07/no-quarta-republica.html)
Cara Margarida
ResponderEliminarÉ realmente impressionante a situação que descreve no seu texto.
Considero extremamente oportuno a prestação de voluntariado que esse seu amigo vem praticando, preenchendo-lhe o tempo e afastando-o de pensamentos ainda mais tristes do que os actuais com que se debate.E por isso que, também por este aspecto, repudio o chumbo com que parlamentarmente, o projecto de prestação de serviços sociais, por quem recebe uma ajuda monetária,foi mimoseado.
Entretanto, investimento quase zero e justiça cada vez pior. O que vai ser de todos nós a curto prazo, exceptuando, claro está os "varedos".
Prezada Dra Margarida Aguiar,
ResponderEliminarSe todos os temas "postados", cometados e debatidos são importantes, esta questão do emprego/ desemprego é, a meu ver, importante e urgente e permanente: - a importância percebe-se facilmente pelo seu artigo e o que representam as experiências de desempregados que conhecemos. - urgente pois muitos dos outros problemas económicos e sociais e as suas soluções, passam por conhecer bem esta questão do emprego/ desemprego e poder encontrar as soluções reais ( mais do que nunca precisamos de soluções reais ). - permanente porque não vale a pena ter ilusões, tornando-se o mundo uma aldeia global, com um crescimento contínuo da população mundial, a realidade é esta, não há emprego para todas as pessoas em todos os países do mundo. A questão tem ainda contornos mais preocupantes, pois existe um paradoxo que é o facto de que muitas vezes ( e é também o caso do seu amigo ), factores como competência e experiência, pouco valem, pois muitos empregadores nem sequer leem curriculos de pessoas com mais de 35 ou 40 anos. E pergunto eu ? Se cada vez é necesário trabalharmos até idades mais avançadas para, nomeadamente ajudarmos a garantir a sustentabilidade financeira da segurança social por muitos anos, como podemos rejeitar ma imensa franja da população activa, não lhe dando a mínima hipótese. O seu amigo que não desista. Sofrer sim, desmotivar, por vezes sim, mas desistir, NUNCA. Esta é uma altura complicada da vida, mas por muitas portas que se fechem, uma pode abrir.
CAROS AMIGOS DA QUARTA REPÚBLICA
ResponderEliminarTudo isso, dito e re-dito supra, é verdade e só não parte o coração, quem não tem coração.
Mas a responsabilidade é deste povo que se deixou e deixa governar por incompetentes e aldrabões.
Um povo que aceita tudo cândida e placidamente, é um povo sem futuro e sem orgulho.
Um povo que olha candidamente para o diagnóstico dos males que tolhem e gangrenam a nossa sociedade, é um povo sem futuro.
Todos somos responsáveis, obviamente uns mais que os outros, todos somos responsáveis pela nossa falta de coragem de nos imolarmos, se necessário, para ver um país melhor.
Onde estão os Martin Moniz dos tempos recentes? Onde estão os Portugueses, homens e mulheres com P grande, capazes de um acto de generosidade? Contam-se pelos dedos, nesta jangada de coração de pedra!
Não nas Sonae, nem nos BCP, nem nos BES, nem nos partidos, nem em inúmeras outras mesquinhezes individualistas incapazes de reconhecer que a grandeza de um homem está na partilha! Afinal todos partirão para a cremação ou para o jazigo, despojados de materiais grandezas. Restarão as riquezas das mensagens e dos actos!
Afinal Portugal e a sua história cá estará daqui a duzentos anos.
E deste período se dirá que a cobardia de muitos, e a avidez de poucos, cavou a decadência de Portugal e do seu povo e que outros povos ,porque lutadores e mais solidários, trarão no futuro, no seu seio, muitos dos descendentes de bons Portugueses que se expatriarão para outras paragens.
Obrigado, Presidente Cavaco Silva, por ter posto à frente da sua família o interesse Portugal!
Só mais uma coisinha!
ResponderEliminarQuando sabemos que em Portugal os empregadores não olham para curriculuns de gente com mais de trinta e cinco, quarenta anos, já não assumimos apenas o risco da indecência e da falta de solidariedade, mas da burrice.
Muitas anedotas correm no Brasil sob a falta de inteligência da nação Portuguesa.
E esta corremos o risco de assumidamente a termos incorporado.
É que não gostar de contratar gente com quarenta ou cinquenta anos, traduz bem a indolência mental de um povo que não percebe a importância acrescentada do custo benefício da experiência e maturidade.
