quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Austeridade, nem por isso...

Foi publicado o Estudo de Natal 2010 que visa avaliar em que medida o actual contexto económico vai afectar o consumo dos europeus durante a época do Natal e bem assim conhecer os padrões e as tendências no comportamento das decisões de compra que os consumidores vão tomar na quadra natalícia.
O que surpreende nos resultados apresentados em relação a Portugal é que os portugueses, apesar de na sua maioria considerarem que a economia está em recessão e de referirem que o seu poder de compra foi reduzido em 2010 e de demonstrarem para 2011 uma atitude pessimista, apenas vão gastar na época natalícia menos 6,5% face a 2009 e admitem que, embora menos, irão recorrer ao crédito. O nosso orçamento é de 575 euros, ligeiramente abaixo da média europeia, 590 euros.
Este decréscimo compara com reduções de consumo bem mais gravosas da Grécia e da Irlanda, respectivamente de 21% e 11%, países também afectados por medidas de restrição orçamental.
Uma outra constatação interessante é que Portugal vai gastar substancialmente mais que alguns países ricos, como é o caso da Alemanha e da Holanda.
Embora a crise não vá penalizar demasiado o consumo neste Natal, o Estudo revela que os portugueses vão ser mais criteriosos nas decisões de compra, procurando produtos de "marca branca" e oferecendo presentes com valor utilitário.
Fiquei admirada com os resultados, porque esperava que o clima de crise e austeridade tivesse um maior impacto na capacidade de consumo, reduzindo de forma significativa os níveis de consumo, quer por via do menor rendimento disponível quer pela adopção de comportamentos cautelosos quanto ao futuro. E o que pensará o Pai Natal?

4 comentários:

  1. Margarida, olho cada vez com maior desconfiança esses estudos, até porque comparam culturas completamente diferentes, com raízes religiosas que têm que ser consideradas nos seus hábitos, nomeadamente nas festas de cariz religioso, como é o Natal. Também somos diferentes da Alemanha e da Holanda nas procissões, no número de igrejas, nas missas e em muitas outras coisas, não sei se ignorarmos essa cultura fará com que fiquemos menos pobres, duvido muito.Por muito que se tenha comercializado e perdido o sentido mais "puro" dessa celebração, o facto é que para os holandeses, por exemplo, o Natal tem pouca importância, tal como para os gregos, em que a Páscoa é a grande festa. E o facto é que esses estudos alternam com as notícias de que somos o país mais pobre da europa, que as crianças ou comem na escola ou não comem, que o número dos que recorrem à caridade é cada vez maior. O Natal, pelo menos enquanto pudermos, ao menos este Natal, deixem-nos lá brilhar as luzinhas, não há-de ser por apagar essa réstea de ilusão que vamos ao fundo mais depressa...

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  2. Meus amigos, este assunto nem é de admirar. E nem serão necessários estudos de estatística nem de economia para perceber a situação.

    Na Alemanha, por exemplo, dez crianças vão receber – cada uma – 1 presente de Natal. Estatisticamente cada uma recebe um presente.

    Em Portugal, em dez crianças, uma vai receber 10 presentes de Natal e as outras nove, zero. Estatisticamente, cada uma recebe um presente.

    E o Pai Natal até poderá ficar muito satisfeito, porque os presentes dados em Portugal até podem ser mais caros que os da Alemanha.
    Melhor negócio para ele. É a vida.

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  3. Um dos aspectos mais impressionantes em Portugal é esta falta de capacidade de nos autoanalisarmos enquanto singulares no colectivo.
    Quando será que "todos" assumimos, rasgando definitivamente a cartilha dos nossos interesses, a nossa responsabilidade na situação presente.
    São as empresas exportadoras as responsáveis pela crise? Parece-nos que não! São as PME responsáveis pela crise?
    Parece-nos que não! É o Estado e os seus agentes, agentes políticos inclusos, responsável pela crise? Parece-nos que sim!
    É que em Portugal parece que há muita gente que ainda não percebeu que só podemos ter um Estado à medida das nossas empresas e que o Estado mais, significa o essencial menos: a produção e as empresas!

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  4. Suzana
    Concordo que estes inquéritos têm que ser vistos com olhos de ver. Daí a minha surpresa.
    Os números sobre a pobreza não são apurados a partir de sondagens ou inquéritos como aconteceu com este estudo do Natal. A pobreza é uma realidade vivida, observada e medida. Basta olhar, só para dar um exemplo, para o valor das pensões mínimas.

    Caro C.B.
    Os resultados deste estudo surpreenderam-me. Talvez que o universo das pessoas entrevistadas se tenha confinado àquelas que estão empregadas ou que têm um trabalho que lhes assegura uma remuneração estável e permanente.
    Um dos problemas destes inquéritos também está nas médias. Mas haverá certamente em Portugal muitas crianças, tal como as alemãs, mas pelas piores razões, que se receberem um presente será para elas uma festa.

    Caro (c)P.A.S.
    O que nos tem faltado é lucidez. Será que a austeridade vai contribuir para a lucidez que se impõe num quadro em que é preciso fazer mudanças. Será que estamos a perceber e a aceitar o que se está a passar?

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