Viver é muito cansativo. Mas, também, tenho dias em que consigo sentir uma frescura transitória e analgésica, para logo em seguida dar lugar ao cansaço. Não é só o cansaço físico que, insidiosamente, começa a impor-se contra a minha vontade - verdadeira traição fisiológica -, mas também devido à doença. Neste último caso o cansaço pode passar a ser a regra, progredindo para fases debilitantes, caso não seja controlada.
Ao querer escrever sobre o cansaço deparei-me que a tinta da caneta tinha acabado. Estranho! Ainda mal tinha alinhavado meia dúzia de linhas quando senti o protesto da escrita, e logo numa altura agradável. Os turistas tinham abandonado a esplanada do hotel, poupando-me às suas algaraviadas linguísticas. Espanhóis, franceses, japoneses, italianos e ingleses. Muitos eram verdadeiros representantes de uma fauna que abunda entre nós, caracterizada por falar alto, não ter normas, especialista em incomodar os que procuram sossego, sem pejo em sentar-se nas mesas de outros, só porque conseguem pagar as quantias excessivas praticadas nesses estabelecimentos como se fossem os cafés dos seus bairros. Os seus comportamentos deixam muito a desejar. Como já não tinha tinta, e não levei uma esferográfica, desisti de escrever naquele ambiente que, entretanto, tinha recuperado o normal sossego edénico.
Cansado, não da paisagem, porque é impossível, mas de alguns dos seus frequentadores, abandonei o local. Ainda passei pelos lavabos, novos, habitualmente ultra limpos, mas agora a transpirarem a passagem dos novos bárbaros. Afinal também se comportam como os nossos. Desisti, sempre era mais higiénico. Desloquei-me a pé até ao carro com a mochila às costas, a pensar no cansaço que sentia. Que raio de tarde! Talvez a culpa fosse das nuvens que entretanto tinham aparecido e de uma ligeira diminuição da temperatura. É cómodo atribuir a responsabilidade às alterações climáticas. No entanto, confesso, não acreditei muito nas minhas deambulações. Sentia-me cansado, talvez mais psíquica do que fisicamente. Cansado de ver as pessoas, de ouvir as suas observações, da forma como interpelam o próximo e da grosseria das suas atitudes. Olhando em volta, sinto que tudo se repete com uma previsibilidade patética. Procuro incessantemente algo que me permita esconder ou aligeirar o cansaço. Não é fácil. É duro. Só através de emoções agradáveis é que consigo esquecer. Às vezes consigo, lendo um bom livro, olhando uma bela paisagem ou um rosto sereno e formoso, tocando em pedras ancestrais que me obrigam a viajar no tempo, fugindo dos sons humanos, bebendo a fantasia de um quadro ou a fragilidade de uma peça de arte cuidadosa e amorosamente trabalhada por alguém que odiava ser vítima de cansaço.
Procurar emoções fortes, belas e únicas, é uma necessidade vital, a única forma que permite fugir à prisão fria e triste do cansaço, maldição que cresce e se agrava de dia para dia.
Cansado, não da paisagem, porque é impossível, mas de alguns dos seus frequentadores, abandonei o local. Ainda passei pelos lavabos, novos, habitualmente ultra limpos, mas agora a transpirarem a passagem dos novos bárbaros. Afinal também se comportam como os nossos. Desisti, sempre era mais higiénico. Desloquei-me a pé até ao carro com a mochila às costas, a pensar no cansaço que sentia. Que raio de tarde! Talvez a culpa fosse das nuvens que entretanto tinham aparecido e de uma ligeira diminuição da temperatura. É cómodo atribuir a responsabilidade às alterações climáticas. No entanto, confesso, não acreditei muito nas minhas deambulações. Sentia-me cansado, talvez mais psíquica do que fisicamente. Cansado de ver as pessoas, de ouvir as suas observações, da forma como interpelam o próximo e da grosseria das suas atitudes. Olhando em volta, sinto que tudo se repete com uma previsibilidade patética. Procuro incessantemente algo que me permita esconder ou aligeirar o cansaço. Não é fácil. É duro. Só através de emoções agradáveis é que consigo esquecer. Às vezes consigo, lendo um bom livro, olhando uma bela paisagem ou um rosto sereno e formoso, tocando em pedras ancestrais que me obrigam a viajar no tempo, fugindo dos sons humanos, bebendo a fantasia de um quadro ou a fragilidade de uma peça de arte cuidadosa e amorosamente trabalhada por alguém que odiava ser vítima de cansaço.
