O défice de informação e de accountability (transparência) sobre as actividades do Estado, e não apenas no que se refere às contas do Orçamento do Estado, é um traço negativo da gestão pública. Mais uma vez um estudo internacional deixa claro que Portugal não cumpre com as boas práticas e os padrões de qualidade internacionais em matéria do processo orçamental, colocando-nos num lugar desprestigiante face aos nossos vizinhos europeus. Somos acompanhados pela Itália, mas com o mal dos outros podemos nós bem.
Lê-se no relatório que “A classificação indica que o Executivo só disponibiliza parte da informação sobre o Orçamento e as actividades financeiras analisadas no inquérito, o que torna difícil para os cidadãos responsabilizar o Governo pela gestão dos dinheiros públicos”.
Refere o relatório que a falta de informação dificulta a vida aos partidos na elaboração de propostas credíveis e bloqueia a sociedade civil, que não sabe como é gasto o dinheiro. Sendo verdade esta afirmação, também não é menos verdade que os partidos pouco ou nada têm feito para alterar este estado de coisas, aceitando que as regras do jogo se mantenham. E a sociedade civil com a sua fraca e inexistente intervenção cívica nestes domínios, adormecida e alheada que está da vida partidária e política, não exerce pressão e não toma iniciativas tendentes a alterar esta situação. Comportamentos que nos levam a pensar que ninguém estará interessado na mudança ou que ainda não descobrimos os seus benefícios.
A falta de accountability e de informação de qualidade e relevante sobre as actividades do Estado, seja, entre outras, nos sectores da saúde, da educação ou da justiça, faz parte de uma cultura que não avalia (ex-ante e ex-post), por regra, os impactos económico, social e financeiro das medidas políticas, inviabilizando que o governo e a assembleia da república conheçam esses impactos, se é que os querem conhecer, e impedindo que os cidadãos avaliem os resultados das decisões tomadas. É uma falta que é, também, desresponsabilizante, que nega a avaliação das políticas públicas, e que dificulta a qualidade da decisão política e o escrutínio da sociedade civil, mas com a qual vamos convivendo pacificamente.
Muita informação que deveria ser produzida e divulgada internamente acaba por chegar ao conhecimento público através de estudos e relatórios elaborados por instâncias internacionais. E quando acontece, lá aparecem o governo e as autoridades públicas a negarem os números que, por milagre, aparecem sem que previamente o país deles tivesse tido conhecimento e tivessem sido adequadamente validados. Accountability, uma prática que aguarda melhores dias...
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ResponderEliminarCompletamente de acordo, caro Paulo, essas duas vertentes são determinantes. A informação não´é vista como uma necessidade de esclarecer para permitir que se preveja e entenda, mas como uma arma de prova de inocência ou de condenação. Nunca tinha pensado nisso assim tão cristalino, mas realmente explica muita coisa.
ResponderEliminarCaro Paulo
ResponderEliminarA falta de transparência gera assimetria de informação que os espíritos medíocres consideram ser uma arma para controlarem e se servirem do poder. Esta falta de transparência é, como o Caro Paulo bem refere, própria de gente mesquinha, mas é a meu ver muito mais do que isso. É uma forma de exercer o poder para perpetuar o poder.
Suzana
A transparência exige maior responsabilidade nos actos que se praticam. É por isso que serve bem os medíocres porque aqueles que não o são não têm que temer o julgamento dos outros.