terça-feira, 21 de setembro de 2010

Praga do défice externo não tem cura? Claro que tem, quando o dinheiro acabar...

1. Divulgadas hoje as contas externas para o período até Julho, constata-se que o défice corrente está praticamente inalterado em relação ao mesmo período de 2009 - com uma leve descida de 1,4% devida a uma melhoria de € 315 milhões...nas transferências públicas da EU.
2. No tocante aos valores mais significativos, verifica-se que as exportações de bens continuam a crescer bem, +14,1%, ou seja mais € 2.626 milhões, mas esta melhoria das exportações é anulada por um aumento também forte das importações - de + 10,85% ou seja mais € 3.067.
3. Assim e tal como em Post anterior já salientei, não vale a pena “embandeirar em arco” com o crescimento das exportações quando esse crescimento é mais do que anulado pelo aumento das importações...não é assim que vamos lá....
4. Regista-se também um crescimento assinalável na rubrica de Serviços, com uma melhoria do saldo positivo de 12,8%, sendo de realçar aqui as receitas líquidas do Turismo, que registam uma melhoria de 9,2%.
5. Em contraponto, as coisas vão de mal a pior (sem surpresa) no que se refere aos Rendimentos, com o défice a aumentar 4,6% em relação a 2009, atingindo quase € 5 mil milhões ao cabo de 7 meses, o que confirma a última previsão aqui feita de um défice anual bastante superior a € 8 mil milhões nesta rubrica, ou seja 5% do PIB - absorvendo na totalidade o superavit dos Serviços (Turismo incluído) e das Transferências Privadas (Emigrantes) e Públicas e ainda “sobrando” défice...
6. Esta evolução das contas externas é uma boa ilustração de duas importantes realidades: (i) do total esgotamento do modelo económico em que temos vivido, com um Super Estado gastador, impulsionador da despesa e do desequilíbrio externo, ao mesmo tempo que (cada vez mais) castrador da iniciativa empresarial e do investimento; (ii) de que, apesar de todas as declarações em contrário, a política económica continua um enorme equívoco, fomentando a despesa e penalizando o investimento.
7. Em resumo, preparemo-nos em 2010 para mais um défice externo igual ou superior a 10% do PIB, implicando igual aumento da dívida ao exterior...
8. Perguntar-me-ão: mas então este problema não tem solução? A resposta é simples: tem, com certeza, quando o dinheiro acabar...aí acaba o défice, mas o que isso nos vai custar é melhor nem pensar...

16 comentários:

  1. Dr. Tavares Moreira, mais uma análise realista e esclarecedora para quem quer perceber a nossa (periclitante) realidade. Por isso,...

    É melhor nem sequer pensar
    nessa solução pungente
    com o défice a assar
    o porvir da nossa gente.

    Depois de tantas marteladas
    desta má gestão orçamental
    as frouxidões são reveladas
    de quem definha no pedestal.

    Sem saber para onde ir
    assim vamos definhando,
    fica muito por referir
    deste triste caminhando...

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  2. Registo o cumprimento, caro Manuel Brás.
    E não deixo de relevar a sapiência da sua última quadra "Sem saber para onde ir/assim vamos definhando...".
    É isso mesmo, vamos definhando sem saber como, porquê, nem para onde vamos...triste sina a nossa!

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  3. Estamos numa situação deveras preocupante!

    Existem muitas verdades que não nos são ditas e, é como diz o Dr. Tavares Moreira, isto só vai acabar quando não houver dinheiro, ou seja, quando já não nos conseguirmos financiar.

    Mas ninguém é capaz de tomar uma atitude e acabar com este desgoverno?

    Acredito que o PSD conseguiria resolver esta situação mas o remédio seria muito doloroso, e com certeza muitas empresas e famílias não iriam resistir à dor. Gostaria, por isso, que houvesse mais clareza nas propostas apresentadas para que a discussão fosse mais frutuosa.

    Neste momento é imperioso que se aprove um bom orçamento e gostaria de ver todos os partidos darem as mãos em nome do país, talvez com o patrocínio do PR.

    Sentem-se à mesa e definam um objectivo, definam com clareza onde querem chegar.
    Partindo daqui, como vamos conseguir lá chegar?

    Com certeza não será só aumentando os impostos e cortando os salários que lá vamos, dessa forma até eu era bom PM. Lá fora vão ter em conta a forma como reduzimos o défice, e se não virem corte na despesa não nos tiram da lista negra.
    O problema é onde cortar... com certeza existem muitos gastos que se podiam evitar, mas para tal é necessário haver coragem e inteligência para os identificar.

