1. Andam por aí algumas almas a tentar esconjurar a ideia de Portugal pedir ajuda ao FMI - o que vale por dizer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) em articulação com o FMI, a quem competirá monitorizar o programa de ajustamento no caso de se verificar essa assistência.
2. Tenho a noção de que esta discussão em torno da “ida ou não ida ao FMI” tem já algo de caricato: de um lado estão os que entendem que se deve “ir” ao FMI, do outro os que se sentem horrorizados com tal “ida” – dando quase a ideia de que se trata de uma ida à casa de banho, exactamente para fazer o quê ninguém consegue explicar muito bem...
3. Pondo agora de parte este aspecto mais folclórico da discussão “FMI sim – FMI não”, tenho a noção de que, a menos que a execução orçamental em 2010 (no que resta) e em 2011 dê claros sinais de melhoria - o que, sendo possível, é neste momento tremendamente incerto – a necessidade de recorrer à assistência do FEEF em 2011 será inevitável, tanto para Portugal como para a Irlanda.
4. Nestes termos, parece de toda a vantagem a desdramatização deste assunto, sendo natural colocar a hipótese do recurso à assistência do FEEF como algo que até pode ser justificado na perspectiva do interesse nacional.
5. Vem a propósito chamar a atenção para um texto publicado na edição de ontem do F. Times, intitulado “Portugal and Ireland should be prepared to use the EFSF”.
6. O FT chama a atenção precisamente para os enormes riscos a que estão sujeitos os programas de ajustamento orçamental em ambos os países - embora esses programas de ajustamento possam ainda resultar, as consequências de um insucesso (muito provável) poderão ser fatais...simplesmente uma situação de insolvência e o recurso, nessa altura “de calças na mão”, ao FEEF/FMI...
7. A partir dessa avaliação, o FT sustenta a tese de que haverá toda a vantagem em encarar desde já o recurso ao FEEF (EFSF na versão inglesa), como uma espécie de plano B, devidamente preparado e explicitamente admitido – não guardado em segredo – para a eventualidade de os resultados do programa de ajustamento orçamental ficarem aquém do desejado.
8. Seguramente que a reacção dos mercados numa tal hipótese não seria tão adversa como no caso de se manter a todo o custo a atitude algo quixotesca, de altíssimo risco, recusando terminantemente o recurso ao FEEF, com receio do papão FMI...
9. A recusa em admitir agora esse recurso, como solução alternativa, com tempo e a devida preparação, refere o FT, acabará por ditar que esse recurso, se for tornado inevitável pela força das circunstâncias, venha a ter lugar de forma desordenada e sob uma duríssima punição dos mercados...
10. Mas torna-se cada vez mais evidente que não estamos em tempo de decisões sensatas...e, neste caso, Dom Quixote não será mesmo um bom conselheiro...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarO que me causa mais preocupação é o facto de o PM ser uma pessoa demasiado teimosa para admitir erros próprios, adorar plateias e ser de uma ignorância atroz. Devido a estas suas características, temo chegarmos ao limite com as calças não na mão, mas nos calcanhares...
Mas... e os Chineses?
ResponderEliminarNão compraram a dívida pública?
Y así pasan los dias...
Quizás, quizás, quizás
http://www.youtube.com/watch?v=eT-XvbjTRTI&feature=related
Recorrer ao FMI significa declarar fracassado e incompetente o PM e os seu Governos, coisa que ele não fará nunca, senão como parte de uma jogada inevitável que o perpetue no poder. Com José Sócrates o país real estará sempre num plano abaixo das fantasias que nos tenta impôr, de uma nação que foi a primeira a sair da recessão, que não seria sequer afectada pela crise, que não subiria os impostos, etc. As "férias" em que nos encontramos para dar lugar às eleições presidenciais são a prova da total incapacidade que temos para perceber a urgência da revolução da mudança e a necessidade de sermos nós mesmo, mostrando maturidade, a tomarmos as decisões e darmos os passos necessários para sair do buraco. E sair do buraco passa necessariamente pelo primeiro acto, que é varrer com estas criaturas incompetentes que mandam no país. Neste momento, José Sócrates já é mais tóxico que os juros a caminho dos 8%.