"Mas há sempre alguém que resiste,
ResponderEliminarhá sempre alguém que diz não"
Retirado do PdosP:
"ESTRATÉGICO"
«é "estratégico" para o "interesse nacional" criar uma lei da República para manter em funções públicas não electivas o vice-procurador geral da mesma República que atingiu o limite legal de idade para permanecer no cargo?
ou seria mais "estratégico" para o "interesse nacional" tentar obviar o problema de quinhentos mil e seiscentos e dois mil desempregados e que estão longe do limite de idade?
Da estadia em terras de Almansor/Algeciras, na imprensa espanhola:
Para que serve um ministério da Igualdade? Pergunto eu.
Em Madrid, para financiar um estudo sobre o sistema nervoso do 'clitoris'.
Assim fugi à recomendação do Exmo PR.
Bmonteiro
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarPercebi a sua ideia, mas ainda assim quem não tem trabalho e quer trabalhar, que precisa de sustento para si e para a sua família está em situação bem pior do que aqueles que têm um rendimento certo ao final do mês. Em muitos casos é uma questão de conseguir manter um padrão de vida normal, de evitar destruir o que durante uma vida mais ou menos longa foi conquistado, para já não falar em sobrevivência.
É por isso que o principal problema do país é o combate ao desemprego. Mas é também essencial não agravar a situação dos desempregados que querem trabalhar e não podem - porque pura e simplesmente a economia não cria empregos - cortando nos apoios sociais. É nas situações de grande crise que estes apoios se revelam necessários.
Cara Catarina
Por trás dos números estão vidas de pessoas e de famílias, que se quisermos pensar um pouco não é difícil de adivinhar as dificuldades que muitas estão a passar. Quando conhecemos casos que nos são próximos, que vemos com os nossos próprios olhos, ficamos emocionados. Se temos consciência do flagelo que é o desemprego, quando se arrasta sem perspectivas de resolução rápida e condigna, então sentimos a sorte que temos por estarmos fora de tão grande dificuldade.
Suzana
Na situação aflitiva em que nos encontramos ter emprego é um privilégio e passar ao lado das dificuldades que atingem tantos portugueses é, pode dizer-se, uma sorte.
Caro jotaC
Costuma-se dizer que os amigos são mais precisos nos momentos difíceis. O conforto da amizade e solidariedade é muito importante. Mas, infelizmente, também os amigos ficam impotentes para em concreto oferecerem uma solução.
Caro Fartinho da Silva
No outro dia ouvi um responsável político dizer que estamos sempre a repisar as coisas más.
Lembrar os casos de tantos portugueses que estão na situação do meu Amigo nunca é demais. São realidades tristes que não podemos esquecer ou fingir que não é nada connosco. Nestas circunstâncias, um "belo texto" deixa-me sensibilizada. Obrigada.
Caro RuiD 'oiro
Agradeço o interesse pelo texto e os seus comentários. É verdade que quem tem emprego protegido está, à partida, a salvo do desemprego, independentemente da sua utilidade ou do nível do seu desempenho. Esta protecção pode aliás funcionar como um desincentivo à produtividade. É verdade que os que estão "in" não são necessariamente os melhores. Mas o nível do desemprego a que chegámos não se resolveria com uma simples troca. Muitos dos nossos desempregados são o resultado de um desajustamento do tecido económico aos novos desafios da competitividade. O que é que o futuro pós crise lhes vai reservar?
Caro antoniodosanzóis
Fazer voluntariado faz bem a todos, aos que dão e aos que recebem. Hoje são uns, amanhã são outros. É portanto um tributo cívico para o qual deveríamos todos olhar com muita atenção e vontade de participar.
Creio que o "projecto de prestação de serviços sociais" a que se refere no seu comentário foi baptizado de "tributo social". Aqui tenho uma perspectiva um pouco diferente. O subsídio de desemprego é uma espécie de “seguro social” para o qual os trabalhadores e as entidades empregadoras pagam. Na eventualidade do desemprego é como que accionado o seguro social e o desempregado tem direito a receber uma prestação substitutiva da remuneração do trabalho.
O mesmo não acontece com outras prestações sociais, como é o caso do rendimento social de inserção. Nestes casos os beneficiários não pagaram para ter um seguro. São os impostos de todos que financiam aquela prestação, em função das políticas de redistribuição que vão sendo definidas. Nestes casos fazer depender o recebimento da prestação de uma ocupação em benefício da sociedade é uma medida correcta. É uma forma de fazer retornar à sociedade a sua solidariedade para com os cidadãos que necessitam de ser ajudados.