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  4. Caro Tavares Moreira

    As casas de apostas pagam:

    Portugal
    não vai cumprir as metas orçamentais propostas 2/1
    Portugal cumpre as metas 3/2
    Portugal vai recorrer a medidas excepcionais para cumprir as metas propostas: 2/1
    Portugal não vai recorrer a medidas excepcionais para cumprir o défice: 3/1
    Portugal esgota a capacidade de endividamento externo ainda este ano:2/1
    Portugal esgota a capacidade de endividamento no primeiro trimestre de 2011: 3/2
    Portugal, Grécia e Irlanda, entram em incumprimento da dívida soberana dentro de:
    cinco anos: 2/1
    três anos: 3/1
    um ano: 5/1

    Cumprimentos
    joão

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  5. Não podia estar mais de acordo com a opinião do caro Dr. Tavares Moreira.
    Quando o "guito", o "pilim", o "arame", o "bago", o "bagalhuço", o "caracanhol" acabar... estaremos livres do flagelo.
    Estaremos... aqueles que como eu, estamos no fundo do precipício, mas... e os que estão no cimo e veem a borda a esfarelar-se-lhes debaixo dos pés?
    Para ser mais preciso na imágem; uma vastidão de membros da glebe no fundo do precipício, uns que já lá nasceram, ougtros que foram caindo na derrocada e na borda, lá em cima, uns que estão na eminência de caír e estão com uma perna esticada, tentando aguentar-se e a outra flectida, suportando o peso do corpo inclinado, lá mais para trás, outros que os empurram, tentando convencê-los que não vão caír no precipício.
    Solução? Para além da extinção do "guito" ?!
    A única possível, chama-se Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre...
    Porquê?
    Ora então, porque foi o único, depois de Camões que passou além da Taprobana para ajudar as vítimas do tsunami, em 2004.
    Este nome, é o único em Portugal, que sabe edificar sem "guito", sem "arame", sem...
    Bahhh!!! às urtigas, o dinheiro, haja alegria e cantemos Camões!

    As armas e os barões assinalados,
    Que da ocidental praia Lusitana,
    Por mares nunca dantes navegados,
    Passaram ainda além da Taprobana,
    Em perigos e guerras esforçados,
    Mais do que prometia a força humana,
    E entre gente remota edificaram
    Novo reino, que tanto sublimaram!

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  6. Anónimo10:14

    Bom... Há sempre a economia paralela :D

    Recentemente cheguei à conclusão que não vale a pena chorar sobre o leite derramado, cliché bem sei, mas ou se fica de braços cruzados à espera que o céu nos caia em cima, ou se faz alguma coisa.

    Por isso só pelo sim pelo não, de vez em quando vou fazendo uns trabalhitos em regime de freelance através da internet, tenho uma conta virtual na payoneer (parecida com o paypal mas esta dá-me um cartão de débito da master card)e se precisar de alguma coisa uso esse cartão.

    E claro, esse dinheiro não faz parte dos meus rendimentos declarados.

    É uma espécie de democratização dos off-shore mas este é só para os pequeninos... e olhem que há muitos pequeninos.

    Por isso, é o que vos digo, este tipo de catástrofes têm sempre um lado positivo. Estimulam a criatividade, como dizem os "amaricanos" - Necessity is the mother of invention.

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  7. ADENDA AO POST

    Caro Tavares Moreira

    Esqueci-me das novas entradas:

    Portugal e a Irlanda recorrem ao Fundo Europeu de Apoio (não sei a designaçao em português) quando a taxa de juro das obrigações a 10 anos chegar a:

    a) 6.5% paga 6/1
    b) 7.0 % paga 4/3
    c) 7.5% paga 3/2
    d) 8.0 % paga 2/1

    Cumprimentos
    joão

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  8. Caro M. Piteira,

    Não falta onde cortar, na imensidão da despesa pública...assim haja vontade!
    E o problema dos cortes na despesa não deve ser perspectivado somente no plano do Estado Administração - nas suas vertentes Central, Regional e Local - mas deverá incluir todo o Sector Público Alargado...

    Caro João,

    Registoa atenção que presta ao sentimento dos que apostam nas nossas desgraças...
    Confesso-lhe que por feitio e por norma não sou muito dado a seguir esses indicadores, embora entenda que os não devemos ignorar...
    E algum deles vai acertar, infelizmente!

    Caro Bartolomeu,

    Vejo que o meu Amigo está num "mode" curioso, em que mistura elementos de ironia, de patriotismo e de apocalipse...
    Mas consegue combinar, com um grau de sagacidade assinalável, esses valores, como prova a resultante de tal "blend" - Fernando Nobre!

