No excelente livro “Colapso. Ascensão e queda das sociedades humanas” (ed. Gradiva), Jared Diamond relata com uma clareza fascinante a história de várias civilizações ao longo dos séculos e as razões pelas quais muitas delas, grandes e pequenas, não conseguiram sobreviver, dando ainda exemplos de algumas que, contra todas as probabilidades, conseguiram resistir. De acordo com os critérios que definiu para analisar todos os casos, fala-nos por fim de várias civilizações actuais, desde a Austrália, à China e ao Japão e à ameaças e esperanças que existem para cada uma delas. Ao longo de todo o livro, de leitura sempre interessante e surpreendente, conseguimos ver muitas outras civilizações e povos, a sua luta pela sobrevivência e as suas glórias e os seus erros, até desembocarmos nas perplexidades assustadoras do mundo global em que vivemos, que baralham bastante alguns dos pressupostos da análise, ou que nos transporta para uma macroanálise em que a interdependência anula muitos dos esforços positivos e exporta muitos dos erros monstruosos, pondo todos em perigo.
No fim, o autor define quatro categorias para o fracasso das tomadas de decisão dos grupos: a imprevisibilidade dos problemas; o problema exisitir mas, por ser diluído ou incerto nas suas manifestações, não ser detectado ou ser desvalorizado; apesar de detectado, a colectividade não se decidir a resolvê-lo e, por fim, não ser pura e simplesmente capaz de tomar as decisões certas. Ou seja, na generalidade dos casos, a sobrevivência dependerá sempre da capacidade de tomar consciência da ameaça e se tomar boas decisões no interesse comum.
Particularmente interessante é o terceiro caso, que contém várias modalidades a influenciar o rumo dos povos. Entre elas é a existência das “decisões racionais”, que os cientistas qualificam como sendo as dos que agem de acordo com os seus interesses particulares mesmo que isso ponha em perigo o interesse colectivo, aproveitando o desinteresse ou a ignorância dos outros ou, como acontece com frequência, aproveitando situações em que obtêm lucros elevados à custa dos prejuízos que serão divididos por todos, incluindo pelas gerações futuras. É o caso dos subsídios às actividades que não produzem riqueza sustentável, o apoio a indústrias predadoras mas que fornecem bens a curto prazo ou o desenvolvimento de actividades que arruinam outras menos rentáveis mas duradouras, enquanto as primeiras desaparecem com o filão que exploravam. Esta situação verifica-se com particular gravidade quando os interesses das elites no poder colidem com os interesses do resto da sociedade e pensam que conseguem salvar-se a si e à sua fortuna do destino do resto dos cidadãos.
Mas há também o “comportamento irracional”, que é aquele que prejudica todos, baseado, segundo os cientistas, na “persistência do erro” ou na “teimosia”, na “recusa de tirar ilações a partir dos sinais negativos” ou ainda no “imobilismo ou estagnação mental”, sendo ainda considerado o factor “relutância em abandonar uma política em que já se investiu muito”. A opinião pública pode também ignorar os avisos ou mesmo reagir contra aqueles que viram o perigo, muitas vezes acomodando-se ao facto de não sentirem ainda o problema na sua própria pele, confiando que não lhes chegará a vez. Este comportamento irracional olha sempre ao curto prazo e tem medo de afrontar o colectivo, que confia que não há problema nenhum, ao falar-lhe dele e propondo as mudanças de vida que exigiria a sua solução. Quando o problema é muito grave, há também a “negação psicológica”, que é a supressão subconsciente do que causa medo ou dor, preferindo os governos ir tratando “das questões com potencial para causar problemas nos próximos 90 dias” buscando os benefícios do sucesso imediato e deixando as dificuldades para serem resolvidas pelo próximo governo ou pela próxima geração. Salvo nos casos raros em que o colectivo tem plena consicência dos problemas e se empenha na sua resolução, o autor refere que as decisões colectivas “podem conduzir à supressão de dúvidas e de pensamento crítico, à partilha de ilusões, a um consenso prematuro e, em última análise, a uma decisão catastrófica”(págs. 491 e seguintes).
