quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A mania do betão...

Não deixei de sorrir ao ler a entrevista (o link não permite ter acesso a toda a entrevista) ao DE do Secretário Geral da Prevenção Rodoviária Nacional. A certo momento diz o Secretário Geral que “É vergonhoso que sejamos um dos poucos países da Europa que, ano após ano, investe mais em novas estradas do que na manutenção das estradas existentes” e aponta, a propósito das auditorias às estradas, que “Em Portugal foi feito um trabalho muito relevante de sistematização do que deve ser um auditor, as suas competências e o seu papel na avaliação da qualidade das estradas. Mas esse trabalho nunca passou do papel, nunca foi publicado. (…) Todo o trabalho de definição das regras está feito mas nunca não saiu das gavetas”.
Mas o mal é geral. Antes fosse um exclusivo das estradas. É a mentalidade do betão. Vivemos fascinados com as grandes obras e não somos capazes de fazer, pelo menos, a manutenção do que existe. E são, também, as iniciativas e as medidas que se anunciam, normalmente a seguir a qualquer coisa que correu mal, que depois não chegam ao fim, ficam na gaveta.
Construímos estradas, rotundas, edifícios, estádios, tudo em nome da modernização, como se o desenvolvimento se medisse pelo peso daquilo que é novo. É a mania do ter. Subalternizamos os investimentos na requalificação, reabilitação e recuperação urbana, do património histórico e cultural, da rede rodoviária e por aí adiante. Estamos a edificar dois países: a construir o novo e a descurar o “velho”. Duas facetas que não têm que andar de costas voltadas. Parece que construir novo dá maior sentido de poder, reabilitar é uma coisa de segunda categoria. Ainda por cima construímos mal. Basta olhar para os verdadeiros atentados urbanísticos que povoam algumas zonas do País. Os incentivos parecem estar todos apontados para edificar betão.
Com o envelhecimento demográfico, que é uma realidade e não uma ficção, a que se junta o fenómeno que se está a construir do despovoamento do interior do país e a perda de jovens que todos os dias partem para fora à procura de trabalho para poderem aspirar a ter um projecto de vida, a política do betão faz cada vez menos sentido. Estamos a fazer investimentos que serão parte deles verdadeiros monos porque não teremos quem os utilize. São investimentos de rendibilidade económica e social duvidosa, para além das vultuosas rendas que no futuro alguém vai ter que pagar. E, tudo indica que seremos cada vez menos para o fazer.
É claro que nem tudo é mau. Evidentemente que também devemos olhar e reconhecer o que é bom, o que de vez em quando, quando é caso para isso, sabe bem fazer...

4 comentários:

  1. Temos mesmo e sorrir, para não ficarmos 'doentes'
    O Hospital da Força Aérea, objecto de manutenção frequente/reparações/melhoramentos contínuos, está hoje em muito melhor estado, do que quando acabou de ser construído (anos 80). E muito bem equipado, nomeadamente em cada gabinete médico. Dispõe de amplo parque de estacionamento automóvel e capacidade de expansão (se necessária)
    O Hospital da Estrela, com três áreas físicas distintas (próximas) e edifícios de há um século, parece ter sido escolhido para futuro Hospital único militar:
    Vai ser objecto de obras de 1.2 milhões.
    Nos custos, estará a montagem de seis «quartos de depressão negativa», que são abandonados no Hospital da Boa-Hora.
    Ganha o ramo Exército (uma de três quintas da tropa), manda a política que inexiste (do MDN)
    BMonteiro
    PS: não falo de uma estrada na Serra da Estrela (vedada ao transito desde Janeiro), para não sobrecarregar a prosa.

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  2. Caro bravomike
    Não sobrecarrega! Sobrecarregados andamos nós com os muitos "sorrisos" que temos que fazer...

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  3. Parece que foi lançada a tal autoestrada do Pinhal Novo...

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  4. Suzana
    Já nem memorizo os nomes...

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