    Caro Antharx,

    Seja bem regressado! Percebo agora a razão das suas ausências tão notadas entre nós...fazer pela vida, utilizando a Internet!
    Totalmente justificada a ausência e pelos vistos tem feito muito bem pela vida!

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  9. Anónimo12:58

    Caro Dr. Tavares Moreira,

    Já todos percebemos que estamos na fase difícil de identificar as soluções e neste âmbito verificamos que a população está extremamente dividida.
    Básicamnete os que acreditam na capacidade e iniciativa to povo e os que vêm nesta liberdade a fonte de futuros problemas.

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  10. Anónimo14:01

    Meu caro Dr. TM :)

    Muito obrigado pelas suas palavras e bem pode repetir "pela vida", que no seu sentido literal ia dando para o torto - mais ou menos por esta altura - no ano passado. Mas cá estou eu... outra vez :)

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  11. Sabe, caro Dr. Tavares Moreira?!
    Ainda pensei , por uma questão de ética, não mencionar o nome de Fernendo Nobre, e em seu lugar colocar o de David Coperfield, que já conseguiu fazer desaparecer o Grand Canyon.
    Quer dizer... poder, podia... mas não seria a mesma coisa!
    ;)
    A gente não precisa de mágicos... a gente precisa mesmo, é de santos, capazes de milagrar!

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  12. Vá lá, não façam de 'virgens ofendidas' - não nasceram ontem: sem fiscalização adequada, o Estado vira um daqueles clubes de futebol aonde os dirigentes desbaratam tudo e mais alguma coisa...

    Só o 'Direito ao Veto de quem paga' (vulgo contribuinte) permitirá controlar a classe dirigente...


    Manifesto: NÃO QUEREMOS POLÍTICOS PAIZINHOS - Fim da Cidadania Infantil!
    http://fimcidadaniainfantil.blogspot.com/


    Resumindo e concluindo: não se queixem do facto de estar a ser mal gasto dinheiro do Estado: abram os olhos... e vetem!

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  13. Caro Agitador,

    Claro, sobretudo se o tal Povo, no uso dessa inconveniente liberdade resolvesse por exemplo fazer greve às obrigações fiscais...aí é que o Povo seria fonte de tormentosos problemas...

    Caro Anthrax,

    Uma razão adicional e bem forte para festejar seu regresso...
    Confesso que não imginava, quando usei a expressão "fazer pela vida", que estava a tocar num ponto que atinge a sua sensibilidade...espero que me dê o crédito da inocência e que não me leve a mal.

    Caro Bartolomeu,

    Mágicos e Santos, precisamos de todos e provavelmente não chegam para as encomendas...
    Não precisamos, seguramente é de charlatães, já temos de sobra só não sabemos é como nos vermos livres deles!

    Caro menvp,

    Aqui ninguém se faz de virgem ofendida...
    Não se esqueça de que o 4R tem sido intransigente, há muito tempo, na luta contra os aumentos de impostos por exemplo!

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  14. Cheira-me que a fezada está na união política. Ah, e tal, somos todos europeus está na hora de uma união política. E um boa união política faz-se com algum esforço de integração económica, não queremos que hajam cidadãos europeus de primeira e de segunda, temos os custos da periferia, não estamos aqui para ser uma colónia, esse cubanos de Bruxelas querem é levar-nos à miséria, a encher-se lá nos gabinetes deles....

    Sim, se bem conheço os portugueses, isto é o que pensam que vai ser a evolução. Ou então foi de ouvir o Seguro...

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  15. Anónimo10:23

    Ora, ora Dr. TM :))

    Claro que não levo a mal. Mesmo as coisas más têm o seu lado positivo, no meu caso aprendi a olhar o SNS com outros olhos e devo dizer que o serviço de emergência até funcionou bem... olhe até cheguei à conclusão que aquela linha da Segurança Social funciona bem.

    Por isso, é como lhe digo... estamos à beira da catástrofe sim senhor, mas será muito pior se andarmos só a berrar uns com os outros e não fizermos nada. Vamos ver o que é que os moços da Comissão dizem.

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  16. Exacto, caro Tonibler, vamos todos pugnar pela união política...até porque alemães e ingleses, sobretudo, devem estar ansiosos por que a mesma se torne uma realidade e depressa!

    Caro Anthrax,

    Ainda bem, o SNS não é de facto tão mau como às vezes as más linguas o apresentam...também acompanhei até há pouco tempo e de muito perto uma experiência de utilização do SNS e a minha impressão não é desfavorável.
    E poderia ser ainda melhor para quem dele realmente necessita, se não fosse a gratuitidade universal que não é socialmente justificada sobretudo na situação de penúria de recursos em que entramos e se vai agravar...

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