segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Assim vai o mundo...

O julgamento do ex presidente da Libéria, Charles taylor, pelo Tribunal de Haia por causa das atrocidades cometidas na Serra Leoa, perdeu por completo o seu objectivo para se tornar no julgamento da super modelo Naomi Campbell. Eis um bom exemplo de como os media se distraem do substancial para se dedicarem exclusivamente ao espectáculo. Nada como uma super modelo de mau feitio e uma actriz de cinema dedicada às causas humanitárias, Mia Farrow, para que o criminoso de guerra ceda de imediato o palco do julgamento à beldade, suposta testemunha mas logo eleita como acusada por ter recebido uns dos tais “diamantes de sangue” que sustentaram uma guerra atroz. É muito interessante ver como a testemunha passa a ré num instantinho, já ninguém sabe ao certo a que se refere o julgamento e por que crimes responde o acusado, fala-se de raspão que os diamantes serviam para comprar armas para uma guerra brutal que aniquilou milhares de pessoas mas o que interessa mesmo é que um punhado deles serviu para tentar conquistar uma beldade difícil de aturar. Todas as notícias giram em torno da modelo, cuja imagem glamorosa ilustra cada texto, “acusada” pela amiga actriz de lhe ter confidenciado há anos, depois de um jantar em que o criminoso era conviva, de que teria recebido da parte dele um pacotinho de “pedras sujas”. É certo que a coitada alega que não sabia o que eram as tais pedras, apesar de se ter levantado a meio da noite para as receber entre portas, também é certo que não as deitou fora, eram talvez uma boa recordação de uma conversa interessante com o vizinho de mesa, por azar agora incriminado de mil atrocidades. Mas o que seria apenas um episódio bizarro num julgamento importante tornou-se o centro da questão e já ninguém fala nos crimes de guerra mas apenas na oferta dos diamantes à beldade, pelos vistos o criminoso não os usava apenas para comprar armas mas também para atirar alto às suas conquistas de ocasião, mesmo correndo o risco de elas não darem o devido valor às suas desesperadas manifestações de encanto.
Por este caminho, pouco mais se vai saber dos crimes de guerra de Taylor, é a beldade que interessa, os crimes contra a humanidade vendem menos que o preço de uma modelo da moda. Se não fosse a Campbell, o julgamento teria merecido as honras de tantas páginas e de tantos destaques?

3 comentários:

  1. Claro que não, cara Suzana. Aliás, os jornais e televisões há muito tinham esquecido o caso.
    Acontece que o testemunho de uma modelo, que todos os dias "veste" pedras preciosas, mas diz desconhecer o que sejam, e cujo alegado mau comportamento enche páginas de jornais, se sobrepõe, nos dias sensacionalistas de hoje, a todas as atrocidades cometidas.
    O critério jornalístico está, como nunca, bem afinado. E, como nunca, sabe bem qual o seu interesse imediato. No social e sobretudo na política e nos negócios.

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  2. Suzana
    Oportuna chamada de atenção. Com efeito, o que interessa à comunicação social são as histórias do poder e da fama, do dinheiro, das aventuras amorosas, tudo apimentado e bem colorido para fazer as delícias da opinião pública. E se pelo meio existirem diamantes, uma modelo "famosa" e um ditador que cometeu crimes contra a humanidade então é ouro sobre azul. O mundo está decadente!

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  3. "Diamonds are forever"..."homens são meros mortais"

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