terça-feira, 31 de agosto de 2010

Desemprego em 11%: então e o optimismo "criador"?

1. Foi anunciado hoje pelo Eurostat que a taxa de desemprego em Portugal atingiu – sem surpresa, refira-se – os 11% em Junho último.
2. Um "máximo histórico" dizem os media, no seu estilo muito peculiar de colocar etiquetas apelativas neste tipo de notícias...
3. Trata-se de uma revisão do valor de 10,8% que tinha sido inicialmente divulgado pela mesma fonte há poucas semanas e que tinha provocado declarações de optimismo de diversos responsáveis governamentais...por representar (falsa pelo que agora se vê)descida de uma décima em relação ao valor de Maio...
4. Poucas vezes tenho aqui referido esta questão do desemprego, sem prejuízo de reconhecer que em certas categorias profissionais e em determinadas zonas do País constitui um problema extremamente sério.
5. O mercado do trabalho em Portugal tem características muito assimétricas: existem categorias profissionais para as quais a procura de emprego é um pesadelo – assim acontece com milhares de licenciados pelo ensino superior – a par de outras categorias, de operários especializados por exemplo, em que existe oferta de emprego mas escassez de procura.
6. Não sou dos que alinham em culpar os governos pelo desempenho da taxa de desemprego – como não os posso louvar pelas variações favoráveis dessa taxa, quando ocorram.
7. Entendo que a política do governo tem muito pouca ou nenhuma influência no comportamento do mercado de trabalho, numa perspectiva de curto prazo.
8. No longo prazo é diferente e, no nosso caso concretamente, a elevada taxa de desemprego que agora se verifica – e que deverá continuar a aumentar nos anos mais próximos – tem bastante que ver com a acumulação de sérios equívocos de política económica ao longo dos últimos anos - sem que se vislumbrem quaisquer sinais de mudança, é preciso não esquecer...
9. Também entendo, em razão do que precede, que a obsessão dos actuais governantes pela divulgação de notícias pretensamente favoráveis - as mais das vezes contrariando a própria realidade – num propósito confessado de exibir um discurso optimista, constitui um exercício estéril e enganador.
10. O formidável argumento segundo o qual o pessimismo não cria empregos – utilizado para justificar uma permanente exibição de optimismo “pacóvio”, como se este fosse criador de emprego – cai dolorosamente por terra quando as notícias do desemprego chegam com este estrondo...
11. Mas julgam que os optimistas vão desarmar? Eu julgo que não...”jamais”!

5 comentários:

  1. Eu sou, daqueles que culpam os governos pela taxa de desemprego. Mas também sou daqueles que explico porque é que culpam....

    Na minha visão, cada euro que o governo coloca na rua é menos um euro que deixa de ser gerado na economia. Quando gasto deve garantir que deve ter o efeito de dois euros, daquele que tirou para gastar e daquele que gasta.

    Por isso, o euro gasto pelo governo deve ser gasto com parcimónia e cuidado. Bem aplicado tira uma pessoa da fome, mal aplicado leva quatro à fome, aquela a quem tirou o euro, aquela a quem não deu e as duas a quem tem que tirar amanhã para tirar as duas que criou.

    Assim, o gasto do estado deve ser mantido por defeito, deve ser gerido e não orçamentado. Por isso, a culpa é sempre do governo.

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  2. Há dois indicadores estatísticos que não enganam quanto à persistência continuada das más políticas: o desemprego e a dívida pública.
    Ambos batem constantemente recordes.
    E o que não é perdoável é que o Governo nos queira fazer a todos passar por parvos.

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  3. Anónimo17:04

    Caro Tavares Moreira, consegue estimar por alto um valor para o desemprego que o Estado consegue suportar em termos de apoios sociais e semelhantes sem se cair em situações de extrema miséria?

    Deixe-me explicar o meu raciocínio. Em Espanha o desemprego está em redor dos 20% mas o Estado Espanhol tem tido meios para de alguma forma acudir às pessoas e impedir que haja situações de verdadeiras miséria e fome. Daqui a minha pergunta: até onde pode o Estado Português garantir um mínimo de suporte social?

    Evidentemente que o ideal seria que fossem criadas as condições para a economia funcionar e absorver os desempregados mas, enquanto exercício académico, não posso deixar de pensar no que perguntei. Que, aliás, deriva dum dos meus grandes medos, explosões sociais descontroladas.

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  4. Hoje como ontem, a luta continua.
    No final dos anos 90, os papagaios do Governo Guterres, atiravam frequentemente à cara das oposições, uma das 'suas' glórias: a baixa taxa de desemprego no reino.
    E eu, que não sou economista (e já nem tenho biblioteca), a pensar para com os meus botões: mas pelo que vejo nas espanhas, do Caia a Berlim, quanto a taxas de desemprego, o que é que nos espera? O que é suposto de nos esperar?
    Portanto, aí está o resultado.
    Quanto à discussão em curso, mais sexo dos anjos que outra coisa, esperemos pela retoma.
    E por uma taxa a rondar os 20% espanhóis de Espanha.
    Vale, que à direita, ninguém o quer admitir, à esquerda, antes pelo contrário.
    Isto é, nada a fazer.
    BMonteiro

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  5. A nossa divergência não está tanto nas razões finais do aumento de desemprego em Portugal, está antes na análise temporal do fenómeno, caro Tonibler.
    Abreviando meu raciocínio, é natural que uma subida agressiva da despesa pública - não na situação em que estamos, pois neste caso seria catastrófica - tenha efeitos benéficos sobre o desemprego.
    Todavia, se essa política se prolongar no tempo, acabará por produzir efeitos negativos no desemprego, pelas disttorções/desequilíbrios causados na economia...
    Aquilo a que estamos hoje a assistir em Portugal é a isso mesmo - depois de o governo Guterres se ter vangloriado de uma taxa de desemprego muito baixa, quando ligou todas as turbinas da despesa pública e provocou uma explosão na despesa e no endividamento - hoje estamos a pagar as "favas" dessa malfadada política!

    Nem mais, Pinho Cardão, nem mais!

    Caro Zuricher,

    Não disponho de dados para lhe dar uma resposta com rigor.
    Lembro-lhe, apenas, que essa função é entre nós talvez mais das Insitutições Privadas de Solidariedade Social e de diversas organizações ligadas à Igreja Católica (e a outras confissões, devo admitir) do que do Estado.
    A propósito ouvi no Sábado uma interessantíssima entrevista de D. Manuel Martins, ex-Bispo de Setúbal, conhecido pelas suas posições de grande exigência social, na qual se referiu ao trabalho das Irmãs da Caridade, discípulas de Madre Teresa de Calcutá, em Portugal.
    Um exemplo notável que confesso desconhecia.

    Caro Bravomike,

    Bem lembrado, sim senhor.
    Acho excelente a sugestão de esperarmos pela retoma...sem prazo, claro!

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