ResponderEliminarA decisão da entrada do FMI será tomada quando, e só quando ele próprio concluir que o capital dos credores de Portugal, as oligarquias financeiras que compraram a dívida pública portuguesa, está deveras ameaçado, que Portugal não tem dinheiro para assegurar o pagamento das dívidas que contraiu. O FMI não vem assim para “ajudar” o país, mas muito simplesmente para garantir o retorno financeiro dos credores internacionais a quem o governo de Sócrates entregou a dívida pública nacional. Pouco lhe importa que as medidas de austeridade provoquem uma recessão económica ou que se agravem as condições de vida dos portugueses. Pelo contrário, ele procurará fazer tão só uma operação financeira, retirando rendimentos aos cidadãos portugueses para o entregar aos credores internacionais.
ResponderEliminar"...retirando rendimentos aos cidadãos portugueses para o entregar aos credores internacionais."
ResponderEliminarQuer dizer que o FMI é igual ao PS e do PSD?!? Ora bolas...
Bem, os credores internacionais apenas o são porque alguém achou por bem endividar a Républica até ao tutano e ainda por cima optando por favorecer o rendimento das poupanças internacionais em deterimento do rendimento das poupanças dos Portugueses.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarUmas "achegas" ao post.
a) O FMI, num quadro de incumprimento soberano funciona como aquela PPR que vamos poder resgatar (SDR, direitos especiais de saque que podemos usar, no nosso caso anda nos +/-35 MMilhões) e conselheiro financeiro.
b) O "recurso" ao FMI supõe que:
1. O Conselho de Ministros Europeu autorize;
2. Que o BCE dê, igualmente, o seu acordo.
3. Que o governo da nação, após os dois OKs supra, peça formalmente apoio no quadro do FEEF;
4. Que o apoio no quadro do FEEF preveja aceder aos fundos do FMI. (O mais normal é que preveja, quanto mais não seja, por se poder usar os SDRs a que temos direito.)
c) Neste sentido o FMI não "vem", nem o FMI vai "fazer" algo por nós. O FMI é um mero consellheiro financeiro e os conselheiros financeiros não costumam imiscuirem-se na gestão das empresas; neste caso o FMI não o irá fazer. Estamos na mesma fase do OGE: era preciso aprovar para salvar, afinal os juros não desceram, antes pleo contrário; a China "vinha" comprar dívida nacional, afinal assinaram-se uma série de contratos promessas sem que o putativo comprador tenha, sequer, pago um sinal....(mais,num dos casos, o putativo vendedor, não conseguiu esconder o desconforto que o anúncio de uma putativa venda lhe causava...)
d) O "conselho" do FT faz, neste contexto todo o sentido; estamos a endividarmo-nos a preços muito altos sem que existam prespectivas de grande crescimento económico; por outro lado, como andamos a esquecermo-nos que a maturidade média da nossa dívida é muito curta +/- 2.5/3.5 anos; por outras palavras para o ano vamos pedir tanto como o que pedimos este ano a um juro cerca de 50% superior ao do ano passado....
Ora no FEEF, o juro anda pelos 6-7% (depende, entre outras coisas de como se valorar a participação nacional...),
e) Já podemos voltar à alinea a) para acrecentar duas notas muito importantes:
1. O apoio no quadro do FEEF supõe um business plan que "ataque" as causas estruturais da nossa dívida; ou seja, um mapa de reformas que permitam eliminar a fonte da dívida.
O plano é feito pelos nossos "irmãos": funcionários do BCE e da Comissão; ambos compreendem bem o português e conhecem a fundo a nossa estrutura administrativa e económica. Pela amostra do que fizeram (e fazem) na Grécia, o que lhe posso dizer é que,"eles", conhecem o país como a palma da mão....