Das civilizações minúsculas de ilhas do Pacífico, como a Ilha da Páscoa ou as ilhas Pitcairn, à expansão viquingue, ao Haiti e República Dominicana, aos Maias, até ao Estado de Montana nos EUA, ao Japão e à Austrália, milénios de diferença e as mesmas razões presentes nas lutas dos povos pela sobrevivência primeiro, pelo desenvolvimento depois, pela subsistência por fim. Em todas elas os mesmos alertas, os mesmos erros ou a diferença vital das boas decisões.
A ler, sem dúvida, para os que já sabiam e para os que ainda não tinham bem consciência do preço que se paga pelas decisões erradas.
No fim, o autor define quatro categorias para o fracasso das tomadas de decisão dos grupos: a imprevisibilidade dos problemas; o problema exisitir mas, por ser diluído ou incerto nas suas manifestações, não ser detectado ou ser desvalorizado; apesar de detectado, a colectividade não se decidir a resolvê-lo e, por fim, não ser pura e simplesmente capaz de tomar as decisões certas. Ou seja, na generalidade dos casos, a sobrevivência dependerá sempre da capacidade de tomar consciência da ameaça e se tomar boas decisões no interesse comum.
Particularmente interessante é o terceiro caso, que contém várias modalidades a influenciar o rumo dos povos. Entre elas é a existência das “decisões racionais”, que os cientistas qualificam como sendo as dos que agem de acordo com os seus interesses particulares mesmo que isso ponha em perigo o interesse colectivo, aproveitando o desinteresse ou a ignorância dos outros ou, como acontece com frequência, aproveitando situações em que obtêm lucros elevados à custa dos prejuízos que serão divididos por todos, incluindo pelas gerações futuras. É o caso dos subsídios às actividades que não produzem riqueza sustentável, o apoio a indústrias predadoras mas que fornecem bens a curto prazo ou o desenvolvimento de actividades que arruinam outras menos rentáveis mas duradouras, enquanto as primeiras desaparecem com o filão que exploravam. Esta situação verifica-se com particular gravidade quando os interesses das elites no poder colidem com os interesses do resto da sociedade e pensam que conseguem salvar-se a si e à sua fortuna do destino do resto dos cidadãos.
Mas há também o “comportamento irracional”, que é aquele que prejudica todos, baseado, segundo os cientistas, na “persistência do erro” ou na “teimosia”, na “recusa de tirar ilações a partir dos sinais negativos” ou ainda no “imobilismo ou estagnação mental”, sendo ainda considerado o factor “relutância em abandonar uma política em que já se investiu muito”. A opinião pública pode também ignorar os avisos ou mesmo reagir contra aqueles que viram o perigo, muitas vezes acomodando-se ao facto de não sentirem ainda o problema na sua própria pele, confiando que não lhes chegará a vez. Este comportamento irracional olha sempre ao curto prazo e tem medo de afrontar o colectivo, que confia que não há problema nenhum, ao falar-lhe dele e propondo as mudanças de vida que exigiria a sua solução. Quando o problema é muito grave, há também a “negação psicológica”, que é a supressão subconsciente do que causa medo ou dor, preferindo os governos ir tratando “das questões com potencial para causar problemas nos próximos 90 dias” buscando os benefícios do sucesso imediato e deixando as dificuldades para serem resolvidas pelo próximo governo ou pela próxima geração. Salvo nos casos raros em que o colectivo tem plena consicência dos problemas e se empenha na sua resolução, o autor refere que as decisões colectivas “podem conduzir à supressão de dúvidas e de pensamento crítico, à partilha de ilusões, a um consenso prematuro e, em última análise, a uma decisão catastrófica”(págs. 491 e seguintes).
