Os fogos são uma desgraça que se repete todos os anos como uma fatalidade, apesar de todas as ideias brilhantes e urgentes que surgem durante a catástrofe para que no próximo ano já não seja assim. Deve haver uma pilha de quilómetros com os planos e as evidências que todos os anos nascem e todos os anos morrem logo que se apagam as chamas. Este ano já tivemos direito a várias, algumas em artigos de jornal, outras mais estridentes, como a da nacionalização das propriedades que não sejam limpas e ontem, creio eu, a de um partido político, que quer mobilizar os beneficiários do rendimento mínimo para irem limpar as matas. Não sei da ideia mais do que ouvi na rádio a um responsável daquele Partido mas confesso a minha incredulidade, se é que ainda temos direito a espantar-nos com alguma coisa. Eu pensava que as pessoas que têm direito ao rendimento mínimo são objecto de um esforço de regresso ao activo através da Segurança Social, pensava que o Estado criou mecanismos claros e imperativos para regular essa atribuição e as condições que devem cumprir os seus beneficiários. Pensava até que esses cidadãos, se têm direito a uma prestação que a lei prevê e que o Estado atribui merecem ser tratados com dignidade – e os que não merecem que se actue, dentro da lei -, não são um exército disponível para trabalhar à força, dependendo das necessidades que cada um se lembre de apontar como muito úteis, agora é limpar florestas, amanhã ser nadadores salvadores, polícias nas horas de ponta, enfermeiros se houver epidemias, etc., afinal do rendimento mínimo podemos tirar um benefício máximo, é mobilizá-los como na guerra e acabou-se. Pensei até que a limpeza das florestas que competir ao Estado deve ser feita através do recrutamento de mão de obra de acordo com as regras de trabalho e que quem recusa trabalhar estando em condições de o fazer devia perder o benefício do apoio social. Ou então alguma coisa está muito errada nisto tudo, e tem que se mudar.
Este País está um pouco paranóico, um dia perseguem-se os ricos, no outro os pobres, no outro os assim assim porque não são nem uma coisa nem outra, e no fim acabamos todos convencidos de que o mais natural é perseguirmo-nos uns aos outros e apontar o dedo a toda a gente. Mas afinal quando é que acaba a estação tonta?
Este País está um pouco paranóico, um dia perseguem-se os ricos, no outro os pobres, no outro os assim assim porque não são nem uma coisa nem outra, e no fim acabamos todos convencidos de que o mais natural é perseguirmo-nos uns aos outros e apontar o dedo a toda a gente. Mas afinal quando é que acaba a estação tonta?
Este fim de semana, estive com um amigo que não via ha algum tempo, conversávamos acerca dos incêndios e de outras adjacências aos mesmos, quando ele me conta algo que me deixou estupefacto. Por motivos profissionais visitou ha 2 ou 3 anos as serras Amarela e do Soajo, onde tinham grassado incêndios, tal como este ano. Espanto dele, quando passados um ano e meio se depara na zona ardida, com a construção de um condomínio de luxo, que até ali não tinha sido licenciado, por se tratar de uma zona de área protegida, a qual, a partir do momento que ardeu, deixou de o ser.
ResponderEliminarTem lógica... se era protegida... não devia ter ardido, se ardeu... ficou desprotegida.´
Será esta a lógica da batata?!
Cara Suzana:
ResponderEliminarNão se trata de estação tonta, antes fosse, pois teríamos três estações normais. O problema é que a toleira é do país:um país com elites entontecidas, com uma opinião publicada entontecida, com um aparelho burocrático entontecido. Eles vêem sempre tudo às avessas, não admira que andemos às arrecuas.
