No decurso da cimeira da NATO, a decorrer em Lisboa, o primeiro-ministro vai oferecer algumas prendas aos convidados. Acho bem, é uma questão de cortesia e ainda por cima feitas à base de cortiça, matéria prima nacional trabalhada por “designers” portugueses. O que me surpreendeu na notícia não foi o facto de o cão de Obama, um cão-de-água português, ter direito, também, a um presente, uma coleira de cortiça com o seu nome, mas sim a particularidade de ter sido gravada na mesma o símbolo da República. O símbolo da República na coleira de um cão de um presidente norte-americano? A propósito de quê? Para lembrar que os portugueses andam a ser tratados como cães ou abaixo deles?
É de bradar aos céus!...
ResponderEliminarSerá que o tão propalado conceito de "inovação" passa por isto!?...
Eles há-dem ter-se esquecido, talvez fruto do habitual amadorismo lusitano para o planeamento (em cima do joelho).
ResponderEliminarEt pourtant, esqueceram o verdadeiro símbolo do estado a que chegou este Estado: o do PS.
Ou ambos, PS e III República.
BM (longos anos eleitor do PS)
Já que trata de prendas em cortiça, ainda se vão lembrar de oferecer rolhas de garrafas de champanhe. Para meterem onde? Onde mais gostarem e der mais jeito. E nem precisavam de símbolo.
ResponderEliminarPara ser franco, não me lembraria nada de tão simbolicamente adequado. Que presente tão..."tonibleriano"
ResponderEliminarTalvez não digam… mas pensarão (os americanos): How tacky!
ResponderEliminarSinceramente não vejo as coisas do mesmo modo, o seu argumento tende o "poço envenenado" :-)
ResponderEliminarQuerida Jeune Dame de Jazz
ResponderEliminarPresumo que o conceito que invoca, “poço envenenado”, que também pode ser definido como atribuição da parcialidade, faz parte de um conjunto de formas designadas por argumentum ad hominem.
Qualquer preconceito que tenha relativamente ao primeiro-mimistro, e tenho!, é mera consequência das suas ações e atitudes, por demais conhecidas, e não nasceram por geração espontânea.
Neste breve comentário à coleira de cortiça que o senhor vai oferecer ao dono do cãozinho, a minha intenção está bem definida. Ele, o primeiro-ministro, pode oferecer o que entender, mas colocar um símbolo nacional na coleira de um cão, não me parece correto. Para mim não é, nunca foi, nem nunca será, pela simples razão de ter sido educado no respeito pelos símbolos. Os símbolos valem alguma coisa, se não valessem, então não haveria comentário. Sendo assim, tanto faz que seja o primeiro-ministro, o cardeal patriarca, o presidente de uma junta de freguesia ou um cidadão qualquer, eu teria a mesma reação. Não acho correto, porque o meu "imprinting" relativamente a certos valores foram atingidos. O que eu quero é não ser “envenenado”, porque cair num poço, não tarda muito que lá estejamos todos bem no fundo.
Querido Salvador,
ResponderEliminarJá levei uma sarabanda, para perder as manias! Porém, há a dizer que o argumentum ad hominem é uma falácia directa. (É diferente). Também posso ter alguns pré-conceitos – e tenho! A propósito da intencionalidade e da significação. Por exemplo, o Saussure (que a Jeune não venera) distingue a língua da palavra, também, para distinguir o signo (significado) do significante (imagem acústica). Se a língua for um sistema de referências (como ele diz), esse mesmo sistema, corrige e regulariza. Por isto mesmo, distingue, na linguagem, a diacronia e a sincronia, abrindo espaço para a arbitrariedade do signo. Ora, adiciona-se uma tripla distinção: signo/ significado/ significante. Sabendo nós que a linguagem (signo) tem uma visão dupla, o signo não liga uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica que, no pensamento de Saussure, não significa o som em sentido material, mas impresão psíquica desse som. Por outro lado, se o sistema linguístico pode existir por valores, a língua vai existir por herança e não como um instrumento que o homem produz. Portanto, é descabido falarmos da origem da linguagem, no sentido em que resiste à alteração…
Mas como isto ainda não está suficientemente confuso (e conjuntamente com Saussure tirei um desses cursos de Sábado à tarde) chegamos aos argumentos para dizer que é impossível mudar a linguagem: a) por um lado somos inconscientes dos factos linguísticos (a ideia de que se recebe inconscientemente); b) a língua escapa à reflexão- tem um ponto irreflectido para reflexão; c) a língua não é objecto de crítica (a arbitrariedade que torna a linguagem inquestionável é a mesma que a protege da intervenção do sujeito). Por sua vez, a arbitrariedade de signos necessários para constituir uma língua é a mesma que impede marcar uma alteração. Assim sendo, há um carácter complexo do sistema que impede a alteração.
Mas pense: se o signo, por intermédio de um código corresponde à imagem mental que, por sua vez, corresponde a um objecto do mundo, em que medida o que conhecemos do mundo são imagens mentais? (O campo receptivo é rico em problemas filosóficos, tente pensar na relação de signo como "triângulo" entre coisa – imagem mental – signo).
Será que o sinal está ligado aumaevidência directa?
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ResponderEliminarSimpática Jeune
ResponderEliminarNão sou perito em lógica nem para lá caminho. No entanto, presumo que quanto ao argumentum ad hominem, este pode ser classificado em, “abusivo”, “circunstancial” e “poço envenenado”. Cada um com as suas características. Quanto ao resto depois falamos. Mas que é um prazer tê-la como estímulo a pensar, lá isso é verdade. E a este propósito, nem imagina o que se está a formar no meu cérebro, apesar dos “cansaços” acumulados ao longo dos anos e dos últimos dias a que não é estranho um desejo louco e inesperado de ir dormir.
Bons sonhos e obrigado.
Este diálogo está tão interessante – com uma tal profundidade - que não me posso conter! : )
ResponderEliminarCara Jeune... isto tudo a propósito de uma prenda que foi ou vai ser dada ao cão do Presidente Obama (pelo qual tenho grande admiração – pelo presidente, não pelo cão), que provavelmente não receberia se não fosse cão-de-água português (tenho quase a certeza) e ainda por cima com um símbolo da república?! Para além de ser, como é a opinião do autor do post, uma falta de respeito pelo símbolo, é pura parolice, é uma foleirice, é de um tremendo mau gosto.
Deprime-me.
ResponderEliminarCaro Professor:
ResponderEliminarO respeito pelos símbolos está a perder-se por completo. Poucos já respeitam a bandeira,o hino, o símbolo da república ou outro qualquer.
Aqui há uns anos, uma Administração da RTP suspendeu e acabou com o contrato com um actor, pelo facto de, num programa da série na qual trabalhava, ter " achincalhado" o hino nacional, ao fazer dele uma paródia boçal e grosseira. Aliás, faz parte dos estatutos da RTP uma disposição que obriga a que a programação respeite os símbolos nacionais. O que é que aconteceu? Simplesmente aconteceu que essa Administração foi acusada de censora, acusada de castrar a criação artística, acusada de todos os crimes contra a cultura.
Passados uns tempos, tal actor foi nomeado por um Governo Director de um dos Teatros Nacionais.
Governo da mesma cor partidária do 1º Ministro que empresta o símbolo da República a uma coleira de cão.
Tudo converge, pois!...