2. O FEEF só chega se o governo português solicitar. Recordo que a carta de alforria do nosso PM foi conseguida com o nobre e valente episódio de Souselas; num governo, vamos ser simpáticos, "manso", qualquer dose de testoterona era bem vinda e tida por uma "qualidade". O problema é que as qualidades de muito (ab)usadas, podem passar a defeitos...
Não posso deixar de estar mais de acordo com a sua comparação com o herói de Cervantes.
Recordo por fim e como "pró memória" que o incumprimento soberano é fundamento para exclusão do euro....
Por isso, espero que a "estória" de Cervantes não se transforme num episódio como o de Sarajevo....correndo o risco de o insultar, recordo-lhe que a Bósnia era um canto perdido no meio do Império Austro Húngaro e, no entanto.....
Cumprimentos, ainda não preocupados,
joão
Tantos heróis na (des)governação...
ResponderEliminarNesse jogo de falsidades,
que tantos nos tentam pespegar,
deturpam-se muitas verdades
sobre um regime a vergar…
Inundada de tanta liquidez
para tudo e para mais nada,
tem sido farta a tepidez
da governação enfunada.
Enterrados em milhões
de défices gigantescos,
temos políticos trapalhões
com seus dons quixotescos.
Caro Fartinho da Silva,
ResponderEliminarÉ capaz de ter razõa, provavelmente não vamos conseguir chegar com as mãos às calças - por elas (as mãos) estarem ocupadas na beira do precipício - e nesse caso é certo que as calças acabarão bem mais abaixo...
Caro Bartolomeu,
Os chineses também compraram, compraram mesmo, dívida grega - e qual foi o efeito, alguém sabe?
Caro Flash Gordo,
A toxicidade dos decisores políticos a que se refere deveria ser urgentemente sujeita a análise no Instituo Ricardo Jorge, não lhe parece?
Caro ruy,
Mas o cenário que sugere traduzir-se-á, em maior ou menor grau, numa verdadeira targédia nacional?
Já imaginou em que estado ficaríamos se chegassemos a esse ponto?
Nesse caso, a "bravata" de PPC, a propósito da criminalização dos actos contrários ao interesse nacional, em matéria de gestão das finanças públicas (artigo 70º, nº1, da Lei de Enqudramento Orçamental, não é pois "bravata" nenhuma...)teria de ser tomada a peito, quem sabe?
Caro Zuricher,
Bem lembrado, muito bem lembrado!
Caro João,
Boa análise a sua, lembrando aspectos processuais e outros de grande interesse para avaliação do tema do recurso ao FEEF.
Essa análise reforça, de resto, a recomendação do F. Times no sentido de se preparar desde já, com tempo e de forma ordeira, um plano B que envolva o recurso ao apoio do referido FEEF, com FMI "a tiracolo".
O Prof. António Borges, agora Director do Departamento Europeu do FMI poderia aqui funcionar como um óptimo conselheiro do Governo português, circcunstância que o próprio PM não deverá deixar de valorar muito positivamente...
As minhas calorosas saudações, caro Manuel Brás...
ResponderEliminar"Temos políticos trapalhões, com seus dons quixotescos" - bem caricaturado, o quixotismo e atrapalhice andam de facto de maõs dadas...e é uma combinação fatal!
Mas, que me lembre dos escritos cervantinos, o Pança não acabou rico à conta do dinheiro que o Quixote arrancava aos moínhos....é que ladrão e trapalhão não são a mesma coisa.
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarReconheço que ladrão e trapalhão não são a mesma coisa, por isso, em vez de "trapalhões" pode ficar (ler-se) "vendilhões", ou seja:
Enterrados em milhões
de défices gigantescos,
temos políticos vendilhões
com seus dons quixotescos.
Caros Tonibler e M. Brás,
ResponderEliminarPoderemos dizer, numa tentativa de síntese, que o trapalhão é um estágio inicial do percurso para a "roubalheira"...
Trapalhão que frequente as Novas Oportunidades, capítulo V, acaba, se tiver bom aproveitamento, em "profissional de apropriação de cousas alheias", para usar uma expressão algo vetusta e não muito agressiva...