Caro Otavio Rebelo
ResponderEliminarSão palavras de muito alento as suas para o meu Amigo e todos aqueles que procuram por dias melhores.
O seu texto aponta para realidades económicas e demográficas que encerram várias contradições com as quais parece que ainda não sabemos lidar.
Estou em crer que num futuro próximo teremos todos que trabalhar um pouco menos para que todos tenhamos trabalho, com os correspondentes ajustamentos de remunerações. Simultaneamente, teremos todos que trabalhar até mais tarde, combinando trabalho remunerado com trabalho voluntário. A população está a envelhecer, haverá cada vez menos jovens e mais velhos para cuidar. Teremos que encontrar novos equilíbrios. As coisas como estão são elas próprias geradoras de crises.
Caro Pedro Almeida Sande
Somos responsáveis pelo nosso próprio destino. Evidentemente que, como bem refere, há uns mais responsáveis do que outros. Tenhamos esperança que, perante uma crise tão grave como a que estamos a viver (refiro-me às nossas crises internas), haverá vontade e capacidade para mudarmos o País e haverá lucidez para perceber que se assim não for continuaremos no caminho do empobrecimento que, lentamente, estamos a sentir na pele o que significa.
Caro bravomike
Se há coisa que realmente nos tem faltado e que faz muita falta é, justamente, estratégia.
Prezada Dra Margarida Aguiar,
ResponderEliminarNão há dúvidas de que vivemos um tempo de rápidas e profundas mudanças. A crise, ou as crises que estamos a atravessar vão conduzir a situações complicadas e só com uma grande capacidade de adaptação poderemos sobreviver. A adaptação passa pelos níveis pessoal e profissional. Na vida não existem só casos de sucesso. Eu não me considero uma pessoa de sucesso se considerarmos os padrões de sucesso que a sociedade nos impôe ( ou impunha ) pois pouco alcancei face a esses critérios que passam por um elevado sucesso profissional e a aquisição de bens materiais como casas e carros. Entristecia-me bastante quando ia a jantares de antigos alunos da faculdade, com o desejo de rever "amigos" e a única coisa que eles me perguntavam era qual era o meu carro e qual o cargo actual. Nem respondia pois ia a esses encontros em busca de uma amizade que afinal não existia. É muito bom termos família e amigos do nosso lado, mas mesmo que todos as pessoas mais próximas se vejam impossibilitadas de nos ajudar, devemos sempre contar connosco próprios e poderemos ter boas surpresas pois somos muito mais fortes do que julgamos. não pretendo saber quem é o seu Amigo ( que pormenor delicioso ter escrito sempre com A Grande ) mas mesmo sob um e-mail ficticio, ou através de si, ele pode contar também com um apoio à distancia que não lhe resolvendo o maior problema, pode ajudar a lidar com "danos colaterais" que a situação que enfrenta apresenta. o meu mail é simples otaviorebelo@gmail.com., quanto ao problema mais geral, a luta contra o desemprego a nível nacional, poderemos de facto fazer algo, começando todos por nos apercebermos o impacto das mudanças que estão ocorrendo em Portugal,na Europa e no Mundo.
Caro Otavio Rebelo
ResponderEliminarAntes de tudo o mais, muito obrigada, e em nome também do meu Amigo, pela sua generosidade e solidariedade. As palavras de conforto e de esperança valem muito, em particular quando as pessoas vivem momentos difíceis. O sofrimento é vivido na intimidade e tantas vezes em solidão. Uma palavra amiga nestas circunstâncias pode ser uma enorme ajuda.
O sucesso dos tempos modernos está associado ao ter. As casas e os carros de que o Caro Otavio Rebelo fala é que são importantes. Talvez que a crise nos ajude a rever este padrão de atitude de vida. O ter está normalmente associado ao egoísmo, a uma certa insensibilidade social. Se pensarmos bem, o maior sucesso de vida que poderemos ambicionar ter está no ser. Ser mais a pensar nos outros, ajudando-nos a nós próprios. Desta forma, estaremos muito mais protegidos das dificuldades e preparados para lhes fazer frente.
Deixe-me que lhe diga Caro Otavio Rebelo que o vejo como uma pessoa de sucesso, não do ter, mas do ser. No final, este é que conta.