Gosto imenso de ler alguns dos comentários publicados nas curtas secções dedicadas aos leitores dos diferentes jornais. Ainda há dias, num jornal cá do burgo, uma leitora escreveu uma carta muito pertinente sobre a problemática do ruído na cidade; bem escrita, cuidada, com estilo, revelando uma formação superior. As suas críticas e análise eram mais do que pertinentes, mas a dada altura, na sua apreciação crítica, apontou o cursor do seu texto para a minha pessoa, criticando-me, ao perguntar o que anda o provedor a fazer a este propósito. Um pequeno parêntesis, sou o Provedor do Ambiente e da Qualidade de Vida Urbana de Coimbra e, nessa qualidade, tenho dado algum contributo ao intensificar a voz e a defender os que se sentem injustiçados e foquem assuntos relevantes para a comunidade. Claro que tive de responder, dizendo o que já tinha feito e o que andava a fazer relativamente a este assunto. Como nunca mais saía a resposta, deixei de me incomodar, mas, hoje, na primeira página, fiquei surpreendido com o título e a chamada de atenção para a problemática do ruído na cidade. Não esperava pelo destaque. Pelo menos, espero que fique a saber um pouco mais sobre as atividades de um órgão que, não tendo capacidade decisória, pretende ajudar a resolver alguns problemas.
A minha intenção não era falar sobre mim, ou sobre o organismo que tutelo, mas sim falar sobre a “contradição”, a mais vulgar das características humanas. A senhora deu a entender, no seu texto, que o provedor era um vulgar ser “contraditório”. Às tantas até é capaz de ter razão, e se fosse só como provedor...
Chamar a atenção para as contradições em que caímos é uma espécie de desporto. Umas vezes, assiste-lhes, a quem denuncia os factos comprovativos da contradição, a razão, outras, nem por isso, mas não importa, o que interessa é encontrá-la, e depois denunciá-la.
Ia a pensar na mais vulgar das características humanas, quando, ao ler a entrevista do senhor Cardeal-patriarca, que defende a sua igreja, deparo-me, entre muitas afirmações, com uma bastante interessante. Dizia respeito à promulgação pelo Presidente da República do casamento homossexual. Começa por esclarecer que “a questão do casamento é uma questão civilizacional desde o princípio da humanidade em todos os povos e culturas...”. Bom não é preciso alongar mais sobre o seu pensamento, porque é mais do que óbvio. Mas ao terminar esta resposta, afirmou: “A gravidade dessa lei está na ideia de querer alterar a natureza. Nessa altura, espero já cá não estar!” Presumo que deverá estar no céu, longe da Terra, mas será que, nas “alturas”, não conseguirá ver o que se passará cá em baixo? Vai deixar de se interessar pelos terráqueos? Será que as suas “futuras” funções de Diretor-geral de qualquer repartição do reino de Deus o impedirá de continuar a dar atenção ao pobre pessoal deste país? Claro que a sua afirmação terá de ser lida “simbolicamente”, simbologia que apregoa e defende ao longo de toda a entrevista.
No mesmo periódico, e a propósito das críticas de Manuel Alegre ao passado “salazarista” de Cavaco Silva, um leitor, que regularmente escreve nesta secção, aponta a contradição de Alegre, ao afirmar que “Pior do que viver conformado com o Portugal de Salazar é lutar contra o Portugal de Salazar, a partir de um país com um regime muito mais cruel e onde as violações dos direitos humanos eram muito mais graves (Argélia).
E agora? Agora? Vamos continuar a viver com as nossas contradições, que nos alimentam continuamente, porque sem elas o que é que faríamos ou dizíamos? Nada, seríamos uma espécie de anjinhos papudos com ar de tolinhos à espera de algum acontecimento que nos fizesse despertar da eterna letargia para que pudéssemos cair no reino da humanidade, local, onde, apesar de tudo, deve ser muito mais aprazível viver do que num mundo sem contradições.
A minha intenção não era falar sobre mim, ou sobre o organismo que tutelo, mas sim falar sobre a “contradição”, a mais vulgar das características humanas. A senhora deu a entender, no seu texto, que o provedor era um vulgar ser “contraditório”. Às tantas até é capaz de ter razão, e se fosse só como provedor...
Chamar a atenção para as contradições em que caímos é uma espécie de desporto. Umas vezes, assiste-lhes, a quem denuncia os factos comprovativos da contradição, a razão, outras, nem por isso, mas não importa, o que interessa é encontrá-la, e depois denunciá-la.
Ia a pensar na mais vulgar das características humanas, quando, ao ler a entrevista do senhor Cardeal-patriarca, que defende a sua igreja, deparo-me, entre muitas afirmações, com uma bastante interessante. Dizia respeito à promulgação pelo Presidente da República do casamento homossexual. Começa por esclarecer que “a questão do casamento é uma questão civilizacional desde o princípio da humanidade em todos os povos e culturas...”. Bom não é preciso alongar mais sobre o seu pensamento, porque é mais do que óbvio. Mas ao terminar esta resposta, afirmou: “A gravidade dessa lei está na ideia de querer alterar a natureza. Nessa altura, espero já cá não estar!” Presumo que deverá estar no céu, longe da Terra, mas será que, nas “alturas”, não conseguirá ver o que se passará cá em baixo? Vai deixar de se interessar pelos terráqueos? Será que as suas “futuras” funções de Diretor-geral de qualquer repartição do reino de Deus o impedirá de continuar a dar atenção ao pobre pessoal deste país? Claro que a sua afirmação terá de ser lida “simbolicamente”, simbologia que apregoa e defende ao longo de toda a entrevista.
No mesmo periódico, e a propósito das críticas de Manuel Alegre ao passado “salazarista” de Cavaco Silva, um leitor, que regularmente escreve nesta secção, aponta a contradição de Alegre, ao afirmar que “Pior do que viver conformado com o Portugal de Salazar é lutar contra o Portugal de Salazar, a partir de um país com um regime muito mais cruel e onde as violações dos direitos humanos eram muito mais graves (Argélia).
E agora? Agora? Vamos continuar a viver com as nossas contradições, que nos alimentam continuamente, porque sem elas o que é que faríamos ou dizíamos? Nada, seríamos uma espécie de anjinhos papudos com ar de tolinhos à espera de algum acontecimento que nos fizesse despertar da eterna letargia para que pudéssemos cair no reino da humanidade, local, onde, apesar de tudo, deve ser muito mais aprazível viver do que num mundo sem contradições.
Um texto que me dispôs bem e que me incita a comentar... mas como estou numa fase de longos comentários – pano para muitas contradições – vou ficar por aqui! Caro Prof., por favor, não perca essa característica contraditória comum aos simples (alguns superiores) mortais! : )
ResponderEliminarVamos lá ver é se, enquanto a natureza se altera por via de força da Lei, o Senhor Cardeal-Patriarca, depois de já ter ganho o seu etereo assento, não volta a nascer...
ResponderEliminarÉ que às tantas, a "coisa" pega moda e ainda vamos ter uma epidemia de gente honesta... que não sabemos o que fazer com eles...