Cara Dra. Suzana Toscano, diz V. Exa.:
ResponderEliminar(…)Eu pensava que as pessoas que têm direito ao rendimento mínimo são objecto de um esforço de regresso ao activo através da Segurança Social, pensava que o Estado criou mecanismos claros e imperativos para regular essa atribuição e as condições que devem cumprir os seus beneficiários. Pensava até que esses cidadãos, se têm direito a uma prestação que a lei prevê e que o Estado atribui merecem ser tratados com dignidade – e os que não merecem que se actue, dentro da lei -, não são um exército disponível para trabalhar à força, dependendo das necessidades que cada um se lembre de apontar como muito úteis, agora é limpar florestas, amanhã ser nadadores salvadores, polícias nas horas de ponta, enfermeiros se houver epidemias, etc (…).
Digo eu:
Pensava a cara Drª. e pensavam igualmente as pessoas sensatas. A questão é que a sensatez caiu em desuso, de vez em quando aparecem uns iluminados que leram umas coisas, é certo, mas não tiveram tempo de assimilar verdadeiramente o que leram, querem dar nas vistas e depois é isto, torram-nos o juízo com disparates…
Muito a propósito este post.
Suzana
ResponderEliminarAgora são os incêndios, amanhã são as cheias ou um qualquer outro fenómeno da natureza e alguém se lembrará que os beneficiários do RSI devem ir limpar o lodo ou fazer um qualquer outros trabalho dependendo da origem ou das consequências do fenómeno. As cosias não podem ser pensadas assim.
O RSI é um instrumento de política social de combate à pobreza e exclusão social que tem como principal objectivo assegurar aos cidadãos e aos seus agregados familiares apoios que contribuam para a satisfação das suas necessidades mínimas essenciais e simultaneamente favorecer a sua inserção social e laboral e comunitário, respeitando os princípios de igualdade, solidariedade e justiça social. Para cada cidadão e respectivo agregado familiar beneficiários do RSI deve ser traçado pela Segurança Social um programa de inserção social, que pode passar por formação, trabalho para a comunidade, educação dos filhos, etc. Cada programa deve ser traçado tendo em contas as circunstâncias específicas dos beneficiários, as suas capacidades, o seu estado de saúde, o nível educacional e profissional, etc.
Um programa pode, naturalmente, estabelecer que um determinado beneficiário terá um trabalho de limpeza de florestas.
Uma cosia é traçar para cada indivíduo um conjunto de tarefas que favoreçam a sua integração social, gerando valor económico que a sociedade como um todo aproveita, havendo como que um retorno, em todo ou em parte, dos recursos que esta proporciona aos beneficiários do RSI através dos impostos que paga. E nessas tarefas, podem e devem ser incluídas, actividades cívicas ou trabalho comunitário.
Coisa diferente é pegar na população que aufere o RSI, independentemente dos programas que estão traçados, e decidir agora vão limpar matas, vigiar as florestas ou alcatroar estradas.
Seria bem mais interessante ouvirmos propostas concretas, não no mero formalismo de mais uma lei ou decreto-lei, sobre como é que o País se deve organizar para fazer da limpeza das florestas uma actividade económica, estruturante e devidamente estruturada como actividade "empresarial" profissionalizada, com uma gestão própria e recursos afectos com normalidade e estabilidade e, eventualmente, que incentivos podem ser criados para dinamizar esta actividade.
E seria essencial que a Segurança Social cumprisse com a elaboração dos programas de inserção social e fizesse o seu efectivo acompanhamento, para que os beneficiários melhorem as condições para uma vida autónoma, livre dos subsídios do Estado, e os contribuintes verifiquem que a redistribuição dos seus impostos teve um impacto real no combate à pobreza e exclusão social.
Muito bem, Dra.Margarida Aguiar.
ResponderEliminarOra essa, Caro jotaC.
ResponderEliminarMuito bem mesmo Margarida, nada como explcar as coisas direitinho, pode ser que aclare algumas cabeças, nunca se deve desesperar...!
ResponderEliminarCaro Bartolomeu, com exemplos desses e o histórico recente, ainda vamos ter urbanizações de luxo onde há pouco havia parques naturais.
Caro Pinho Cardão, é a lógica do caranguejo, não pára quieto mas anda sempre para o lado.
Caro jotac, é como diz, querem dar nas vistas, e conseguem!, mas é como o caranguejo, não atinam com a direcção certa.