Procurar emoções fortes, belas e únicas, é uma necessidade vital, a única forma que permite fugir à prisão fria e triste do cansaço, maldição que cresce e se agrava de dia para dia.
Não tenho a certeza se compreendi o pleno sentido desta crónica. Não sei porquê, os meus olhos estão húmidos, mais húmidos que o habitual. Vou aguardar para ler os outros comentários que em breve surgirão.
ResponderEliminarCaro amigo, não deve ser nada fácil ter a profissão e a vocação para ouvir os outros e sofrer quando os vê sofrer, deve ser mesmo muito cansativo. E o cansaço psicológico arrasta o outro, pois de que se alimenta o corpo senão da força anímica? Não se deixe abater, por favor, use essa extraordinária capacidade de ver beleza em todo o lado, basta ver o que escreve sobre os seus passeios, os rios e a paisagem, sobre a beleza das pessoas também, para fortalecer o espírito e recuperar as suas preciosas forças. E, se me permite um conselho de leigo, seja um pouco egoísta, pense em si, não desista de mudar o mundo, sei que há-de sempre encontrar força para essa missão, mas não peça demais,não seja tão exigente, haverá sempre quem não mereça que se canse a querer melhorá-los. Por favor, trate de si e reúna novas forças físicas e psicológicas só a olhar e pensar no que lhe dá gosto e energia. Por favor!Um abraço muito amigo.
ResponderEliminarCaro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarNão deve ser fácil ser médico, no confronto diário com a doença e com situações dolorosas e trágicas, incompreensíveis, de partir o coração. A vida de médico é muito rica de um ponto vista humano, mas viver o sofrimento dos outros deve ser muito desgastante e cansativo. A abstracção deve ser difícil e quanto mais se tenta por vezes mais se alimenta o cansaço. Nem o dever cumprido é suficiente para esquecer. Por isso os locais e momentos belos fortalecem o corpo e a alma. Não deixe de os procurar ou até mesmo de repetir aqueles que já conhece e mais gosta. É merecedor desse bem-estar e de muito mais. Um abraço muito amigo.
Como o compreendo, caro Professor...
ResponderEliminarO Homem, quando adquire plena consciência de Si e do Mundo, quando se enche do espírito de Humanidade... esvazia-se de futilidades e daquilo que é excessivo.
Nessa altura, sente na alma o peso da responsabilidade de ser Humano e Espiritual em simultâneo...
Caro amigo
ResponderEliminarÀs vezes só nos apetece estar quietos, inertes, hibernados, sem que ninguém queira interagir connosco.
Mas isso viola todos os canônes dos nossos "relativos": família, amigos, colegas, que se preocupam connosco, que acham que não estamos bem e que querem em absoluto que "reajamos".
E, afinal, como são bons: uma piscina deserta, uma missão solitária ao estrangeiro, dois dias de isolamento.
Depois, como quem não quer a coisa, ajustados às eventuais novas circunstâncias, regressa a nossa convivialidade, a vontade de fazer coisas, o desejo de ir à luta.
Caro amigo, faça o que lhe apetece e, quando não se sentir é porque está no bom caminho.
Um abraço do JIT
Meu bom Amigo, desejo ardentemente que se canse desse cansaço. Abraço. ZM
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