Das civilizações minúsculas de ilhas do Pacífico, como a Ilha da Páscoa ou as ilhas Pitcairn, à expansão viquingue, ao Haiti e República Dominicana, aos Maias, até ao Estado de Montana nos EUA, ao Japão e à Austrália, milénios de diferença e as mesmas razões presentes nas lutas dos povos pela sobrevivência primeiro, pelo desenvolvimento depois, pela subsistência por fim. Em todas elas os mesmos alertas, os mesmos erros ou a diferença vital das boas decisões.
A ler, sem dúvida, para os que já sabiam e para os que ainda não tinham bem consciência do preço que se paga pelas decisões erradas.
Não li este livro que a cara Suzana sugere (e que pelo que deixa transparecer é um “must read”), mas já vi um documentário baseado no livro “Armas, Germes e Aço” deste autor e cientista que achei muitíssimo interessante. Vale a pena ver. Já anotei o “Colapso” nesta minha já longa lista de livros a ler mas as férias estão quase a acabar e a leitura por prazer vai tornar-se um pouquinho mais lenta...
ResponderEliminarEsquecimento imperdoável: obrigada por partilhar connosco as suas preferências em literatura e cinema. Dois “passatempos” que me ocupam grande parte dos tempos livres.
ResponderEliminarCara Suzana:
ResponderEliminarExcelente síntese, que, creio, vai provocar um afluxo às livrarias.
A terceira explicação evidencia muito a situação actual do país. Com os problemas diagnosticados, mas a caminho da decadência. Salvo raríssimas excepções,não temos elites políticas que olhem para além dos seus interesses imediatos. E a sociedade civil acomodou-se.
Suzana
ResponderEliminarOfereceram-me o livro. Fiquei muito entusiasmada com a sua síntese. Vou ver se começo a lê-lo.
O "comportamento irracional" e a "negação psicológica" aplicam-se que nem uma luva à situação do nosso país. Se somarmos a ignorância e o desinteresse percebemos porque está instalada uma imobilidade que não nos permite avançar.
Pode ser que opinião pública que tem ignorado alguns bons avisos, "muitas vezes acomodando-se ao facto de não sentirem ainda o problema na sua própria pele", cheguem, nesta fase em que nos encontramos, à conclusão que afinal os avisos eram e são para levar a sério.
Cara Dra. Suzana Toscano:
ResponderEliminarVou ler, esta síntese constitui um desafio…
Quero também realçar os comentários que antecedem principalmente onde se diz: “(…) a sociedade civil acomodou-se”…
Esta é uma verdade incontornável, sem dúvida. Dou por mim a pensar se a sociedade actual terá realmente o desejo de exprimir o voto de mudança num eventual ato eleitoral.
Será Portugal actual um destes "case studies" clássicos? :)
ResponderEliminarGostei do tema, aliás muito bem apresentado.
ResponderEliminarPermiti-me postá-lo no meu blogue
http://limonete.blogspot.com/, com a devida vénia.
Catarina, é um prazer partilhar o que vamos encontrando de bom por aí e fico muito contente que se tenha dado bem com os meus conselhos, essa é uma das (muitas) vantagens do 4r, trazer aqui o que há de interessante para ver, ler ou ouvir.
ResponderEliminarCaro Pinho Cardão, é bem verdade que muito do que ali se lê já aqui e noutros sítios foi dito e redito, mas como santos da casa não fazem milagres talvez nas costas dos outros se consiga ver as nossas...esperemos que a tempo.
Belo presente, Margarida, o livro já saíu há uns dois anos e quando o comprei na livraria disseram-me que foi um sucesso mundial mas que por cá não teve grande saída, vamos sempre a tempo.
Caro jotac, fundamental é que primeiro se tenha bem consciência do que temos que corrigir e para onde queremos avançar, "todos rumos servem quando não se sabe para onde se quer ir".
Cara ARB, acho que dava um belo caso, sem dúvida, mas por mim gostaria que fosse um dos que terminam em bem em vez de ser um dos que colapsou apesar dos sinais evidentes que não se quis ver, como muitos dos casos que no livro se trata.
Caro Zefoz, seja muito benvindo e obrigada pela deferência da inclusão no seu blogue.